• • 15: paciência • •
Meus passos incertos me levaram até a calçada na lateral da pizzaria, fora das vistas da minha irmã e de seus amigos.
Não sei descrever bem o que acontecia comigo, mas eu me sentia perto de surtar.
Você era novinho demais, Liam. Eu sabia que nossas histórias e visões de mundo nos diferenciavam. Só não pensei que a diferença de bagagem fosse ser tanta.
Eu estava tão perturbada que não te escutei se aproximar.
— Devlin.
Levantei o rosto para você.
— Por que não me contou? Por que escondeu esse detalhe?
— Não achei que importasse.
— Acontece que a idade é um fator importante para mim! — Eu estava basicamente gritando.
Eu estava zangada porque você deixou aquilo ir longe demais. Então, por essa parte, eu te culpo. Te culpo por ter me envolvido de tal modo que eu não conseguiria voltar atrás. Abrir mão de você não era mais uma opção.
Você usou a bengala para mancar até mim.
— Quer dizer que está tudo bem um homem mais velho se relacionar com uma mulher mais nova, mas não está nada bem se uma mulher mais velha se relaciona com um homem mais novo?
— Se eu for a mulher em questão, então não, não está nada bem. Esse lance de papa-anjo não é comigo.
Foi aí que a irritação inflamou em seus olhos. Acho que você teria me batido com a bengala, se pudesse.
— É só a droga de uma idade! Por que está fazendo grande caso disso? Eu também não sabia sua idade em todo este tempo que estive com você. Eu ainda não sei.
É verdade, você não sabia. Porém, não tinha como você olhar para mim e não me dar mais de vinte.
— Mas você sabia que eu era mais velha, não sabia?
Quase morri esperando sua resposta.
— Sabia — você admitiu, mantendo o contato visual. — Independente de qual for sua idade, não faz diferença para mim.
— Olha, Liam, eu tenho vinte e um anos... — comecei.
— Você tem vinte e um anos? — você repetiu, surpreso. — Jurava que tinha mais.
— Puxa, valeu!
Sua risada ecoou até meus ouvidos.
— É que você parece alguém "vivida", entende? Como se tivesse tido que amadurecer antes do tempo. Enfim, você não é tão velha assim. E daqui a alguns meses vou fazer dezenove — você falou como se tivesse encontrado a solução para a fome no mundo.
Eu me virei e coloquei a mão na testa, invocando minha última reserva de bom senso.
Eu deveria pular fora, abandonar o barco. Me envolver com garotos mais novos não era a minha praia, nunca foi. Eu gostava da experiência, e você ia na contramão disso. De muita coisa, na verdade.
— Me diz uma coisa, Liam. Você já esteve com uma garota, certo?
— Claro que já.
— Você ficou com ela?
— Fiquei. Ela era minha namorada.
Namorada. Isso era algo. Você estava na minha frente, porque nem namorar eu tinha namorado ainda.
— De quanto tempo foi o namoro? — investiguei.
— Dois anos e seis meses.
Dois anos e seis meses. Bastante tempo para fazer todo tipo de coisa com uma parceira. Certo, você não era tão inexperiente assim.
— Por que terminaram? — perguntei, volvendo o corpo.
Seu olhar perdeu um pouco do brilho quando você disse:
— Isso foi uma decisão dela, depois de eu ficar aleijado.
Meu peito se apertou, pareceu esmagar meu coração. Estava claro, para mim, o que você tentava dizer.
Novamente dei as costas e corri os dedos pelos cabelos curtos em desespero. Não sei o que pareceu, mas essa fui eu tentando aceitar a decisão que já tinha feito antes de descobrir sua idade ou qualquer outro detalhe sobre sua vida.
De repente senti seu corpo pressionar atrás do meu e você sussurrou perto do meu ouvido:
— Para de pensar.
Os pelos da minha nuca se eriçaram. Seus dedos tocaram minha cintura e a apertaram de leve. Não fiz nada para tirá-los de lá.
— Ainda sou o mesmo cara que você conheceu naquela ponte. Nada mudou. Fica comigo, Devlin.
Como se você precisasse pedir.
Então você me virou lentamente e me encarou, à espera da resposta.
E eu estava quase, Liam, estava quase me rendendo... até que um grupo barulhento de rapazes bêbados passou por nós na calçada, destruindo o momento mágico.
Alguns deles te reconheceram e entoaram seu nome naquela voz arrastada e patética. Jason estava no meio da trupe. Ao ouvir seu nome, ele encontrou seu olhar e parou de rir. Então, ele me viu.
Senti o sangue gelar nas minhas veias.
— Você? Com o aleijadinho? — Jason perguntou com deboche. — Que reviravolta esplêndida!
Eu estava considerando seriamente dar meia-volta e o deixar falando sozinho, mas a maneira desrespeitosa com que ele te tratou acendeu a fogueira de ódio dentro de mim.
— Como se alguém se importasse com o que você pensa — disparei, dando um passo à frente.
Jason se adiantou para a frente do grupo.
— Onde está toda aquela boa educação que achei que você tivesse? Ah é, você não tem.
Suspirei.
— Não estou a fim de falar com você. Vai se ferrar.
— Sei muito bem com quem você está a fim de falar. — Jason caminhou lentamente até você, sem tirar os olhos de mim. — É com ele, não é? É com o Liam que você quer falar.
— Não há a menor necessidade disso, Jason. Por você não segue seu caminho, que eu e a Devlin seguimos os nossos? — você sugeriu, irritantemente calmo. Como se lidasse com isso diariamente.
— Cala a boca, seu merda.
Alguém caiu na gargalhada e falou:
— Pensando bem, ela te trocou por um manco... Porra, cara! Você perdeu a sua garota para o aleijadinho!
Exclamações de gozação e risadas de zombaria eclodiram ao nosso redor. O rosto de Jason ficou vermelho de raiva e humilhação.
— É sério, Devlin? Sério que você me trocou por isso? — Ele apontava para você, o nariz torcido em desdém.
Ouvir e ver Jason te depreciando para ficar por cima me deixou doente. Ele não chegava aos seus pés.
— O que posso fazer? Ele é muito mais homem que você — eu disse num impulso, jogando mais lenha na fogueira.
Eu nem consegui me importar com o fato de estar contribuindo para Jason se sentir ridicularizado na frente de seus amigos. Até porque ele não tinha a menor intenção de nos respeitar.
— Você vai pagar por isso — sibilou ele.
— Estou morta de medo. — Eu era o sarcasmo em pessoa. — Mas antes de sair por aí bancando o descontrolado, não quer saber por que te troquei por ele?
Fiz uma pausa, então respondi com um sorriso maldoso:
— Porque eu gosto de coisas grandes, e fiquei realmente impressionada com o tamanho da bengala do Liam. Já a sua, parece mais um vidrinho de esmalte.
Ouvi alguns bufos, como se tentassem conter as risadas.
— Caralho! Vai deixar ela te humilhar desse jeito? — alguém perguntou.
Jason me esfaqueava com o olhar, o orgulho masculino ferido. Ao invés de dar o troco em mim, ele decidiu jogar sujo. O maldito atacou meu ponto fraco: você.
O punho dele acertou seu rosto com uma força brutal. Você perdeu o equilíbrio e soltou a bengala, caindo no chão.
A fúria encheu meu corpo. Você não tinha feito nada para ele, Liam. Nada justificava a violência que você recebeu.
— O que está acontecendo aqui? — Foi a voz de Aaron.
Ao olhar para o lado, avistei-o se aproximar com David, Kyle, minha irmã e Stella, que foi correndo para se ajoelhar a seu lado. Por instinto protetor, coloquei Madison atrás de mim.
O sangue escorria dos seus machucados. Tal como a cor, eu enxerguei vermelho. Avancei para Jason, irada, mas Kyle agarrou meu pulso e murmurou:
— Não seria sábio arrumar briga. Eles estão em maior número.
— Merda, Jason! — gritei, frustrada.
Stella recuperou a bengala e a entregou para você. Aaron foi te dar apoio e te ajudar a levantar.
Enquanto Jason te observava ficar de pé com dificuldade, ele riu.
— Esse cara é uma piada.
Você tinha uma mão no rosto quando ele disse:
— Que sirva de lição, Torres. É nisso que dá ficar mexendo com garotas que já têm dono.
— Eu não tenho dono! Não sou sua! — esbravejei. — Não sou sua propriedade, imbecil!
Jason tinha a habilidade de fazer me sentir um objeto. Duvidava que ele sentisse algo sincero por mim. Aquilo era sobre possessividade, era sobre reforçar sua dominância.
Seu nariz sangrava e havia um corte no seu lábio superior. Eu quis desaparecer, porque não aguentava te ver naquela condição sabendo que parte da culpa foi minha.
Você não revidou, Liam.
É claro que você não devolveu na mesma moeda. Em termos de evolução, você estava vários níveis acima de todos nós. E pensando melhor, acho que isso também contribuiu para a calamidade que nós fomos.
Se não fosse sua paciência, você provavelmente já teria me dado um pé na bunda. Você aturou muito das minhas merdas durante o tempo em que estivemos juntos.
Éramos completos opostos, e isso te tornava perfeito para mim. Todas as suas facetas eram intrigantes, mas eu tenho que dizer: o seu lado imprevisível era surpreendente.
Porque no momento em que seus olhos buscaram os meus, eles brilharam. O brilho foi tão intenso que eu senti medo.
Quando, enfim, me dei conta do que tinha acontecido, Jason estava prostrado no chão, cuspindo sangue. Você o tinha golpeado no rosto com a cabeça da bengala. Com este único movimento, você o deixou fora de combate. Você o reduziu a nada e o derrotou.
Simples assim.
Eu de repente comecei a entender a razão para tanta paciência.
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