1
— Olhe todas essas casas amontoadas. É como se precisassem umas das outras para ficarem acesas. Quando olho a minha casa, ela está sozinha. Só ilumina a si mesma.
— Ainda bem que te tirei de lá, não é? — James abraçou a moça, rindo.
Suri franziu os lábios.
— É claro, Jay. É claro.
— Você está linda, minha futura rainha.
— Eu ainda nem sou princesa. — Ela sorriu fracamente, desvencilhando-se dos braços dele e afastando-se da sacada. As luzes das casas ficaram para trás.
— Ainda. — O príncipe beijou a mão da garota. — Preciso ir. Já vamos receber nossos convidados. Desça para o salão assim que terminar.
Suri observou a saída de James do quarto, deixando-se cair na primeira poltrona que viu. Maldito vestido apertado. O que adiantava ser tão bonito se ela vomitasse nele?
"Uma princesa precisa lidar com essas coisas, certo?", ela pensou enquanto ajeitava a tiara no coque trançado que haviam feito nela. O vestido parecia intacto. Lilás, cheio de camadas e brilhos suaves, era perfeito. Realmente não tinha do que reclamar. A renda transparente cobria seus braços mestiços. James gostava de mangas longas.
Quando fitou o espelho pela última vez, só conseguia ver a feição assustada de uma novata tentando parecer segura com aquele monte de joias brilhantes e maquiagem.
"Bem", ela suspirou, "vai melhorar".
Cheia de uma falsa coragem, deixou o quarto e começou a caminhar para a escada principal. Nenhum criado à vista. Respirou fundo. Lá de cima, apoiando a mão no corrimão, viu que o salão estava ficando cheio e o príncipe conversava em uma rodinha. Suri conhecia uma ou duas pessoas, talvez... Não, céus, a quem ela queria enganar? Não fazia ideia de quem eram aqueles nobres engomados.
Quando começou a descer as escadas, o salto fez barulho e James virou-se para olhá-la.
"Ah, não, James, você não vai me anunciar, não vai me anunciar, não vai..."
— Senhores e senhoritas, apresento-lhes minha deslumbrante noiva! — Ele exclamou o mais alto que conseguiu e a maior parte dos convidados começou a encará-la e bater palmas.
"Constrangedor", a moça reclamou para si própria, mas sorriu por fora. "Será que vou me acostumar com isso?". James foi até a escada e a esperou descer para segurar sua mão e conduzi-la pelo espaço.
Um passo ali e outro aqui, ele fez com que ela cumprimentasse todas as pessoas presentes. Todas, no sentido mais amplo da palavra. Suas bochechas já doíam nos minutos iniciais. Quer dizer, alguns eram, de fato, simpáticos, mas ela percebeu todos os olhares de desprezo também existentes. James havia avisado sobre isso. Era camponesa, mestiça, jovem e inexperiente, afinal.
Ele não usou essas palavras, porém ela era esperta.
— Príncipe de Lylus, meu grande amigo! — exclamou James para o convidado seguinte.
"Lylus?". Ela não se lembrava daquele reino.
— Ora, achei que não fosse chegar aqui, James. — A resposta veio acompanhada de um sorriso.
Um aperto de mãos se seguiu.
— Minha noiva, Suri.
Os olhos do novo príncipe caíram sobre a moça. Olhos astutos e sagazes, ela reparou. Como...
— Todos já sabem, você anunciou com muita ênfase. — Como corujas piando toda a sua sabedoria aos desavisados? Ele sorriu e pegou a mão dela, beijando-a por mais segundos do que o necessário. — Estou encantado em vê-la de perto.
— Alteza. — Ela fez uma reverência, percebendo que estava atrasada no gesto. — Prazer em conhecê-lo.
— Se quiser, pode me tratar por Lewis — sugeriu com um sorrisinho.
— Lewis — aderiu ela.
— Fiquem um pouco por aqui — convidou ele. — Estava me sentindo solitário.
— Com tantas pessoas? É fácil arranjar companhia. — James piscou, malicioso. Suri quase (quase!) revirou os olhos.
— É possível ter vários indivíduos ao seu redor e mesmo assim não ter companhia — respondeu, sorrindo. Certo, talvez aquilo fosse uma surpresa para Suri, que franziu as sobrancelhas. — Não é mesmo, Suri?
Ela percebeu que estava sendo provocada, só não sabia como e por qual motivo.
— Acredito que sim, Alteza. — Resolveu se manter formal e desviou os olhos.
Lewis franziu a testa e resolveu tirar a atenção de cima da futura rainha. Em poucos minutos, ele e James estavam engajados em alguma conversa sobre a situação dos países. Suri sabia que deveria prestar atenção, afinal, iria ter que lidar com essas questões muito de perto. No entanto, seus olhos fugiam a todo instante para fora do salão. A noite estava linda. Ela sentia isso (ela sentia a noite) mesmo com os corpos grandes dos guardas bloqueando sua visão.
Acabou suspirando, com vontade de escrever algo sobre aquele cenário.
Nesses momentos, concluía que a vida da realeza não era para ela. Mas o que poderia fazer? Não podia decepcionar sua família. Ou James, que parecia tão apaixonado. Ou o rei e a rainha, que acolheram-a como se fosse uma filha (apesar de nem estarem presentes na festa por causa de uma viagem de última hora. Tudo bem, o que importava era a intenção, certo?).
Finalmente, os músicos começaram a tocar uma melodia de valsa. Isso tirou a atenção dos príncipes da conversa, tendo o mesmo efeito nos pensamentos da moça.
— Acredito que você queira essa dança com sua noiva — Lewis comentou.
— Não posso desperdiçar esses momentos, não é mesmo? — James sorriu. — Outra hora continuamos a conversa.
O rapaz apenas assentiu. Suri finalmente teve coragem de reparar com mais atenção, percebendo que, mesmo com o balanço da cabeça, os fios castanhos dele continuaram no lugar. Poderia ter reparado mais, porém James a puxou para o centro do salão. Ele era maníaco por atenção e Suri não tinha se acostumado totalmente.
No entanto, dançar era um de seus talentos naturais, então ela aproveitou o momento mais do que imaginou. Os giros, as luzes, as mãos de James em seu corpo, conduzindo-a... Eram sensações que apreciava. Dançar, mesmo que formalmente, lhe proporcionava um breve sentimento de... Liberdade. Completa e total liberdade.
Ao findar a música, fez a reverência e recebeu os aplausos com educação. Agora, iriam ter que voltar a conversar com os convidados, porque a sociabilidade era importante, de acordo com James.
Ela cumpriria seu dever, mas precisava respirar. Respirar um ar que não estivesse contaminado por nobres. Não era um crime querer aproveitar o sentimento que a dança lhe tinha trazido, certo?
Cochichou no ouvido do príncipe que voltava em alguns instantes, sem dar tempo para ver sua reação. Saiu pela porta principal. Nenhum guarda questionou. Nem ninguém, aliás, mas ela sabia que todos tinham visto. E se estavam comentando?
"Quem se importa?", o seu lado rebelde protestou.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro