Capítulo XVII
Alguns dias aos cuidados de Gavyn foram essenciais para a total recuperação de Katherine, graças às suas misturas de ervas que auxiliaram na remoção de todo o veneno de seu corpo.
Do lado de fora, pela janela da pequena casinha em madeira, a princesa observava Alec com sua espada ao ar livre pelas pontes quebradiças, seus passos leves pareciam passos de dança —, a dança mortal da guerra.
Ela ficou ali por um tempo, até que decidiu ir de encontro ao jovem guerreiro. Ao perceber que a loira se aproximava, ele pousou a espada cujo punho em formato de um leão dourado rugindo refletia a luz ao lado de seu corpo, parecia ter grande estima, percebeu.
— Onde aprendeu... — Katherine fez uma pausa, reformulando sua pergunta — Digo, sei que aprendeu em Arion com mestres de combate devido ao seu cargo, mas você luta diferente, parece... Dançar.
— Comecei ainda quando pequeno — Alec parecia distante enquanto relembrava seu passado —, meu pai me ensinou.
— É, Gavyn me contou a história... A espada era do seu pai?
— Era sim, ele amava essa espada, todas as guerras que participou fora com ela — disse ao pousar a mão sobre a espada, pendurada em seu quadril.
Por um tempo, os dois ficaram ali, observando o horizonte, quando Katherine teve uma ideia e rapidamente sorriu para ele, seus olhos brilhavam — Alec percebeu.
— Sim, é isso! — Disse entre pequenos pulinhos quando a ponte estalou e ela parou rapidamente, lembrando-se do quão frágil era aquela madeira sob seus pés.
— Isso?
— Sim, isso! Me ensine a lutar, quero ser uma guerreira também, sempre quis ser... — O semblante alegre de Katherine parecia mudar conforme pensava antes de falar — Mas nunca me permitiram em meu reino. Sabe o que é ter que agradar a todos para conseguir algo que é meu por direito por simplesmente ser mulher? É horrível... — suspirou.
— Eu não sei — Alec parecia não saber o que dizer —, mas tudo bem. Começaremos amanhã cedo!
— Tudo bem?
— Sim, isso pode servir em sua nova batalha — a jovem ao ouvir a confirmação de Alec esbanjou um sorriso. — Mas... — Alec fez uma pausa — Saiba que não pegarei leve por ser uma princesa.
— Eu nunca pedi isso — Katherine deu uma piscadela e virou-se, voltando para dentro. Aquele gesto fez o duque observar a princesa sumir de seu campo de vista, e quando sumiu, ele deu um pequeno sorriso admirado com sua ousadia.
Por muito tempo sua maior arma havia sido os livros e os conhecimentos que neles continham, mas Katherine teria que trocar de arma, mesmo que temporariamente —, trocaria seus livros para embainhar uma espada.
Na manhã seguinte, Katherine estava de pé ao raiar do sol, o que não era fácil, detestava acordar cedo. Mas era mais do que necessário, ela sabia.
As roupas simples que se camuflavam na multidão servira perfeitamente. Vestia calças marrons e céus, como eram confortáveis, era ótimo se desprender daqueles espartilhos que apertavam até a alma e dificultavam a respiração. Katherine amarrou os cabelos, estava pronta para se tornar uma guerreira.
Não apenas rainha, não apenas guerreira. Uma rainha guerreira, era como gostaria que seu povo a conhecesse. Não queria apenas mandar seus soldados para batalhas, queria lutar com eles. O que mais tinha medo era de fracassar e ser fraca, e isso a assombrava cada vez mais, principalmente com os atuais acontecimentos em que tinha certeza que ninguém esperava mais que estivesse viva. Afinal, já fazia algumas semanas desde que a nova guarda tomara posse de seu palácio, de seu trono. Precisava se preparar para agir.
Assim que saiu a porta, no fim das pontes, a princesa avistou Alec em um pequeno monte de terra, próximo a água. Os pés descalços sob a areia deslizavam enquanto embainhava a espada que seu pai lhe dera. Ela aproximou-se lentamente e Alec logo percebeu, girando com a lâmina no ar. Sem direcionar os olhos para ela, ele disse:
— A calça ficou ótima em você, deveria usar mais vezes.
— Como...? — espantou-se, a jovem imaginava que o duque estivesse tão concentrado que não a veria chegar.
— Primeira lição de hoje — Alec parou, apoiando a espada na areia —, concentração, impressões sensoriais, visão, audição e tato. Pegue! — Alec jogou outra espada para Katherine, que mal conseguiu pegar.
— Cuidado! Poderia ter me machucado!
— Segunda lição! Perca o medo da lâmina, torne-se uma só, seja a própria lâmina. Defenda-se! — E então avançou sobre a princesa, que tentava atordoadamente defender-se, a respiração rápida desacostumada da moça a fazia defender-se por puro extinto, nenhuma técnica. — Mais rápido! Direita, esquerda, rápido!
— Estou tentando! — disse enquanto buscava fôlego para continuar defendendo-se, mas não demorou muito para que a lâmina estivesse próxima ao seu pescoço.
— Repare!
A jovem o encarou sem entender, ofegante, apoiando as mãos nos joelhos quando ele apontou com a espada para seus braços. As mangas de sua roupa rasgadas e seu braço com pequenos arranhões. Ela o encarou, os olhos arregalados de surpresa.
— A adrenalina é um grande anestesiante, mas é momentânea, por isso não sentiu nada, mesmo quando estava sendo ferida.
Katherine caiu ao chão, a mão agora no braço.
— Mas — ele continuou — deve estar começando a sentir agora. Percebe? A dor só pode ser sentida após a batalha ter acabado. Não antes, apenas depois.
A princesa estava tão ofegante que mal conseguia falar algo.
— Levante-se. Vamos continuar.
— O que?!
— Eu disse que não pegaria leve.
— Mas também não disse que queria me matar!
Alec ergueu as sobrancelhas esperando que levantasse, desafiando-a. Ele a observara por um tempo. Alec a havia estudado nesse pouco tempo que a conhecia, e sabia que havia três coisas que a motivariam a continuar; se desafiada, quando duvidam de sua capacidade, e vingança.
— Então não consegue? Pensei que era mais forte, estávamos apenas nos aquecendo...
— Calma! — Katherine apoiou as mãos no chão e levantou-se, sua respiração continuava rápida, mas ela tentava controlá-la respirando fundo. — Estou pronta! — posicionou-se.
— Uma boa postura te ajudará a controlar a espada, acostume-se com o peso, dance com ela. A espada será seu fiel companheiro em uma dança entre a vida e a morte, então controle-a e estará salva. Perca o controle e perderá o foco, na melhor hipótese apenas se machucará, na pior, sua vida será o preço a ser pago.
Katherine realmente odiava quando duvidavam de sua capacidade, e provaria para Alec que estava errado. E ele sabia disso.
E então a princesa passou o dia em frente à imensidão de águas, embainhando aquela espada, acostumando-se com ela como algo vital para sua sobrevivência, dançando e girando-a no ar. Katherine amava dançar quando criança, lembrava que rodopiava enquanto seu irmão a girava e cantarolava e seus pais os envolviam juntando as mãos em uma ciranda e pulavam. Após suas mortes, não dançará como antes, apenas em ocasiões como bailes para manter as formalidades e costumes. Aquela era a primeira vez que dançava — de uma maneira diferente, mas dançava.
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Quote do capítulo XVII
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