Capítulo XI
O baile corria aparentemente bem, as pessoas socializavam, dançavam e comiam por todos os lados. No andar de cima era possível notar que alguns estavam aproveitando aquela oportunidade de se reunir para tratar de negócios, ou até mesmo fazer novos negócios e parcerias, poucos se divertiam de fato. Abaixo seu povo ria e brincava, comia e dançava, a verdadeira diversão — e Katherine se sentia verdadeiramente tentada a descer aquelas escadas e se misturar entre eles, queria se divertir também, mas como tinha que ter os devidos modos de uma princesa e ganhar a graça e apoio daqueles ao seu redor, se conteve em apenas observar das escadas a alegria de seu povo.
— Princesa, está na hora de seu discurso. — Avisou-lhe um guarda revelando o caminho. Ela balançou a cabeça positivamente e então o acompanhou.
Katherine não conseguiu evitar ficar nervosa quando todos se posicionavam e direcionavam o olhar para prestar atenção nela. Abaixo, seu povo se reunia e olhava para cima, enquanto os nobres ficavam ao seu redor, todos esperando pelo discurso. Não conseguia entender o motivo de tamanho nervosismo naquele momento, afinal, não era como se nunca tivesse discursado nos anos anteriores, mas era diferente, Katherine se sentia sufocada e angustiada, um pressentimento ruim continuava ali presente — estranhamente a mesma sensação do dia da morte de seus pais. Mas todos esperavam pelo seu discurso.
A princesa olhou em volta procurando por um rosto conhecido, o rosto de Miriam, e quando a encontrou, a dama real notou seu desconforto e sorriu inspirando-a a ser forte.
"Você é capaz, Kathe." — Ela sussurrou apenas para que ela entendesse, então nesse momento a princesa retornou seu olhar para frente e respirou novamente.
— Boa noite a todos aqui presen... — mas não conseguiu completar a frase quando sentiu o baque de um corpo contra o seu, jogando-a para longe de onde discursava, enquanto uma flecha atravessava o salão. Katherine ofegava assustada, procurava o ar, mas faltava-lhe fôlego enquanto era arrastada por uma pessoa encapuzada. Flechas continuavam sendo disparadas em sua direção, as pessoas corriam por todo o salão, seu povo e os nobres se misturavam virando um só. O desespero era de todos naquele momento. Não conseguia entender onde estavam seus guardas que deveriam lhe proteger — e proteger todos ali presentes. Por mais assustada que tivesse, aquela pessoa continuava puxando-lhe.
"Miriam, Ralph, duque Person... onde estão?" — pensava enquanto corria.
Gritos e mais gritos ecoavam pelo salão, mas a princesa estava anestesiada de pura adrenalina, desespero, preocupação, sem entender como aquela noite foi se transformar nisso. A porta nunca esteve tão longe como estava e as flechas continuavam a perseguindo. A pessoa encapuzada continuava guiando-lhe enquanto tropeçava em seu próprio vestido até passar pelo arco da porta escancarada, passando por escadas e túneis que jamais havia passado. Túnel após túnel, o lugar ficava cada vez mais escuro, a existência daquele lugar quando nem ela mesma sabia a fez temer o desconhecido.
— Espera! Para onde está me levando? E... como conhece tão bem o Palácio? Quem é você?! — Katherine se desvencilhou das mãos do encapuzado que se virou fitando-a nos olhos.
— Quer mesmo discutir isso agora? — A voz rígida masculina ecoou pelo túnel úmido e abandonado, uma voz familiar. A voz de quem procurava. — Olha, lhe direi uma coisa, você é o alvo aqui, certo? Se não vier comigo creio que não estará aqui amanhã para contar história, então peço encarecidamente que confie em mim, tudo bem?
— T-tudo bem... — respondeu um pouco desconfiada, mas não fazia sentido em desconfiar tanto em alguém que salvara sua vida dias atrás.
A verdade é que Katherine se sentia em um beco sem saída. E ao que parecia, confiar naquele desconhecido era a sua melhor opção naquele momento.
Em uma das ruas escuras e desertas de Nilária, bem longe dos muros do palácio, quando a julgar estariam mais seguros, pararam de correr e a adrenalina aos poucos esvaia do corpo de Katherine dando lugar a uma dor lancinante que emergia do braço da princesa, que grunhiu em seguida. Ao soltar seu braço, o rapaz viu que estava ferida, uma flecha havia atingindo-lhe de raspão rasgando as mangas de seu vestido, tingindo-o de vermelho.
— Princesa? Katherine? Está tudo bem?
— Eu... eu... — Katherine cambaleou não conseguindo se manter em pé. A visão turva escurecia cada vez mais.
Ao ver seu estado, ele rapidamente assimilou o acontecido. Não fora um simples machucado de raspão, muito pelo contrário.
A flecha estava envenenada.
— Encontrou ela? — Miriam perguntava desesperada para Ralph, que até então não havia entendido nada do que ocorrera e sentia uma sensação horrível por falhar na sua missão de não deixar nada estragar aquela noite. Pior ainda era saber que a princesa não se encontrava em lugar algum daquele palácio.
— Nada... Meus homens apenas encontraram um pedaço de seu vestido tingido de sangue, mas não podemos afirmar nada com isso.
— Como tudo isso aconteceu? — pânico preenchia a fala da dama real, mas ia muito além do que só apenas isso. Era, sobretudo, preocupação.
E saber que Katherine poderia estar em apuros deixava os dois aflitos demais para ficarem parados. Mas o pior ainda estava por vir.
Naquele salão onde, momentos antes o pânico tomou conta de todos e flechas emergiram das grandes janelas daquele lugar acontecera algo a mais.
Ralph, o capitão, estava a posto guardando o salão principal do palácio quando recebeu um comunicado de um dos guardas que havia notado uma movimentação estranha no portão lateral. Imediatamente o capitão montou uma equipe e pediu que o acompanhasse para verificar o que poderia estar acontecendo, deixando o segundo no comando depois dele, Christopher, no comando central.
Ralph não encontrara nada de estranho na lateral do palácio, mas assim que voltou viu o desastre que aquele lugar se transformou, pessoas ainda corriam pra lá e pra cá e flechas eram disparadas de fora, do alto de uma colina próxima. Ele então tentou localizar o local exato, mas tinha assuntos mais importantes no momento, como procurar a princesa e a dama real, os membros do conselho, tirá-los daquele lugar e levá-los a um lugar seguro. O capitão dividiu sua equipe em duas, uma evacuaria o local, enquanto a outra o ajudaria. Ralph encontrou todos que deveria. Menos Katherine.
Que Christopher se cuidasse, porque quando o encontrasse..., mas não completou o pensando pois Miriam emergiu preocupada do fundo da câmara de proteção. Ele fez o possível para acalmá-la quando novamente recebeu um aviso.
O palácio estava sendo tomado, aquilo era um golpe. E estavam em maior número, e sem ninguém na posse da coroa, não haveria nada que pudessem fazer, precisariam sair dali antes que o pior acontecesse.
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Quote do capítulo XI
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