— Aqui vai uma regra primordial das partidas de beisebol: primeiro nós precisamos encontrar bons lugares — você comentou enquanto guiava a mim e Madison pelo estacionamento do estádio.

Eu sorri para você. Achei que fosse começar a explicar como funcionavam as partidas.

— O que mais? — ouvi minha irmã te perguntar.

— Uma coisa de cada vez.

— Aqui, cara! — alguém berrou e sinalizou para você perto da entrada.

Mesmo de longe e com o mar de gente ao nosso redor, consegui reconhecer o rapaz que acenava. O outro que estava ao lado dele também era familiar. Eram seus amigos, os mesmos que eu tinha visto na lanchonete com você.

Você se aproximou e cumprimentou os dois.

— Pessoal, vocês já conhecem a Devlin — você disse, apontando para mim. — E essa é a irmã dela, Madison.

— Sou David — um louro se apresentou, jogando uma pipoca na boca. Ele tinha um boné do time de beisebol na cabeça.

— Meu nome é Aaron — disse o que antes acenava. — É um prazer conhecê-las.

Apertei a mão de cada um.

— Eu me lembro de ter visto vocês na lanchonete algumas vezes — comentei, tentando quebrar o gelo.

— E eu me lembro de ter te visto várias vezes com o Liam naquela lanchonete. Qual é o seu lance com ele? — David perguntou de cara.

— Nossa, David, sutileza mandou lembranças — Aaron caçoou.

— Ninguém aqui está tentando ser sutil, parceiro.

— Nós mal chegamos e vocês já estão me fazendo passar vergonha — você interveio meio sério, meio querendo rir. — Onde está Kyle?

— Atrasado, como sempre. Vou ligar para aquele paspalho para saber o que aconteceu — avisou Aaron antes de se afastar com o celular na mão.

Isso nos deixou com David, que me encarava com indisfarçável curiosidade.

— Quer pipoca? — ele ofereceu e esticou o balde para mim.

— Não, obrigada. — Eu desci o olhar para Madison. — Você quer?

Ela sacudiu a cabeça, negando.

— Pensei em todos nós irmos a uma pizzaria depois — você comentou para David. — Será por minha conta.

— Aí vi vantagem.

Aaron retornou uns sete minutos depois.

— É o seguinte, galera, Kyle vai demorar mais um pouco. Vamos pegar nossos lugares, que depois ele encontra a gente.

Aaron e David foram na frente enquanto eu te seguia de mãos dadas com Madison.

O barulho crescia à medida que avançávamos para dentro. Entrando lá, me senti num formigueiro com tanta gente se apertando. Alguns usavam adereços e camisas do time, outros tinham os rostos pintados de tinta. O clima estava bem animado e festivo.

Peguei um lugar na ponta, a seu lado. Madison quis sentar na fileira atrás de mim, ficando um nível mais alta para ver o jogo.

— Pronta para sua primeira partida oficial de beisebol? — você perguntou perto da minha orelha, causando arrepios pelo meu corpo.

— Acho que sim. Espero saber identificar quando marcarem ponto, assim posso gritar no seu ouvido à vontade.

— É o que eu mais quero no mundo — você provocou de volta e eu quase engasguei com o novo sentido que deu à minha resposta.

Eu não esperava por essa.

Meus olhos procuraram os seus e te flagrei me olhando com uma cara séria, embora de algum modo estranha. Seus olhos avelã flamejavam para mim.

Eu estava queimando por dentro, o desejo de te beijar voltando com toda força. Meus lábios se separaram levemente, instintivamente, como se eu quisesse falar algo.

Seus olhos desceram para a minha boca, onde permaneceram por alguns segundos. Então você subiu o olhar e fixou sua frente, aflito.

— Certo, é melhor nos concentrarmos. O jogo está prestes a começar — você disse, tentando apagar o fogo entre nós.

O que foi meio inútil. Nós dois estávamos tensos sentados tão perto um do outro. Quanto mais água fria você jogava na fogueira, mais as chamas se tornavam imensas.

Eu não imaginava outro jeito de acabar a noite que não fosse com você na minha cama, ou eu na sua.

Mas então veio a solução para o nosso problema. Aliás, veio o problema em pessoa.

— Kyle, estamos aqui! — David gritou.

Curiosa, olhei para onde você e seus amigos olhavam e encontrei o tal Kyle. Ele se espremia pela arquibancada em nossa direção.

Quando estava a pouquíssimos metros de nós, ele levantou a cabeça e as luzes dos postes iluminaram completamente seu rosto.

Eu petrifiquei no banco.

Kyle.

Aquele Kyle. O Kyle com quem eu fiquei mês passado, antes de começar a ver Jason.

Ele era seu amigo.

Puta merda, eu só me fodo nessa vida.

Em choque, eu o encarava enquanto ele andava até nós. Ele também ficou surpreso quando me viu, mas, para meu alívio, logo se refez e fingiu que nada estava acontecendo. Tudo bem, o segredo estava a salvo.

Assim eu pensava.

Acontece que Kyle era um bastardo miserável que veio do futuro para acabar com a minha raça.

Ele escolheu sentar bem do meu lado. Então, murmurou para que apenas eu o escutasse:

— Como o destino é irônico, não?

— Eu nem te conheço — falei, sem acreditar que a praga estava ali.

Ele sorriu.

— Você me conhece, Devlin. Bem até demais. E eu também te conheço, mais do que qualquer um aqui já te conheceu — ele denunciou naquele tom sugestivo e incriminador.

Fechei os olhos.

Aquilo estava mesmo acontecendo.

— Você está bem? — você perguntou ao olhar para mim.

— Passando mal.

Você ficou confuso, porque segundos atrás eu estava ótima, com saúde para dar e vender.

— Quer que eu te leve de volta para casa? — você ofereceu, pousando a mão sobre a minha com gentileza.

Meu olhar desceu para nossas mãos juntas sobre a arquibancada. Eu me senti incrivelmente leve e aquecida. Seu toque tinha a capacidade de apaziguar os sentimentos ruins dentro de mim.

Voltei a te encarar e, droga, Liam, eu fiquei enfeitiçada. Pelos seus olhos plácidos, pela mecha de cabelo charmosamente caída em sua testa.

De repente, apenas eu e você importávamos. Todo o resto sumiu, como se estivéssemos em uma bolha só nossa.

— Podemos ir embora, se quiser. Eu vou entender — você falou, entre compreensivo e preocupado. Mas estava na cara que você queria ficar e assistir ao jogo.

— Esquece. Foi só uma vertigem. Já estou melhorando — afirmei, esperando soar convincente.

— Tem certeza?

— Tenho.

E então estava feito.

Merda, Liam. Eu desisti de sair de lá por você.

Eu também queria ser compreensiva, porque queria te fazer feliz naquela noite. Sei que Madison não teria se importado se fôssemos para outro canto, mas você estava se divertindo com seus amigos, aproveitando a companhia deles também. Para completar, você tinha gastado um dinheiro com aqueles ingressos.

Fiquei e acompanhei o jogo. Eu achava que tinha feito a coisa certa.

Mas se você parar para analisar com atenção, talvez escute a desgraça chegando com tudo e dando olá.

Minha irmã caçula atrás de mim, meu potencial namorado ao meu lado e, no outro, seu amigo sacana que é meu ex-ficante.

O circo estava armado.