Capítulo XVI
— Então... — começou Ralph ao estranhar o caminho que estavam traçando — Aonde está nos levando?
— E que lugar é esse? — Miriam perguntou observando as pequenas palafitas de madeira e os caminhos de pontes desgastadas e perigosas que levavam as pessoas de um lado para o outro.
— Bem vindos a Lugar Nenhum, é como chamam esse lugar. Vocês não devem conhecer essa parte do limite do reino de vocês porque fora esquecido a muito tempo, e basicamente, ninguém se importa. É fácil as pessoas encontrarem um lugar para se esconder aqui, então eu recomendaria que não saíssem só, muito menos se perder por aqui.
— Entendi... — Miriam continuava observando.
Por isso a trouxera para cá, a guarda não tinha alcance sobre esse lugar, era quase como se não pertencessem a reino algum, sem regras, sem leis — pensou Ralph.
— Então... — continuou o capitão — Como descobriu esse lugar?
— Eu... — Ralph abaixou a cabeça pensativo, então respondeu — Apenas precisei. Bom, tomem cuidado onde pisam, essas pontes são bem frágeis e estão bem quebradiças, recomendo que pisem onde eu pisar, é mais seguro.
Miriam percebeu que Alec mudara de assunto e que tinha muito mais nisso do que ele dizia, mas entendeu que era um assunto delicado demais para que ele falasse com duas pessoas que acabara de conhecer, Ralph lhe lançou um olhar a que dizia pensar a mesma coisa, então fizeram exatamente o que ele havia dito, seguindo seus passos.
Logo à frente estava situada a pequena casa de madeira simples.
— Gavyn — Alec o avistou ao abrir a porta —, como ela está?
— Alec, que bom que chegou, Sua Alteza está muito melhor, acredita que ela conseguiu dar alguns passos hoje pela manhã? Ela é uma jovem com muita força de vontade, mas — o curandeiro parou ao notar que estava acompanhado — quem são eles? — então reparou na vestimenta do capitão. — Alec?! Porque trouxe esse homem para cá? Veja seu uniforme, é da nova guarda! — Gavyn desesperou-se cobrindo a porta do quarto em que Katherine repousava.
— Calma Gavyn, ele não é da nova guarda, é o capitão da guarda de Katherine, Ralph, e essa é sua dama real, Miriam, ambos são seus amigos.
No mesmo instante, o senhor curandeiro soltou todo o ar que prendia em seus pulmões e respirou fundo, estava aliviado.
— Nesse caso, Katherine irá gostar de vê-los, entrem por favor — disse ao liberar passagem para o quarto.
Miriam estava extremamente alegre e ansiosa ao saber que iria encontrar a amiga, passara os últimos dias na masmorra com total incerteza se estava bem ou mal, viva ou morta e esses pensamentos a faziam estremecer. A dama real apressou-se a entrar no cômodo, Kathe estava deitada encarando o horizonte de água que se estendia.
A princesa virou-se e assim que viu Miriam, o sorriso tomou conta de seu rosto instantaneamente, a sensação de ver aquele rosto amigo e saber que estava bem e também viva era indescritível. Logo atrás da dama real, Ralph surgiu, e se não fosse pela paralisia momentânea de suas pernas, Katherine teria pulado daquela cama tão rápido quanto conseguiria e os abraçado fortemente, mas não foi necessário se mover — quando percebeu, Miriam já estava a abraçando tão forte que Katherine poderia jurar que jamais a largaria, aquela era uma sensação maravilhosa.
Ralph observava do mesmo local onde parara e sorria alegremente em ver a princesa viva contrariando todos os boatos que escutara na rua e suas próprias dúvidas.
— O que está esperando, capitão? Venha, estava com saudade dos dois — disse Katherine enquanto acenava com a mão para que se juntasse a elas. Ralph não hesitou. Não demorou muito para que estivessem os três ali, juntos. A percepção do quanto eram importantes uns para os outros nunca foi tão lúcida até aquele momento, fazendo a princesa perceber algo que não havia percebido — ela era amada e tinha amigos tão fiéis que poderiam ser considerados irmãos. Família — pensou, logo ela que sempre achou que estava sozinha no mundo.
Algum tempo se passou e os quatro foram se atualizando dos acontecimentos daqueles dias que se passaram. Miriam e Ralph contaram o que aconteceu depois que a princesa sumiu do baile, o golpe que, de fato, havia sido dado e as noites nas masmorras lúgubres até sua escapatória ao encontro deles com Alec, o jovem que até então era apenas um homem misterioso que havia salvado a futura rainha da nação. Já Katherine citou o acidente de quase doze anos atrás que levara seus pais e seu irmão a óbito e que Miriam havia descoberto que tal tragédia havia sido proposital. Alec os contou sobre como a havia salvado novamente no baile, o susto ao ver que Katherine havia sido atingida por uma flecha envenenada até a sua paralisia, mas que já havia recuperado grande parte do movimento de suas pernas, em breve estaria novinha em folha.
— Mas então, como soube do ataque ao baile, Alec? — Katherine perguntou pensando a respeito daquele dia.
— Eu tenho contatos, existem lugares onde organizações criminosas e pessoas propensas a seguir esse caminho frequentam, se der uma boa gorjeta a eles, é fácil que abram o bico.
— Faz sentido — Ralph encarava pensativo a parede a frente — são alguns lugares clandestinos que funcionam em diversas jurisdições, é quase impossível acabar com elas, estão sempre escondidas por trás de grandes nomes.
— Mas... — Miriam encarou Katherine com um sorriso, ela tinha uma ideia e sabia que a amiga entenderia. A princesa a encarou de volta entendendo tudo.
— Podemos utilizar tudo isso ao nosso favor, coletando ou disseminando novas informações — Kathe completou.
— Mas primeiro — Alec apontou para as pernas da princesa —, você irá se recuperar totalmente, então partiremos para a ação. — E todos concordaram. O que vinha depois desse dia de emoções e reencontros era uma possível guerra, todos sabiam, mas por hora, todos precisavam descansar.
Ao final daquele dia, todos adormeceram envolto a Katherine. Ralph e Miriam encontravam-se sentados ao chão com as cabeças apoiadas em sua cama. Já Alec saíra como sempre fazia, em busca de novas informações em forma de fofocas nas ruas do reino. Gavyn provavelmente estudava novas misturas de ervas no cômodo ao lado.
Alguns dias se passaram e Katherine foi, aos poucos, se reabilitando, de passos em passos pequenos, ela foi evoluindo. Obviamente, teve bastante apoio daqueles ao seu redor, dos seus antigos amigos, como também dos novos, Alec e Gavyn, que a estavam ajudando muito sem esperar nada em troca. E ao que parecia, seus objetivos eram os mesmos — se não os mesmos, semelhantes.
A jovem sentia em seu coração que havia vacilado constantemente nos últimos dias, não estava sendo um por cento do que queria, não estava tão forte quanto dizia ser, exatamente como cachorros que ladram, mas não mordem, e dizia para si mesmo que estava tudo bem precisar de ajuda, que não precisava fazer tudo sozinha, e estava constantemente se convencendo disso.
E para ela, precisar de ajuda estava começando a ficar tudo bem.
Afinal, percebeu que tinha com quem contar.
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Quote do capítulo XVI
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