Capítulo XIII
Ao abrir os olhos e olhar em volta, Katherine estranhou completamente o local. Era um cômodo aparentemente úmido de madeira simples, a cor amarronzada da madeira deixava o local mais escuro, mesmo que estivesse de dia e o sol entrasse pela janela. Ela piscou tentando se acostumar com a luz que vinha da varanda, adentrando o quarto. Ao tentar levantar-se, notou que o machucado em seu braço havia sido tratado, e que estava enfaixado. Então olhou novamente em volta e tentou sentar-se, mas sua cabeça latejava demais para fazer sequer um movimento.
— Oh, não levante agora minha jovem, você ainda está se recuperando. E provavelmente deve estar com muita fome — Katherine procurou o dono daquela voz, um homem de cabelos grisalhos surgiu à porta do cômodo com um pano umedecido em suas mãos e colocou-o sob a testa da jovem, sentando-se ao seu lado. Katherine encolheu-se ao toque, percebendo logo em seguida que aquele senhor era um curandeiro.
— Por quantas horas eu dormi? — perguntou Katherine, a voz fraca saia quase como um sussurro.
— Não deveria pensar nisso agora, minha cara. Sua febre ainda está alta, mas com o decorrer do dia, passará. Mas respondendo a sua pergunta... — o curandeiro molhou o pano na tigela de água ao lado, torcendo-o e passando pelo seu rosto — você não dormiu por horas, mas por alguns dias. Mas não se preocupe, teve sorte de estar viva, o pior já passou.
— O que? Como assim dias? — A princesa ousou levantar-se novamente, mas não obteve sucesso — Ai!
— Por favor, permaneça deitada, sei que deve ter muitas dúvidas, mas todas elas serão esclarecidas assim que o jovem senhor retornar.
— Jovem senhor? — então veio a lembrança em sua memória, tudo que ocorrera antes de desmaiar, "mas o que havia acontecido após isso?", era essa a sua maior dúvida.
— Só não se preocupe, pelo menos até melhorar, pode me prometer isso? — disse o curandeiro para a jovem, que apenas assentiu, fechando novamente os olhos e antes que percebesse já havia voltado a dormir.
A lua já surgia quando Katherine abriu novamente os olhos, ainda atordoada, demorou alguns minutos ao perceber que não estava sozinha no cômodo. Na varanda do pequeno cômodo, de costas para ela, tinha um rapaz observando o sol se pondo, dando espaço para que a lua brilhasse. Ele se virou ao notar que havia acordado.
"Ele", ela pensava. Já o havia conhecido naquela conturbada noite em que lhe salvara das mãos daqueles homens, quando a levara de volta para o palácio discretamente.
— Você novamente... — a princesa não sabia bem como reagir — Eu estava lhe procurando.
— Eu sei, me desculpe, eu não poderia arriscar minha identidade em meio a tudo o que está acontecendo, imagino que deva estar furiosa pelo modo como lhe arrastei...
— Não — interrompeu-o —, na verdade eu gostaria de lhe agradecer — Katherine tentou levantar-se, mas estava fraca demais para isso.
— Não levante, está fraca demais ainda, precisa recuperar-se completamente, você a partir de agora precisará ser muito forte e sinto que isso seja apenas o começo.
Então Katherine deitou-se novamente.
— Sinto muito que não tenhamos sido apresentados em um momento melhor, mas queira me apresentar. Alexander Alec, duque e capitão estrategista da guarda de Arion, mas por favor, pode me chamar apenas de Alec.
— Arion? O que fazes em Nilária?
— É uma confusa e longa história. Deixemos para amanhã, quando estiver mais disposta.
Fez-se um breve silêncio, então ela falou:
— Era você... No labirinto, não era?
Ele assentiu, cobrindo-a com a coberta.
Então ela apenas concordou, fechando os olhos aos poucos, sussurrando um fraco "obrigada", caindo no sono em seguida.
Katherine estava perdendo a consciência e a capacidade de se manter de pé, a vista turva escurecendo embaçava e girava cada vez mais. Alec então a segurou assim que seu corpo pendeu para o lado — havia desmaiado. Sua pele estava gelada. Seu braço sangrava, mas não tanto que fosse capaz de fazê-la desmaiar, e sua tonalidade era escura. Ele então assimilou. A flecha estava envenenada.
Alec levantou-se segurando-a nos braços — como quando a salvou dos três brutamontes. Aquilo estava virando rotina. Ele correu pelos becos da cidade, usando as sombras ao seu favor para manter-se camuflado e não chamar a atenção para si, afinal estava carregando a futura rainha daquele reino desacordada em seus braços. Se alguém os visse, aquilo poderia trazer complicações indesejadas para ambos, mas principalmente para ele. Felizmente sabia para onde levá-la. Então continuou correndo como nunca havia corrido na vida. Não era só a vida de uma futura rainha em risco, mas a de uma nação inteira. E todos dependiam dela.
Logo a frente, as pontes frágeis e quebradiças de madeira sob as águas dividiam a cidade da periferia, onde a parte obscura de "Lugar Nenhum" se escondiam — pessoas que não se sentiam pertencentes a um lugar — graças a pouca fiscalização no limite entre os reinos de Newchestein e Arion, reino vizinho. Ele atravessou aquelas pontes que pareciam estar prestes a desabar cuidadosamente, até chegar à faixa de terra escassa, adentrando pelo caminho de pedra que constituía aquela área. Ao chegar em frente à casa, não bateu na porta, apenas adentrou o local, empurrando-a com o ombro — as mãos ocupadas carregando a jovem.
O senhor curandeiro não se assustou, mas sim ficou curioso visto que aquele rapaz nunca trazia ninguém consigo, apenas seguiu para a cama esperando que Alec a deitasse.
— O que tem ela? — perguntou o curandeiro.
— Envenenamento — respondeu, então Gavyn soube o que fazer.
Ele seguiu até a cômoda de madeira ao lado e misturou ervas e mais ervas.
— O segredo da cura — ele dizia — é ter sempre um estoque vasto, pois nunca se sabe quando alguém vai invadir sua casa com a princesa em seus braços.
— Gavyn, já te disseram que tens o dom de fazer piadas até em momentos inoportunos?
O curandeiro riu, ainda misturando as ervas no pilão em sua mão, amassando-as.
— Eu sei, é isso que faz ser quem sou. Sente-a, preciso fazê-la engolir isso aqui o mais rápido possível. Se tiver que viver, se tiver necessidade de continuar nesse plano, então viverá. Mas preciso avisar, nem sempre funciona, então é bom que torça e ore pra quem quer que seja a força que você acredita.
O duque então a sentou, apoiando sua cabeça em seu colo, então Gavyn a fez beber todo o líquido que se formara das ervas.
— Coloque a cabeça dela pra cima, ela precisa engolir tudo. — E assim o jovem fez.
— E agora?
— Agora meu jovem, basta esperar e torcer pra que ela acorde. — O curandeiro então passou o líquido das ervas que sobrara do pilão no machucado do braço da jovem para que desinfectasse e retirasse os vestígios da toxina de veneno que sobrara, em seguida enfaixou. — Deixe-a aqui por um tempo, ficarei observando sua condição.
— Obrigado Gavyn, peço que me avise caso ela acorde.
O curandeiro apenas assentiu sutilmente enquanto cuidava de Katherine.
E por alguns dias, semanas, permaneceu dormindo, em um estado de coma, com febres fortes e delírios — Katherine murmurava, virava-se na cama enquanto suava frio e dizia palavras desconhecidas —, e embora acordasse, não conseguia se manter consciente. E o reino lá fora estava cada vez mais em completo caos.
As pessoas estavam se cansando de continuar as cegas sobre o que havia acontecido no aniversário do palácio, a falta de pronunciamento sobre o desaparecimento da princesa, os novos guardas rigorosos que desfilavam pela capital e substituíam os antigos guardas de farda azul, e quem estava atualmente no comando que fizera tamanha bagunça. Ninguém dizia nada, ninguém se pronunciava e assumia a culpa — era como se jogassem a poeira para baixo do tapete esperando que não se espalhasse.
Por dias e mais dias...
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Quote do capítulo XIII
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