Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

3 - Vida efêmera


O som irritante do despertador do celular ressoou pelo quarto.

Deitada de bruços, com o rosto enfiado embaixo do travesseiro, Hadassa tateou a mesinha de cabeceira até encontrar o maldito aparelho e cessar o barulho irritante. Não deveria ter dormido mais do que quatro ou cinco horas; em parte por ter ficado até tarde estudando para a prova, em parte por ter tido pesadelos com a clínica de reabilitação e com o tiro.

Acordar com aquele som disparando em sua cabeça não era a melhor forma de começar o dia. Por isso mesmo, ela respirou fundo várias vezes. Não queria preocupar ninguém com um pesadelo idiota a respeito de algo que já estava resolvido. Todo mundo — seu pai, seus amigos, até mesmo os empregados da casa — tinha seus próprios problemas para lidar. Ela não precisava adicionar mais nenhum à equação de ninguém.

Decidida a deixar as lembranças para trás, Hadassa levantou da cama e tomou um longo e relaxante banho. Apesar dos jatos sucessivos de água, não se sentia completamente despertada. Talvez melhorasse depois de uma boa xícara de café.

Ao sair do chuveiro e voltar para o quarto enrolada na toalha, encontrou Harrison Ford, seu gato gordo, cinza e peludo, deitado no meio do bolo formado pelas cobertas.

— Bom dia, bebê.

O gato respondeu ao cumprimento e ao carinho com um miado ainda mais preguiçoso. Hadassa riu. Quando ela adotara Harrison Ford, seu pai tinha ficado preocupado que os quatro rottweilers pudessem atacá-lo. Mas, de alguma forma, o gato parecia ter conquistado poder e imperava por toda a casa. Inclusive sobre os quatro cachorros.

Deixando que Harrison Ford fizesse o que sabia fazer de melhor — dormir — Hadassa foi até o guarda-roupa. Como o dia prometia ser quente, escolheu um vestido amarelo de alças, que parava um pouco acima do joelho, e um par de sandálias de saltos baixos. A maioria das garotas ia para a universidade com a primeira roupa que apanhava no armário, mas ela gostava de se arrumar. Passou uma maquiagem bem leve, optou por deixar os cabelos soltos e, por último, colocou seu colar de coração.

— Bom dia, mamãe — sussurrou, segurando a metade do pingente por entre os dedos.

Aquela era a única lembrança que tinha de sua falecida mãe.

Mal a conhecera; sua mãe havia adoecido e falecido quando ela era pequena demais para sequer se lembrar de seu rosto. E a dor que seu pai sentia era intensa demais para permitir qualquer foto pela casa, mesmo com o passar dos anos.

Era curioso como a vida era frágil e efêmera. Tinha sido assim para sua mãe. Podia ter sido assim com ela, caso o tiro não tivesse pegado seu braço apenas de raspão e...

O ar falhou em seus pulmões.

Foi como se a luz do quarto estremecesse.

De repente, ela estava ali, semanas atrás, com sua amiga e a irmã, com a maluca segurando uma arma. De repente, ela era uma menininha de novo, encarando um espelho, e o sangue...

Hadassa agitou a cabeça, expurgando as imagens. Abriu a caixinha de música que ficava em cima de sua penteadeira, deixando que a melodia e a bailarina acalmassem seus pensamentos. Tinha um longo dia pela frente para permitir que sua mente vagasse para lugares obscuros.

Desceu as escadas, cumprimentou os empregados e os mordomos e tomou duas xícaras de café, acompanhadas de torradas e salada de frutas.

Agora sim. Estava com a mente leve e o corpo alimentado.

Bom, acho que me sinto pronta para começar o dia.

Mais animada, ela se levantou da mesa, girando nos calcanhares enquanto a saia amarela do vestido rodopiava ao seu redor, quase colidindo com o corpo musculoso parado a meros centímetros atrás do seu.

O coração de Hadassa saltou no peito enquanto Dimitri preenchia sua visão.

— Não apareça nos lugares assim, desse jeito silencioso. — Ela colocou a mão sobre o peito. — Você quase me matou de susto.

A linha firme do maxilar dele se contraiu.

— Meu trabalho é ser silencioso.

Sentiu o olhar de Dimitri a percorrendo, descendo por seus olhos, seu pescoço, sua postura, e então voltando para seu rosto, ali se demorando, como se tentasse decifrar algo que nem mesmo ela sabia que precisava ser decifrado.

— Bom, já que temos que fazer isso, melhor irmos logo. E algo me diz que você vai querer assumir o volante — ela disse, apanhando a bolsa para escapar do olhar dele. — Não quero me atrasar para a aula.

— Como desejar... — Dimitri respondeu, a voz baixa, rouca. — ...Senhorita Hadassa.


*************


— Música? — Hadassa sugeriu, decidida a quebrar o gelo estranho.

— Música me desconcentra enquanto dirijo — Dimitri respondeu, os olhos fixos no trânsito e na avenida.

Ela revirou os olhos e afundou no banco.

Se não ficasse enjoada por causa do movimento do carro, aproveitaria o silêncio para revisar a matéria da prova mais uma vez. Como a chance de vomitar no meio-fio eram altas, deixou o caderno e os livros dentro da mochila.

Fitou Dimitri com o canto do olhar; a luz matinal que entrava pelos vidros do carro trabalhava a favor dele, jogando uma calmaria na vibração castanha-esverdeada do olhar; uma nota tão intensa que se acentuava com as roupas sociais, a arma guardada no coldre e o corte de cabelo militar, capaz de tragar e atingir tudo o que estava ao redor.

E ele exalava um cheiro de loção pós-barba muito masculino.

Hadassa se pegou estudando o caminho até a universidade para se distrair daquela fragrância impregnada por todo o carro. E, mesmo rodeados pela tensão ácida e pelo silêncio pesado, ela percebia que, vez ou outra, Dimitri também lhe lançava olhares rápidos, principalmente para seus cabelos soltos, mas nada dizia.

Qual é o problema desse cara? Se ele não queria esse trabalho, era só ter recusado a oferta do meu pai.

Agradeceu quando a fachada e o estacionamento da Universidade Augusto dos Anjos encheram sua vista.

Pulou da BMW assim que Dimitri manobrou o veículo em uma das vagas cobertas. A brisa da manhã aliviou o calor sufocante que se espalhava por sua pele.

— Bom, cheguei sã e salva. Tenho aula até a uma da tarde e... — Hadassa estreitou os olhos ao vê-lo descendo do carro, fazendo menção de segui-la até o prédio de Direito. — Onde você está indo?

O semblante dele permaneceu impassível.

— Seu pai foi muito claro. Ele quer que você esteja na minha vista o tempo todo. Ficarei do lado de fora da sua sala até sua aula terminar.

Ela precisou se controlar para não revirar os olhos.

— Ótimo, maravilha — resmungou baixo. — Você vai ser mesmo minha sombra.


**********


Já era quase hora do almoço quando Hadassa entregou a prova para o professor e deixou a sala de aula, se espreguiçando e soltando o ar.

Dimitri estava no corredor, recostado a parede com os braços cruzados; um olhar capaz de afugentar qualquer um que chegasse perto dele.

Ela se assustou quando Pablo e Renato, seus colegas de turma, pularam atrás dela, segurando seus braços de um jeito muito animado para quem acabava de terminar uma prova super difícil.

— Está com fome, Hadassa? Quer almoçar com a gente?

— Hã, claro.

Hadassa deixou que os rapazes se enganchassem em seus braços e foi com eles até o pátio. Não chamou por Dimitri; sabia que sua sombra particular a seguiria para onde ela fosse.

— E o apartamento de vocês, casal? — ela perguntou, ansiando mudar de assunto e não se irritar com aquilo. — Como está?

Renato abriu um sorriso entusiasmado.

— Quase tudo pronto. Só faltam as cortinas.

— Não conseguimos chegar a um consenso sobre as cortinas.

— Garanto que vocês vão sobreviver a esse desafio.

Trocando ideias sobre o novo apartamento e as questões da prova, eles compraram o almoço e escolheram uma mesa no pátio, à sombra de uma árvore florida.

— Vocês não vão almoçar com a Alana? — Hadassa indagou, lançando um olhar desconfiado para Pablo e Renato.

— Ela vai almoçar com o professor Alex hoje — Renato falou.

— Ou ser o almoço. — A língua travessa de Pablo estalou.

Hadassa riu e revirou os olhos, se divertindo com os dois. Já fazia um bom tempo que Alana e Alex haviam se casado, mas as piadinhas dos amigos permaneciam vivas e constantes.

— Além disso — Pablo piscou para ela e movimentou a cabeça, apontando para onde Dimitri estava parado em pé, com um semblante duro e de braços cruzados, observando todo o movimento ao redor —, almoçar com você nos dá uma vista muito agradável.

— Então seu pai se manteve firme e contratou mesmo um guarda-costas para você? — Renato, mais solidário, perguntou enquanto levava uma garfada do almoço à boca.

— Como vocês podem ver — Hadassa imitou o movimento de cabeça de Pablo —, Emanuel Antonelli não muda de ideia com facilidade. Enfim, espero ter ido bem na prova. Não quero uma nota mediana.

— Com o que você está preocupada, amiga? — Pablo riu. — Sua vida já está pronta, independente de ser a primeira da turma ou ficar apenas na média. É só conseguir passar na OAB e assumir um lugar no escritório do seu pai. Não precisa se preocupar, diferente do resto de nós, meros mortais tentando escalar a pirâmide da advocacia.

Hadassa analisou, sorveu e mastigou as palavras dele.

Sim, sua vida estava trilhada, facilitada, arranjada.

Aquela mesma vida que podia ser efêmera e...

— Amiga? — Pablo estalou os dedos. — Terra para Hadassa Antonelli, princesa dos advogados. Seu celular não para de vibrar.

Ela balançou a cabeça e checou o aparelho. Eram várias mensagens de Cecília, a afilhada de seu pai.

"Você pode vir ao estúdio hoje à tarde?

"Por favor"

"Por favor"

"Os testes serão na semana que vem"

"Quero que você veja se minha performance está boa"

"Sei que você também era boa nisso"

"Por favor"

"Confio mais na sua opinião do que na de qualquer outra pessoa"

"Por favor"

Temendo que poderia se afogar no mar de mensagens, Hadassa enviou a resposta para Cecília, prometendo que a encontraria no estúdio na parte da tarde.

Ao deixar o celular de lado e ergueu a cabeça, colidindo com o olhar de Dimitri, que estava fixo nela. Num reflexo instintivo, Hadassa virou o rosto e engatou na conversa com os amigos.

Mas a sensação de estar sob o toque ardente e atento dos olhos de Dimitri permaneceu durante todo o almoço.


*************


Em pé, Dimitri não baixou a guarda por um momento sequer, atento a cada movimento de Hadassa Antonelli. O sol que atravessava a folhagem das árvores iluminava sua pele escura e seus cabelos soltos, causando ondas de luz nos fios negros.

Trincou o maxilar.

Tinha que se concentrar.

Era apenas uma questão de tempo.

Algumas coisas ainda precisavam ser feitas com cuidado.

Material e provas precisavam ser colhidos para que não restassem pontas soltas; tudo era efêmero e poderia se desfazer com um sopro mais forte do vento.

A mão de Dimitri desceu para a arma guardada no coldre.

E então, dívidas antigas seriam desenterradas.

E ele seria o cobrador.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro