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2 - Sombra

Atenção: postei o capítulo 1 também. Confira se você o leu, caso o Wattpad não tenha notificado direito.

A expressão de desagrado que a princesinha Antonelli fez assim que ouviu que ele seria seu guarda-costas fez Dimitri ter certeza de que ela desaprovava a decisão do pai.

E, mantendo as linhas do rosto impassíveis, por debaixo do porte rígido, ele se sentiu extremamente satisfeito.

Uma garota rica e mimada era sempre uma garota rica e mimada.

Aquilo tornaria tudo ainda mais fácil.

— Um guarda-costas? — A moça quase engasgou nas palavras.

— Já havíamos conversado sobre isso, Hadassa — Emanuel falou. O homem se dirigia à filha como se estivesse em uma reunião de negócios. — Você concordou que eu poderia tomar medidas para cuidar da sua segurança, sabendo que isso poderia incluir um guarda-costas.

A garota franziu o canto direito da boca e levou o olhar até ele.

Dimitri conseguia ler o que se passava pelas íris escuras.

"Não acredito que vou ter uma sombra atrás de mim o tempo todo".

Por dentro, um sorriso ácido o encheu. De fato, tudo seria fácil. Mais fácil do que tinha planejado.

— Certo. — Hadassa concordou com um resmungo, esticando a mão para ele. — Prazer em conhecê-lo, Dimitri.

Dimitri retribuiu o gesto. Mas não sacudiu tampouco apertou a mão dela. Ele apenas a segurou um pouco enquanto a olhava fixamente em seus olhos. A pele dela era como um cetim escuro: macia, negra e docemente feminina, enquanto a dele era áspera e inflexível. Ficaram ali, imóveis, encarando um ao outro enquanto Dimitri aproveitava para estudá-la melhor, cada ângulo e detalhe que não constava em seu arquivo.

Estava esperando se deparar com uma patricinha vestida em roupas impecáveis, e não com uma garota que parecia ter acabado de chegar do treino mais exaustivo de sua vida. A regata, embora folgada, marcava algumas curvas, e a calça legging se agarrava às coxas dela. O rosto, brilhando de suor, mostrava que ela não estava disposta a facilitar seu trabalho.

— O prazer é meu, senhorita Hadassa — ele respondeu, a voz grave, e notou como os dedos dela se contraíram sob os seus. — Seu pai me disse que você sofreu um atentado há algumas semanas.

O gesto dela indicava que tentava limpar a garganta discretamente.

— Eu estava no lugar errado, na hora errada.

— A maior parte das vítimas alega isto.

Hadassa recolheu a mão de volta, quebrando o calor do contato.

— Neste caso, eu estava mesmo no lugar errado e na hora errada. Fui com uma amiga da faculdade visitar a irmã dela, que estava internada em uma clínica de reabilitação, e uma louca armada apareceu lá e nos fez de refém. O alvo era a irmã da minha amiga. No fim, tudo deu certo e a maluca foi colocada atrás das grades. Tudo isso é um exagero e...

— Mesmo assim, esse ataque acendeu um alerta em minha cabeça. — Emanuel a cortou. — Você sabe que lido com o todo o tipo de gente no meu trabalho. Já faz tempo que estou preocupado com a sua segurança. E, por Deus, você tomou um tiro!

Dimitri observou a garota se contrair, e desceu o olhar para o ombro dela, para o braço, para a pele que a regata amarela revelava. Podia detectar a cicatriz do tiro. Como um ex-militar, já havia visto muitos ferimentos e cicatrizes causadas por balas. Mas era estranho ver aquilo na pele de uma moça que não deveria ter nem vinte e cinco anos ainda.

— Você terá proteção vinte e quatro horas por dia — Emanuel continuou. — A empresa de segurança me garantiu que Dimitri é o melhor.

Desconforto lampejou pelo rosto dela, alguém que não passou despercebido por Dimitri. Ele precisou segurar o sorriso provocativo, fingindo analisar o pé direito alta da casa e se manteve com a expressão neutra.

Uma mansão elegante. Luxo e riqueza. Uma veia saltou na garganta de Dimitri. Era fácil ignorar o mal causado em uma bolha como aquela.

— E o que tenho que fazer? — Hadassa indagou.

— Vou precisar da sua agenda e dos seus horários. — Ele se voltou para ela. — Adequarei minha rotina à sua. Estarei onde você estiver.

— Como uma sombra — ela resmungou, baixo demais para o pai escutar, mas o suficiente para que a audição de Dimitri captasse as palavras. — Certo. Cuidarei disso. Quando você começa?

— Amanhã mesmo. É o que seu pai deseja.

Hadassa olhou de soslaio para o pai, e depois voltou os olhos para ele. Seus cabelos densos e escuros estavam presos em um rabo-de-cavalo alto, e Dimitri imaginou se eles pareceriam uma cascata se ela os soltasse e os deixasse cair pelos ombros.

— Tenho aula amanhã cedo.

— Estarei aqui uma hora antes para te levar à universidade.

— Isso é mesmo necessário, papai? Tenho meu carro.

— Dimitri te levará a todos os lugares a partir de hoje. — Emanuel a cortou. — Pelo menos, até eu ter certeza de que não há mais nenhuma ameaça à sua segurança.

Hadassa tomou uma longa respiração, tocando o pingente do colar; a metade de um coração de ouro.

Dimitri teve impressão de ler os pensamentos dela.

Para um homem como Emanuel Antonelli, a segurança de sua única filha e herdeira sempre estaria ameaçada.

Ah, Emanuel Antonelli apenas não imaginava o quanto.

— Muito bem. Que seja feita a vossa vontade, papai. — Hadassa ajeitou a alça da mochila, a ironia se enrolando na ponta da língua. — Se vocês me dão licença, preciso tomar um banho, comer e estudar.

A moça se virou, o cabelo balançando no rabo-de-cavalo. Outra vez, a imagem de ver aqueles fios escuros soltos e sentir a textura deles serpenteou pela mente de Dimitri.

Expurgou a ideia absurda na mesma hora, erguendo o queixo enquanto ela se virava.

— Até amanhã, senhorita Hadassa.

Ela ergueu a mão, em um aceno pouco animado, e não olhou para trás enquanto subia as escadas.


**************


Tarde da noite, no minúsculo apartamento, Dimitri se sentou no sofá e ligou o notebook. Uma pizza de calabresa, devorada pela metade, se encontrava abandonada dentro da caixa deixada sobre a mesa.

Assim que a tela iluminou, a mensagem piscou para ele.

"E então? Qual é a sua posição?".

Com uma calma fria e calculada, Dimitri digitou a resposta.

Já estou dentro da casa dos Antonelli. Hora de colocar o plano em andamento.

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