15
Adilson e Felipe voltaram com as coisas, coisas que, na opinião de Adilson, tinham custado "os olhos da cara", muita coisa para passarem apenas um final de semana.
Eles almoçaram na pequena sala de jantar da casa. Um cômodo ligeiramente apertado que comportava uma cômoda e uma mesa com quatro cadeiras. Adilson e Kelly trouxeram cadeiras da cozinha.
Usando a pouca lenha que conseguiram, as mulheres prepararam arroz, lasanha, risoto e salada de couve com tomates, tudo acompanhado com cerveja e refrigerante. Kelly, que não tomava nem refrigerante e nem cerveja, preferiu suco de laranja, e Rose a acompanhou.
Bruno explicou que achava que a TV grande e antiga da casa iria funcionar, embora Kelly duvidasse que uma coisa parada e empoeirada há dezoito anos pudesse funcionar.
— Só estou esperando você ligar a energia Adilson. - Disse ele secando uma lata de cerveja e abrindo outra.
Adilson comeu um pedaço de lasanha fazendo uma expressão de aprovação e disse, meio de boca cheia:
— Vai funcionar cara. Só vou dar uma lubrificada nas engrenagens daquela coisa e ligar. Coisa rápida.
Era uma dedução, é claro. Não havia garantias de aquela coisa funcionasse depois de décadas abandonada, mas era sempre bom ter esperança.
— E a piscina Felipe? - Perguntou Kelly.
Apesar de estarem nas montanhas estava fazendo calor. A temperatura devia estar em 28 graus. Uma piscina naquele final de semana cairia bem.
— Vou tratar a água daqui a pouco. - Disse Felipe pegando um pouco mais de salada. - Amanhã mesmo estará pronta.
— Onde aprendeu a mexer em piscinas? - Inquiriu Rose com entusiasmo.
— Trabalhei algum tempo de piscineiro. - Respondeu ele, lembrando do serviço que tinha nos tempos de ensino médio, quando estudava de noite e vivia rodando a cidade em uma bicicleta para dar conta de cuidar das cinco piscinas que estavam aos seu cuidados. Algum tempo depois ele adquiriu uma moto, uma velha CG 125 e levava os produtos e equipamentos em um baú. - É um trabalho bem legal, e fácil. Dá pra ganhar uma grana com isso, se você tiver a manha. - E na época ele tinha. Chegara a comprar um Fusca caindo aos pedaços com a grana, e ainda ajudava nas despesas de casa.
— Precisamos de lenha para cozinhar. - Disse Soraia enchendo seu prato com mais lasanha. Estava realmente ótimo.
— Vamos ter que comprar essa merda? - Perguntou Bruno, preocupado em te que gastar mais grana, já que sua reserva de dinheiro para aquela viagem não era lá grande coisa.
De três anos para cá ele vinha enfrentando uma certa crise financeira que estava lhe dando certos apertos a ponto de não conseguir comprar nem cuecas novas.
Ele tinha gastado uma fortuna com advogados, tudo porque tinha se envolvido com uma adolescente de 15 anos. Os advogados tinham conseguido livrá-lo da cadeia, mas ele não conseguiu se livrar do rombo financeiro que a coisa lhe causara.
Adilson balançou a cabeça em negativa.
— Acho que não. O lugar todo é cercado de floresta. Se não acharmos lenha por aqui não vamos achar em lugar nenhum.
De fato, ali devia ter lenha para vender se eles quisessem.
Eles almoçaram. Beberam algumas cervejas. Depois Rose disse que ia tirar um cochilo, Kelly e Soraia foram lavar a louça. Felipe iniciou o tratamento da piscina ao som de Iron Maiden que vinha de um rádio toca fitas à pilhas que ele levava consigo a todos os lugares, rádio esse que tinha sido de seu pai. Adilson e Bruno foram cuidar do gerador. Adilson tinha alguma noção de mecânica, e Bruno gostava de mexer nas coisas, de modo que aquilo ali não era grande coisa para os dois.
Usando chaves, eles desmontaram as engrenagens do gerador e lubrificaram tudo com graxa que acharam alí mesmo, graxa essa que devia estar vencida mas na opinião de Adilson servia, afinal, aquela coisa iria funcionar por apenas um final de semana e nada mais.
Depois voltaram a montar a coisa, abasteceram, trocaram o óleo do motor e tentaram ligar. A coisa não ligou. Tentaram algumas vezes mas sem sucesso. Isso não os desanimou. Já esperavam que um motor parado há 18 não ligasse logo de cara.
— Pode ser a bateria cara. - Disse Bruno.
Adilson ponderou que ele tinha razão. Aquela bateria estava morta.
— Com certeza. Faça o seguinte: tire a bateria do carro e traga aqui.
— Beleza.
Bruno saiu com uma chave e poucos minutos depois voltou com a bateria da blazer, que Adilson tinha comprado há apenas dois meses.
Adilson ligou os fios fazendo alguma gambiarra, que certamente poderia significar um incêndio se não fosse bem feita.
— Dê a partida aí cara. - Ele apontou para o motor.
Bruno puxou a corda de partida algumas vezes até que o motor ligou e o gerador começou a produzir energia. Adilson ligou a lâmpada do depósito de ferramentas.
— É ISSO AÍ PORRA! - Gritou ele exultante. - EU DISSE QUE ESSA PORRA IA LIGAR, CARALHO!
— Agora temos energia. - Constatou Bruno. - Não vamos comer buceta no escuro. - E os dois caíram na risada.
Bruno ofereceu uma cerveja a Adilson. Os dois saíram dali e encontraram Felipe na piscina.
— Já pode ligar o motor dessa porra, Felipe. Disse Bruno.
— Vou precisar do motor só amanhã. Vou colocar sulfato de alumínio na água para decantar a sujeira, amanhã basta aspirar e pimba.
— Daí as garotas vão poder queimar a bunda de biquininho. - Disse Bruno sorridente.
— Termine logo esse negócio aí cara. - Disse Adilson acendendo um cigarro. - Eu acho que vai chover e a gente precisa lenhar.
— Tem machado aí? Pra pegar precisamos de um machado.
— Tem umas ferramentas ali no quartinho do gerador. Deve ter um machado no meio. O corte deve estar cego, mas é melhor do que nada.
— E vamos trazer a lenha onde cara? - Perguntou Felipe.
— No porta malas do carro. - Respondeu Adilson. - Mano, vamos ficar aqui até domingo só. Não vamos precisar de muita coisa.
— Beleza. Vou colocar o sulfato aqui na piscina e a gente já vai pegar a lenha.
Adilson e Bruno entraram na casa e Felipe começou a última etapa do tratamento da piscina.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro