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Cap. 15 - Love sucks.

ATENÇÃO!!! Esse capítulo contem SPOILER do livro "Paixão à Flor da Pele". Sei que tem gente que está lendo essa estória antes da estória da Kim, então cuidado, porque o spoiler estraga o final do livro "Paixão à Flor da Pele".

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JUSTIN

— Esse lugar é muito chique. — Savannah comenta observando o ambiente.

— Você merece. — Digo dando-lhe um sorriso nervoso. “Isso e o que mais você quiser”.

— Se eu soubesse que viríamos a um lugar como esse, teria me vestido melhor. — Ela diz com um sorriso tímido.

— Não sei do que você está falando. Você está linda, como sempre. — Digo e vejo suas bochechas corarem um pouco. Depois de tudo que já fizemos juntos, era de se esperar que ela não sentisse mais vergonha, e o fato de ela ainda corar quando eu a elogio me fascina.

Estou tão nervoso, sinto praticamente todas as partes do meu corpo suando. Savannah e eu estamos em um encontro - mas ela não sabe disso - e eu nunca estive em um antes, ela acha que foi só um convite para jantar, mas para mim é a chance de mostrar como eu me sinto através das minhas atitudes. Eu não faço a mínima ideia de como contar para ela como eu me sinto, então resolvi tentar mostrar. Acho que ela já deve ter percebido que dos últimos dias para cá, eu venho a tratando diferente. Eu realmente espero que ela tenha notado a diferença.

Se ela percebesse o que eu sinto sem tem que me fazer falar seria uma maravilha, porque só de pensar em me declarar para ela, sinto uma dor no estômago e minha garganta se fechando.

Quando levanto a mão para pegar a taça de vinho, percebo vergonhosamente que ela está tremendo um pouco, pego a taça rapidamente para que ela não veja o tremor e na minha pressa, ao trazer a taça em direção à boca, eu a bato no meu prato, provocando um alto barulho agudo e fazendo com que alguns casais nas mesas mais próximas virem o pescoço para me encarar.

— Justin, está tudo bem com você? — Ela pergunta me olhando analisadoramente.

— Sim, sim está tudo ótimo. Porque a pergunta?

— Sei lá, você parece um pouco...Nervoso. Está tudo bem mesmo?

— Não, bobagem, porque eu estaria nervoso? — Faço uma pergunta retórica e sorrio nervosamente. — Garçom. — Chamo-o ansioso para mudar de assunto.

“Merda! Se controle, Justin.”

— Estamos prontos para fazer o pedido.

— Sim, senhor.

Fazemos nossos pedidos. Eu escolho a plancha de grelhados do mar com aspargos frescos, cogumelos e batatinhas na manteiga de limão com alho crocante, e uma salada caprese. Savannah pede ravióli de queijo gruyére com picadinho de mignon e cogumelos paris, e uma salada pomodori. Para sobremesa pedimos uma Tarte Tartin caramelizada de maçã com sorvete de baunilha para dois.

— Então, como está o trabalho? — Savannah pergunta depois que o garçom se afasta da nossa mesa.

— Está indo muito bem. — “Tirando o fato de eu ter cometido erros horrendos porque não parava de pensar em você”.

— E aquela proposta da qual você havia me falado, ocorreu tudo bem? — Ela pergunta parecendo genuinamente interessada e eu me surpreendo dela ainda se lembrar sobre isso.

— Ah sim, a proposta da Thompson Reuters. Foi melhor do que eu esperava.

— Sabia que você ia conseguir. — Ela me diz dando um sorriso orgulhoso. — Você assinou o contrato, então?

— Ainda não. Carlson Thompson, o dono da Thompson Reuters, é quem tem que assinar o contrato. Ele me pediu para adiar o fechamento da nossa parceria até que ele voltasse da Bélgica. Vou me encontrar com ele essa semana.

— Isso é ótimo, Justin. Deve ser maravilhoso conseguir ser bem sucedido fazendo aquilo que se gosta.

— De fato, é sim. Tenho certeza que você será a melhor aluna graduada em História da Arte que a UTD jamais viu, então você vai ver por si mesma o quão gratificante é. Aposto que você vai trabalhar em vários museus ao redor do mundo e vai ser a profissional mais solicitada. — Ela começa a rir antes mesmo de eu terminar de falar.

— Está bem... — Ela diz revirando os olhos.

— Não, é verdade. Você sempre se dedica com afinco a tudo o que faz, além do mais, pela quantidade de noites que você me trocou pelos livros, é melhor que você seja boa mesmo. — Digo dando-lhe um sorriso malicioso e me sentindo relaxado pela primeira vez na noite.

— Ah é, se não você vai fazer o que? — Ela pergunta rindo.

— Se não vou ter que te castigar. Quem sabe, talvez amarra-la na cama e lhe dar alguns tapas. — Digo mudando o tom de voz, dizendo as palavras provocantes em um tom mais baixo e grave, de um modo sensual, e olhando-a maliciosamente.

Seus olhos adquirem um brilho faminto, seus lábios se separam e sua respiração fica difícil, como se o ar de repente tivesse se tornado mais denso.

Olhamos um nos olhos do outro, e nesse momento sinto que nos conectamos de alguma forma, fico em transe, hipnotizado por suas duas belas esmeraldas. Sinto meu desejo por ela aumentando, me deixando com um calor infernal e uma vontade enlouquecedora de lhe arrancar a roupa.

— Aqui está, senhor...Senhora. — A mágica do momento é quebrada quando o garçom traz nossos pratos, ele reabastece nossos copos com vinho e nos deixa a sós.

— Bom apetite.

— Obrigado. — Savannah e eu dizemos ao mesmo tempo.

Durante o jantar, eu fui me permitindo me sentir mais a vontade, mas a chama inicial do nervosismo ainda estava presente. É como se depois do que eu descobri, eu tivesse perdido completamente a capacidade de simplesmente ficar perto de Savannah, agora que eu sei que eu gosto dela, me sinto nervoso e desesperado para provar algo, eu só não sei o que exatamente.

Quando estamos comendo a sobremesa Savannah tenta disfarçar um bocejo, mas percebo pelos seus olhos cansados que está na hora de ir.

Pago a conta e seguimos lado a lado e em silêncio para o estacionamento.

Ela caminha tão perto de mim, seu corpo quase se encostando ao meu. Meu olhar se concentra na sua mão pendendo livremente ao lado do corpo, e então sutilmente eu entrelaço nossos dedos. Minha atitude inocente parece assusta-la, ela afasta a mão e me olha com um olhar indecifrável.

— O que você está fazendo?

— Nada. — Respondo constrangido com a rejeição.

Eu sou bom o suficiente para dar-lhe orgasmos, mas aparentemente não para segurar sua mão em público, percebo com tristeza.

Só queria toca-la. Toca-la sem que isso necessariamente leve-nos a fazer sexo, queria apenas poder sentir seu calor, beija-la na frente de todos e dizer a todos que estamos juntos.

Mas não estamos. Não do jeito que eu gostaria.

Ótimo, a parte do sofrimento de se estar apaixonado já começou, quando a parte boa vai vir? Será que eu finalmente comecei a sentir algo por alguém, apenas para não ser correspondido?

Isso seria uma bela de uma sacanagem do universo.

Quando estaciono em frente ao dormitório de Savannah, um desânimo enorme se infiltra em mim.

— Não tem mesmo como você passar a noite comigo hoje? — Pergunto numa última tentativa patética de salvar minha noite.

— Sinto muito.

— Tudo bem. — Não está tudo bem, não. — A gente se vê amanhã, então.

— Certo, até amanhã. — Ela abre a porta e faz menção de sair, mas para quando sente minha mão em seu ombro.

Deslizo minha mão para seu pescoço e a puxo para um beijo. Tento transmitir todos os meus sentimentos por ela nesse beijo; Paixão, carinho, necessidade...Espero que ela sinta.

— Boa noite, Little Nips. — Sussurro, nossos lábios ainda se encostando.

— Boa noite, Justin. — Ela diz com a voz rouca. Percebo com felicidade que ela parece sim, afetada pelo nosso beijo.

Observo ela sair do carro e subir os degraus de pedra do prédio. Antes de passar pela porta se vira e me olha por um segundo. Não sorri ou acena, apenas me olha com uma tristeza que me pega desprevenido e me angustia.

Mas então ela entra no prédio e me deixa encarando a porta com a testa franzida.

“O que será que a está incomodando?”

                                                         ***

SAVANNAH

Tenho que subir as escadas até meu apartamento me apoiando nas paredes.

O que foi aquilo que acabou de acontecer? Aquele beijo...

Por um momento parecia que, bem, parecia que ele estava querendo me dizer alguma coisa, parecia que havia sentimento ali. Foi tão intenso e cheio de paixão que eu ainda sinto minhas pernas fracas.

Quase parecia que ele gostava de mim, depois daquele beijo eu até poderia acreditar nisso, se não fosse pelo fato que é do Justin Cord que estamos falando. Ele simplesmente não é assim, como Shanon fez muita questão de ressaltar. Falando nela, Shanon vai me matar quando descobrir que eu e Justin voltamos com o nosso...Lance.

Abro a porta e entro no apartamento escuro, encosto-me à porta fechada e traço com os dedos o sorriso bobo que se forma em meus lábios.

Pode até ter sido coisa da minha cabeça, mas o beijo foi bom de qualquer forma. Acho que eu seria a mulher mais feliz do mundo se o Justin realmente tivesse me beijado com algo a mais, se ele estivesse começando a desenvolver sentimentos por mim.

Mas que porcaria, porque ele tem que ser tão viciante? Eu sei que para evitar me machucar em um futuro muito próximo, quando ele me der um pé na bunda, eu mesma tinha que parar com isso agora, mas eu não consigo. Sei que pode parecer degradante, mas eu preciso aproveitar o que ele me dá e pelo tempo que ele quiser, não consigo simplesmente me afastar agora só porque é o certo a se fazer.

Se eu soubesse que ia acabar me apaixonante justo por ele, não teria aceitado a proposta que ele me fez alguns meses atrás. Mas agora é tarde demais, eu estou tão apaixonado por Justin como eu nunca estive antes. Nem mesmo com Vince, que eu tenho certeza ter sido o cara pelo qual eu mais me apaixonei antes de Justin. Mas agora, o que eu sentia por Vince parece brincadeira de criança, se comparado com o que estou sentindo por Justin.

Vou até meu quarto e tranco a porta, vou até a mesa de madeira e ligo meu computador. Respondo alguns e-mails e dou uma olhada em algumas promoções que eu recebi. Nada que me interesse, a não ser por um e-mail especifico de uma loja de noivas.

Eu sou uma das damas de honra de Kim, juntamente com Shanon, Gwen – a melhor amiga da minha prima – e Mitchie, outra amiga de Kim. E como é o nosso dever ajudar em tudo que tem relação a esse casamento e garantir que tudo seja perfeito, desde que ela me fez o convite para ser sua madrinha eu estou de olho em tudo que envolve casamentos; Buffets, floriculturas, spas, lojas de noiva, loja de tecidos, decoradores, ofertas de passagem aérea para a lua de mel, etc.

Cadastrei meu e-mail em pelo menos trinta e dois sites diferentes para receber ofertas e novidades.

E esse e-mail que eu recebi de uma loja de Austin especializada em vestidos de noiva me deixou bem empolgada, eles receberam alguns modelos novos e eu tenho certeza que isso vai animar Kim.

O casamento é em mais ou menos um mês, e tudo já está pronto ou quase pronto. Como Jax estava desesperado para se casar logo, o gênio marcou a data para apenas dois meses depois da formatura de Kim, é claro que como não é ele quem está tendo de organizar tudo, para ele apenas dois meses soou um tempo muito razoável.

Eu, Shanon, mamãe, Alyssa, Mitchie, Bárbara e Kim temos feito o que podemos para organizar esse casamento a tempo, até Gwen e Bárbara, que moram em outro estado tem ajudado como podem, fazendo telefonemas e mandando os convites eletrônicos por e-mail. O fato de tanto o noivo como a noiva quererem algo simples, também é de grande ajuda.

Conseguimos organizar um casamento lindo e do jeito que Kim queria em muito pouco tempo, agora só falta alguns pequenos ajustes, mas o essencial já está pronto. Quer dizer, menos uma coisa, e justamente uma das mais importantes.

O vestido de noiva da Kim.

A coitadinha está quase arrancando os cabelos por ainda não ter achado o vestido perfeito. Ela ficou louca porque alguém tinha dito para ela que todo o casamento gira em torno do vestido de noiva, e como ela não achou o dela ainda...Bem, tivemos que mudar um pouquinho as coisas, pois se esperássemos achar o vestido perfeito para depois encomendar as flores e a decoração para ficarem em harmonia com o vestido, Kim se casaria daqui há seis meses, não um.

Todas as madrinhas estão empenhadíssimas em ajuda-la a encontrar “o vestido”, aquele que no momento em que ela se olhar no espelho vestida com, lágrimas de genuína felicidade transbordarão de seus olhos e sinos começarão a tocar. Ou é pelo menos isso que esperamos.

Não adianta encaminhar o e-mail para Kim, em Wills Point dificilmente as pessoas lidam com computadores, tablets ou qualquer coisa mais tecnológica do que um celular e uma TV.

Então anoto o endereço da loja e o telefone, amanhã mesmo irei falar com Kim sobre isso.

Escuto o familiar barulho que meu celular faz quando recebo uma mensagem e vou checar para ver quem pode ser à uma hora dessas.

Olho a tela e vejo que é uma mensagem de Vince. Quando abro-a, leio:

Vince: Campo de futebol. Preciso de você, por favor.

Nossa, faz mesmo muito tempo que eu não recebo uma mensagem dessas.

Isso é meio que um código nosso, ou era. Vince é um cara sempre muito confiante em si e nas suas habilidades, mas às vezes ele tem problemas e incertezas como qualquer um, e normalmente o lugar que ele vai para tentar clarear a cabeça e resolver esses problemas, é o campo de futebol da faculdade.

Quando namorávamos, e antes disso também, quando ele realmente estava confuso ou com algum problema que o estava incomodando muito, ele me mandava uma mensagem parecida com essa. Quando eu a recebia sabia que era coisa séria, porque Vince não é o tipo de cara que normalmente expõe suas fraquezas, então eu sempre ia correndo até ele.

Mas agora a questão é; Devo ir atrás dele? Quer dizer, se ele me enviou essa mensagem a essa hora, algo deve estar mesmo o incomodando, e se eu realmente estou voltando a ser sua amiga, eu deveria ir, não é mesmo? Afinal, é para isso que os amigos servem, ajudar uns aos outros.

Decido ir, talvez ele esteja mesmo precisando de alguém para conversar.

Quando chego à porta tenho a visão desagradável de Aletta, vestindo apenas um robe transparente, parada em nossa pequena sala de TV.

— Nossa, já vai sair de novo? — Ela pergunta com aquela voz debochada dela.

— Não vejo como isso possa ser da sua conta.

— Você nunca recolhe as suas garras, não é mesmo?

— Com você por perto, não mesmo. Nunca se sabe quando vai dar o bote. — Digo e abro a porta, quando ela entende o que eu quis dizer - que eu a chamei de cobra - começa a me dizer algo, mas eu bato a porta e não a escuto.

“Deus do céu, como foi que ela e eu fomos amigas por dois anos antes disso?”

Quando estou na metade do caminho, e estremeço por causa de uma brisa gelada, percebo que eu não troquei de rouba. Estou vestida com a rouba com a qual fui jantar com Justin. Calça jeans skinning preta, uma blusa de seda fina e ankle boots preta.

Quando chego ao campo, logo localizo Vince, além de ser porque não há mais ninguém aqui, ele sempre se senta no mesmo lugar. Na parte de cima da arquibancada, bem no meio do campo.

Aproximo-me dele, está com os braços apoiados no joelho e o queixo apoiado nas mãos, sua expressão é pensativa, concentrada, como se ele estivesse assistindo a um jogo que só ele vê.

— Oi. — Digo me sentando ao seu lado. Ele me olha e parece um pouco surpreso, mas um sorriso contido surge em seus lábios.

— Oi. Obrigado por vir, não tinha certeza.

— É isso que amigos fazem, não é? — Pergunto e aperto seu ombro.

— É. É sim. — Ele responde de uma forma triste, voltando seu olhar para o campo iluminado pelos fortes holofotes.

— Então, o que é que está te incomodando?

— Sabe o próximo jogo, de sexta? — Ele pergunta ainda encarando o campo.

— Sei sim.

— Então, Steve Tischy vai estar aqui. Você acredita que ele vai assistir o jogo? — Ele pergunta se virando para mim, eu o olho com confusão.

— Você sabe quem ele é, certo? — Sorrio timidamente e balanço a cabeça.

— Meu Deus, garota. — Ele diz fingindo estar exasperado e eu rio.

— Hey, não sou eu a viciada em futebol aqui. — Defendo-me.

— Ele é o presidente do New York Giants.

— Ah meu Deus, Vince, ele está vindo para dar uma de olheiro? — Pergunto empolgada.

— Não, não na verdade. Mas ele vai assistir o jogo, e quem sabe se alguém jogasse bem o suficiente para chamar a atenção...

— Você é o capitão do time, ele vai acabar notando você.

— Eu sei.

— Imagina se ele se interessasse por você, muitos jogadores famosos foram descobertos assim, não é? Em jogos de colégio e faculdade.

— Sim. — Ele diz apenas.

— Você está nervoso, é isso? — Pergunto e ele balança a cabeça.

— É isso mesmo o que você quer, jogar futebol profissionalmente?

— É o que eu mais quero. — Ele responde me encarando seriamente.

— Então arrase no jogo de sexta.

Ele ri parecendo desanimado.

— Não é tão fácil assim, Savy.

— Claro que é. É só você jogar como sempre, você é muito bom Vince. — Chego mais perto dele, nossas coxas se encostam, coloco minha mão em sua perna e lhe dou um apertão. — Eu confio em você, na sua habilidade, na sua capacidade. Você não é o capitão à toa, você é o jogador que mais faz gols nesse time.

— É touchdown, linda. — Ele diz com um sorriso divertido no rosto.

— Tanto faz. Gols ou touchdowns, não importa, você faz muito deles e é isso que esses caras querem, não é?. — Ele ri e segura minha mão que está em sua perna.

— Estou com medo. Não é que eu ache que eu não jogo bem, mas tenho medo de não jogar bem o suficiente para me tornar profissional.

— Você joga, Vince. Aliás, eu não sei como você não foi contratado ainda. Esse idiotas não sabem o bom jogador que estão perdendo.

Ele me olha com as expressões parecendo mais tranquilas, acho que falar sobre isso o ajudou. Seus olhos viajam pelo meu corpo e brilham com admiração.

— Você está muito linda. Alguma ocasião especial? — Ele quer saber.

— Não, nada demais, só sai para jantar. — Tento parecer casual para que ele não pergunte mais nada sobre o assunto. Ele balança a cabeça levemente e parece querer dizer algo, mas permanece em silêncio um momento.

— Desculpe se eu atrapalhei alguma coisa. — Ele diz por fim.

— Eu tinha acabado de chegar quando você enviou a mensagem, está tudo bem.

— Obrigado por vir até aqui e ficar escutando minhas besteiras. — Ele aperta minha mão levemente.

— Não é nenhuma besteira. E não se preocupe, é normal ficar nervoso.

— Os Giants sempre foram meu sonho.

— É mesmo? — Ele balança a cabeça como resposta.

— Eu sei que você vai conseguir, mas se por um acaso não for dessa vez, não desanime. Essa é a primeira oportunidade de várias que você terá para mostrar seu talento, tenho certeza.

— Você acha mesmo?

— Acho.

— Você vai assistir ao jogo sexta? Por favor, você sabe que a sua presença me dá sorte.

— Tudo bem, eu estarei aqui sexta, torcendo por você. — Digo com um sorriso amigo.

— Obrigado, isso é importante para mim.

— Não há de quê.

— Sei que eu não mereço sua amizade e seu apoio, não depois do que eu fiz com você. — Ele diz abaixando a cabeça envergonhado.

Quando ele a levanta novamente e me encara, seus olhos brilham cheios de lágrimas não derramadas.

— Eu sinto...Tanto. — Sua voz falha e uma lágrima rebelde escapa e escorre por sua bochecha. Sinto meu coração se apertando. Ele entrelaça os dedos da nossa mão que ainda está junta repousada em sua perna.

— Ter perdido você será o grande arrependimento da minha vida. — Ele diz, agora mais lágrimas caindo de seus olhos.

— Vince... — Minha voz sai fraca, quase um sussurro. Sinto um desconforto enorme do estômago e um aperto na garganta. — Eu já te perdoei, estamos voltando a ser amigos, vamos simplesmente tentar esquecer isso, ok?

— Não dá. Como esquecer toda a dor que eu te causei? Como esquecer que eu te perdi? Eu ainda te amo, Savannah, e é muito doloroso. — Sua voz falha de novo, e mais lágrimas são derramadas, sinto meus olhos ficarem marejados.

— E sabe o que é o pior? A culpa é toda minha. Não tem ninguém a quem culpar, a não ser eu mesmo. Eu não sei por que eu fiz aquilo, eu nem a desejava...

— Vince, por favor, não. — Peço, sinto uma lágrima escorrendo por meu rosto e rapidamente a limpo. Eu não o amo mais, mas as feridas ainda não estão cicatrizadas completamente, e elas ainda podem doer. Doer não por mim, mas pela Savannah que já foi muito apaixonada por ele.

— Por favor, eu preciso falar...Eu não a desejava, Savy, eu juro.

— Então, por quê? — Sinto mais uma lágrima escapando.

Ele me olha, o verde dos seus olhos mais claros por causa das lágrimas.

— Eu não sei. Talvez porque eu seja o cara mais idiota do mundo? Eu estava com a garota mais especial que eu conheço e a magoei sem nem ao menos saber o porquê eu fiz isso.

— Vince, você já tinha... — Paro e respiro fundo, essa dúvida me atormenta desde o primeiro momento. — Você já tinha me traído antes disso? — Consigo ouvir o medo em minha própria voz.

A princípio ele não me responde e nem olha em meus olhos, quando ele vira o rosto e nossos olhos se encontram ele começa a chorar.

— Sinto muito, eu realmente sinto.

Sinto uma dor horrível, como se além dele fazer novas feridas em meu coração, ele tivesse acabado de reabrir aquelas que estavam cicatrizando.

Escuto um gemido e percebo que saiu da minha garganta. Vince chora mais ainda.

— Quantas vezes? — Pergunto num sussurro.

— Duas. Com Aletta e a outra, com uma garota numa festa de comemoração depois do jogo.

— Mas eu fui com você em todas as festas. — Digo horrorizada me afastando dele.

— Eu sei. — Ele me encara visivelmente com dor no olhar.

— Ah meu Deus. — Digo me levantando e colocando uma mão no peito. Acho que não consigo mais respirar.

— Meu Deus, você fodeu uma garota qualquer enquanto a sua namorada estava a poucos metros de você? Qual é o seu problema? — Pergunto gritando, minha visão nublada pelas incessantes lágrimas que escorrem por meu rosto.

— Perdão, por favor, me perdoa. — Ele diz, seu corpo chacoalhando com o choro forte.

Não consigo acreditar nisso, sinto que vou vomitar a qualquer segundo. Sinto tanto nojo, tanta raiva, tanta magoa que chega a me deixar desnorteada, dou alguns passos cambaleando para trás.

Sinto uma dor tão excruciante que apenas respirar é difícil, parece que o ar se recusa a entrar em meus pulmões.

— Me perdoa, mas eu precisava te contar tudo, se nós vamos ser amigos eu tinha que...

— Nós não vamos ser amigos, não depois disso! — Grito para ele com raiva e vejo-o se encolhendo.

— Não, por favor. Eu sei que eu não mereço, mas não consigo viver sem ter você por perto.

— Então você vai ter que aprender. — Digo e me viro, e saio correndo.

— Não, Savannah, por favor espere. — Ele corre atrás de mim e me alcança, sua mão se fecha em meu braço e ele me puxa, me virando para si. Suas mãos seguram firmemente meus braços e não consigo me soltar.

— Me solta, eu não quero... — Minha frase é interrompida por seus lábios. Ele aperta meu corpo contra o seu e sua língua consegue invadir minha boca. Seu beijo é desesperado, ansioso, rude.

Com algum esforço consigo empurra-lo, dou um passo para trás e estico o braço, impedindo que se aproxime novamente.

— Não. — É tudo o que digo, e então me viro e corro para longe dali.

Entro no apartamento correndo e me tranco em meu quarto. Jogo-me na cama e trago meus joelhos até meu peito, abraçando minhas pernas, querendo me encolher o máximo possível.

E fico assim até os soluços e os tremores cessarem.

                                                       ***

JUSTIN

Estaciono a caminhonete em frente à casa, saio do carro e minhas botas de cowboy provocam estalos quando piso nos cascalhos no chão.

Subo os degraus, abro a porta e assim que entro o familiar e reconfortante cheiro de lar me recebe.

— Mãe, pai, Jax? Tem alguém em casa? — Grito.

Escuto passos no andar de cima e logo vejo mamãe descendo as escadas com uma expressão confusa no rosto.

— Justin, o que você está fazendo aqui?

— É muito bom ver você também, mamãe. — Digo enquanto a puxo para um abraço e um beijo.

— Sim, claro, é bom ver você também, lógico. Mas você não deveria estar no trabalho, filho? É dia de semana.

— Sim, eu sei. Mas hoje eu não tinha muito trabalho no escritório então sai um pouco mais cedo e resolvi vir ver se tinha algo que eu pudesse fazer por aqui. — Mamãe me dá aquele olhar desconfiado dela, espero que ela não perceba que estou mentindo, mas a dona Alyssa sempre percebe quando seus filhos estão mentindo para ela.

— Que bom que você veio, então. Acho que poderíamos usar um par de mãos extras em muitas coisas aqui. — Tudo bem, talvez ela não perceba sempre.

— Onde está Jax e papai?

— Seu pai está lá fora concertando a cerca, e Jax foi...Bem, ele foi visitar sua irmã.

— Jax foi visitar Holly? — Pergunto surpreso.

Essa é uma parte na história da nossa família e que é muito triste, minha querida irmã Holly – que atualmente está com 21 anos – sofre de bipolaridade e ciúmes patológico, ou pelo menos sofria, agora graças a Deus ela está muito melhor. Mas infelizmente, alguns anos atrás essa doença – que nós ainda não sabíamos que ela tinha – fez com que ela fizesse coisas muito horríveis. Ela era apaixonada pelo nosso irmão adotivo, Jax, mas acho que a palavra que se encaixa melhor é obsessiva. Para encurtar a estória, ela sequestrou Kim, a namorada de Jax, e iria realmente mata-la se não fosse Jax chegar no momento certo. Infelizmente as coisas saíram mais ainda do controle e ela acabou atirando nele, felizmente não foi nada muito grave, mas Holly foi presa e depois diagnosticada, sendo mandada assim para se tratar em um hospital psiquiátrico em Austin. Como Kim não prestou queixas e foi comprovado que Holly estava doente, ela não foi condenada há passar vários anos na cadeia, mas Jax nunca a perdoou, ou era isso o que eu pensava até agora.

— Eu sei, também fiz essa cara quando ele me falou que iria vê-la. Mas como eu venho querendo que esse reencontro aconteça a tanto tempo, não discuti com ele.

— Mas ele foi sozinho? Mamãe, você lembra o que aconteceu a última vez que ele foi vê-la, anos atrás, não sei se isso é uma boa ideia.

— Calma, aquela vez ele ainda estava muito bravo com ela, foi errado o forçarmos a ir vê-la. Mas dessa vez é diferente, parece que Kim o convenceu a perdoa-la, e ela foi com ele até Austin para conversarem com sua irmã e resolverem isso de uma vez por todas. E eu estou muito feliz se você quer saber, quero minha família reunida novamente.

— Ah mamãe, eu também quero. Muito. Só estou com um pouco de medo, só isso.

— Sua irmã está muito melhor agora, Justin. Ela está tomando os remédio, indo as consultas com os psiquiatras, você saberia disso se a visitasse com mais frequência.

— Hey, não precisa disso, dona Alyssa. Só estou preocupado, mas se você diz que está tudo bem, eu acredito. Mãe sempre sabe de tudo mesmo.

— E não se esqueça disso, mocinho. — Ela diz dando um tapa na minha bunda e eu rio.

— Acho que eu vou ir ajudar papai com aquela cerca.

— Ele está perto do cercado dos bois. — Ela diz e eu saio.

Vou andando e alguns instantes depois vejo papai ao longe, concertando a cerca, vou até ele meio nervoso, vir para Wills Point especialmente para conversar com meu pai é o meu verdadeiro objetivo.

— Oi, pai. — Digo chegando por trás dele e pegando-o de surpresa.

— Ah, Justin, meu filho. Que surpresa, não esperava te ver por aqui durante a semana, você não deveria estar no trabalho? — Ele diz enquanto trocamos um abraço rápido.

— Deveria, mas não tinha tanto trabalho assim hoje, sai mais cedo e resolvi dar uma passada por aqui.

— Que bom que você veio, já falou com a sua mãe? Ela vai ficar muito feliz se você ficar para o jantar.

— Já falei sim, ela disse que o senhor estava aqui e vim saber se eu posso ajuda-lo.

— Ah mas é claro, ajuda é sempre bem vinda, ainda mais para um velho como eu.

— O senhor não está velho, papai. — Digo rindo e dobrando as mangas da minha blusa xadrez.

— Mas não estou novo também. — Ele me diz com aquele sorriso de quem sabe das coisas.

Vou até a sua camionete estacionada ao lado da cerca e pego um par de luvas e as coloco.

— Porque o senhor não descansa um pouco enquanto eu continuo com isso daqui? — Pergunto pegando da sua mão o martelo.

— Acho que eu vou fazer isso, já não sou tão resistente como há vinte anos. — Ele diz e vai se sentar na parte detrás da caminhonete, na caçamba aberta.

Continuo o concerto de onde ele parou e começamos a conversar sobre amenidades.

— Pai, como é mesmo a história de quando você e mamãe se conheceram? — Pergunto depois de termos ficando em silêncio por alguns minutos.

— Não esperava por essa. — Ele diz.

— Como assim? — Pergunto confuso.

— Eu percebi que você queria me perguntar alguma coisa quando você chegou, uma pergunta que estava te deixando nervoso, só não esperava que fosse sobre como sua mãe e eu nos conhecemos. Você já sabe essa história, já contamos várias vezes para vocês.

— Sim, eu sei que quando vocês se conheceram ela estava com o seu melhor amigo, mas vocês acabaram se apaixonando e ficaram juntos, mesmo com os seus pais não aprovando ela. Mas eu quero saber mais, o que vocês sentiram, como você se sentiu por se apaixonar pela namorada seu melhor amigo, como vocês contaram para todo mundo que estavam juntos, qual foi a reação de todos, essas coisas.

— Ah sim. Bem, é uma história um pouco longa.

— Eu tenho tempo, se você tiver. — Digo. Ele fica com o olhar vidrado, olhando em minha direção, mas sem me ver de fato. Parecendo estar voltando para a noite que se conheceram há tantos anos atrás. Ele permanece em silêncio por tanto tempo que acho que não vai me contar, mas então ele começa a falar:

— Foi numa noite de agosto, há um pouco mais de trinta anos atrás. Jacob Daniels e eu fizemos o ensino médio e a faculdade juntos, aonde íamos éramos conhecidos como Jacob e Mark, os amigos inseparáveis. — Ele dá uma risada saudosa, porém triste.

 — Depois que Jacob e eu nos formamos, ele se mudou para uma cidade no estado de Nova York, mas nós sempre nos comunicávamos por telefone. Passado um pouco mais de ano depois que ele havia se mudado, ele me convidou para ir visita-lo. Eu ainda não tinha um emprego fixo então fui para passar um mês lá, já com a mentalidade de quem sabe arrumar um emprego para mim também. Ele foi me buscar no aeroporto e matamos a saudade, ele disse que queria me mostrar a cidade e que no dia seguinte iria me apresentar para seus novos amigos e para sua namorada.

“Então na noite do dia seguinte ele me levou até um bar em que ele e seus amigos sempre se reuniam. Quando nós aproximamos da mesa cheia de pessoas conversando e rindo, eu a vi. Sua mãe. Meus olhos pareciam ter sido puxados para ela, foi a primeira pessoa em quem eu reparei e a única. Eu fiquei momentaneamente sem reação, senti algo estranho acontecendo dentro de mim, foi uma sensação muito estranha, as coisas ao meu redor pareciam ter sumido, meu coração começou a bater tão rápido como se eu tivesse acabado de correr uma maratona. A mulher mais linda que eu já tinha visto em toda a minha vida, e quando ela me viu sorriu, e meu filho...Que sorriso.”

Papai diz com um brilho emocionado nos olhos e um sorriso apaixonado no rosto, o que me faz sorrir também.

— Quando Jacob me apresentou a ela e disse que aquela era a famosa Alyssa, sua namorada, eu senti uma coisa horrível em meu peito. Uma das maiores decepções que eu já senti foi saber que eles estavam juntos, foi como correr para abrir os presentes em baixo da árvore na manha de natal e descobrir que seu irmão ficou com todos os brinquedos que você queria e você ganhou só roupas sem graça. — Ele ri da sua própria analogia.

“Não conversei com ela naquela noite mais do que o essencial, ela estava curiosa sobre mim porque ao que parece, Jacob tinha ficado muito animado com a minha visita e tinha falado muito sobre nossa amizade para ela. Ela foi muito simpática, mas eu não conseguia ser muito amigável com ela porque a cada vez que eu a olhava, eu a achava mais linda. Enfim, aquele mês passou e eu descobri que não queria voltar para o Texas, que eu queria ficar lá, e mais assustadoramente, eu percebi que era por causa dela. Eu não queria sair de perto de Alyssa, mesmo que ficar lá significava ter que vê-la com Jacob. Eles pareciam muito apaixonados, estávamos juntos há dez meses, e toda vez que ele a beijava era como um soco no meu estômago, a única coisa pior era ver ela beijando ele.”

Paro de mexer na cerca e vou me sentar ao seu lado na caminhonete, hipnotizado por suas palavras. Papai nunca tinha sido tão detalhista e aberto com relação aos seus sentimentos sobre essa história antes, ele e mamãe nunca a contaram com detalhes, apenas superficialmente.

— Eu acabei voltando para o Texas no final daquele mês, mesmo querendo ficar. Mas eu sabia que tinha que ir embora, tinha que voltar para casa, para minha família e tinha que me afastar de Alyssa porque eu estava apaixonado por ela, desde daquele primeiro momento no bar, e bem, ela era a namorada do meu melhor amigo e os dois estavam apaixonados. Por mais que eu quisesse ficar perto dela, conversar com ela, escutar sua risada e conhece-la melhor, aquilo tudo era muito doloroso. Eu nunca tinha sentido aquilo antes, por nenhuma outra mulher e eu estava com muito medo. Sabe, eu acho que é assim que a gente sabe que é a pessoa certa.

— Como assim? — Pergunto.

— Alguns dizem que é quanto você só quer ficar perto dela, ou quando você só pensa naquela pessoa, ou então quando você imagina viver com a pessoa para sempre e isso não te deixa com medo. Pois eu acho que quando a gente encontra a pessoa certa, quando a gente ama de verdade, o maior sinal é o medo.

— Medo? — Pergunto confuso.

— O medo, sim. Medo do sentimento, sabe? Porque ele é tão forte, tão grande, tão poderoso, tão confuso que é extremamente assustador. Eu fiquei apavorado quando conheci sua mãe, porque eu fui dominado por um sentimento que eu não conhecia e eu não tinha nem sequer a chance de tê-la. Era visível que ela era apaixonada por Jacob e eu não tinha a menor chance. Então para mim, isso é a maior característica do amor. Se o cara, por mais durão que seja, morre de medo do que sente pela garota, então ele a ama de verdade.

“E eu tinha muito medo mesmo, e quanto mais o tempo passava, mais eu tinha medo, porque eu já tinha voltado para o Texas fazia meses e não tinha nem um único dia em que eu não pensava na sua mãe. Eu tentei procurar outras mulheres capazes de me fazerem sentir algo mais poderoso do que eu sentia por Alyssa, é claro que eu fui idiota e não tinha percebido que eu nunca iria sentir aquilo de novo por outra, mas eu tentei. Tentei me apaixonar por outra.”

— Mamãe me disse uma vez que a gente não tenta se apaixonar, simplesmente acontece. — Comento lembrando da conversa que eu tive com mamãe sobre me apaixonar. Papai ri e passa a mão pelos cabelos.

— E ela tem razão, como sempre. Mas eu não sabia disso naquela época, e eu estava apavorado para arrancar a namorada do meu melhor amigo do meu coração, então...

— Você se envolveu com outras.

— Sim, muitas. Não com tantas quanto você já se envolveu na sua vida, é claro.

— Hey, muito obrigado. — Digo sarcasticamente e ele ri. Pelo jeito a minha reputação vai me perseguir para sempre, onde quer que eu vá, ela estará lá.

— Mas o que aconteceu? Como você e mamãe se reencontraram?

— Bom, é óbvio que a minha tentativa de esquecê-la não deu certo, mas pelo menos eu consegui ir pensando menos nela. E quando eu estava achando que eu poderia estar me esquecendo dela, o destino resolveu brincar comigo. De uma forma bem cruel, devo acrescentar.

— O que aconteceu? — Pergunto curioso.

— Ela e Jacob vieram para Dallas, visitarem os parentes dele e anunciarem que estavam noivos. — Meu queixo cai involuntariamente e eu olho chocado para papai.

— Eu não sabia que mamãe já tinha sido noiva, quer dizer, antes de você. — Ele ri e continua.

— Pois é, mas ela foi, e quando eu fiquei sabendo...Nem sei descrever o que eu senti, e quando eu a vi novamente depois de tantos meses, percebi derrotadamente que aquilo de ter a esquecido era apenas uma ilusão. Eu continuava loucamente apaixonado, bastou apenas um olhar para eu perceber como eu tinha sido idiota em achar que iria conseguir esquece-la.

E a novidade não era só que eles iriam se casar, Jacob tinha recebido uma oferta de trabalho em Dallas e Alyssa tinha acabado de se formar e tinha conseguido uma vaga para fazer uma pós na UTD. Então eles estavam de mudança para cá. Iriam comprar um apartamento e morar juntos.

— Nossa, você deve ter...Bem, deve ter sido bem complicado para você, não?

— Complicado é pouco. Eu fiquei com muito mais...

— Medo. — Termino sua frase e sorrio para ele.

— Bem, com eles vindo morar para cá nós três começamos há passar muito tempo juntos. Descobri várias coisas em comum com sua mãe e descobri também que ela era uma boa amiga. Começamos uma amizade bem forte, e eu sempre guardando comigo aquele segredo. Era tão sufocante.

“Eu sei muito bem como é ser sufocado por um segredo”. Penso sobre o meu segredo de estar dormindo com Savannah e principalmente sobre o fato de eu ter descoberto que eu estou perdidamente apaixonado por ela. As vezes eu tenho vontade de gritar para todo mundo, mesmo sabendo que ela não sente o mesmo.

— Meu sentimento por ela só crescia, e nossa amizade também. Jacob logo foi promovido e começou há passar muito tempo trabalhando, e eu e Alyssa passávamos cada vez mais tempo juntos. Acho que eu era meio masoquista, mas não conseguia lhe dizer não quando ela me ligava para ir encontra-la porque Jacob estava trabalhando até mais tarde. Queria passar cada segundo que eu podia com ela.

— Eu entendo. — Digo sem pensar e me recrimino. Papai me olha com uma cara estranha, mas não pergunta nada.

— Comecei a perceber alguns sinais de que ela também estava sentindo alguma coisa, mas então Jacob aparecia e ela parecia estar super apaixonada por ele. Eu ficava tão confuso, não sabia se aquele interesse por parte dela era só coisa da minha cabeça ou de fato ela gostava de mim. Talvez ela gostasse de nós dois. Teve uma noite que saímos para jantar nós três, mas Jacob recebeu uma ligação do trabalho e teve que ir, então ficamos só ela e eu. Jantamos, conversamos e rimos muito. Na hora de ir embora eu perguntei se ela não gostaria de passear um pouco, ela disse que ainda não conhecia muito bem a cidade e que queria sim. No meio do nosso passeio eu senti que...Como é que vocês jovens dizem mesmo? Rolou um clima.

“Eu estava cansado de não saber se ela gostava de mim ou não, estava cansado dos seus sinais confusos e não aguentava mais não ter ela para mim. Então sem pensar eu a beijei, e para minha surpresa ela retribuiu. Mas depois se afastou, disse que aquilo era muito errado e nós fomos embora. Não consegui dormir naquela noite, só consegui pensar nos seus lábios nos meus. Era enlouquecedor. Alguns outros beijos aconteceram depois daquele, em todos ela parecia querer também, mas sempre se afastava e falava como aquilo era errado. Eu achava que ela estava apaixonado por mim, mas estava com...Medo. Decidi tomar a iniciativa e me declarei para ela, contei que eu a amava desde da primeira vez que eu a vi.”

— E ela?

— Ela disse que estava apaixonada por mim, muito. Só que ela não queria magoar Jacob, ela estava confusa e não sabia o que fazer. Mas acabou que nosso amor foi maior que tudo isso, então ela terminou o noivado para podermos ficar juntos e saiu do apartamento que dividia com Jacob.

— Como Jacob reagiu?

— Como você acha? Primeiro ele ficou confuso, querendo saber por que ela estava terminando com ele. Quando ela disse que nós estávamos apaixonados, ele ficou louco. Veio atrás de mim e nós brigamos feio, ele me bateu, mas eu não conseguia bater de volta, apenas tentava me proteger. Acho que era porque eu estava me sentindo muito culpado, ele amava muito ela e eu sabia disso.

— Deve ter sido difícil escolher entre seu melhor amigo e a mulher que você ama.

— Foi, mas eu sabia quem seria minha escolha. Eu amava muito sua mãe, na verdade ainda amo demais, e apesar de ter me doido muito, muito mesmo magoar Jacob dessa forma e perder sua amizade, eu sabia que conseguiria viver sem ele na minha vida, mas não sem sua mãe. Então ficamos juntos mesmo magoando Jacob, nenhum de nós dois ficamos feliz de fazer isso com ele, mas estávamos muito apaixonados um pelo outro e não conseguíamos mais ficar separados. E mesmo que não ficássemos juntos, sua mãe me ama e não amava mais ele, de qualquer forma ela acabaria não se casando com ele. Ele achava que eu tinha feito tudo de propósito, que eu tinha tramado tudo isso pelas suas costas, eu tentei explicar que simplesmente tinha acontecido, mas ele não queria me escutar. Ele disse que me odiava e que nunca iria me perdoar, e nunca perdoou.

— Vocês nunca mais se falaram?

— No começo eu tentei, mas ele dificultava muito as coisas, chegando até a me agredir várias vezes em que eu tentei falar com ele, então eu desisti. Depois de alguns anos de casado, quando você era bebê, eu o procurei e descobri que ele tinha se mudado para Montana, entrei em contato e ele me disse para nunca mais o procura-lo. A última vez que eu tentei fazer contato foi há uns dez anos atrás, ele ainda estava morando no mesmo lugar em Montana, então eu o escrevi uma carta, e ele nunca respondeu.

— Sinto muito, por ter perdido seu melhor amigo.

— Eu também, mas todo dia que eu acordo e vejo sua mãe ao meu lado, eu penso “valeu a pena”.

— E como vocês lidaram com o fato da sua família não gostar de mamãe?

— Na verdade não era bem a minha família, só a minha mãe. Todos ficaram um pouco receosos por mim, pelo modo como tínhamos acabado ficando juntos , eles tinham medo que sua mãe fizesse a mesma coisa comigo que ela fez com Jacob. Mas logo todos perceberam que nós estávamos mesmo apaixonados.

— Menos vovó.

— Menos a sua vó. Ela achava que Alyssa era uma vadia, e chegou a falar isso para ela em várias ocasiões. Ela não se conformava pelo que tínhamos feito ao pobre Jacob, mas eu ela perdoou, mas a aproveitadora que seduziu seu filho e o fez trair seu melhor amigo, não. Foi difícil no começo. Sua avó não foi no meu casamento.

— Sério? — Pergunto espantado. — Isso é muito triste, sinto muito, pai.

— Foi muito triste não ter ela comigo naquele dia tão especial. E foi mais triste porque eu tive que me afastar dela.

— Por causa da mamãe?

— Sim, sua avó tratava muito mal Alyssa. Sua mãe não me contava nada, não querendo me fazer ficar com raiva da minha própria mãe, mas quando eu descobri que ela estava infernizando a vida da minha esposa eu parei de falar com ela. Ficamos um tempo assim, até que Alyssa ficou grávida de você, então sua avó quis se reaproximar. Ela e sua mãe realmente conversaram, acho que pela primeira vez, e acabaram se entendendo. Eu diria que minha mãe tinha passado de odiar Alyssa para suporta-la, algo que eu não tinha conseguido que ela fizesse, mas você conseguiu. Tinha jeito com as mulheres mesmo antes de nascer, rapaz. — Ele diz e ambos rimos.

— Mas quando eu era criança eu me lembro de vovó tratando mamãe super bem, ela até parecia preferir ela a você. — Papai ri novamente.

— Elas ficaram amigas depois, e sua vó passou a amar sua mãe como se fosse sua própria filha.

Fico em silêncio por um momento, repassando em minha cabeça toda a história de amor dos meus pais.

— Essa é toda a história. Tem algo mais que você queria saber? — Ele pergunta.

— O amor de vocês era meio que...Impossível, não é?

— Esse é um jeito de ver as coisas. Mas eu te digo uma coisa filho, não existe amor verdadeiro que não seja capaz de transformar as coisas impossíveis em possíveis.

— Então você acha que todo amor é mais forte do que as situações impossíveis em que ele se encontra? — Pergunto olhando-o nos olhos.

— Todo amor verdadeiro, sim. Tenho certeza.

— Como você pode ter tanta certeza? Acho que você está sendo romântico demais, pai. Infelizmente existem amores, que mesmo sendo sinceros, não são possíveis.

Ela encara o horizonte por vários minutos, calado, seu olhar pensativo e compenetrado.

— Justin, você está apaixonado, filho? — Ele me pergunta e eu percebo que ele tenta soar normal, mas há uma certa ansiosidade por detrás de suas palavras.

Demoro para responde-lo, eu não admiti isso para ninguém, apenas para mim mesmo, e não foi algo fácil.

Abro a boca mas não consigo fazer isso, não consigo admitir em voz alta, é mais difícil do que imaginava. É como se eu estivesse tentando fazer algo contra a minha natureza.

— Sim. — Digo com uma voz fraca, é a única palavra que eu consigo dizer. Meu pai me olha com um sorriso enorme, aposto que ele está pensando “finalmente”, mas quando vê minha expressão seu sorriso morre.

— É um amor impossível?

— Não sei se é amor, mas e impossível. — Respondo, e é verdade, eu estou apaixonado por Savannah, mas ama-la? Se a teoria de papai estiver certa, se o amor verdadeiro é identificável pelo medo que sentimos dele, então eu...Eu acho que eu posso ama-la sim.

Porque eu estou completamente apavorado pela enormidade e pela força do que eu sinto por Savannah.

— Por quê?

— Por vários motivos. — Digo tentando me esquivar de sua pergunta.

— Quais? — Não posso ser completamente sincero com ele, se não ele vai descobrir de quem eu estou falando. Mas bem que eu queria finalmente colocar tudo para fora e contar para alguém essa história maluca entre Savannah e eu. Capaz de meu pai ter um ataque do coração se ele descobrisse que a mulher que estamos conversando é Savannah Careton.

— O fato de eu ser conhecido por todo mundo como um prostituto. — Digo me lembrando de como Shanon me chamou quando descobriu sobre Savannah e eu. — Um cara que nunca se apaixona e vive com uma mulher diferente a cada noite, mesmo que eu não seja mais como há alguns anos atrás, a reputação me persegue, e a verdade é que até muito pouco tempo atrás eu continuava dormindo com várias mulheres, eu parei de fazer isso quando eu comecei a me envolver com ela. Mas mesmo assim, eu sempre vou ter essa reputação, e é ela que faz com que a família dela não vá me aceitar, isso e outras coisas também.

— Entendo. — Ele diz pensativo.

— E tem o fato dela ser mais nova também.

— Mais nova quanto, Justin? — Ele me dá aquele olhar desconfiado, e de quem está prestes a me dar um sermão.

— Calma, pai. Ela é maior de idade, não se preocupe.

— Como ela se sente com relação a você? Ela corresponde ao seu sentimento?

— Eu acho que não. — Digo tristemente.

— Como assim acha que não?

— Eu não contei para ela, para ninguém na verdade, você é o único que sabe.

— Então quando você disse que começo a se envolver com ela, você estava falando de sexo e não romanticamente?

— Sim, tudo começou como algum tipo de relação sexual casual em que ambos concordamos. Ela se sentia atraída por mim e eu estava louco de desejo por ela, como nunca havia sentido por outra mulher na minha vida. Ficamos nesse lance casual por alguns meses, ainda estamos na verdade, mas eu acabei me apaixonando e não sei o que fazer.

— Conte para ela como você se sente, é claro.

— Mas eu acho que ela ainda gosta do ex namorado. Ele a magoou muito, mas ela ainda o amava quando a gente começou esse lance, na verdade acho que foi um dos motivos dela querer se envolver casualmente comigo. Ela não demostra ainda ama-lo, mas eu vi como ela o amava muito somente há muito pouco tempo atrás, ela me disse com toda as letras que o amava muito quando começamos a nos envolver.

— E mesmo assim você aceitou ficar transado com ela? — Ele pergunta com aquele tom de reprovação que só um pai sabe fazer.

— Não é como se eu tivesse me aproveitado dela. — Digo me defendendo.

— Na verdade, é isso mesmo. Ela estava frágil e magoada com o namorado, claramente ainda o amava e mesmo assim você a convenceu a se envolver nisso só porque você a desejava como nunca havia desejado outra mulher. Isso foi muito egoísta, filho.

— Eu não a forcei a fazer nada. — Mas eu fiquei a perseguindo. Droga, será que eu me aproveitei mesmo da fragilidade de Savannah? Mas que porra, não quero ser um aproveitador.

— Tudo bem, não precisa ficar bravo comigo.

— Desculpe. É só que isso que eu sinto, nunca senti antes, você sabe que eu nunca me apaixonei e eu só estou com muito...

— Medo. — Ele termina minha frase assim como eu havia feito com ele e me dá um sorriso condescendente.

— Sim, estou apavorado. Apavorado porque eu nunca gostei de ninguém antes e de repente eu percebi que eu gosto dela demais, apavorado que ela não goste de mim, apavorado que ela seja o amor da minha vida e eu não seja o dela.

— Se ela for mesmo o amor da sua vida, ela vai gostar de você, mesmo que ainda não goste, ela irá um dia. Isso ou você está enganado e ela não é o amor da sua vida. Você já pensou que todo esse medo que você está sentindo pode ser só porque ela é a sua primeira paixão, e não porque você a ama?

— Você acha? Eu não sei, pode ser. O que você quis dizer com mesmo que ela não goste ela irá?

— Porque se ela for mesmo o seu amor verdadeiro, você será o dela. Não existe amor verdadeiro não correspondido, o que existe são pessoas que acham que amam de verdade e não são correspondidas, mas então elas vão lá e se apaixonam de novo e pensam “agora sim, ela é o amor da minha vida”. Isso não existe filho, as pessoas são muito levianas com esse assunto, acham que qualquer paixão é amor verdadeiro. Mas acontece que quando realmente é, ele é para sempre, você não simplesmente esquece a pessoa e acha outro amor verdadeiro, as coisas não funcionam assim.

— E quando a pessoa morre e o outro se apaixona de novo. Você está dizendo que essa segunda pessoa nunca vai ser o amor verdadeiro da primeira pessoa?

— Para mim, não. Ela pode até amar de novo, mas verdadeiramente e de todo coração, não. Sempre existirá um espaço especial para o amor verdadeiro que morreu no coração. Eu mesmo, se sua mãe morresse... — Ele faz uma careta como se só pensar nisso o machucasse. — Eu nunca amaria outra mulher, nem menos, nem mais e nem igual ao quanto eu amo ela. Simplesmente não consigo me imaginar amando outra mulher, nem que seja só um pouco.

— Então você está me dizendo que se ela for a mulher da minha vida, eu também serei o homem da vida dela, se não, eu estou sendo leviano e apenas estou confundindo uma paixãozinha com amor?

— Exatamente isso que eu estou dizendo. Talvez você só esteja confuso e como essa é a primeira vez que você se apaixona, não saiba lidar com esse sentimento.

— Ou talvez ela só foi capaz de me fazer me apaixonar, porque ela é a mulher da minha vida.

— Talvez. Mas eu nunca ouvi falar de uma pessoa que nunca se apaixonou antes de conhecer o amor da sua vida, com exceção àqueles sortudos que os encontram logo de cara. Mas não ache que só porque ela conseguiu mexer com você e as outras não, que ela é para sempre.

— Acho que você pode ter razão, faz sentido até. Mas é difícil me imaginar sentindo algo mais forte do que isso por outra mulher, mas como você mesmo disse, ela é minha primeira paixão, eu não sei realmente muita coisa sobre esse assunto. Eu posso estar muito errado.

— Mas uma coisa nessa história toda é certa e clara como água.

— O que?

— Você tem que contar para ela como você se sente.

— E se ela não sentir o mesmo, como eu faço para saber que eu devo insistir ou que eu devo recuar porque ela não é mesmo o amor da minha vida.

— Isso só depende de você. Você vai sentir quando a hora de desistir chegar, e se vocês forem mesmo feitos um para o outro, ela se apaixonará antes de você desistir.

— Mas e se eu insistir, ela se apaixonar mas não for o amor da minha vida?

— Eu acho que você faz perguntas demais, meu filho. E infelizmente eu não sei a resposta para todas elas. Mas o que as pessoas normais costumam fazer, é arriscar. — Ele diz com um sorriso divertido, zombando de mim.

— Então acho que eu tenho que arriscar.

— Eu acho que sim. Você vai me dizer quem é a mulher que finalmente conquistou o coração inalcançável do meu filho?

— Sinto muito, mas eu não posso, ainda não. É complicado.

— Tudo bem, apesar de que agora eu estou muito curioso para saber o porquê do mistério todo. Mas eu vou confiar em você e não vou te pressionar a me contar nada. E saiba que não importa o quão complicado ou impossível às coisas possam parecer entre vocês dois, eu vou sempre te apoiar, e no que eu puder te ajudar, é só pedir.

— Obrigado, pai. Obrigado por me escutar e me aconselhar, eu vou dizer tudo o que eu sinto para ela. — Dou lhe um abraço meio desajeitado.

— Que bom, meu filho. Espero que vocês dois se ajeitem e que eu e sua mãe possamos conhecê-la logo. Sua mãe vai ficar louca quando descobrir que você finalmente se apaixonou. Ela se preocupa muito com você e que você nunca vá sossegar.

— É, eu sei. — Rio. — Será que você pode guardar segredo por enquanto? Eu queria muito falar para mamãe sobre isso, mas sabia que ela iria pirar e ficar animada, e você era a minha melhor escolha para me abrir.

— Pode deixar, não vou contar para ninguém. E obrigado pela confiança em mim. Agora acho melhor você terminar essa cerca antes que o sol se ponha.

— Está certo. — Pulo da caçamba e volto até a cerca.

Mesmo morrendo de medo de como Savannah vai reagir, eu decido que eu devo contar como me sinto. Talvez ela nem esteja mais apaixonada por Vince e mesmo que ela não goste de mim, eu posso convencê-la a me dar uma chance.

Eu só não posso mais ficar reprimindo o que eu sinto quando estou perto dela, preciso lhe dizer que estou apaixonado e que não quero mais que sejamos amigos com benefícios, e sim namorados. Se ela aceitar, depois eu vejo como lidar com Seth e a reação de nossas famílias.

Pego o martelo e começo a concertar o restante da cerca.

— Então, você vai ficar para o jantar, filho?

                                                           ***

Não sei por que não estou conseguindo falar com Savannah. A última vez que eu falei com ela foi antes de ontem.

Ontem de dia eu tentei entrar em contato, mas seu telefone estava desligado, imaginei que pudesse estar estudando então não liguei mais, então de noite eu estava em Wills Point jantando com minha família depois de ter uma longa e esclarecedora conversa com meu pai, lhe enviei uma mensagem dizendo que passaria a noite na fazenda e só voltaria para Dallas pela manhã, mas ela não me respondeu.

E agora isso, estou o dia todo ligando para ela e seu celular continua desligado, não sei o número do seu apartamento e nem se ela tem telefone fixo, nunca perguntei.

Por isso, assim que sai do trabalho fui direto para UTD. Preciso saber se aconteceu alguma coisa, porque nós estávamos bem e ela não tem motivos para estar me ignorando. E também estou louco para finalmente lhe confessar que eu estou apaixonado por ela, e estou ansiosa para ver qual será sua reação. Acho que se ela me dissesse que também gosta de mim eu explodiria de felicidade.

Bato na porta do seu apartamento e infelizmente sua desagradável colega abre a porta.

— Olá, bonitão. Você de novo por aqui? — Ela abre um sorriso lento e predatório quando me vê parado a sua frente, e eu juro que sinto um frio na espinha.

— Olá, Savannah está?

— Está, mas não sei se ela vai querer falar com você. — Ela diz colocando a mão na cintura.

— É que aquela lá não sai do quarto a dois dias. Nem para ir ao banheiro ou tomar banho. — Ela diz fazendo uma careta de nojo.

— Como assim não sai do quarto? Ela não foi as aulas, não comeu?

— Não que eu saiba, eu não a vi sair do quarto nem uma única vez.

— Mas o que aconteceu, ela está bem? — Pergunto e sinto a preocupação e o medo de que algo a tenha acontecido me deixando desesperado.

— E como é que eu vou saber? — Ela pergunta com descaso.

— Você não foi verifica-la? E se ela está desmaiada lá dentro ou algo assim? — Pergunto indignado com a falta de sensibilidade e querendo estrangular essa mulher. Se algo aconteceu com Savannah eu vou mata-la por não ter a ajudado.

— Vou vê-la. — Passo por ela e entro no apartamento mesmo sem ser convidado. Ela dá um passo desiquilibrado para trás e então fecha a porta.

— Não sei o que alguém como você está fazendo com ela. — Ela diz, me fazendo parar no meio do caminho.

— O que? — Pergunto me virando para ela.

— Você é gostoso demais, merece alguém melhor do que ela. Você sabe que eu poderia te oferecer muito mais diversão, não é? — Ela diz ronronando, numa tentativa patética de ser sensual, e se aproxima de mim. Se fosse em outros tempos, eu provavelmente teria aceitado sua proposta. Mas agora ela só me enoja, e eu me pergunto se foi assim que ela seduziu Vince e fez com que ele traísse Savannah, ou talvez ela nem precisou ter trabalho com ele, aquele cara é um filho da puta e é nojento igual a essa mulher. Eles se merecem.

— Não existe nada, absolutamente nada que você possa me oferecer. E você está errada, ela é quem merece alguém melhor do que eu. E merece uma colega de quarto melhor também, uma que não seja uma vadia louca e nojenta que fica se oferecendo para o primeiro cara que encontra. — Digo e me afasto, mas não sem antes ver sua expressão de choque pelas minhas palavras.

Vou até o quarto de Savannah e bato na porta.

— Savannah, você está me ouvindo? Sou eu Justin.

Alguns segundo se passam e eu bato de novo.

— Vá embora. — Um sopro de voz vem de dentro do quarto.

— Savannah, você está bem? Abra a porta, você precisa comer.

Nenhuma resposta.

— Savannah, se for verdade o que aquela mulher disse, você não sai daí de dentro há dois dias. Você precisa abrir a porta e me dizer o que está acontecendo, baby.

— Só vá embora, por favor. — Ela responde.

— Não, Savannah. Você precisa me dizer o que está acontecendo, estou tentando falar com você desde antes de ontem, mas seu celular só dá desligado. Converse comigo, me conte o que aconteceu. Por favor.

Dessa vez ela não responde.

— Por favor, estou ficando preocupado.

Escuto um barulho vindo de dentro do quarto, depois a chave na porta e então silêncio de novo.

Giro a maçaneta e entro no quarto escuro, procuro pelo interruptor e acendo a luz. Meus olhos viajam pelo quarto e encontram Savannah encolhida na cama.

Fecho a porta e vou correndo até ela, sento-me da beirada da cama e a olho.

Seus cabelos estão desgrenhados e seus olhos vermelhos, como se ela tivesse passado esse dois dias chorando. Sua aparência está abatida e suspeito que seja pela falta de alimento.

— O que aconteceu, baby? — Pergunto com a voz calma e baixa, já que ela parece tão frágil, como se fosse se quebrar a qualquer momento.

— Não quero falar sobre isso, só me deixe sozinha. — Ela diz com fiapo dolorido de voz e isso corta meu coração. Sou capaz de fazer qualquer coisa para tira-lhe a dor e faze-la voltar a ser aquela Savannah sorridente e alegre.

— Isso está fora de questão. Conte-me o que aconteceu e quem sabe eu possa ajuda-la, hum? — Digo e acaricio seus cabelos.

— Você não pode, ninguém pode. — Ela sussurra.

— Diga, o que aconteceu? Você está me preocupando, baby. — Digo agora acariciando sua bochecha.

Só quero puxa-la para meu colo e ficar segurando-a e protegendo-a de tudo que possa machuca-la.

— Foi ele. — Ela diz e eu mal consigo ouvi-la.

— Hã? Ele quem?

— Vince. — Ao ouvir esse nome congelo. Retiro minha mão de seu rosto e trago-a novamente para junto do meu corpo.

Vários sentimentos me dominam. Raiva, ciúmes e medo são os mais dominantes.

— Ele te fez alguma coisa? — Pergunto com ódio.

— Ele me confessou que Aletta não foi a única mulher com quem ele transou quando estava comigo. Ele confessou que ficou com uma garota na mesma festa em que tínhamos ido juntos, ele me deixou sozinha e foi transar com outra, e a idiota aqui achando que ele tinha ido conversar com os amigos. — Ela começa a chorar.

— Filho da puta. — Sinto meu ódio por esse cara crescendo cada vez mais. Fecho os punhos e os aperto com raiva, mas aí um sentimento muito mais desagradável me domina quando percebo uma coisa.

Eu estava certo. Savannah ainda gosta de Vince, não estaria desse jeito se não gostasse.

Ciúmes e um enjoo horrível tomam conta de mim, tão forte que conseguem até sobrepor a raiva que estou sentindo daquele pedaço de merda.

— Por que ele foi te dizer isso justo agora? — Pergunto tentando com todas as minhas forças não demostrar a tristeza que estou sentindo.

— Ele disse que queria ser honesto comigo para que possamos ser amigos.

— E dá onde ele tirou essa ideia que vocês seriam amigos? Que idiota. — Digo debochando dele. Esse cara é um fodido mesmo, que ódio.

— É porque nós meio que já éramos amigos de novo. — Ela diz e parece um pouco envergonhada ao dizer isso.

Suas palavras me pegam de surpresa, e parece que eu acabei de levar um soco no estômago. Mais raiva, ciúmes e tristeza vêm como uma onda.

— Como assim? — Pergunto com medo.

— Ele me procurou um tempo atrás e disse que queria que voltássemos a ser amigos. E eu aceitei.

“Ela tinha voltado a ser amiga dele esse tempo todo? Conversando e saindo com ele de novo?”

Ah meu Deus, isso dói. É claro que ela ainda ama ele, eu fui tão idiota de achar que não. Mesmo ele sendo um filho da puta e magoando-a, ela o ama. Ela só está me usando para tentar esquece-lo, é claro. Como eu sou idiota. Ela ama ele, não eu, ela nunca vai sentir nada por mim.

Luto para que as lágrimas que eu quero tanto derramar não caiam, não posso chorar na frente dela. Não posso mostrar que me importo e que saber dessa amizade me machuca tanto assim.

— Ah. — É a única coisa que eu consigo dizer sem quebrar e começar a chorar.

— Desculpa, eu sei que isso pode te incomodar, por causa daquela vez que ele te bateu.

— Tudo bem. — Digo desviando o olhar dela, sabendo que se eu mentisse olhando em seus olhos eu não aguentaria.

Ela acha que o único motivo para eu me importar é por causa daquela noite que o canalha me atacou - noite, aliás, que terá volta – mas nem passou por sua cabeça que eu não gostaria de vê-la com ele porque eu sentiria ciúmes, por que eu gosto dela. Ela não entendeu nenhum dos meus sinais.

— Não vamos falar dele, vamos falar de você. Você tem que voltar para as aulas, tem que sair desse quarto e tem que comer, Savannah. — Digo depois que consigo me controlar o suficiente para não correr o risco de chorar na sua frente.

— Eu não estou com fome. — Ela diz desanimada.

— Savannah... — Me deixa tão triste vê-la sofrendo, ainda mais sabendo que é por causa dele.

— Eu só quero ficar sozinha agora. Prometo que amanhã eu volto a ir para a aula.

— Tudo bem, mas você tem que comer alguma coisa agora. Eu vou preparar algo para você.

— Não, não quero nada...

— Sem discussão. Você vai comer alguma coisa, vai sair desse quarto e amanhã vai voltar a assistir as aulas e a sua vida normal, entendido?

— Entendido.

— Ótimo, eu vou preparar algo para você comer e enquanto isso você vai tomar um banho.

— Mas...

— Sem mas, vá logo. Você não pode ficar trancada nesse quarto para sempre.

— Seu chato. — Ela diz se levantando da cama.

— Sou chato por que me preocupo com você.

— Você podia se preocupar menos. — Ela diz indo para o banheiro e fechando a porta.

“Eu poderia ‘menos’ muitas coisas com relação a você, Savannah. Poderia te amar menos, por exemplo. Deveria te amar menos. Assim não seria tão doloroso.”

Vou até a cozinha e graças a Deus não encontro com Aletta, a cobra deve estar de volta ao seu ninho, também conhecido como quarto.

Vasculho a geladeira e os armários e decido que como ela não come há dois dias, é melhor preparar algo leve e sem gordura. Então faço um sanduiche natural.

Quando Savannah sai do banho sua expressão está um pouco melhor e seus olhos não mais tão inchados. Faço-a comer na cozinha e me prometer que mais tarde, quando eu já tiver ido embora, ela vai comer mais alguma coisa.

Sirvo um copo cheio de suco de laranja e a observo comer e beber tudo.

— Você não precisa ficar me observando para ver se eu vou comer tudo, como uma criança.

— Eu sei, mas eu gosto de te ver comer. — Digo sem querer e ela me olha estranhamente por um segundo.

Se ela soubesse que eu gosto de observa-la fazendo qualquer coisa. Principalmente comendo, rindo, dormindo e o melhor de todos, gozando.

— Prontinho, comi tudo, viu? — Ela diz de forma petulante mostrando o prato e o copo vazios.

— Essa é a minha garota. Agora tenho que ir. Mas não se esqueça, você me prometeu comer algo mais tarde e a voltar a ir as aulas amanhã. Mas como eu sou muito chato, vou te ligar para garantir que você faça as duas coisas. — Ela revira os olhos e me acompanha até a porta.

— Tenha uma boa noite, a gente se vê amanhã. E se precisar de alguma coisa, me ligue, qualquer horário, ok? Não deixe aquele filho da mãe fazer isso com você. — Dou-lhe um beijo na testa e vou embora, com o coração pesado como uma âncora.

                                                            ***

A manhã toda passou muito devagar. Assim que acordei liguei para Savannah para garantir que ela tinha comprido sua promessa e tinha ido para a aula. Fiquei feliz ao ouvir vozes no telefone e uma Savannah mal humorada dizendo que estava no meio da aula. Fiquei mais tranquilo por ela não estar mais trancada, mas ainda assim, triste pelo motivo de tê-la deixado naquele estado de ontem.

Constatar que a mulher que você ama, ama outro, não é algo muito agradável e me tirou o sono ontem à noite. Fique abraçado com o travesseiro que tem o seu cheiro, mas nem isso acalmou a tempestade que estava minha mente e meu coração.

Agora já é quase hora do almoço e tenho que ir me encontrar com Carlson Thompson. Espero que ele finalmente marque um dia para assinar esse maldito contrato.

Mesmo não sendo hoje o dia de assinarmos os papeis, ele pediu para que eu levasse algum advogado da empresa, que ele levaria o seu. Assim poderíamos discutir o que quer que seja que o está segurando com relação a essa parceria.

Então entro em meu carro e sigo na direção do caro restaurante onde temos uma mesa reservada. O advogado que eu escolhi foi Will, além de ser meu amigo é o melhor advogado que a Townsend possui, mas essa manhã ele está resolvendo alguns assuntos fora do escritório e deve nos encontrar no restaurante.

Por causa do transito chego apenas alguns minutos antes do horário marcado, e torço para que o Sr. Thompson não esteja adiantado alguns minutos. Deixa-lo esperando não é algo nada bom.

— Olá, estou aqui para encontrar uma pessoa. — Digo para a recepcionista do luxuoso restaurante.

— Possui reserva, senhor?

— Sim, está no nome de Carlson Thompson.

Ela confere o nome no seu aparelho eletrônico, levanta seu olhar novamente para mim com um sorriso de desculpas.

— Sinto muito, mas a mesa ainda não está pronta. Gostaria de esperar no bar, temos as melhores bebidas.

— É claro.

— Quando sua mesa estiver pronta, mando chama-lo, senhor.

— Tudo bem, obrigado. — Digo e sigo em direção ao bar.

O bar está praticamente vazio, também, é hora do almoço. Sento-me no banco de madeira envernizada e com acento de couro, e como estou aqui a trabalho e sei que provavelmente terei que tomar vinho no almoço, peço apenas uma dose de Martini.

Rapidamente o garçom entrega minha bebida e eu a bebo calmamente, olhando o relógio de vez em quando, e procurando o Sr. Thompson e Will, mas nenhum dois chegou ainda.

Deposito o copo vazio em cima do balcão e como a azeitona que veio junto com o drink.

Escuto alguns barulhos de salto alto no mármore do chão, que são mais evidentes porque como havia dito, o bar está quase deserto e está muito silencioso.

— Quanto tempo, docinho. — Escuto uma voz feminina atrás de mim.

Congelo na hora ao reconhecer aquela voz doce e sensual e tão, tão familiar.

Viro-me e dou de cara com ela. A louca perseguidora que eu não via há anos, e que está sorrindo maliciosamente para mim.

Eva McKenna. 

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