Saudade tem gosto de quê?

A pergunta martela em minha mente enquanto eu penso qual pode ser o último menu do Le Café.

Já sei.

Um sorriso derrapa em minha face enquanto eu pego o telefone.

Alô, é da Kibon? Então, eu tenho um pedido. Não, é melhor você anotar. Esse é dos grandes. Quero um caminhão inteiro. Sim senhor, um caminhão. Não, eu não estou ligando do sanatório. Pode entregar no Le Café. Hã, sim, é esse mesmo. Estamos fechando hoje. Não, não abriremos amanhã. Ok, você já pegou o pedido, pare de me fazer chorar! Certo, estarei aguardando. Obrigada.

Certo, agora eu só preciso arrumar essa decoração. Ou melhor, desarrumar...

Permaneço de pé, imóvel, vendo o caminhão de mudanças levar embora todos os móveis que tão bem conhecíamos: os tapetes fofinhos, os puffs disputados, a TV de 90 polegadas - oh Deus a TV! - e toda aquela coleção de xícaras incríveis e fofinhas:

O caminhão de sorvete chega logo em seguida.

E um por um eu recebo vocês.

Vamos enchendo o lugar, ficando de pé, segurando uma ou duas casquinhas de sorvete, que escorre por nossos dedos. Essa é a melhor parte: você lamber o sorvete na mão, sem ligar para o que os outros vão pensar. Porque aqui todo mundo é família e ninguém vai te julgar se você veio descalço usando pijamas.

Será que eles vão me acompanhar?

Afasto o pensamento e disfarço com um sorriso:

__ Obrigada por virem. Não só hoje, mas todos os dias que abrimos. Obrigada por terem entrado no Le Café e na minha vida. Por terem feito parte desse clube e ajudado-o a crescer. Um brinde, a nós.

Erguemos nossas casquinhas.

__ Alguém tem algo a dizer? Essa é a hora.

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Com o coração apertado, eu deixo o Le Café e espero todos saírem. Em seguida eu clico o botão vermelho, aquele que eu sempre disse para ninguém nunca apertar.

Ficamos assim. Parados de frente para a árvore, vendo-a queimar lentamente. O clube deve permanecer secreto, não poderíamos deixar pistas.

As chamas se erguem no céu cinzento da tarde, lançando suas cinzas sobre a cidade, sobre nós. Cada cinza contém dezenas de lembranças, que são levadas pelo vento e se perdem de vista...