Arrumo a manga da camisa pela quinta vez. O casamento é algo intimo e simples, mas não consigo me decidir se é casual demais eu deixar as mangas dobradas até quase chegarem ao meu cotovelo ou não.

Decido deixa-las dobradas. Olho para mim mesmo, para minha camisa branca e meu colete e calça cinzas, passo a mão pelos cabelos, bagunçando o que eu levei no mínimo meia hora para arrumar antes.

Estou nervoso, muito nervoso. Estou prestes a me casar com a mulher da minha vida, mesmo que já moremos juntos, tenhamos uma filha e eu me considere casado, estou prestes a oficializar isso. Em frente aos meus irmãos, amigos e a família de Mab. Que honestamente, é grande e assustadora.

Respiro fundo e o cheiro do mar me ajuda a me acalmar, queria estar sem sapato para sentir a areia em meus pés.

Olho para o caminho que Mab irá fazer quando a hora chegar. Olho para as flores roxas, para as cadeiras dos convidados, para os laços, tecidos e para as pequenas velas distribuídas na areia.

Olho para o céu, limpo e de um azul radiante.

- Preparado? - Escuto a voz de Adam e olho para ele.

Já faz um mês desde que ele foi até a minha casa e nós começamos o longo caminho que é essa estrada do perdão.

Não achei que ele viria, achei que talvez estivesse ultrapassando algum limite ao convida-lo, mas também não queria que ele se ofendesse e achasse que não era bem vindo nesse dia tão importante.

Ter ele aqui comigo nesse dia especial, sabendo o quão estranho ele deve estar se sentindo, faz com que eu tenha a certeza que Adam é o melhor ser humano que eu jamais encontrei.

A sua capacidade de colocar os outros na frente de si mesmo é tão nobre e inacreditável.

Eu peço a Deus todos os dias que Adam encontre a felicidade que tanto merece, alguém para concertar o estrago que eu fiz.

- Estou nervoso. - Confesso.

- Acalma-se, tenho certeza que isso não é nada se comparado ao nervoso que você passou quando Jena nasceu.

- Isso é verdade. - Digo me lembrando do desespero que eu senti quando Mab me acordou no meio da noite dizendo que Jena estava prestes a nascer.

Nenhum panfleto, vídeo ou curso poderia ter me preparado para aquele momento.

Olho para o meu irmão e então o telefonema que eu ouvi alguns dias atrás volta para me incomodar.

Sei que aqui e agora não são nem de perto o lugar e a hora apropriados, mas não consigo mais me segurar, sei que esse provavelmente é o último momento que teremos sozinhos antes de eu e Mab irmos viajar para a nossa Lua de Mel, então digo:

- Adam, não sei se você pretende me falar algo ou não sobre isso, mas...eu ouvi você comprando uma passagem de avião para Londres. Você quer falar sobre isso? - Pergunto. Adam esfrega a nuca e parece desconfortável, ele provavelmente só iria me falar sobre Londres quando já estivesse lá, e isso machuca, mas eu sei que o progresso na nossa relação é lento, o que importa mesmo é que ele seja continuo.

- Eu pedi demissão. - Ele diz depois de soltar um suspiro cansado. - Resolvi usar o dinheiro que eu não gastei no meu casamento para fazer uma viagem. Vou começar em Londres e depois eu vejo para onde mais eu vou.

Ouvir isso me deixa triste, ele mal acabou de voltar para a minha vida e já quer ir embora?

Mas então eu me lembro de que esse pensamento é muito egoísta e eu prometi que não seria mais assim.

- Quando você volta? - Pergunto.

- Não sei, pretendo voltar quando o dinheiro acabar, se eu economizar ele deve durar uns 4 ou 5 meses. Vou alugar a minha casa durante esse período, assim quando eu voltar, não vou estar completamente sem grana.

Ele vai ficar fora por 4 ou 5 meses? Não, não, merda! Não quero que ele se afaste de novo de mim, mas isso não se trata do que eu quero e sim do que Adam precisa, e se é isso que ele precisa agora, se afastar de tudo, então eu vou apoia-lo.

- Isso vai te fazer bem, te fazer feliz? - Pergunto.

- Vai. - Ele responde. Adam sempre gostou de viajar e um dos seus sonhos sempre foi conhecer vários lugares e culturas diferentes.

- Então eu fico feliz por você, irmão. - Digo e coloco minha mão em seu ombro.

- Jordan! Jordan! Adam! - Escutamos gritos, Josh vem correndo em nossa direção.

- O que foi, carinha? - Pergunto. Será que aconteceu algo com Mab?

Ele para na nossa frente e temos que espera-lo recuperar o fôlego.

- Eles estão quase chegando, Maya disse para todos irem para os seus lugares.

- Ah meu Deus! - Exclamo. Meu estômago começa a doer e sinto meu coração batendo tão rápido que parece que ele vai rasgar meu peito e pular para fora.

- Muito bem, vá chamar o Ben e o Aiden, Josh. Eu vou falar para os convidados irem para seus lugares. - Adam diz autoritário. Ele sempre se saiu bem em situações de pânico.

- E eu? - Pergunto, desesperado para que alguém me diga o que fazer, pois estou perdido.

Adam me olha com uma cara engraçada e acena para onde o juiz está esperando.

- Vá para o seu lugar, é claro. - Ele se afasta e posso jurar que o vejo rindo.

Caminho até o meu lugar, respirando profundamente, abrindo e fechando as mãos repetidas vezes porque eu ouvi falar que isso ajuda a acalmar o nervosismo.

Os convidados rapidamente tomam os seus lugares. Vejo Gwen se sentar na fileira da frente, com Jena no colo.

Aiden, Ben e Adam - meus padrinhos - se aproximam com sorrisos animados nos rostos.

- Calma, garoto. - Escuto o juiz, um homem na faixa dos 60 anos com cabelos brancos e óculos, me dizendo.

Ofereço-lhe um sorriso tenso e foco em Jena, com certeza ela vai me acalmar. Nem sei por que estou tão nervoso.

Maya chega junto com as outras madrinhas, quando ela passa por mim pisca e ri, provavelmente da minha cara.

Ela fala com Gwen, provavelmente se garantindo que nossas alianças estejam com ela, já que na hora certa é Jena que nos entregará as alianças.

Vejo uma movimentação no final do corredor e meu coração para uma batida.

Está na hora!

Todos os convidados se levantam, a música começa, eu quase não a escuto, já que as batidas do meu coração estão ecoando em meus ouvidos como tambores.

Então eu finalmente a vejo, Mab está com o braço enganchado no do seu pai, o sorriso em seu rosto brilha e ilumina o final de tarde mais do que o sol.

Levo a mão até a boca para segurar o choro que quer sair a todo custo, meus olhos se enchem d'água diante da visão dela, caminhando tão linda e perfeitamente para mim, para se tornar a minha mulher para o resto de nossas vidas.

As lágrimas transbordam e rolam livremente por meu rosto.

Tão linda, ela está tão linda, parece um anjo. De repente não me sinto mais nervoso, sinto apenas uma paz, uma tranquilidade, uma felicidade tão grande, mas tão grande que não cabe em meu peito.

Não consigo parar de chorar, e quando Mab está na metade do caminho consigo ver que ela também está chorando.

Sinto uma vontade enlouquecedora de apressar seu passo, de ir até ela e puxa-la para mim, para meus braços para dizermos 'sim' de uma vez.

Mab é naturalmente linda, mas hoje, com o seu vestido branco, com as flores que ela segura, com o sorriso e o brilho em seus olhos, com o jeito que ela me olha enquanto caminha em minha direção, ela parece um sonho divino, uma poesia, versos apaixonados de uma canção de amor, ela parece com uma fada radiante e perfeita.

E ela é minha, ela me ama, ela quer passar o resto da sua vida comigo e mais ninguém.

Eu sou o homem mais sortudo do mundo.

Quando eles finalmente chegam, estendo a mão para Mab, ela entrega as flores para Maya, e segura minha mão.

Seu pai lhe da um beijo na testa e aperta minha outra mão.

Mas se posiciona ao meu lado e eu sussurro para ela.

- Está feliz?

Mab olha no fundo dos meus olhos e responde:

- Muito. E você? - Ela sussurra de volta.

- Mais do que cabe em meu coração, meu amor.

Ela suspira e então sorri, satisfeita com minha resposta. Ela sorri largamente, plenamente, um sorriso que consegue misturar gentiliza, alegria, cumplicidade e todas as coisas boas que Mab trás consigo por onde quer que ela vá.

Então como sempre, seu sorriso faz com que eu sorria também, e tudo parece perfeito.

Fim!