Metanoia
Todas as vezes que me lembro, perco meu ar. Logo eu, tão intocável...Perco meu fôlego quando deixo as lembranças recobrarem meu coração. Logo eu, tão sentida, sentida de sentimentos de amor, pureza revestido de ações confusas, mas tão puras quanto meu ser. Deixei tudo se perder.
Minha voz se embarga quando me lembro, minha garganta se tranca em um nó confuso e logo em seguida me pergunto os porquês a mim mesma. Sozinha naquele hospital, após ter sentido meus pulmões se prenderem sem ar, enquanto a minha única preocupação era o ser de luz que carregava dentro de mim. Me proibi de ouvir uma música, já sabendo o quanto doeria e mesmo assim, na última noite, deixei meus pensamentos intrusos vencerem. Eu sei, sei que ela sentiu tanto quanto eu. Porque toda vez que ouço a canção, ainda dói em mim e nela também, pois, mesmo sem entender, seus soluços vêm em forma de choro quando os timbres começam a tocar.
Meu estômago ainda se revira. Ele cria vida própria porque também se recorda das dores dentro do meu ser que arde em minha pele, meu desatento, minha culpa por ter falhado de tantas formas, tantas sensações que toda vez que tento descrever, sempre vira um emaranhado de palavras que logo se tornam lágrimas. Podem imaginar e dizer que não foi algo tão grande e, às vezes, meu cérebro faz com que se tenha um segundo de epifania e afirma não ser nada demais, porém, se não fosse, por que dói tanto? Talvez pela decepção de ter achado que tudo teria sido paz os nove meses, ou, a decepção de ter deixado tudo isso continuar, nãoi me perdoar pelo fato de ter aceitado tudo, menos quando não se estava inteira, cortada em sete camadas, machucada por dentro, por fora, eu deveria ter ido embora. E a cada tecla que aperto escrevendo isso, não é para doer mais ou menos, é para finlamente deixar o que tem pra sair, se tornar ao menos uma coisa palpável. A fumaça do meu cigarro se esvai no ar, assim como minhas lágrimas evaporam, porém as palavras não, elas têm o poder de fazer tudo flutuar como um balão de gás hélio.
Eu nunca mais, em toda minha vida, quero carregar o peso de outro ser dentro de mim, ser responsável por fazer um bebê chorar ao ouvir uma música, porque se lembra de meu coração acelerado e dilacerado mesmo dopada de remédios em uma cama hospitalar, porque se lembra, unicamente por ser a primeira pessoa em todo o universo saber exatamente o que se passou dentro de mim. Não quero mais esse fardo para mim, o desespero que senti qunado a música tocou pela primeira vez que pingos saíram de seus olhos, mesmo quando não sabia chorar. Nunca mais.
Acho engraçado que, por mais que eu tente deixar de lado, meu corpo ainda sente e se vibra em ira, meus ombros pesam e minhas pernas amolecem, eu ainda sinto tudo como antes.
Mas, agora, é um vazio, antes ao menos habitava rancor, e mesmo quando se há raiva, existe lembrança. So há vazio.
A pior dor e um autor é aquela que mesmo quando se dedica palavras a uma pessoa e ela te estilhaça como vidro, o que restam são as memórias, memórias de belos gestos e palavras de alguém que se jurava conhecer. Mas por ironia ou sarcamo, mesmo sua mãe sendo das águas salgadas que traz um mar calmo, me trouxe recompensa em suas ondas, que nelas ao invés de conter presentes e alegrias, trouxe sujeira, lixo e dúvidas. Sibilando mentiras, mesmo ao se deitar ao seu lado, mesmo quando a cerne de dois, se encontravam no escuro. Ah, palavras de amor... promessas não servem de nada depois que um vidro já está todo espatifado.
Não foi metanoia, tampouco, disfunção de caráter. Foi outra causa, e ela tem nome e sobrenome.
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