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⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝟎𝟏𝟐. ⠀ OUCH, MY FOOT IS HURTING!

PAYTON MOORMEIER
[...]

— Você vai mesmo comprar o combo? — questiona Angel, assim que chega a nossa vez na fila do bar do cinema. — Custa quase oitenta reais.

— Eu? Não! Claro que não... — rio nervosamente. — Hum... Moço, me dê a menor pipoca que o senhor tiver, por favor. — abro a carteira.

— Caralho, quanto dinheiro. Isso tudo é seu? — o queixo de Angel cai.

Às vezes eu esqueço-me que preciso manter a minha aparência humilde.

— Você sempre anda com tudo isso na carteira? — curiosa, ela pergunta, mais uma vez. — Não tem medo de ser roubado?

Esfrego a nuca, sem saber o que dizer, afinal, eu deveria ser visto como pobre. Por que caralhos eu abri a carteira na frente da Angeline, Deus?

— Quê? Não! Digo... Esse dinheiro é... Hum... Empréstimo! N-não é exatamente meu.

Angeline apanha o balde de pipoca e nós viramos para trás. Hesito. O que Carl está fazendo em uma fila de cinema? Pensei que ele apenas andasse de terno em corredores chiques. Ah. Carl é um dos investidores da empresa do meu pai.

Minha nossa. Se ele ver que eu estou aqui, vai cumprimentar-me, fazer mil perguntas sobre a minha família, e, sem contar com todos aqueles assuntos tediosos de negócios.

E agora?

Paro de andar e, novamente, olho para os lados, discretamente.

— Aí! Aí! Meu pé! Meu pé! — finjo dor, segurando a minha perna direita e pulando, simulando a incapacidade de andar.

— O quê? O que aconteceu? — Angeline arregala os olhos, parando ao meu lado. — Está tudo bem?

— Não, meu pé está doendo, eu... — faço uma feição dolente, tentando convencê-la. — Eu acho que torci.

A expressão preocupada de Angeline muda, e então, ela lança-me um olhar desarranjado. Pigarreio.

— Torceu o pé? Andando? — ela cruza os braços, bem em minha frente.

— Hum... Sim. É, isso, mesmo. — passo uma das mãos pelo cabelo, exasperado. — Olha, vamos para a sala de cinema, acho que vai melhorar aos poucos.

— Não. Se você torceu mesmo o pé, deve ir para um hospital, e não para uma sala de cinema no shopping, Payton.

A ignoro. Solto um suspiro alto ao ver o homem sair do meu campo de visão. Acho que ele finalmente foi embora.

— Nossa, o meu pé parou de doer. — abro um falso sorriso, enquanto levanto meu corpo.

— Do nada?

— Sim! Dá 'pra acreditar nisso? Acho que acabei exagerando um pouco. — não esperando uma resposta, seguro a sua mão não ocupada e a levo para nossa devida sala de cinema. — Vem.

Puta merda. Carl está... sentado na fileira da frente da nossa. Como eu consigo ser tão azarado?

Viro a cabeça para o lado contrário, para que assim, ele não veja-me. É uma ótima tática, não?

— O que você está fazendo? — suponho que o cenho franzido de Angel seja a perfeita definição da confusão em sua mente.

O que devo dizer, agora?

— Eu... Hã... Agora eu estou com muita dor no pescoço. Torcicolo, sabe? — em movimentos circulares, começo à girar o pescoço. — Estou massageando-o com a cabeça.

— Quer que eu faça isso para você? Vire a cabeça de volta, será bem mais confortável.

— Não, não, não precisa! Quero dizer... Não precisa se incomodar com isso.

— Não é incômodo.

— Que isso, não precisa mentir. Está tudo bem. — a asseguro. — Mesmo.

Angeline aparece com mais uma daquelas suas expressões esfíngicas, que sempre intimidam-me.

— Você não acabou de dizer que estava com torcicolo?

— São dores constantes da idade, não tem porquê se preocupar.

— Mas você só tem dezoito anos...

— É, sabe como é que é! Acontece. — pego um pouco da pipoca do balde em sua mão. — Ei, essa é a nossa fileira.

Acomodo-me em um dos bancos no canto da fileira de cadeiras e Angeline senta-se ao meu lado.

— Faz tempo que eu não venho em um cinema. — murmura ela. — Quase não tenho tempo para isso.

— Entendo, eu também não. — minto. — Acho que a última vez foi em...

Caralho! Carl está levantando-se. Repito. Carl está levantando-se! Meu Deus. Eu estou morto caso ele me veja aqui, ainda mais com esta roupa!

— Angel, eu preciso ir ao banheiro.

— Mas o filme mal começou.

— É, daqui a pouco eu volto.

Não. Eu não voltei "daqui a pouco". Honestamente, eu passei, no mínimo, a metade do filme trancado no banheiro, sem saber ao certo o que fazer.

Deuses. Angeline deve estar querendo me matar.

Em instantes, volto à sala de cinema, aconchegando-me em minha cadeira. Isso é bem mais constrangedor do que eu imaginei que seria.

— Você foi no banheiro ou pegou um voo de ida e volta para a França? — sussurra Angel, ironicamente.

— Desculpa.

— Por que demorou tanto?

— Eu... me perdi. — retruco. — Não estava conseguindo encontrar a sala.

Eu realmente espero que Angeline acredite, porque essa foi uma das piores mentiras que eu já inventei.

— Hum... O meu pé voltou a doer. — levanto mais uma vez, sacudindo a perna. — Acho que dessa vez é sério!

— Payton, o que está acontecendo? — ela puxa um dos meus braços, fazendo com que eu torne a sentar-me ao seu lado. — Não precisa mentir para mim, você sabe que eu não vou ficar brava.

Ah, pode apostar que você vai. Muito.

— O que está dizendo? Eu estou com dor, mesmo. — falo tudo embolado. Caramba, eu estou muito nervoso.

— Para, Payton. Por favor. — suplica. — Se você estivesse mesmo com tanta dor, eu tenho absoluta certeza de que não conseguiria nem se levantar.

Balanço a cabeça. Ela tem razão. Sempre tem.

— Desculpa, Angel. Me desculpa mesmo. É só que...

Por uma fração de segundos, penso em contar toda a verdade para Angel. Toda. Do início até o fim. Porém, logo desisto. Esta é a opção mais estúpida de todas, afinal, estamos no meio de uma sala de cinema. Seria desastroso.

— Diga, Payton. — saio de meus devaneios ao sentir Bonet cutucar meus ombros, no aguardo por uma resposta.

Olho para baixo.

— Não é... nada. Desculpa.

• ( interação ): assistiram viúva negra? se sim, o que acharam?
• votem e comentem! <3

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