Capítulo 4
Tadheus estava sentado na maca da enfermaria da faculdade. Seu olhar era vago, olhando para o sol se pondo naquele dia. Depois que acordou, o médico veio conversar com ele. Algumas perguntas e exames foram feitos. E o jogador descobriu o motivo de sua queda. Ele levou o corpo dele a níveis extremos de estresse basicamente falando. E o fato dele não conseguir mexer as pernas era um espécie de mecanismo de defesa de seu corpo. O médico disse que ele apenas precisava de descanso e tudo voltaria ao normal.
Sua apatia do momento se devia a uma ligação que recebeu de seu pai. Não como se fosse uma novidade para si, mas o pai fez pouco caso de seu estado e afirmou que queria que ele descansasse logo para participar do jogo do final de semana. O problema é que apenas com a menção da partida, Tadhe ficou tenso e sentiu o seu coração bater mais rápido, de uma forma agoniante e incômoda. O médico explicou um pouco também que ele passou por uma crise forte de ansiedade.
Tadheus suspirou com o pensamento. Não conseguia nem mesmo organizar as coisas na sua cabeça. Depois da ligação, recebeu seus colegas de time que vieram saber como ele estava. A visita foi um tanto breve porque o levantador estava um pouco fora de órbita.
Foi tirado de seus pensamentos quando Yuuki o chamou.
- Como está? - sentou-se na beirada da maca.
- Melhor... O médico disse que meu corpo sofreu um grande estresse... Só preciso descansar.
- Fico feliz em saber... Vê se descansa para você ficar melhor.
- Eu preciso melhorar, o jogo é no final de semana. - tremeu levemente.
- Você precisa melhorar pra melhorar. O jogo não é importante... - viu o olhar indignado do outro e se corrigiu – Não me olha assim, eu só quis dizer que a sua saúde é mais importante que o jogo...
- Você acha mesmo? - sorriu triste – Não é o que o meu pai me disse...
Era a primeira vez que o jogador tocava no nome do pai com Yuuki. Mas o rapaz já havia reparado que talvez a família de Tadhe fosse tão complicada quanto a sua.
- Tadhe... Eu sei que você ama o vôlei... Mas você não precisa se cobrar tanto – as palavras chamaram a atenção do outro – Você já é um excelente jogador... E se você não se divertir na quadra, qual sentido existe em jogar? - tentou ser o mais delicado o possível.
Tadheus sorriu com nostalgia, lembrando-se de quando praticava vôlei apenas pelo amor ao esporte.
- Eu amo o vôlei... Mas... Eu preciso me esforçar e... - falou de modo um tanto agitado e não conseguiu acabar de falar.
- Bom, se você ama mesmo e quiser voltar a jogar, eu dou todo o apoio... Mas se você... Olha, está te fazendo mal...
- Eu não quero falar disso Yuuki... - passou a mão no rosto frustrado.
- Tá certo... médico disse que você já pode ir embora. Eu te ajudo, vamos?
De início Tadhe quis negar a ajuda. Precisar que o outro o pegasse no colo e colocasse na cadeira porque ele não conseguiria nem mesmo fazer isso sozinho. Depois refletiu que era melhor ele lhe ajudar do que a enfermeira ou o médico.
Concordou levemente com a cabeça e viu ele trazer a cadeira de rodas. Sentiu-se estranho tendo que precisar usar aquilo, mas não tinha escolha.
Yuuki o pegou no colo e pareceu não ser difícil levá-lo até a cadeira. Lembrou-se que o rapaz mencionou certa vez que dançou ballet e que bailarinos precisavam ter muita força no corpo todo.
- Vamos? - não esperou uma resposta e começou a andar com ele pelos corredores falando sobre amenidades.
Yuuki estava preocupado com o bem estar do outro. Eles não tinham nada, mas o oriental achava que eles tinham intimidade o suficiente para serem considerados como ao menos amigos.
Tadhe chegou a porta de sua república e agradeceu ao outro pela gentileza.
- Sem problemas, Tadhe... Qualquer coisa me liga... - sorriu e se virou pra sair.
- Yuuki... Obrigado. - agradeceu com o olhar baixo.
O oriental o fez refletir sobre diversas coisas e enquanto ele falava no caminho até a república, ficou pensativo sobre o vôlei e que deveria fazê-lo por amor. Há muito tempo que não sabia o que era jogar apenas por amor...
A faculdade em que eles estudavam era uma das mais caras do país, portanto não era de se estranhar que o atendimento médico dela fosse igualmente excelente. Uma enfermeira foi mandada para auxiliar ele para tomar banho pela manhã e acompanhá-lo durante o dia. Coisa que o jogador dispensou prontamente, já bastava precisar de ajuda para tomar banho.
Tadhe guiava a própria cadeira pelos corredores e conseguia perceber o olhar estranho das pessoas, alguns de pena e outros de deboche. Ignorava-os com maestria. Percebeu que nos dias que se seguiram, que os seus "amigos" deixaram ele de lado. Quero dizer, antes os seus amigo estavam todos de prontidão, conversando e querendo que ele se recuperasse logo para jogar a partida do fina de semana. Entretanto, isso não aconteceu. O fato era que Tadhe ainda não conseguia mexer as suas pernas.
No treino que antecedia a partida, ele tentou ir para a quadra incentivado por Cameron. Acontece que assim que entrou no lugar, começou a sentir uma forte crise de ansiedade. Conclusão, foi embora da quadra com um Alek preocupado levando ele até a enfermaria e obviamente, não jogou na partida seguinte. O seu time perdeu, não estavam fora ainda, bastava ganhar o próximo jogo que estaria tudo bem.
Depois disso, os amigos dele começaram a agir de forma estranha. Não que eles não gostassem dele. Era como se ele se desse conta de que não era uma prioridade para nenhum deles. A maioria ou ignorava a presença dele ou não conseguia suportar esperar a lentidão dele em se locomover. Os momentos que mais o irritavam era quando eles agiam como se ele não tivesse a menor capacidade para fazer nada. O que o tirava do sério e rendia a ele dezenas de palavrões destinados a tal pessoa.
Era estranho e constrangedor, se sentir invisível e irreconhecível. As únicas pessoas que não mudaram consigo foram o Alek e o Yuuki. O primeiro ele não possuía muita intimidade mesmo, então as conversas cordiais foram mantidas e nem parecia que algo havia mudado. E Yuuki era o que tinha o comportamento mais estranho. Continuava mandando mensagem para ele e às vezes pedia para encontrá-lo escondido.
Um dia Yuuki quis vê-lo e Tadhe se encontrou com ele no corredor. O oriental de forma despretensiosa levou ele até uma sala vazia e se sentou em seu colo como a cadeira de rodas permitia e eles começaram a se pegar ali mesmo.
No fundo Tadheus se sentia bem com isso. Era reconfortante ver que Yuuki não olhava pra ele com pena e não o tratava diferente. E concomitante a isso ainda o incentivava dizendo que logo ele estaria bem.
Algumas semanas se passaram e foi realmente difícil para Tadheus se adaptar a sua nova condição. Em uma consulta, o médico informou que os sintomas persistiam por uma questão psicológica e só com o tempo que ele melhoraria.
Sentia-se mal em não melhorar, mas no fundo estava gostando de ter uma desculpa para não precisar jogar vôlei. Era impressionante e assustador o quanto apreciava não precisar ir jogar vôlei e sentir aquela pressão que sentia sempre.
Faziam dois meses que ele estava naquela condição. Era de tarde e ele e Yuuki estavam em alguma sala vazia tomando café juntos. Comiam cookies recheados de brigadeiro branco juntamente com café.
- Não precisa se cobrar tanto Tadhe. Você vai melhorar quando for a hora. E eu vou estar aqui, com você – confessou em determinado momento e selou a promessa com um beijo.
- Você acha mesmo que eu vou melhorar e voltar a jogar vôlei?
Watanabe parou por uns instantes antes responder.
- Acho que vai melhorar para fazer o que você quiser... - foi sincero.
Não achava que o vôlei a essa altura estava fazendo bem para o rapaz. Se ele quisesse voltar a jogar, apoiaria, mas não achava que era a melhor escolha.
Tadheus sorriu e fez um carinho nos cabelos grandes de Yuuki, até que emaranhou os dedos ali e o trouxe para perto. O beijo era quase possessivo vindo de Tadhe e o outro correspondia de uma forma praticamente entregue. Levantou-se afim de sentar no colo dele como sempre fazia. Sentiu uma mordida em seu queixo e foi empurrado até encurralar ele na mesa.
- Tadhe! - chamou surpreso – Você tá em pé!!!
- Eu to? - olhou para baixo, não acreditando. Ele havia apenas se guiado por seus instintos e pela vontade de beijar mais Yuuki – Eu to!
Yuuki abraçou ele forte, ambos sem acreditar naquilo. Os olhos de Tadhe encheram de água e ele segurou a vontade de chorar. Sentiu os beijos de Yuuki em sua bochecha, a boca arrastava em sua pele em um carinho devoto. Sentiu a boca exigir um beijo. Apertou o corpo esguio dentro de seus braços, beijou Yuuki como nunca antes, com uma ânsia e carinho que quase estranhou. A felicidade explodindo em seu peito.
Separaram-se ofegantes e Yuuki sugeriu dele ir até a enfermaria para ver se precisaria fazer algum exame.
Deixaram a cadeira pra trás e juntos foram para a enfermaria. Conversavam com empolgação devido ao rapaz claramente ter se recuperado. Até que ao virarem um corredor. Tadhe viu inesperadamente o seu pai. O sorriso murchou na hora, o que deixou Yuuki sem entender. Antes que pudesse perguntar, escutou:
- Pai... - sussurrou.
- Tadheus... - a voz fria e indiferente preencheu o ambiente – Vejo que parou de brincar e resolveu se levantar. Já não era sem tempo. Mas era de se esperar que a sua mente fosse fraca e que demoraria para você sair dessa situação.
Yuuki ficou indignado com o que ouviu e fez menção em falar algo. Parou quando Tadhe se manifestou.
- Sim, pai...
- Ótimo, assim você pode participar das últimas partidas. Isso é, se você ainda sabe jogar. Atletas se pararem de treinar perdem tudo o que sabem.
- Sim, senhor...
- Bom, eu vim pessoalmente acabar com a sua palhaçada, mas vejo que não preciso mais. Te vejo nas finais. Se você conseguir levar o seu time até lá! - desdenhou e passou direto pelo filho.
- Tadhe... - chamou.
- Yuuki... Eu...
- Você não pode deixar ele te tratar assim...
- Deixa... Eu to acostumado.
Aquilo claramente fazia mal para ele. Pôde ver claramente o semblante dele esmorecer assim que viu o pai. Era tóxico e um absurdo a forma com a qual ele era tratado. Nem a sua família fazia aquilo com ele... Bom, no caso a sua família preferia apenas ignorá-lo, então... Não sabia dizer o que era pior...
- Tadhe... - se aproximou pegando na mão dele.
Imediatamente o contato foi repelido e ele olhou assustado para os lados, procurando principalmente ver se o pai estava por perto. Se ele ou alguma outra pessoa chegou a ver essa demonstração de intimidade.
- Não me encosta! E se alguém nos ver? Tá louco? O que você acha que vão pensar? - ele não gritou, mas o seu sussurro carregava desprezo o suficiente.
- Não sei, Tadheus. - a voz soou fria – Me diz você, o que vão pensar?
Na hora, Tadheus viu que fez merda, mas não tinha como voltar atrás. Iria pedir desculpas? Não queria, seu orgulho estava ferido. Yuuki sabia que ele não queria que ninguém soubesse dele e principalmente deles. Daí ele vinha e queria pegar na mão dele em público?
- Vão pensar que eu sou gay e que sei lá! Que estamos juntos!
As palavras saíram com raiva, e a cada coisa dita, mas ele se dava conta de que estava fazendo merda e estragando algo. Só que além de seu orgulho falar mais alto, ele estava se sentindo péssimo com o que ouviu. E voltou a um antigo hábito, o de descontar nas pessoas o seus problemas. Sempre que o pai lhe magoava, ele procurava importunar alguém ou algo do tipo. E Yuuki estava ali na frente dele, conseguindo deixar ele mais nervoso e confuso.
Yuuki respirou fundo, sem conseguir acreditar que aquela raiva toda estava sendo direcionada a si, ele não fez nada de mais. Sabia que estavam sozinhos. Só que se sentiu rejeitado e magoado.
- E elas não poderiam estar mais erradas, não é mesmo Tadheus? Porque você é completamente hétero. - sibilou irritado – Ah! E a gente não está junto. Não é? - Seus olhos se encheram de lágrimas, queria chorar por se sentir rejeitado – Mas não se preocupe, pelo menos eu posso garantir que uma dessas duas respostas sejam verdadeiras – Tadhe arregalou os olhos, mas não falou nada. Sua boca ficou aberta como se quisesse contestar aquilo. Porém ele não disse nada.
Watanabe se virou e começou a andar sem olhar para trás. Começou a estupidamente chorar. Passando em sua cabeça o diálogo de forma incessante. Como que ele conseguiu ir da extrema alegria até aquela situação?
Chegou em sua república. Sorte que não havia ninguém. Entrou no quarto e viu Alek em sua cama lendo um livro.
O soluço baixo chamou a atenção do ruivo que se assustou com o estado do amigo. Tão logo deixou o livro de lado, sentiu o amigo deitar em seu colo.
- Yuu... - chamou fazendo um carinho nos cabelos pretos – O que aconteceu?
- Alê... Eu fui rejeitado!
- Rejeitado? Por quem?
- Pelo idiota do seu capitão! - jogou e a sua fala surpreendeu o amigo.
Alek já havia desconfiado dos olhares que tanto Yuuki quanto Tadhe trocavam nos jogos, mas nunca imaginou que os dois estariam juntos.
- Ele me rejeitou e eu dei a entender que terminei algo que nem tínhamos...
- Mas o que ele fez? Algo muito grave? - quis saber, afinal, não gostaria que seu amigo fosse machucado por ninguém.
Yuuki tentou se acalmar e se virou para poder olhar para Alek.
- Na verdade foi uma discussão idiota. Que começou sem um real motivo. Eu até acho que o ele disse foi da boca pra fora e por medo. Mas você me conhece... Eu simplesmente explodi e acabei agindo sem pensar... Eu...
- Calma, Yuu... Tá tudo bem... Logo vocês se acertam...
- Eu...Eu não sei... Não é como se eu pudesse obrigar ele a aceitar a gente... De qualquer forma, acho que isso estava fadado a acabar. A gente nem começou, mas você entendeu...
Alek continuou os carinhos e ouvindo o amigo desabafar. Prometeu que depois faria brigadeiro para eles e conseguiu arrancar com essa frase um singelo sorriso do amigo. Detestava ver el sofrer. Apenas esperava que os dois pudessem se acertar logo. Não sabia que ele e o capitão estavam juntos, mas percebia que Yuu havia ficado bem mais feliz de uns tempos para cá. Quando via ele ajudando Tadhe com a cadeira, não estranhou, Yuuki era muito gentil, o gesto dele não havia sido interpretado como algo atípico.
Yuuki depois de comer o brigadeiro continuou deitado no colo do amigo, recebendo os carinhos dele. Ficou se martirizando, achando que tinha agido errado e se precipitado. A sensação de ser rejeitado era péssima. Principalmente por alguém que você estava estava gostando. Era como se Tadhe tivesse vergonha dele. E aquilo doeu, muito.
Notas:
Genteeee!!!!! Essa fic está sendo um desafio, porque drama não é a minha praia. Mas eu estou me esforçando... Se puderem deixar opiniões sobre a fic, eu ficarei extremamente feliz...Ah, não se preocupem porque a fic tem final feliz e amorzinho... Ela provavelmente terá mais dois caps! HuhuhuhBom, é isso.... Kissus
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