Tão Cansado
A cidade brilha em milhares de luzes, mas meu foco está em Angry ao meu lado, tão calmo. Ao contrário de mim que sinto algo estranho no meu corpo: espasmos e uma dificuldade crescente para respirar. Meu coração bate descontroladamente, como se quisesse sair do meu peito.
Meus pensamentos estão tumultuados, um turbilhão de emoções e medos que não consigo controlar. Quero gritar, soltar essa agonia que me consome, mas me mantenho firme. Não posso, não agora. Não quero estragar esse momento raro e precioso de calma com Angry.
Olho para ele e vejo a serenidade em seu rosto. Tento me concentrar na paisagem, na brisa suave da noite, em qualquer coisa que me distraia dessa tempestade interna.
Cada respiração é um esforço, cada batida do meu coração, uma luta. Tento absorver a tranquilidade do momento, deixando que ela se infiltre em meu ser e me dê forças para aguentar mais um pouco.
Uma sensação de formigamento no meu corpo se intensifica, junto com as vozes perturbadoras na minha mente. Me levanto abruptamente, tentando afastar essas sensações desconfortáveis. Sinto o olhar preocupado do Angry sobre mim.
— Rindou, o que está acontecendo? — ele pergunta, com a preocupação evidente em sua voz.
Respiro fundo, tentando manter a calma.
— Está tudo bem, Angry. Não precisa se preocupar. — tento sorrir, mas sei que não convenço nem a mim mesmo.
Angry continua a me observar, a preocupação ainda presente em seu olhar. Eu não quero que ele veja o tumulto dentro de mim e muito menos o monstro que eu me torno em poucos minutos, então dou alguns passos, tentando liberar a tensão do meu corpo. Cada movimento é difícil, as vozes continuam a me atormentar, mas faço o possível para parecer firme.
A noite está calma, mas dentro de mim há uma tempestade. Ainda assim, a presença tranquila do Angry me dá um pouco de força para continuar fingindo que tudo está bem.
Ele não precisa carregar esse peso comigo. Nem ele e nem ninguém. Tento absorver a serenidade do parque e do horizonte de Tokyo, na esperança de que essa paz exterior possa, de alguma forma, acalmar o caos interno.
Tento controlar o caos dentro de mim, mas as vozes e o formigamento são insuportáveis. Me viro para Angry, que ainda está sentado no banco, e digo:
— Podemos ir embora?
Ele me olha com preocupação, mas concorda sem questionar. Caminhamos até a moto estacionada, colocamos nossos capacetes, e eu sinto o toque reconfortante do Angry segurando firme em mim. Ligo a moto e começamos a voltar para casa.
Enquanto piloto pelas ruas de Tokyo, as vozes na minha mente não cessam. Elas me atormentam, sussurrando coisas horríveis, trazendo à tona medos e inseguranças que pensei ter enterrado. Tento me concentrar na estrada, mas as palavras se infiltram, cruéis e implacáveis.
As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, escondidas pelo capacete. É uma batalha constante manter a moto estável e lutar contra o desespero crescente dentro de mim. Cada quilômetro percorrido é uma mistura de dor e esforço para manter a compostura.
Sinto o aperto do Angry em mim, seu apoio silencioso, e tento encontrar força nisso. Mas a escuridão na minha mente é profunda, e as vozes não me dão trégua. Continuo pilotando, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, esperando que, de alguma forma, a chegada em casa traga um alívio, mesmo que momentâneo, para esse tormento interno.
Chegamos em casa, estaciono a moto com cuidado na garagem e tiro o capacete, tentando manter a compostura dentro de mim.
Angry desde da moto e retira o capacete, e assim que ele termina de arrumar o seu cabelo, olho para ele com um sorriso fraco e digo:
— Espero que tenha gostado do passeio. — digo a Angry, com minha voz um pouco trêmula.
Angry me olha com preocupação, mas sorri.
— Adorei, Rindou. Mas estou preocupado com você. — ele pergunta e se aproxima de mim. — Você está bem?
Respiro fundo, forçando um sorriso.
— Não é nada, sério. Estou bem. — falo com minha voz passiva, mas sei que dentro de mim não está tão calmo assim.
Entramos em casa e encontramos Ran e Smiley na sala, assistindo TV. Ver tal cena me faz sorrir, ambos encontraram pessoas incríveis para dividir as suas vidas. Me aproximo do Ran e, sem dizer nada, o abraço apertado.
— Eu te amo, Ran. Você significa muito para mim. — digo, sentindo as emoções transbordarem. — Obrigado por tudo que você fez por mim. Amo você mais que tudo.
Ran fica surpreso, mas rapidamente retribui o abraço com carinho.
— Eu também te amo, Rindou. — ele diz e olha para mim. — O que aconteceu? Por que você está assim?
— Eu só... o passeio com Angry me fez pensar em muitas coisas. — respondo, tentando manter a voz estável. — E eu queria te dizer que eu te amo, pois as vezes sinto que eu não falo isso o suficiente para você.
Ran sorri e deposita um beijo na minha testa, essa demonstração de carinho que ele sempre teve por mim me aquece por dentro. Olho para Smiley e também o abraço com carinho.
— Fico feliz por você estar aqui e cuidar do Ran. Significa muito para mim. — digo e olho para ele. — Cuida do Ran para mim? Para sempre?
— É claro que eu vou cuidar do Ran, sempre e sempre. — ele diz e me olha confuso. — Mas por que isso?
— Só cuide dele por mim. É tudo que eu te peço. — falo com um sorriso. — Ele sempre foi uma pessoa importante para mim.
Smiley sorri, surpreso com minha demonstração de afeto, e me abraça de volta.
— Nós estamos aqui um para o outro, sempre. — ele diz, e sinto um peso ser levemente aliviado dentro de mim.
— Vou tomar um banho e descansar. — falo e subo as escadas, com cada passo mais pesado que o anterior.
Entro no banheiro e tranco a porta atrás de mim e, finalmente, me deixo desmoronar. As lágrimas começam a cair sem controle, meu corpo é sacudido por soluços intensos. É outra crise de borderline, mais intensa do que nunca. Me sinto completamente descontrolado, incapaz de parar de chorar.
Tiro minha jaqueta e a deixo cair no chão. Caminho até a banheira e me deito nela, tentando encontrar algum consolo no frio do porcelanato. Olho para os meus pulsos, com as veias sob a pele parecendo gritar para mim. A dor interna é insuportável.
Meus olhos se voltam para a prateleira ao lado. Estico o braço e pego uma lâmina. Com mãos trêmulas, retiro a lâmina e a seguro, fria e afiada, contra a minha pele. Estou pronto para acabar com o sofrimento, para encontrar algum tipo de paz para mim e para todo mundo.
Não suporto ser um peso para ninguém.
A lâmina toca meu pulso, e por um momento, tudo parece parar. As vozes na minha cabeça, o tumulto emocional, toda a dor... tudo isso se reduz a este único momento. Fecho os olhos, preparado para seguir adiante, buscando um fim para essa angústia insuportável.
— Me desculpa, Ran. — falo antes de fincar a lâmina com mais força na minha veia e artéria, que imediatamente, me faz sentir tontura e tudo fica preto.
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