Capítulo V
— Contrate-me um investigador! Discretamente. — disse decidida — Mas em sigilo, ninguém pode saber. Dê-lhe um cargo alto, um título de nobre, posses de terra caso necessário. Quero ele dentro do Conselho, ele será meus olhos e ouvidos quando eu não estiver por perto.
Miriam apenas assentiu com a cabeça, e retirou-se após uma breve reverência. Talvez tivesse dó de quem ficasse em seu caminho em momentos de raiva, fora assim desde criança. Katherine era doce, não restavam dúvidas quanto a isso, mas também era explosiva e havia puxado esse comportamento do pai — que tinha pavio curto, aplacado somente quando a Rainha Elizabeth surgiu em sua vida —, mas a Princesa era totalmente fechada a demonstrações de afeto, principalmente por sentir-se frágil e sozinha, e Miriam sabia disso. No fim, tudo que sentia se devia a morte de sua família e ao poder entregue em suas mãos.
"Não apenas um investigador, mas O investigador", era tudo que Katherine queria dizer, e por saber disso, a dama real procuraria entre arquivos e arquivos os maiores investigadores.
Ela seguiu pelos caminhos de pedra cinza do castelo até a biblioteca, as portas robustas e imensas davam uma certa noção do quão grande era aquele espaço. Por mais que quase não andasse pela biblioteca — indo somente quando necessário, até porque seu tempo livre era escasso —, ela sentia-se extremamente confortável no local. As paredes traziam tapeçarias que retratavam desenhos detalhadamente mapeados das fronteiras do reino por todas as extensões de terras, o Reino de Newchestein era realmente imenso, Klaus havia o conquistado com muita dedicação e o aumentando pacificamente. E o povo sabia disso. Não. Todos sabiam disso.
A passos largos, segurava o vestido enquanto andava cumprimentando os guardas que lhe abriram as portas imediatamente. Miriam atravessou o portal e seguiu reto até o fim da biblioteca, onde estariam os parcerias e acordos já feitos com investigadores sigilosamente. Passo por passo, degrau por degrau, ela subiu as escadas de madeira que se localizavam no fim do salão, no ponto vazio e escuro da biblioteca até os escritórios quase que escondidos no andar de cima. Ao subir, percorreu o corredor, passando por várias portas, algumas cujo acesso nunca lhe foi permitido, chegando enfim a uma das últimas portas.
Ao destrancar a porta, deparou-se com imensa bagunça, logo viu que iria ter muito trabalho pela frente. "Esse lugar só serve para guardar contratos e entulhos", pensou ao ver o escritório cheio de teias de aranha espalhadas pelos cantos das paredes que seguiam enrolando algumas pastas repletas de papéis amarelados assinados por grandes Reis e Rainhas antigos. Miriam espirrou e a poeira se atiçou no ar, ela observou cada poeira aquietando-se pelo feixe de luz que entrava agora da porta aberta atrás de si. Ao passar os dedos levemente pelas lombadas dos arquivos, percebeu que cada um continha informações sobre o que encontraria dentro, facilitando — com toda a certeza — a vida de Miriam. Ela parou em frente aos arquivos cujo nome era "contratados da coroa - serviços".
As fichas que procurara não havia muitas informações sobre as pessoas que trabalhavam no ramo, muitos já tinham uma certa idade, outros morreram. Passou o dia inteiro a procura de algo, mas desistiu quando viu que estava ficando escuro, não acharia nada naquele breu, nem ninguém que agradasse a princesa. Com a vista já fatigada e a luz da tocha já não iluminando mais tão bem, decidiu voltar ao folhear a última página, então voltou novamente aos aposentos comunicando as más notícias a respeito do que investigou.
E que nada encontrou...
— Com sua licença, Princesa — Miriam estava novamente parada em frente a porta da Princesa, que parecia ainda mais arrasada, e com motivo. — Não consegui muito, tudo que encontrei foram apenas nomes de investigadores que há muito já morreram ou se aposentaram... Exceto um, mas este não tem informações diretas sobre como encontrá-lo.
— Qual o nome? — Katherine levantou-se desamassando o vestido preto como a noite, entrelaçando os dedos na altura de sua cintura e erguendo a cabeça em posição defensiva. Estava claro em sua forma de agir que ela queria demonstrar força, mesmo que nada lhe estivesse sobrando por dentro há muito.
— Não existe exatamente um nome... — a morena suspirou tomando não só fôlego, mas também coragem — existe apenas iniciais de seu nome. Se, de fato, forem de seu nome.
Katherine encarou-a, o papel na mão da Dama Real, mas tudo que fez foi mudar a direção de seu olhar para a varanda. A janela aberta em direção para a cidade, os montes e montanhas verdes cobertos pela neve que começara a cair vagamente, o frio exalando para dentro. E ao lembrar de seu reino, lembrou também da raiva e que não apenas por si mesma, mas eles, seu povo, também estavam em jogo.
A princesa encarou-a novamente.
— E quais são as iniciais?
— As iniciais são... — Miriam elevou o papel e leu-a — AA. — então esticou o braço com o papel para Katherine.
A jovem aproximou-se, a coroa pendendo perfeitamente em seus cabelos cor de ouro e pegou o papel. Não era um registro de serviços prestados para a Coroa, mas sim de procurados da Coroa Real. Ela analisou o registro, o papel não era amarelado com as pontas levemente rasgadas como os outros arquivos, mas sim novo e recente — de meses atrás.
— Identidade desconhecida? Como encontrarei alguém apenas com iniciais de sabe-se lá do que, e que ainda por cima é procurado? — exaltando-se, ergueu uma mão para a testa, sua expressão estava fatigada enquanto segurava o papel com a outra mão. — O que farei com essa informação? Como encontrarei alguém com isso? — ela balançou o papel, não para Miriam, mas para si mesma, afinal, parecia estar falando mais consigo do que com a amiga.
Andando pra lá e para cá, ela pensou, pensou e pensou enquanto a Dama Real, relaxando a coluna, continuou parada esperando que a liberasse, mas então a Princesa parou. Parou como se uma lâmpada de ideias brilhasse em cima de sua cabeça e Miriam rapidamente segurou o ar ao inclinar sua postura.
— Prepare a carruagem casual, por favor! Sairei essa noite, não conte a ninguém. Irei vestida em trajes normais.
— Como quiser, Sua Alteza! — e com uma reverência rápida, saiu dos aposentos da Princesa para providenciar tudo que havia exigido.
Quando Miriam atravessou o portal, fechando as portas de madeira pintadas de branco e ornamentada com detalhes entalhados e coloridos a ouro puro, com flores sutilmente desenhadas em cada canto, Katherine avançou para a banheira, depois para o quarto de vestir escolhendo sua vestimenta mais simples, vestiu uma calça de couro marrom — utilizando-se de cores que se misturavam pela população facilmente —, pegou uma capa com capuz preto já desgastado e calçou o primeiro par de sapatos que encontrou, uma bota que brilhava — parecia ter sido engraxada ainda naquela tarde. Então estava pronta para sair e mergulhar nas ruas da capital de seu reino. Nilária.
Katherine desceu saques de escada abaixo enquanto segurava um candelabro clareando os corredores escuros e pouco iluminados da área de serviço. Miriam estava a sua espera no portão dos fundos do palácio com a carruagem preparada e o cocheiro subornado para que não saísse de sua boca uma palavra sequer. Claro que algumas ameaças também foram essenciais e ajudaram a fazê-lo ficar de bico fechado. Ameaças estilo rainha de copas com o seu famoso bordão "Cortem-lhe a cabeça!"
A princesa encarou a Dama Real com o receio de ir estampado em seu rosto, mas então o cocheiro lhe estendeu gentilmente a mão para ajudar-lhe a subir na carruagem. Ela observou a mão estendida, hesitando se iria ou não, mas por fim segurou-a, um passo de cada vez e entrou.
Sim, precisava ir. Precisava distrair-se. E urgentemente!
Miriam do lado de fora acenava para a jovem que lhe abriu um singelo sorriso. Um sorriso triste, Miriam percebeu. O cocheiro tomou as rédeas e agitou-as, fazendo os cavalos de crista média relinchar antes de começar a cavalgar desbravando as ruas de Nilária.
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Quote do capítulo V
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