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Capítulo X

Naquela manhã comemorativa, Katherine não queria sequer levantar-se —, preparar um discurso em seu atual estado demandava muito esforço e força de vontade, mas seu dever deveria sempre estar em primeiro lugar. A noite que iria se suceder comemorava o aniversário do palácio, onde os portões se escancaravam para que todos — não só os nobres, como trabalhadores, seu povo — tivessem acesso ao salão de festas. O salão compunha-se de dois andares, onde a nobreza, como demonstração de poder se posicionava no andar de cima, enquanto que a classe trabalhadora abaixo. O formato do salão também lembrava muito a de um teatro e parando para pensar, era basicamente isso que aquela festa representava para alguns, uma peça. Porém, a princesa não questionava tanto essa norma por ser a segurança em primeiro lugar, e claro, nunca havia dado errado, além de ser uma forma aceitável de aproximação entre ambas as classes. No fim, todos saem felizes. Ou pelo menos, quase todos.

O palácio estava agitado como nunca, os preparativos a todo vapor. Sempre que aquela data chegava, a princesa fazia seu discurso com antecedência, mas dado os acontecimentos, não teve tempo, então sua missão haveria de esperar para dar lugar a uma nova — procurar um lugar tranquilo em meio a tamanha agitação para escrever e não sabia dizer qual das duas missões era a mais difícil.

Andando pelos corredores, era possível ver a correria dos criados correndo para lá e para cá, agitados enquanto Miriam certificava-se de que tudo correria bem, juntamente com a equipe de organização. Estava tão ocupada que nem a viu passar a caminho do jardim e Katherine também não quis incomodá-la. Ela continuou andando afastando-se de todas aquelas pedras amontoadas, da confusão e da correria do palácio e então parou. A sua frente uma imensidão de verde a tranquilizava, fazia tanto tempo que não ia ali, mas naquele dia sentiu uma vontade imensa de sentir paz, a paz que só aquele lugar transmitia — um labirinto tão confuso quanto a si mesma, e tão tranquilo como desejava ser.

Após a morte de seus pais ia sempre lá. Ia tanto que não sabia dizer quando realmente parou. Então ela adentrou, mas virou-se rapidamente ao sentir estar sendo seguida.

Ela olhou... Observou, procurou, mas nada encontrou.

Decidiu concluir que havia sido impressão, então continuou e lá passou as próximas cinco horas escrevendo, riscando e preparando seu discurso, até perceber que estava totalmente atrasada para se arrumar, então fechou o caderno e correu rapidamente de volta a seus aposentos, onde encontrou Miriam no corredor, andando de um lado para outro preocupada por não ter encontrado a princesa.

Quando Miriam botou os olhos sobre ela, Katherine sabia que levaria uma bela bronca da amiga. Ela andou em sua direção e Miriam cruzou os braços, o rosto sério.

— Eu sei, estou atrasada. Eu sei, você estava preocupada, desculpa. E sim, tenho sim um motivo, estava escrevendo o discurso no jardim, e não, não sai do palácio.

— O labirinto? Eu deveria imaginar que estava lá, no fim não procurei em todos os lugares. Mas não temos tempo agora, para dentro do quarto agora, se apresse! Vamos, vamos, vamos!

— Assim eu parecerei uma criança! — Katherine reclamou.

— Não está muito longe disso, minha cara.

Miriam ajudou a princesa a se arrumar para aquela ocasião em que Katherine daria mais um passo frente ao trono, sabia que a amiga tinha que causar boa impressão, para seu povo, sua corte, os conselheiros — esses sim as preocupavam. O seu vestido transmitia a paz que almejava por dentro e a segurança que desejava ter, o tecido rastejava levemente em um tom de branco gelo com pequenos detalhes em azul enquanto descia pelos seus braços delicadamente.

— Respira, está tensa. Você vai conseguir, sempre consegue.

— Estou tentando me convencer disso, mas... Sinto que algo pode dar errado.

— Kathe, seu maior inimigo é você mesma, então entre naquele salão e seja forte. Como eu disse, você consegue. — Miriam pegou suas mãos geladas e as colocou no próprio peito. — Tudo que você precisa está dentro de si própria!

A jovem balançou a cabeça. Aquelas palavras carregavam imenso poder, ambas sabiam disso. Então Katherine arrumou sua coluna e marchou rumo aquela batalha. A batalha contra si.

Um passo de cada vez ela caminhou pelo corredor, desceu as escadarias e avistou a imensa porta antiga com guardas a sua frente. Eles curvaram-se perante ela e ela curvou-se levemente em resposta e respeito, então a porta abriu-se e só conseguiu enxergar luz. A luz do grande salão.

Assim que entrou, todos pararam e se curvaram, o salão estava lotado. Katherine fazia questão de passar pelo salão central antes de subir as escadas e se posicionar ao lado dos conselheiros no segundo andar.

Seu povo a cumprimentou sorridentemente, com elogios disparados de todos os lados, e isso a motivava mais que qualquer coisa, o clima era tão mais leve no meio de todos eles. Mas então teve que subir, e da escada dava para sentir o clima totalmente o oposto — ambições, intrigas e falsidade era o que se sentia no ar.

A princesa então apoiou-se no corrimão das escadas e olhou novamente para seu povo logo abaixo, todos já estavam dançando com música suave e seus quitutes e bebidas em mãos. Alguém se mexeu abaixo rapidamente chamando a atenção da jovem e sumiu rapidamente em meio as pessoas. Katherine focou, coçou os olhos e procurou a pessoa de preto que lhe chamou a atenção.

— Querida, venha aqui. — Chamou o duque Person para que a princesa entrasse para o grupo ao qual estava conversando para incluí-la no assunto e se familiarizar com a corte. Katherine então andou na direção dos homens que estavam posicionados ao redor do tio. Eles estavam conversando sobre os seus famigerados bens, como uma disputa de quem tem mais poder e posses. A princesa não gostava de tais assuntos, que considerava fúteis, mas ninguém precisava saber, então ela sorria e balançava a cabeça fingindo prestar atenção enquanto falavam. E bom, ela não se orgulhava disso.

A noite parecia perfeita.

Apenas parecia.

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Quote do capítulo X

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