As opiniões que me definiam
Levei quatro anos pra revelar publicamente que fiz a bariátrica. Só essa semana, depois de publicar a foto do meu antes e depois no Facebook fui me dar conta disso.
E por que?
Foi o que me questionei.
Porque ainda estou me curando da doença embutida na minha cabeça pela visão dos outros.
A doença dos corpos magros, da calça trinta e oito, da bunda perfeita.
Daquele lema eterno de vida: seja perfeito ou sofra para ser.
Passei muito tempo enxergando apenas os meus defeitos e acreditei que as pessoas também viam somente isso.
Carreguei esse alvo no peito desde que me entendo por gente.
Mas por que a gente decide operar ou fazer alguma coisa que nos proporcione uma mudança drástica de vida?
Qual é o ponto em que chegamos em que nos olhamos no espelho e nos questionamos:
Por que me deixei engordar tanto?
O que foi que aconteceu comigo?
Acho que todos mundo que sofre com problema de peso, tenha feito ou pense em fazer cirurgia ou não, já se viu com essas questões na cabeça.
No meu caso, eu vinha sofrendo com isso desde a infância.
Aos dez anos de idade, medindo um metro e quarenta e nove, eu pesava setenta e oito quilos.
Dá pra imaginar o que as criancinhas legais faziam comigo, não é?
Troquei de escola sete vezes até me formar. Repeti de ano duas vezes por falta.
Desde pequena, eu usava roupas sob encomenda porque o uniforme não cabia em mim, e via uma Carine deformada pela opinião dos outros no reflexo.
Cresci detestando cada centímetro do meu corpo.
Na época, decidi fazer uma dieta por conta própria e perdi trinta quilos.
Enfim, aos doze anos, entrei no padrão da sociedade mas não estava preparada para a flacidez e as estrias que apareceriam.
Aos quatorze anos entrei na academia e mantive o peso por um tempo, mas fazia todas as dietas erradas.
Um misto quente por dia.
Hoje só vou comer tomate.
Hoje só comerei vagem de manhã, e por aí vai...
Aos dezesseis anos diagnostiquei um problema na tireoide, tive problemas com a insulina e comecei a engordar de novo.
O desânimo de ter engordado e a maldita preocupação com o que os outros pensavam de mim, me fizeram abandonar a academia.
Eu detestava ver minha gordura marcada na calça legging enquanto andava na esteira, eu fechava os olhos pra não ter que me encarar no espelho enquanto fazia os exercícios e vivia na constante comparação entre meu corpo e os corpos magros.
Eu poderia ter enxergado o meu rosto bonito, a minha cintura que mesmo gorda, existia, deveria ter observado como meu cabelo era bem tratado e o mais importante, como eu era uma pessoa alegre, criativa, extrovertida, com milhares de qualidades para oferecer ao mundo e as pessoas.
Mas como não fui capaz de encolher o tamanho das roupas, acabei encolhendo todo o meu eu em torno disso.
Descobri há pouco tempo, que grande parte do meu problema com o peso, era o peso que eu carregava, literalmente.
Peso em todas as minhas ações, achando que havia sempre alguém me observando.
Olha lá a gorda no restaurante, vai pedir batata frita.
Olha o tamanho dessa garota, ela nunca vai emagrecer.
Olha só, coitada, tão nova e com o rosto tão bonito.
Eu realmente escutava essas e coisas piores, mas cada flechada recebida, virava um pedregulho que eu amarrava e carregava nas costas.
O maldito peso. A maldita opinião dos outros. E a maldita cobrança interna.
Mas continuando com a linha do tempo.
Entrei na faculdade e já estava bem gorda de novo (reparem que usarei a palavra gorda e obesa aqui, porque esse papo de fofinha, fortinha e etc me irritam. Gordo e obeso não são palavras que precisam ser tratadas como "Aquele que não deve ser nomeado.")
Estava namorando há alguns anos nessa época, e vou aproveitar pra dar uma dica rápida. Cuidado com namorados que te amam loucamente mesmo você sendo gorda, ou que amem ainda mais por você ser gorda. Claro que as pessoas vão te amar do jeito que você for, mas ele por exemplo, me conheceu magra.
Hoje em dia fiquei com a sensação de que ele me estimulava a continuar daquele jeito pra me manter presa a minha falta de autoestima, que me mantinha presa ao único homem capaz de amar uma gorda.
Preciso dizer que terminamos há anos?
Segui dos 18 aos 23 anos pesando entre 90 e 95 quilos.
Perdi as contas de endocrinologistas, nutricionistas........ que frequentei
Reunioes de vigilantes do peso, e até de comedores compulsivos anôminos eu frequentei.
Fiz milhares de dietas
E hoje em dia, notei também que mesmo tendo dificuldade para emagrecer (o que por sinal eu ainda tenho), eu me boicotava.
Para cada semana de dieta na qual eu não emagrecia, eu comia o suficiente para ganhar mais dois quilos na balança em um único dia.
Afinal, por que eu, com 23 anos, não perdia peso do mesmo jeito que a mulher de 40 anos do vigilantes do peso perdia em uma semana?
As pessoas nao acreditavam que eu fazia dieta de verdade, mas outra vez, eu estava me comparando.
Cada corpo é um corpo, e o meu, é uma coisa lenta, maldita, que gosta de transformar todo que eu ingiro em gordura, fazer o que? Mostrar a ele que quem manda nessa porra sou eu, simples.
Como? Encontrei uma dieta e uma rotina de exercícios que consigo manter a longo prazo e me sinto bem com isso.
É bem simples na verdade, difícil é embutir isso na cabeça.
Mas pra mim, é fácil falar disso hoje, por isso acho importante falar do antes.
Aos 23 anos, meu pai foi diagnosticado com câncer e eu descontei tudo na comida. Quando ele faleceu, eu estava com 24 anos e pesando 117 quilos.
Uma coisa estranha que acontece com a gente quando engordamos assim, é que parece que chega um determinado momento em que você não percebe mais.
Você sabe que está gordo, mas não nota que chegou ao ponto da obesidade mórbida.
Até que algumas coisas começaram a acontecer comigo e eu tomei a decisão de operar.
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Olá gente linda!
Esse foi o meu primeiro relato, vou tentar dividir em partes desde o período antes da cirurgia até chegar aos dias de hoje, minha nova rotina e etc...
Se você tem alguma dúvida sobre a cirurgia, quer desabafar, ou tem uma história sobre o peso que gostaria de ver publicada aqui, é só falar comigo. Posso publicar anonimamente pra quem não quiser se revelar.
Essa semana ainda volto pra contar mais um pouco da minha história!
Beijosss
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