16
Por volta das três da tarde, eles entraram no carro e subiram a rua até o alto da colina, um lugar cercado pela densa mata nativa que ali havia. O caminho era bem ruim naquela parte da estrada, ela estava completamente abandonada, sabe-se Deus há quanto tempo. Havia um galho enorme há uns 500 metros da casa e Felipe e Bruno tiveram uma certa dificuldade para arrastá-lo o suficiente para que o carro pudesse passar. Bruno deu a ideia de usar o galho como lenha mas foi rechaçado por Felipe, que começou a rir da ignorância do amigo.
— Do que está rindo, porra?
— Isso não queima seu burro. Está verde.
— Se isso não queima, como as florestas pegam fogo então?
Felipe ficou olhando para ele sem saber o que responder.
— Cara... Vai tomar no cu porra.
Bruno riu. Felipe não estava a fim de entrar em uma discussão inútil de porquê uma floresta pegava fogo mesmo estando verde e aquela madeira não.
Adilson dirigiu por uns cinco minutos até parar em um platô. Dali para a frente a estrada se transformava em uma trilha que entrava na mata fechada, e era impossível seguir de carro. Aquele não era um lugar natural, tinha sido construído ali, e ele ficava pensando no porquê. Talvez pretendessem fazer ali algum condomínio no passado. Não importava, eles estavam ali apenas para arranjar lenha, e lenha suficiente apenas para passarem um final de semana.
Tinham trazido um facão, um machado e uma foice que tinham achado no depósito de ferramentas onde estava o gerador de energia. As ferramentas não estavam em muito boas condições de uso, mas eles não iam precisar de muita lenha, e aquilo devia ser o suficiente. Se ao menos houvesse um fogão naquela casa eles não precisariam pegar lenha.
Quando eles chegaram ao platô imensas nuvens cinza povoavam o céu indicando que ia cair uma tempestade logo logo. Felipe pedia a Deus que não chovesse, embora acreditasse que iria cair um toró. A coisa iria prejudicar o tratamento da piscina.
— Vamos nos apressar - disse Adilson - porque eu acho que vai bater água rapidinho.
Ele acendeu um cigarro e pegou o machado.
Bruno estava examinando a calça Jeans que estava usando.
— Eu odeio esses lugares de mata, cara! - Afirmou ele.
— Corta essa meu chapa. - Disse Felipe examinando o corte do facão. - Precisamos pegar a lenha rápido, ou não vamos ter jantar hoje.
— É sério. - Bruno pegou a foice e raspou a calça. - Esses lugares estão infestados de carrapatos. São uma bosta!
— Bosta digo eu. - Disse Adilson. — Pare de reclamar e vamos pegar a porra da lenha, caralho!
Bruno acendeu um cigarro.
— Por mim pedia algumas pizzas e pronto.
— Tá. E você paga. Vamos logo seu gordo!
Bruno mostrou o dedo do meio.
Eles entraram na trilha e começaram a procurar lenha. Logo acharam alguma coisa, lenha era uma coisa que não faltava naquele lugar.
Por um momento Adilson lembrou-se de sua adolescência. Quando ele tinha uns 12 anos moravam na roça, e pegar lenha era coisa comum. Tinham fogão a gás mas ele era raramente usado. Eram bons tempos aqueles. Adilson ponderou que a vida era boa naquele tempo e ele não sabia. Se pudesse ele voltaria para aquele tempo e viveria lá para sempre.
Cortaram feixes de lenha numa medida que coubesse dentro do porta malas da Blazer, e amarraram com alguns pedaços de cordas que trouxeram.
Adilson estava fazendo o trabalho em silêncio, absorto em pensamentos, e parecia meio preocupado. Na verdade ele estava assim desde que tinham encontrado a mulher estranha da padaria. Aquela mulher certamente sabia alguma coisa, e o que preocupava Adilson era saber que coisa era aquela, e como aquilo poderia afetar Kelly.
Felipe olhou para ele e perguntou:
— Tudo bem cara?
Ele conhecia bem o amigo, sabia quando ele estava com alguma preocupação.
Adilson suspirou e disse:
— Estou bem.
— Você parece preocupado.
Ele suspirou e disse:
— Estou preocupado com a Kelly e esse negócio de se lembrar das coisas do passado.
— Acha que isso vai ajudar ela de alguma forma?
— Bem... Foi para isso que a gente veio. Eu sei lá... Vamos fazer as coisas com cuidado. Não quero piorar o estado dela .
— Já ouviu falar em terapia? - Perguntou Bruno e não obteve resposta.
Uns quinze minutos depois alguns pingos de chuva começaram a cair.
— Bem... Vou levar esses feixes de lenha para o carro. - Disse Bruno.
— Faça isso que a gente já vai. - Afirmou Adilson.
Bruno colocou dois feixes de lenha nas costas e voltou para o carro. Quando abriu o porta malas a chuva já caía de forma intensa e ele se perguntava o que Adilson e Felipe ainda estavam fazendo no mato.
Ele jogou os dois pequenos feixes de lenha no porta malas e voltou a fechar a tampa.
Abriu a porta do passageiro e entrou.
— Merda de chuva!
Ele achava tudo aquilo uma merda. Estavam ali para ajudar Kelly, mas isso também era uma merda, porque era óbvio que o que ela precisava era de terapia. Lembrar das coisas do passado não ia servir para nada.
Ele não falaria aquilo para Adilson, deixaria ele fazer o que achava que devia ser feito. Estava ali só para tomar algumas cervejas e transar com Rose. O resto podia se foder.
Do lado de fora a chuva se intensificou.
— Merda. E aqueles dois? O que ainda estão fazendo lá?
Bruno não viu o carro preto que parou atrás da Blazer. Ele olhou para trás e não vou nada senão a chuva que desabava.
Acendeu outro cigarro sentindo um nervosismo inexplicável tomar conta de si. Não gostava daquele lugar e queria sair dali o quanto antes, tomar um banho e uma cerveja, não necessariamente nessa ordem.
Ele ouviu um barulho. Olhou para trás e viu a tampa do porta malas aberta.
— Porra! O que pensam que vão fazer com lenha molhada?
Bruno não obteve resposta. Ele supunha que eram Adilson e Felipe abrindo o porta malas mas eles não apareceram. Ele franziu o cenho.
— Ei pessoal.
Apenas o ruído da chuva podia ser ouvido.
Ele ouviu um ruído no vidro e olhou rapidamente para a direita. Sentiu uma pontada de medo em seu coração porque de repente viu não mãos que uma sombra, se esgueirando na chuva.
— Adilson? Felipe? São vocês?
Ninguém respondeu.
— Mas que merda! Parem de brincadeira, caralho! Vou dar uma porrada na cara de cada um de vocês, seus pulhas.
Bruno abriu a porta e contornou o carro indo até o porta malas.
Não havia nada ali.
Ele olhou à sua volta e não viu nada senão a floresta sendo açoitada pela chuva que caía.
Fechou a tampa do porta malas e olhou para trás.
A porta que antes ele tinha deixado escancarada agora estava fechada.
— Ei, seus filhos da puta! Parem com essa merda, caralho!
No meio da chuva sua voz soava estranha. Mesmo ele quase gritando, não havia eco.
Bruno ficou parado ali por alguns instantes ouvindo apenas o som da água caindo nas folhas da árvores.
— Vai tomar no cu, caralho!
Ele abriu a porta do carro e entrou.
Estava meio nervoso, havia uma leve e incompreensível pontada de medo dentro de si. Seu coação palpitava um pouco.
— Mas que merda!
Tentou ligar o rádio e só conseguiu estática.
De repente um rosto disforme apareceu na janela do carro e Bruno começou a gritar. Mas então a porta do motorista se abriu e Adilson apareceu dando risada. Felipe também entrou no carro rindo.
— Seus filhos da puta! O que pensam que estão fazendo, porra?!
— Devia ver sua cara, meu chapa! - Exclamou Felipe. - queria ter uma câmera para gravar.
— Vai tomar no cu! Vamos sair logo dessa merda!
Adilson ligou o carro e eles saíram dali sob a forte chuva que caía.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro