Esperanças
Estou do lado de fora da sala de visitas, encostado na parede fria, observando Smiley que está com o olhar fixo na pequena abertura da porta. Consigo ver o reflexo do meu irmão pelo vidro, e ele não parece o mesmo de sempre. O sorriso dele está fraco, quase apagado, e aquilo me deixa inquieto. Eu sei que ele está tentando ser forte, mas é como se todo o peso desse momento estivesse esmagando ele por dentro.
Me aproximo devagar, cruzando os braços enquanto encaro Smiley de lado.
— Por que você tá sorrindo assim? — minha voz sai baixa, quebrando o silêncio entre nós. Ele não tira os olhos da porta, parece hipnotizado pela visão de Ran lá dentro, segurando Rindou com tanto cuidado, como se o mundo dependesse daquele abraço.
— Porque o Ran... ele é incrível. — Smiley murmura, sem desviar o olhar. A voz dele está carregada de uma ternura que eu raramente vejo. Ele respira fundo, e seus ombros caem, relaxando um pouco enquanto encara o cenário lá dentro. — Ele é tão... forte. Tão dedicado. Eu acho que ninguém entende o quão maravilhoso ele é, o quanto ele faz por todo mundo, mesmo quando ele tá desmoronando.
Eu fico quieto, observando Smiley enquanto ele fala. Nunca o vi assim tão... vulnerável. É estranho, mas eu entendo. Ele tá carregando o Ran nas costas, do jeito que sempre fez por mim.
— Qual é o seu sonho, Smiley? — pergunto, mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa. A pergunta escapa antes que eu me dê conta, mas eu quero saber. Quero entender o que passa na cabeça do meu irmão nesse momento.
Smiley finalmente desvia o olhar da abertura na porta e me encara, sorrindo de lado, aquele sorriso cansado que não chega aos olhos.
— Meu sonho... — ele começa, com a voz suave, quase como se estivesse confessando um segredo. — Meu sonho é me casar com ele.
As palavras dele me pegam de surpresa. Fico ali, sem saber o que dizer, observando Smiley com um misto de admiração e tristeza. Ele sorri para mim, mas é um sorriso cheio de dor e esperança, e eu entendo que o amor dele pelo Ran é profundo. É um amor que resiste, mesmo quando o mundo parece estar desmoronando.
Ran e Smiley sempre foram um casal que eu admirei. Desde o começo, a conexão entre eles era clara, algo que ia além do que se vê por aí. Eles são mais do que apenas namorados, são parceiros, companheiros de verdade. Onde um vai, o outro vai junto, como se fossem duas metades que se completam.
Sempre que estou perto deles, consigo sentir o quanto se apoiam. Ran tem esse jeito sério, responsável, sempre carregando o peso do mundo nos ombros. Mas com Smiley... é diferente. É como se ele pudesse finalmente relaxar, baixar a guarda, e ser ele mesmo.
Smiley tem esse dom de iluminar qualquer lugar que ele entra, e com o Ran não é diferente. Ele sabe exatamente o que dizer, o que fazer, para tirar um sorriso sincero do Ran, aquele sorriso raro que poucas pessoas têm o privilégio de ver.
E o Ran, por sua vez, é o porto seguro do Smiley. Quando meu irmão se perde nas preocupações, nas coisas que só ele sabe, é o Ran que traz ele de volta, que o lembra do que realmente importa. Eles cuidam um do outro de um jeito que é bonito de ver, mesmo nas horas difíceis. Não importa o que aconteça, sempre estão lado a lado, enfrentando tudo juntos.
Eu nunca vi Smiley olhar para ninguém como ele olha para o Ran. E Ran, mesmo com toda a frieza que ele tenta mostrar para o resto do mundo, tem um carinho que é só do Smiley.
Eles se entendem sem precisar de palavras, como se já tivessem passado por mil vidas juntos. E é isso que os torna um ótimo casal. Não é sobre perfeição, é sobre companheirismo, é sobre o jeito que eles se mantêm firmes um pelo outro, mesmo quando tudo parece estar desmoronando.
Eu vejo Ran saindo da sala de visitas, exausto, mas com um leve sorriso no rosto. Ele me dá um olhar de encorajamento antes de se afastar, e eu respiro fundo, me preparando para entrar. Abro a porta e vejo Rindou, ainda em seu estado debilitado. Mesmo com a frequência das minhas visitas, o choque do seu estado não diminui. Me sinto angustiado ao vê-lo tão vulnerável, mas sei que preciso fazer o melhor para ajudá-lo.
Me sento na cadeira à frente dele e começo a falar, tentando criar um ambiente mais leve.
— Ei, Rindou. Como você está hoje? — pergunto, tentando manter um tom de voz encorajador.
Ele levanta os olhos para mim, e eu percebo que ele parece um pouco mais atento do que nas últimas vezes. Há uma leve mudança em sua expressão, um pequeno sinal de reconhecimento.
— Sabe, eu estive pensando sobre aquele jogo de videogame que costumávamos jogar juntos. — continuo, tentando puxar uma lembrança agradável. — Aquele que você sempre ganhava de mim. Lembra? Eu ainda estou tentando descobrir como você fazia aquele truque com o joystick.
Rindou me observa, e, para minha surpresa, um leve sorriso começa a se formar em seus lábios. Seus olhos parecem um pouco mais vivos, e ele se move lentamente, como se tentasse lembrar do que estou falando.
— É, eu sei que você sempre foi um ás naquilo. — digo, mantendo o tom leve. — E, sabe, estamos planejando uma noite de jogos quando você voltar. Seria ótimo ter você de volta para vencer todas as partidas novamente.
Rindou me olha com um pouco mais de foco agora, e eu vejo uma reação sutil, mas significativa. Ele dá um pequeno aceno de cabeça, como se estivesse tentando acompanhar a conversa.
— Eu sinto falta daqueles dias. — digo, mais para mim mesmo. — Aquele tempo que passávamos jogando, rindo, e implicando um com o outro. Tudo parecia tão mais simples.
Há um silêncio momentâneo, mas é quebrado pelo fato de que Rindou parece estar mais conectado, se movendo um pouco mais, olhando diretamente para mim.
— Está vendo? — digo com um sorriso. — Não importa o quanto você esteja passando agora, você sempre teve a habilidade de me deixar com uma boa memória. E ainda temos muitas memórias para criar.
Eu observo o pequeno progresso com esperança. Ver Rindou respondendo, mesmo que sutilmente, me dá um fio de esperança. Sigo conversando, tentando trazer um pouco de normalidade e leveza para sua vida.
Embora ele ainda esteja distante, a pequena faísca de comunicação é algo que me faz acreditar que há um caminho para a recuperação, mesmo que seja um passo de cada vez.
Os minutos se passam lentamente enquanto eu converso com Rindou. Tento trazer um pouco de normalidade para sua vida e, surpreendentemente, ele parece ter respondido, mesmo que de maneira sutil. À medida que a visita chega ao fim, olho para o relógio e percebo que é hora de me despedir.
— Bem, Rindou, a visita está chegando ao fim. — digo, tentando manter a voz leve e amigável. — Foi bom ver você um pouco mais animado hoje. Espero que isso continue.
Rindou me observa enquanto me levanto da cadeira. Seus olhos estão mais atentos, e, para minha surpresa, ele me oferece um sorriso fraco, quase imperceptível, mas significativo. Sinto uma onda de esperança, uma pequena confirmação de que, apesar de tudo, ainda há algo de positivo acontecendo.
— Até a próxima, Rindou. — digo, me aproximando para uma última olhada. — Vou ficar aqui torcendo por você.
Deixo a sala com um olhar de encorajamento, sentindo uma leveza no peito ao ver aquele sorriso, mesmo que fraco. É um pequeno passo, mas um passo na direção certa. Com um último olhar, me despeço, saindo da sala e sentindo um misto de esperança e preocupação.
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