Item 2: Cigarros
Não sei por quanto tempo fiquei dirigindo, só sei que estava em alta velocidade. Estava com medo de um daqueles caras ter nos seguido.
— Calma, Lia. Ninguém está atrás da gente. — Miguel tentou me acalmar, parecendo que tinha lido os meus pensamentos. Ele tocou levemente o meu joelho, mas ele logo retirou a mão.
Desacelerei o carro até fazê-lo parar no meio da estrada, acho que já eram 5 horas e pouco da manhã, não demoraria muito para amanhecer, mas ainda assim, estava tudo escuro.
Saí do carro e Miguel me acompanhou.
— Que porra foi aquela? — soltei alto, sem me aguentar mais. — Do nada aqueles homens começaram a correr atrás da gente!
Miguel olhou para mim sério, parecia que estava decidindo se me contava ou não.
— Eu roubei aquela gasolina.— soltou rapidamente.
— O quê?— não consegui controlar o tom da minha voz e saiu mais alto do que eu esperava.
— Em minha defesa, aqueles caras não são legais e eles têm muita gasolina.
— Nós roubamos eles. — falei devagar.— Eu nunca roubei nada na minha vida! Eu nunca fui contra a lei! Meu Deus, eu só estou algumas horas longe de casa e já virei uma criminosa! — fiquei andando para o lado e para outro.
Miguel riu, era uma risada gostosa de escutar e se eu não estivesse tão neurótica com a situação, teria aproveitado o momento.
— Ei! Relaxa, Lia. Você não fez nada de errado. Tecnicamente, fui eu que roubei. Então, se alguém vai ser preso aqui, sou eu. — disse me analisando com os braços cruzando.
Por mais que ele tentasse segurar o riso, ainda haviam vestígios de um sorriso nos seus lábios e diversão no seu olhos enquanto me encarava.
Ter toda a sua atenção dessa forma me deixava nervosa, mas talvez fosse apenas a adrenalina da fuga.
~♧~
Paramos em uma loja de conveniência, compramos café e sanduíches. Ficamos no estacionamento sentados no capo do carro comendo enquanto assistíamos o sol nascer.
Fizemos tudo em silêncio. Era bom isso, parecia que nós não tínhamos a necessidade de falar o tempo todo. O silêncio entre nós não era constrangedor. Era apenas calmo. Entretanto, se eu vou viajar com alguém que eu acabei de conhecer, preciso fazer perguntas.
— Você trabalhava naquele bar?
— Sim.
— Mas você se demitiu. — não era uma pergunta.
— Sim. — ele confirmou.
— Por quê?
— Eles eram uns babacas.
— Isso eu já sei. Mas foi só isso?
— Dinheiro. — respondeu de modo simples.
— Nossa.
— Pois é.
— Esse dinheiro que você está falando era para você fazer essa viagem?
— Sim.
— Você é sempre vago nas suas respostas?
— Sim.
Revirei os olhos.
— Se vamos viajar juntos até a cidade mais próxima, que eu não sei qual é, precisamos nos conhecer. Eu me recuso a passar horas em um carro com alguém que eu não sei nada. Então, ou você colabora ou cada um segue o seu caminho. — tentei ser o mais firme possível. Em nenhum momento deixei os seus olhos.
Ele ficou me olhando intensamente, não consegui desviar o olhar. Ele parecia estar decidindo, vi nos seus olhos que ele parecia estar tendo uma luta interna.
— Tudo bem. Você está certa.— disse com uma suspiro profundo e cansado.— Vamos fazer assim. Um faz a pergunta e o outro responde, vamos alternando. Pode começar.
— Por que você vai fazer essa viagem?
Vi que ele hesitou para responder, abriu a boca para falar, mas fechou. Fez esse movimento duas vezes antes de dizer:
— Minha mãe está doente. Tem câncer. Eu estava indo vê-la. — Eu já ia fazer mais uma pergunta, mas ele levantou a mão me interrompendo. — Minha vez. Por que você está aqui?
— Como assim?
— Por que está fazendo essa viagem?
— Eu fugi de casa.
Ele pareceu ficar muito surpreso com a minha resposta, mas não disse nada.
— Minha vez. Por que você estava chateado naquela hora no bar?
— Meu chefe não quis me pagar o que estava me devendo do salário. E eu preciso do dinheiro.
— Me fala mais sobre a sua mãe.
— Isso não foi uma pergunta e estamos na minha vez.
— Eu sei, mas você pode ter duas perguntas na próxima rodada. Me fale sobre ela.
— Como eu disse, ela está doente. Meu pai cuida dela. E eu sempre vou visitá-los nas férias. Estava planejando ir esse mês, estava juntando dinheiro para ir, mas o Santiago, meu ex chefe, não pagou tudo. Eu tenho grana, mas não o suficiente para comprar um carro para ir e voltar quando eu quiser da casa dos meus pais. E é muito caro ficar viajando de avião.
— Por que você mora tão longe deles?
Eu não estava ligando mais para quem deveria perguntar ou responder. E eu acho que ele também não. Por um momento aquela pose de badboy sumiu e ele parecia perdido em pensamentos, mas continuava com a mesma expressão séria.
— Eu estudo direito em Belém, passei na universidade de lá. Meus pais me apoiaram para ir e eu fui.
— Você tem quanto anos?
— 23
— Nossa! — exclamei surpresa.
Não acredito que estou em uma viagem com um cara mais velho! Até algumas horas atrás eu tinha 17 anos! Meus pais me matariam se soubesse que eu estava sozinha com um cara estranho e que ainda é mais velho. As pessoas com quem eu geralmente interagia eram no máximo 1 ano mais velhos do que eu.
Ele percebeu a minha surpresa e rapidamente voltou para a sua pose de homem sério, seus músculos estavam tensionados.
— Quantos anos você tem?
— Estou fazendo 18 anos hoje. — falei com um sorriso envergonhado.
— O que? Não acredito que estou viajando com uma adolescente!— falou consigo mesmo. — Por que você não me disse isso antes? Meu Deus! Uma adolescente!— passou aos mãos nos cabelos.
— Estou me sentindo ofendida aqui. Olha, eu sou muito madura para a minha idade. — rebati com o queixo levantado.
Ele riu.
— Todos dizem isso. Claro! Você é muito madura. Não é nem um pouco inconsequente, típico de um adolescente. Não, não. Você só fugiu de casa e está viajando com um estranho. — disse ironicamente ainda rindo de modo sarcástico.
— Querido, foi você que ofereceu a viagem. Esqueceu?
— E você aceitou.
Ficamos nos olhando. Por mais que para alguém vendo de fora parecesse que estávamos discutindo, eu sei que não estávamos. Enquanto rebatíamos o que o outro falava, eu conseguia vê a diversão nos seus olhos e o pequeno sorriso que queria se formar em seus lábios.
Ele foi o primeiro a desviar o olhar, pegou um cigarro do bolso e o acendeu. Mas antes de colocar na boca ele se virou para mim.
— Não quero fumar perto de você, mas eu preciso disso muito agora.— foi apenas isso. Saiu de cima do carro e ficou alguns metros longe de mim.
Ele parecia tenso. Ficou fumando enquanto olhava para a paisagem a nossa volta, olhou para tudo, menos para mim.
Mas eu fiquei o observando, tudo nele me chamava atenção. A pele branca coberta toda por tatuagens, os braços fortes, o cabelo preto, seus olhos verdes...
— Para de me olhar e fala logo o que você quer. — ele disse de modo rude, sem me olhar ainda.
Lembrei que aprender a fumar estava na minha lista de coisas que queria fazer e decidi usar isso como desculpa.
— Você me ensina?
Minha pergunta chamou a sua atenção, ele virou a cabeça para mim.
— Você me ensina?— repeti a pergunta, mas agora apontando com a mão para o cigarro.
Ele não disse nada, apenas ficou me olhando e depois caminhou na minha direção lentamente. Ele se aproximou com calma.
Ficou entre as minhas pernas, já que eu estava sentada no capô do carro. Colocou uma mecha do meu cabelo que caia sobre o meu rosto atrás da minha orelha, desceu a mão para o meu pescoço e permaneceu ali, tudo isso sem tirar os olhos dos meus.
Eu já havia notado isso nele. Raramente ele tirava os olhos de mim. Foi assim durante todo o trajeto até aqui.
Ele aproximou o cigarro da minha boca.
— Você puxa e depois solta. Devagar.
Fiz o que ele mandou. Tossi um pouco no início, mas continuei. Por mais que para mim parecesse uma cena engraçada, ele continuou sério. Ele não tirou os olhos da minha boca. Acompanhou cada movimento dela.
— Mais uma vez.
Fiz de novo.
— De novo.
Não sabia se me concentrava no que estava fazendo ou na sua mão na minha nuca.
— Pronto.
E assim como ele se aproximou rapidamente, na mesma velocidade ele se afastou.
— Fumar não faz bem.— falou enquanto jogava o cigarro no chão e ia na direção do banco do motorista. — Vou dirigir agora. — estava de novo com aquela postura de badboy.
Eu fiquei mais alguns segundos sentada sem entender direito o que tinha acabado de acontecer. Tentei me recuperar rápido desse último acontecimento e voltei para o carro.
~♧~
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