Estamos no carro, e o som do motor é o único ruído que quebra o silêncio tenso. Smiley está dirigindo, focado na estrada, enquanto Angry está no banco de trás, seu olhar perdido em pensamentos sombrios. Eu estou no banco da frente, meu estômago em um nó, esperando pela chegada à clínica psiquiátrica onde Rindou está agora.

Já se passaram dois meses desde que Rindou foi internado no hospital. Dois meses de tratamento intensivo, tentando estabilizá-lo e prepará-lo para o que viria a seguir. "Ficar bem" é um eufemismo para o que realmente significa: uma série interminável de medicamentos e sessões de terapia, um caminho tortuoso que levou à decisão de transferi-lo para a clínica psiquiátrica.

A estrada é longa e parece interminável. Cada curva e cada sinal são apenas lembretes de que estamos mais perto de um lugar que eu gostaria de acreditar que não existisse. O ambiente fora do carro muda lentamente. O cenário urbano dá lugar a uma paisagem mais árida e desolada, a área ao redor da clínica é cercada por muros altos e uma sensação de isolamento.

Finalmente, chegamos. A clínica se ergue à nossa frente, imponente e fria, com uma fachada que parece não ter mudado em décadas. O estacionamento é vazio, exceto por alguns veículos oficiais e ambulâncias. O prédio é grande, suas paredes de um cinza opaco que contrasta com o céu azul, mas que parece refletir a sensação de opressão que sinto.

Smiley estaciona o carro e eu sinto um peso em meu peito. Ele e Angry se preparam para sair, e eu sigo o mesmo caminho, cada passo pesado com a ansiedade de enfrentar o que está por vir. O ar fora do carro é fresco, mas a atmosfera em torno da clínica é carregada, como se o ambiente fosse um reflexo do estado do Rindou.

Nós caminhamos em direção à entrada principal, uma porta de vidro com um interfone ao lado. Ao apertar o botão, somos recebidos por uma recepcionista, que nos orienta a preencher alguns documentos e aguarda a confirmação de nossa visita. O tempo parece se arrastar e a espera só intensifica a apreensão que já sinto.

Finalmente, somos autorizados a entrar. A recepcionista nos conduz pelos corredores, e cada passo dentro do prédio é uma jornada em um mundo diferente, onde a sensação de normalidade parece cada vez mais distante. As paredes são brancas e limpas, e o silêncio é interrompido apenas pelo som de passos e murmúrios de outros pacientes.

A recepcionista nos guia pelos corredores da clínica, e a cada passo, a tensão aumenta. O ambiente é austero, com paredes brancas e um silêncio profundo que só aumenta minha ansiedade. Ela para em frente a uma sala de visitas e nos solicita que aguardemos enquanto ela coloca etiquetas de visitante em nossas roupas. Essas etiquetas são adesivas e têm um código de identificação, uma forma de garantir que apenas pessoas autorizadas estejam dentro da área restrita.

Em seguida, ela nos pede para esvaziar nossos bolsos e garantir que não carregamos nada pontiagudo ou perigoso. Eu sigo as instruções, colocando qualquer item potencialmente perigoso em uma pequena caixa ao lado. Cada movimento é monitorado atentamente, e eu sinto um frio na espinha enquanto penso no motivo pelo qual essas medidas são tão rigorosas.

Com tudo verificado, a recepcionista pergunta quem será o primeiro a entrar, pois apenas uma pessoa é permitida por vez para garantir a segurança e a tranquilidade do paciente. Olho para Smiley e Angry, ambos demonstrando uma preocupação palpável. Smiley então me encoraja com um gesto de cabeça, e eu, com o coração acelerado, dou um passo à frente.

A recepcionista abre a porta e eu entro na sala, meu coração batendo forte no peito. O ambiente é simples, com uma mesa e duas cadeiras, e a luz suave ilumina o rosto do Rindou, que está sentado do outro lado da mesa. Assim que vejo Rindou, as lágrimas começam a escorregar pelo meu rosto. Ele está visivelmente magro, com um olhar cansado e uma expressão que demonstra o peso de tudo que passou. Seu olhar é distante e catatônico, e a dor de vê-lo assim é quase insuportável.

Com um esforço imenso, me aproximo e me sento na cadeira de frente a ele. As lágrimas continuam a cair enquanto me esforço para conter o choro. Pego o rosto do Rindou com as minhas duas mãos, tentando estabelecer algum tipo de conexão, mesmo que mínima. Olho para ele com toda a minha dor e amor.

— É eu, Rindou. Meu anjo. — digo, a voz embargada pela emoção. — Sou eu, Ran, seu irmão.

Rindou apenas me encara, sem expressar reconhecimento ou emoção. Seu olhar parece perdido, como se não conseguisse entender quem sou ou o que estou dizendo. A realidade do estado dele me atinge com uma força esmagadora. As palavras não parecem alcançar seu coração, e a frustração e tristeza se misturam com o desejo desesperado de vê-lo de volta a si mesmo.

Eu continuo segurando seu rosto, em um ato de amor e desespero, esperando que de alguma forma ele possa sentir a presença de alguém que se importa profundamente com ele, mesmo que, por agora, ele não possa expressar ou reconhecer isso.

Olho para Rindou e, apesar da dor que sinto, tento manter a voz calma e suave.

— Rindou, você sempre foi tão forte, sabe? Sempre esteve lá para mim, e agora eu estou aqui para você. Você é uma pessoa incrível e sempre será para mim. Sua coragem e tudo o que você conquistou ao longo dos anos são admiráveis.

Mas Rindou permanece estático, sem qualquer reação ou expressão. Ele não diz nada, não muda a expressão do rosto. Ele simplesmente continua a me olhar com aquele olhar distante, como se não pudesse se conectar com o mundo ao seu redor.

Meu coração se aperta ainda mais. Coloco minha mão sobre a dele, tentando sentir alguma conexão, algum sinal de vida. Quando toco sua mão, sinto a fragilidade e a magreza, e as lágrimas começam a escorrer sem controle. Seu toque é leve, quase como se não houvesse força ou vitalidade nele.

A dor de ver Rindou assim, tão vulnerável e perdido, me consome. Choro ainda mais, segurando sua mão com força, como se tentasse transmitir toda a minha tristeza e amor através desse simples gesto. A realidade de sua condição me golpeia com força, e eu me sinto completamente impotente diante do que estou vendo.

— Eu... eu sinto muito por você estar passando por isso, Rindou. — eu murmuro entre os soluços. — Eu só quero que você saiba que está aqui, que ainda é importante para todos nós. Estamos aqui por você.

Tento controlar as lágrimas que ainda escorrem pelo meu rosto. Coloco a mão gentilmente sobre o seu rosto, e com um toque suave, começo a acariciar suas bochechas. A textura fria e magra da sua pele me faz sentir uma dor profunda no peito.

— Rindou... — começo, minha voz tremendo com emoção. — Eu amo você. Eu te amo tanto, mais do que as palavras podem expressar. Desde o momento em que você entrou na minha vida, você se tornou uma parte fundamental de quem eu sou.

Continuo a acariciar seu rosto, tentando transmitir através desse simples gesto todo o amor e carinho que sinto.

— Você sempre foi um pilar para mim, sempre esteve ao meu lado quando eu precisei. E mesmo agora, eu estou aqui para você, como você sempre esteve para mim.

Rindou continua com a expressão distante, mas eu continuo falando, minha voz cheia de sinceridade e afeto.

— Eu quero que você saiba que, independentemente do que esteja acontecendo agora, você é amado. Eu quero que você se lembre disso, que você é importante e que você sempre terá um lugar especial em meu coração.

Cada palavra é carregada com o desejo de alcançá-lo, de fazer com que sinta o amor que ainda tenho por ele, mesmo em meio à sua dor e sofrimento.

— Eu estarei aqui, dia após dia, esperando que você encontre o caminho de volta para nós. Eu te amo, Rindou, e nunca vou parar de amar.

Enquanto continuo segurando a mão do Rindou, sinto um peso esmagador no peito e minhas lágrimas começam a cair com mais força. Minha cabeça se baixa, e choro desesperadamente, sem conseguir conter o turbilhão de emoções que me invade. A dor de vê-lo assim é insuportável.