Era Ele Esse Tempo Todo?!
Estou deitado na cama do quarto de visitas, o peso das últimas horas pairando sobre mim. Meus pensamentos são um emaranhado confuso de preocupação, tristeza e uma sensação de impotência esmagadora. Tudo aconteceu tão rápido, e ainda assim, cada momento parece se arrastar em uma eternidade dolorosa. Eu mal consigo acreditar no que aconteceu com Rindou e como isso está afetando todos nós.
De repente, ouço batidas suaves na porta, me tirando do meu torpor. Me sento rapidamente, o coração acelerado, e digo para entrar, tentando não parecer tão abatido quanto me sinto. A porta se abre lentamente e, para minha surpresa, é Ran que aparece ali.
Ele está visivelmente cansado, o rosto marcado por olheiras profundas e uma expressão de tristeza que parece pesar mais do que ele pode suportar. Há uma fragilidade nele que eu raramente vejo. Normalmente, Ran é a força em nossa dinâmica, o pilar que mantém todos juntos, mas agora ele parece à beira de um colapso, tão perdido quanto todos nós.
— Posso entrar? — ele pergunta, a voz baixa e rouca. Eu apenas aceno, sem palavras. Ele entra no quarto, fechando a porta atrás de si, e por um momento, ficamos ali em silêncio, encarando um ao outro, sem saber o que dizer.
Finalmente, Ran se aproxima e se senta na beira da cama, suspirando pesadamente.
Ran fecha os olhos, sua expressão de dor quase insuportável de se ver.
— Eu me sinto o pior irmão do mundo. — ele sussurra, as lágrimas começando a escorrer pelo rosto. — Eu deveria ter cuidado dele, estar mais presente. Como pude ser tão cego?
Seu desabafo ecoa a culpa que eu mesmo sinto, e por um momento, não sei o que dizer para confortá-lo. Em vez disso, estendo a mão e coloco no ombro dele, oferecendo o pouco consolo que posso.
— Não podemos mudar o que aconteceu, Ran. Mas podemos estar aqui para ele agora, e para nós mesmos. Vamos passar por isso juntos.
Ele assente, mas a tristeza em seus olhos permanece. Ambos sabemos que isso não será fácil, mas no mínimo, temos um ao outro para enfrentar o que vier.
Há uma determinação em seu olhar que me faz estremecer. Ele se inclina ligeiramente, como se estivesse tentando se aproximar mais, e pergunta, a voz baixa e séria:
— Angry, aquela carta que você encontrou e que você mencionou na ligação, onde estava?
Eu engulo em seco, hesitando. O assunto é delicado e Ran já está visivelmente abalado. Não quero adicionar mais peso à sua dor, mas também sei que não posso esconder algo assim dele.
— Estava no quarto do Rindou, atrás de um quadro. — respondo lentamente. — Eu estava curioso e acabei encontrando por acidente.
Ran parece pensar por um momento, os olhos perdidos em algum lugar entre nós. Então, ele olha diretamente para mim, a determinação mais forte do que nunca.
— Eu quero ver essa carta. — ele declara, a voz firme apesar do tremor leve que a acompanha.
Minha primeira reação é hesitar. A última coisa que quero é ver Ran mais destruído do que ele já está. Ele já passou por tanto, e aquela carta... as palavras do Rindou são tão pesadas, tão cheias de dor e desespero.
— Ran, eu não sei se é uma boa ideia. — começo, tentando encontrar as palavras certas. — Essa carta... é muito difícil de ler. E eu não quero que você se machuque mais.
Mas ele balança a cabeça, determinado.
— Eu preciso ver, Angry. Preciso entender o que estava acontecendo na mente do meu irmão. Mesmo que seja difícil, eu tenho que saber.
Olho para ele, vendo a mistura de dor e resolução em seus olhos. É claro que ele não vai desistir, e talvez ele tenha razão. Talvez ele precise ver a carta para começar a lidar com tudo isso. Com um suspiro profundo, eu me levanto da cama e vou até a gaveta onde guardei a carta.
Quando volto, entrego a ele, minhas mãos tremendo levemente.
— Aqui está. — digo suavemente. — Mas, por favor, Ran, se prepare. Não é fácil de ler.
Ele pega a carta com cuidado, como se estivesse segurando algo precioso e frágil. Sem dizer uma palavra, ele se senta novamente na beira da cama e começa a ler, e eu observo em silêncio, meu coração apertado no peito, esperando pela sua reação.
Observo Ran com o coração pesado enquanto ele segura a carta nas mãos, seus olhos varrendo cada palavra com uma intensidade silenciosa. As lágrimas começam a escorrer lentamente pelo rosto dele, brilhando sob a luz do quarto. Ele tenta se manter firme, os lábios pressionados numa linha fina, mas é claro que cada palavra o está despedaçando por dentro.
O silêncio no quarto é denso, preenchido apenas pelo som suave do papel se mexendo e pelo ritmo irregular da respiração do Ran. Eu me sinto impotente, querendo fazer algo para aliviar a dor que ele claramente está sentindo, mas sabendo que não há palavras ou gestos que possam realmente ajudar neste momento.
Ran respira fundo, e vejo suas mãos tremendo ligeiramente. Ele segura a carta como se fosse um espelho quebrado refletindo a fragilidade da sua própria alma. A cada palavra que lê, é como se um peso invisível se acumulasse sobre seus ombros, se tornando cada vez mais insuportável.
De repente, Ran deixa a carta cair no colo, as mãos cobrindo o rosto enquanto ele começa a soluçar. É um som que corta profundamente, cheio de dor e arrependimento. Eu quero alcançá-lo, oferecer algum tipo de conforto, mas algo me impede, talvez o medo de que meu toque possa quebrar o último fio de controle que ele está tentando manter.
— Ran... — murmuro, a voz quase inaudível, tentando encontrar alguma forma de alcançá-lo. Ele balança a cabeça, as lágrimas agora caindo livremente. Está claro que ele está em choque, a dor em seus olhos tão intensa que é quase tangível.
Finalmente, ele levanta o olhar para mim, seus olhos vermelhos e inchados.
— Como ele pôde...? — ele murmura, a voz embargada. — Como ele pôde pensar que estava sozinho, que não importava? Eu deveria ter percebido, Angry... eu deveria ter visto os sinais...
Vejo a culpa e o desespero nos olhos do Ran e sinto um nó se formar na minha garganta. Quero dizer que ele não é culpado, que ninguém poderia prever algo assim, mas as palavras parecem insuficientes. Tudo o que posso fazer é estar ali com ele, partilhando a dor, esperando que de alguma forma, juntos, possamos encontrar uma maneira de seguir em frente.
Ran chora silenciosamente por alguns minutos, suas lágrimas caindo sobre a carta que segura com força. De repente, ele se levanta, ainda com a carta em mãos, e sai do quarto de visitas com passos rápidos e decididos. Sinto uma onda de apreensão me invadir e decido seguir ele preocupado com o estado emocional dele.
Enquanto Ran caminha pelo corredor, tento chamar sua atenção, mas ele parece alheio ao meu chamado, completamente focado em algo à sua frente. Ele para diante de uma porta no final do corredor, abre ela com determinação e entra. Sem hesitar, sigo ele, com minha curiosidade e preocupação se intensificando.
Ao entrar no cômodo, fico imediatamente impressionado e surpreso. As paredes são decoradas com pôsteres de filmes de terror, estantes cheias de figuras de ação e itens colecionáveis, tudo relacionado ao gênero. No centro da sala, há uma cadeira de couro preto diante de um enorme setup azul com câmera montada e um tripé com uma máscara do Ghostface pendurada. Reconheço o cenário imediatamente... é o mesmo que aparece nos vídeos do meu YouTuber favorito, conhecido por usar a máscara do Ghostface.
Fico boquiaberto, sem acreditar no que estou vendo. Ran, que agora está no centro da sala, olha em volta com uma expressão de nostalgia e tristeza. Ele se vira para mim e, ao ver minha expressão de surpresa, dá um sorriso fraco e amargo.
— Então, você reconhece o lugar, né? — ele diz, a voz rouca e carregada de emoção. — Esse era o lugar favorito do Rindou. Ele amava criar conteúdo para o seu canal no YouTube. Era uma maneira de ele expressar o que sentia, de se conectar com outras pessoas, mesmo que anonimamente.
Eu fico sem palavras, a revelação me pegando de surpresa. Rindou, é o YouTuber misterioso que eu tanto admiro, ele era o tempo todo alguém que eu conhecia pessoalmente. O choque e a tristeza da situação se misturam dentro de mim, tornando difícil pensar com clareza.
Ran suspira e caminha até uma das estantes, pegando a máscara do Ghostface.
— Ele sempre se escondia atrás dessa máscara, como uma forma de proteger a si mesmo e aos outros de sua verdadeira dor. — ele continua, sua voz quebrando. — E agora... ele está lá, lutando pela vida, e tudo o que eu posso pensar é que eu deveria ter feito mais para estar ao seu lado.
Sinto um nó na garganta, querendo dizer algo, mas as palavras me escapam. A dor do Ran é palpável, e a culpa que ele sente é esmagadora. Tudo o que posso fazer é estar presente, tentando oferecer algum tipo de conforto apenas com minha presença.
Ran coloca a máscara de volta na estante e olha em volta mais uma vez, como se absorvendo cada detalhe da sala. Ele então se vira para mim, com uma expressão resoluta.
— Angry, eu... preciso de um tempo sozinho. — ele diz, a voz suave e trêmula. — Só um momento para processar tudo isso. Você entende?
Minha primeira reação é hesitar, não querendo deixá-lo sozinho nesse estado, mas o pedido do Ran é claro e ele precisa de espaço. Eu engulo em seco e aceno com a cabeça, mesmo que relutante.
— Tudo bem, Ran. Se precisar de qualquer coisa, eu estarei por perto. — digo, tentando soar reconfortante.
Ele dá um pequeno sorriso de gratidão, mas é evidente que sua mente está em outro lugar, talvez revivendo memórias ou simplesmente tentando lidar com a tempestade de emoções que está sentindo. Sem dizer mais nada, ele se afasta, se dirigindo para o canto do local onde as luzes são mais suaves, quase como se estivesse procurando um refúgio.
Saio da sala, fechando a porta suavemente atrás de mim. Ao me afastar, não consigo deixar de sentir uma pontada de preocupação. Ran está claramente em um estado delicado, e deixá-lo sozinho, mesmo por um breve momento, me enche de ansiedade. Tento acalmar meus próprios pensamentos, lembro de que, às vezes, o melhor que podemos fazer é respeitar o espaço dos outros, mesmo quando tudo o que queremos é estar ao lado deles.
Fico perto da porta, pronto para voltar a qualquer momento, caso ele precise de mim. A espera é angustiante, mas sei que Ran precisa desse tempo para si. Espero que, ao final, ele possa encontrar um pouco de paz em meio a toda essa turbulência.
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