Já é noite, e eu e Angry passamos a tarde toda jogando videogame no meu quarto. Foram horas intensas de diversão, risadas e competição amigável. Paramos só perto das 18:40, quando Ran nos chamou para jantar. Com o controle finalmente descansando, descemos para a cozinha, prontos para a refeição.

Durante o jantar, noto que Angry está mais quieto do que o normal. Ele troca olhares comigo de vez em quando, mas sempre desvia rapidamente. Tento entender o que ele quer dizer com isso. É como se ele estivesse tentando me dizer algo, mas não conseguisse encontrar as palavras. Sinto uma leve preocupação crescendo, mas decido não pressionar.

Ran, sempre atento, percebe o silêncio estranho.

— Rindou, você pode ir até o meu quarto pegar meu celular que está carregando? Esqueci de trazer para a mesa. — ele pede, interrompendo meus pensamentos.

Assinto, me levantando da mesa.

— Claro, vou pegar. — respondo, aproveitando a oportunidade para talvez conversar com Angry depois, se ele quiser.

Subo as escadas, cada passo ecoando suavemente no corredor dos quartos. O silêncio aqui em cima contrasta com o burburinho da cozinha.

Chego à porta do quarto do Ran, observando os adesivos coloridos que a decoram. Coisas de moda, letras de músicas e algumas fotos dele comigo e com o Smiley estão espalhadas de maneira desordenada, mas ainda assim harmônica.

Ao abrir a porta, sou recebido por um cheiro agradável de aromatizador de cereja que imediatamente enche meus sentidos. O quarto do Ran é um espaço único, bastante diferente do meu. No teto, um led roxo ilumina suavemente o ambiente, criando uma atmosfera relaxante e convidativa.

As paredes estão cobertas de fotos de artistas que ele gosta e, claro, várias fotos nossas — eu, Ran e Smiley em momentos felizes e despreocupados. Cada imagem parece contar uma história, uma lembrança preciosa.

A cama arrumada com colcha roxa que sobre ela há bonecos de personagens de filmes e séries como "La Casa de Papel" e "Sexta-Feira 13"cuidadosamente dispostos como se estivessem prontos para entrar em ação a qualquer momento.

Minha atenção se volta para a parede onde a cama está encostada. Há um mural de fotos que capta muitos momentos preciosos dele com o Smiley. Me aproximo para observar mais de perto, cada imagem contando uma parte da história deles. As fotos mostram eles viajando, se beijando e se divertindo.

Ao me aproximar do mural de fotos no quarto do Ran, noto que duas das minhas três fotos favoritas foram tiradas na "Tokyo Rainbow Pride", a parada gay do Japão. A energia vibrante e a alegria daquele evento são quase palpáveis nas imagens.

A primeira foto, onde Smiley segura Ran no colo enquanto se beijam, captura a essência da celebração. Ran está com a bandeira bissexual nas costas e segura uma bandeira LGBT na mão. A multidão ao fundo, com suas cores brilhantes e sorrisos radiantes, complementa a felicidade evidente no rosto dos dois.

Na segunda foto, uma selfie tirada por Ran, eles estão abraçados com as bochechas pintadas com a bandeira bissexual. Me lembro claramente desse momento, pois eu tinha ido com eles. Me lembro da música alta, as risadas, e a sensação de pertencimento que enchia o ar. A "Tokyo Rainbow Pride" sempre foi um evento especial para nós, um lugar onde podíamos ser nós mesmos sem medo de julgamento.

Essas fotos não são apenas recordações de um dia divertido, mas símbolos de orgulho e aceitação. Elas capturam a beleza da nossa comunidade e a importância de celebrar quem somos, juntos e sem medo.

Mas a terceira foto é a que realmente mexe comigo: Smiley e Ran de mãos dadas sob o pôr do sol de Tokyo. A luz dourada do sol poente ilumina suas silhuetas, capturando um momento de paz e conexão profunda entre eles. Essa imagem é uma de minhas favoritas, pois reflete não apenas a beleza da cidade, mas também a força e a ternura do relacionamento deles.

Ao lado da cama, vejo a mesa do Ran. Está cheia de livros, lápis de cor e canetas coloridas. É ali que ele costuma desenhar e escrever em seu tempo livre, um pequeno santuário de criatividade. E ali, há uma prateleira de vidro com vários bonecos de Funko Pop, de filmes e jogos.

Na parede acima da cabeceira da cama, assim como no meu quarto, estão penduradas duas bandeiras: uma LGBT e outra bissexual.

Caminho até a mesa onde o celular de Ran está carregando. Desconecto o celular do Ran da tomada e, assim que o carregador sai, o papel de parede do celular se revela.

É uma foto do Ran com o cabelo solto, no colo do Smiley. Smiley segura firmemente a cintura do Ran, enquanto Ran apoia as mãos no peitoral dele. Eles estão olhando um para o outro e sorrindo, capturando um momento de pura conexão e alegria.

A foto é realmente bonita, refletindo a intimidade e o carinho que compartilham. O sorriso deles é contagiante, e a maneira como se olham revela o profundo amor e respeito entre os dois. É uma imagem que transmite felicidade e conforto, mostrando o quanto se completam.

Espero que, um dia, eu também encontre alguém com quem possa ter uma conexão tão forte, alguém com quem eu possa tirar uma foto assim e colocar como papel de parede do meu celular. Alguém que faça meu coração se aquecer só de olhar, alguém com quem eu possa compartilhar momentos de pura felicidade e cumplicidade.

Com o celular na mão, dou uma última olhada ao redor do quarto, absorvendo a atmosfera pessoal e acolhedora que Ran criou para si. Cada detalhe, desde as bandeiras até as fotos e a disposição dos objetos, fala sobre quem ele é e o que valoriza.

Fecho a porta suavemente ao sair, levando comigo não só o celular, mas também a sensação de calor e proximidade que este quarto transmite. Desço as escadas de volta ao jantar, pronto para retornar ao convívio familiar e talvez descobrir o que está na mente de Angry esta noite.