Capítulo VI
AVISO: Esse capítulo possui conteúdo delicado - Assedio.
— Mais um, por favor! — Katherine elevou a caneca para o taberneiro, o capuz ainda sobre a cabeça escondia-lhe metade de sua face.
O homem, de porte grande, pegou a caneca das mãos da jovem enchendo-a novamente de cerveja, pela milésima vez.
— Cuidado, moça, a ressaca do dia seguinte será terrível se continuar nesse ritmo — aconselhou-a quando empurrou a caneca, agora cheia até a borda para a jovem.
— Tudo bem, eu sei quando parar! — gargalhou, e levantou a caneca como quem oferecesse-lhe um brinde, empurrando o líquido goela abaixo. — Mais um! — ela sorriu, esbanjando sobriedade, sobriedade esta que não durou muito tempo e após mais duas canecas de cerveja, se encontrava extremamente alegre e fora de si.
Sentada no balcão com a cabeça baixa, Katherine começou a refletir, sua feição alegre mudou completamente da água para o vinho. Sua cabeça latejava dando o ar de sua graça após tantas rodadas de bebida.
Passos pesados se aproximaram, mais de um e a cabeça de Katherine latejou mais forte ainda, poderia sentir qualquer barulho, por menor que fosse, ecoava mil — não, dez mil vezes — dentro de sua cabeça. Ela encolheu arrependendo-se amargamente por não ter dado ouvidos ao taberneiro quando lhe avisou para ir com calma. Que tola era — ela pensou, as mãos cobrindo os ouvidos, sua força e equilíbrio pareciam tê-la abandonado.
— Que ódio! — grunhiu baixo enquanto culpava-se mentalmente, batendo a testa contra a mesa.
— A bela dama deseja companhia?
Ao erguer a cabeça, Katherine se viu rodeada por três altos homens, um distinto do outro. O homem de tronco largo, cabelo curto castanho avermelhado de aparentemente meia idade e pele cor de jambo deu-lhe um sorriso a sua esquerda, seus olhos negros pareciam devorá-la enquanto que os outros eram um pouco mais baixos. Nos olhos de cada um era perceptível a malícia.
Se estivessem em um determinado jogo que fosse necessário adivinhar suas personalidades... As deles certamente seriam horríveis. Ela encarou-os, analisando.
— O que querem? Não preciso de nada, podem se retirar! — esbravejou, sendo curta e grossa, sem delongas e então abaixou novamente a cabeça. Ela escutou seus risinhos estúpidos.
Então um segundo ousou falar. Ele se apoiou no balcão com o tronco virado para fitar-lhe.
— Ora, não estávamos esperando sua permissão querida. Sabe quantas aqui estão interessadas em estar no seu lugar? Deveria se sentir honrada por chamar nossa atenção o suficiente — este tinha os cabelos compridos e loiros que cobriam metade de seu rosto, seus olhos penetraram a alma de Katherine quando ela lhe encarou, um arrepio subiu pela sua espinha subitamente. Ela finalmente entendeu o que estava se passando e uma vermelhidão aflorou seu rosto pálido.
Outro atrás — de capuz preto que escondia metade de seu rosto, deixando apenas a mostra os lábios grossos, apoiou as duas mãos em seus ombros, massageando. Ela estremeceu levando as mãos sem força para empurrar as do homem. Ela o analisou ainda sentada de baixo pra cima e viu seu rosto pálido. Katherine não via muita coisa além disso, apenas sua cicatriz que atravessava sua boca perto do nariz ao queixo. Pelo visto este já havia se metido em confusões diversas vezes e aquela cicatriz... Onde a vira? E então sentiu uma sensação de que já havia esbarrado em algum lugar com ele. Aquele homem nojento e asqueroso.
Maldade... foi o que enxergava, não apenas nele, mas em todos.
— Vamos querida, você não está sóbria o suficiente, vamos para casa — disse o loiro ao levantar-lhe pela cintura apoiando os braços dela de um lado de seus ombros enquanto que o homem de pele cor de jambo a apoiava em outro. O encapuzado passou guiando-os pelo caminho até a porta abrindo espaço o suficiente para passarem.
Ninguém estranhou. Não era muito comum, mas ao que parecia, era considerado normal uma moça se embebedar e ser carregada para casa por familiares. Mas nesse caso estava além disso, o real motivo não era nem sequer uma simples ajuda a uma desconhecida. E mesmo que Katherine estivesse quase inconsciente, sabia que estava rumo ao desastre.
Ninguém os parou, ninguém perguntou se estava tudo bem. Ninguém.
— Não quero! — ela esperneava, mas a música estava alta demais para alguém se importar com os três homens que a arrastavam em direção a saída.
Um beco escuro... precisava correr quando chegasse a aquele beco qualquer que tinha certeza que iria parar, mas não havia força. Precisava economizar energia e o mínimo de sobriedade que sequer ainda tivesse. Se saísse daquela situação iria mandar enforcar os três.
"Esses três idiotas! Mal sabem a dama que estão carregando e quanto poder posso ter. Idiotas. Quantas já foram vítimas desses babacas?"
A porta estava quase no alcance e Katherine continuava esperneando.
— Não! — tentou gritar, mas a voz saiu baixa demais. A Princesa tropeçava e cambaleava nos próprios pés. Agora eles a seguravam firme pelos braços, pressionando o antebraço que estava dolorido de tanto apertarem.
— Cale-se! — disse o loiro sobre os ombros e ela rosnou mostrando os dentes, mas sua cabeça doía e sua vista embaçou.
Estaria perdendo a consciência? Talvez fosse melhor caso não conseguisse escapar... Não! Que besteira estava pensando, nada aconteceria!
Ninguém olhava em sua direção, todos estavam ocupados demais dançando, bebendo, concentrados em suas próprias mesas. Exceto por um olhar que os acompanhava discretamente enquanto levava a caneca de bebida a boca.
Ela não o viu, muito menos eles, mas ele tinha o hábito de passar despercebido e era de seu fetiche; ser comum o suficiente para não ter problemas, nem olhares direcionados a si, exceto por aquele momento.
Ele não sabia quem ela era e nunca a tinha visto, mas por algum motivo parecia atraí-lo.
E não sabia o porquê.
Não parecia que estava sendo levada por vontade própria por dois... Não — ele reparou —, três brutamontes grosseiros e nojentos.
Ele conhecia a fama e o tipo daqueles homens, todos conheciam, mas todos se fingiam de surdos, mudos e principalmente, cegos.
Excerto ele, e precisava ajudá-la.
➷➸➹
Quote do capítulo VI
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro