Eu Terei Paz? Algum Dia?
Acordo com a visão embaçada, piscando algumas vezes até que meus olhos se ajustam à luz suave do quarto. Estou deitado, com um peso no meu braço esquerdo que logo percebo ser o tubo do soro. A sensação de uma agulha presa na pele me faz franzir a testa. O que aconteceu? Aos poucos, as lembranças da tarde de ontem começam a voltar... a crise, o desmaio... tudo uma névoa confusa e distante, mas ainda me atinge com força.
Desvio o olhar para o lado e vejo uma enfermeira em pé, ao lado da cama. Ela parece estar cuidando dos ferimentos no meu braço. Ao notar que acordei, ela ergue a cabeça e me dá um sorriso breve, tentando me passar alguma sensação de tranquilidade. O algodão que ela pressiona contra a pele arde um pouco, mas é um incômodo tão pequeno comparado ao que sinto por dentro que eu mal registro.
Meus olhos se fixam nos arranhões e nas áreas avermelhadas do meu braço. Não são grandes ferimentos, nada profundo, apenas marcas leves e ralas, fruto da queda de ontem. Mesmo assim, ver essas marcas em mim é um lembrete do quão frágil me tornei, do quão perdido estou na minha própria mente. A enfermeira continua limpando e cuidando dos machucados com movimentos delicados, enquanto eu permaneço em silêncio.
Não sei exatamente o que sinto nesse momento. É uma mistura de vergonha, cansaço e um vazio que parece consumir tudo. Eu deveria estar acostumado a isso agora, essas idas e vindas das crises, os desmaios... Mas a verdade é que nunca fica mais fácil. É sempre como cair em um abismo que não tem fim.
É sempre assim, essas espirais que me sugam para dentro da minha própria mente. Faz algumas semanas ou talvez meses?... desde que os médicos me deram outro diagnóstico. Lembro da sensação fria e paralisante que tomou conta de mim quando eles disseram aquelas palavras: "Você tem esquizofrenia." Eles explicaram tudo, falaram dos sintomas, dos tratamentos, dos remédios... mas eu mal ouvia. Era como se tudo ao meu redor estivesse afundando em uma neblina densa e sufocante.
Enquanto eles falavam, eu só conseguia pensar em uma coisa: "Isso vai ser para sempre?" Minha cabeça parecia cheia de perguntas sem respostas. Olhei para os rostos dos médicos, procurando alguma faísca de esperança, alguma garantia de que, em algum momento, as vozes e os pensamentos caóticos iriam parar. Mas a única coisa que eu vi foi aquele olhar de empatia treinada, aquele tom de voz que parecia estar medindo cada palavra para não soar muito cruel.
E agora, aqui estou, com o peso desse diagnóstico que parece uma sentença. Esquizofrenia. Uma palavra que carrega um mundo de caos dentro dela. Sinto uma mão invisível apertando meu peito cada vez que me lembro disso. Minha mente é um campo de batalha constante, com pensamentos invadindo como soldados inimigos, sem descanso, sem tréguas.
Fecho os olhos, tentando encontrar um segundo de paz, um único momento de silêncio interno. Pergunto a mim mesmo se um dia vou ter paz de verdade. Ou se estou condenado a viver essa luta interminável contra minha própria mente para sempre. Eu queria tanto ter uma resposta, uma luz no fim do túnel... mas tudo o que vejo é um vazio infinito e a incerteza do amanhã.
Sinto uma onda de frustração me consumir. É como se eu estivesse preso dentro de uma caixa sem saída, e cada movimento que faço só piora a situação. Eu abro os olhos e vejo o teto do quarto e a luz pálida da manhã filtrando pela porta. É um novo dia, mas, para mim, nada muda. A sensação de estar andando em círculos é esmagadora.
Tudo é tão frustrante. As sessões com os médicos, as doses dos remédios, a rotina controlada aqui dentro. Tudo parece uma piada cruel. Eles dizem que é para o meu bem, que é um passo para a recuperação, mas eu não vejo nada disso. Eu não me sinto melhor. Eu só me sinto... preso. E o diagnóstico? Ouvir que eu tenho esquizofrenia, transtorno de personalidade borderline e depressão é como levar um soco no estômago. Eles esperam que eu aceite essa etiqueta e viva com ela, mas como alguém pode aceitar algo assim tão facilmente?
Quero ser o Rindou de antes, aquele que tinha controle da própria vida, aquele que sabia sorrir de verdade. Mas a cada dia que passa, parece que essa versão de mim está mais distante. Como se ele estivesse se afogando, enquanto eu, o Rindou de agora, só pudesse assistir, impotente. Isso é o que mais me frustra. Não consigo ajudar a mim mesmo.
Eu penso em Ran, em Angry, em Smiley... e me sinto ainda pior. O que eles devem estar pensando? Eles querem que eu lute, que eu melhore, mas como posso fazer isso quando sinto que minhas próprias mãos estão amarradas? Tudo o que eu tento, tudo o que eu faço, parece inútil. É uma batalha perdida antes mesmo de começar.
Estou tão cansado de ser o problema, de ser o motivo de preocupação, de ser o que está quebrado. Por que não posso simplesmente... ser normal? Só quero que as coisas voltem ao que eram antes. Mas talvez isso seja pedir demais. E pensar nisso só aumenta a minha frustração. É um ciclo vicioso, um buraco do qual eu não sei se algum dia vou conseguir sair.
A porta do quarto se abre, e uma enfermeira entra em silêncio, carregando a bandeja do café da manhã. Ela coloca a bandeja na mesinha ao lado da cama, sem dizer nada. Acho que ela já se acostumou com a minha falta de resposta. É sempre a mesma coisa, ninguém espera muito de mim aqui dentro.
Ela começa a preparar o café da manhã, colocando os talheres na minha mão e ajustando a posição da comida. Eu olho para o prato, mas não consigo reunir energia suficiente nem para pegar a colher. É um esforço enorme para um gesto tão simples. A enfermeira suspira, pega a colher da minha mão e começa a me alimentar com uma colherada de mingau atrás da outra.
Enquanto ela me ajuda a comer, eu encaro o teto. A cada colherada que ela traz aos meus lábios, sinto uma mistura de humilhação e vergonha. Como cheguei a esse ponto? Nem comer sozinho eu consigo mais. Parece que eu realmente me entreguei, me afundei nessa escuridão, nessa ausência de vontade.
Mas, ao mesmo tempo, há algo dentro de mim que ainda quer lutar. Uma fagulha, uma voz fraca, que diz para continuar, nem que seja por eles. Penso no Smiley, no Angry... e principalmente no Ran. O Ran, com aquele sorriso que ele tenta esconder quando está preocupado. Ele está lutando por mim, eu sei disso. Ele e os outros não desistiram.
Então, talvez, eu deva lutar também. Mas é tão difícil. Com cada colherada que a enfermeira traz à minha boca, sinto que estou apenas cumprindo um ritual, como um boneco que ela controla. Mas, por dentro, eu ainda desejo ter forças para mudar tudo isso. Talvez, se eu lutar por eles, por esse amor que sinto por cada um... eu possa encontrar uma maneira de sair desse buraco.
Ela continua me alimentando, e eu fecho os olhos por um momento, tentando visualizar um futuro diferente, onde eu consiga segurar essa colher sozinho. Onde eu consiga me levantar, olhar para o espelho, e não sentir esse vazio sufocante. É um sonho distante, mas, por eles, talvez eu possa tentar.
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