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"Não me deixe, eu acredito, comece a correr. Você é meu batimento cardíaco sem fim." - Don't leave me
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Jimin me permitiu aos poucos conhecer seu mundo, mesmo que em alguns momentos se mostrasse resistente, na maioria deles me peguei pensando se estava sendo invasiva, então passei a não questionar ou falar demais, dando a ele o tempo necessário para se sentir confortável em se abrir mais. Sempre fui transparente com meus sentimentos e emoções, e ao ser notada nesse quesito, Jimin foi se desfazendo de pouco em pouco de suas armaduras.
Ainda que hesitasse, ele me deixou a par de algumas preocupações que o cercavam, desabafando quando sentia extrema necessidade, e eu sempre o ouvia, aconselhava e ajudava com o que estava ao meu alcance, ou apenas ficava ali escutando com atenção. No começo, muitas vezes eu percebi que ele se sentia envergonhado, mas com o tempo nos tornando mais próximos, o garoto aos poucos se sentiu cada vez mais tranquilo e confortável.
A partir de algumas conversas eu descobri que ele morava com a avó em um quarto de aluguel, seus pais tinham falecido em um acidente de carro quando ainda era muito jovem, por isso, teve que morar com os tios, mas o ambiente não era saudável, ninguém o tratava bem, então, quando completou dezenove anos e entrou na faculdade de Artes, decidiu procurar um trabalho e pagar um lugarzinho para ficar, por mais solitário que fosse, preferia mil vezes do que estar em um meio nada agradável. No começo quis desistir, acreditando que não daria conta, mas persistiu um pouco mais até conseguir se estabilizar. Jimin sempre foi muito apegado à avó, e ao descobrir que ela estava muito doente e os filhos a deixaram de lado - não entrou em detalhes de o por quê - não pensou duas vezes em levá-la para morar consigo. Desde então, ele tem dado o seu melhor por ela, suportando e enfrentando todas as dificuldades diárias, eu admirei muito sua determinação e coragem, era visível o grande amor que ele sentia pela sua avó, somente na sua fala. Mesmo que muitas vezes sua dedicação toda o trouxesse um cansaço demasiado, ele não deixava transparecer tanto, bom, pelo menos até eu o conhecer bem a cada dia que passava, só assim consegui entender e ver no fundo dos seus olhos a exaustão gritando ali dentro, e quando eu via ele chegando ao limite, eu me preocupava e fazia de tudo para ajudá-lo. Sempre o lembrava que apesar dele querer tanto dar o melhor para sua avó, ele também tinha que se cuidar para poder continuar dando suporte à ela.
Houve dias em que o peguei reclamando de dor nas costas, indiquei pomadas para tensão, só que as reclamações permaneceram dias depois, imaginei que não as tivesse usando, então eu mesma fui comprá-las e o fiz usar, claro, sem antes de enfrentar sua relutância, mas no final ele acabou aceitando. Eu não media esforços para ajudar Jimin, por mais teimoso que fosse eu dava conta de encarar, apenas queria o seu bem.
Levou um tempo até eu reunir coragem e sugerir fazer uma visitar para ele e sua avó, e quando o fiz, novamente a resistência de Park Jimin se manifestou. Eu não insisti, não queria deixá-lo desconfortável, ele pareceu cogitar a ideia, não me deu uma resposta de imediato, ela só veio dias depois em um sim tímido saindo de sua boca, o que me deixou super animada. Fomos depois da minha aula ter acabado no finalzinho da tarde, pegamos o ônibus e em menos de trinta minutos chegamos, era um prédio composto de vários quartos alugados, o dele era no segundo andar. Era um pequeno espaço ocupado por alguns móveis simples, na sala havia um sofá mediano e uma televisão em cima de uma cômoda pequena, a cozinha era a uns seis passos dali, quase do mesmo tamanho, tinha apenas um quarto, onde sua avó ficava deitada em uma cama de solteiro, perguntei em que lugar ele dormia, ele disse que era no sofá, naquele momento eu entendi o motivo dele sentir tanta dor nas costas.
Jimin me apresentou sua avó, era uma mulher gentil e engraçada, disse que gostou de mim, e eu também gostei dela. Engatamos em conversas aleatórias, ora ela contava sobre suas histórias de vida ora falava sobre o quanto amava seu neto, fiquei feliz em ver que o amor dela por Jimin era tão grande quanto o dele por ela. No meio da conversa ela precisou fazer pequenas pausas para tomar seus remédios, e assim descobri que ela tinha sérios problemas de pressão alta, isso me lembrou um pouco do meu avô que faleceu por essa causa, por isso o garoto tinha uma imensa preocupação em cuidar dela. Inocentemente ela me convidou para ficar e jantar com eles, mas a reação de Jimin não foi muito agradável, ele ficou todo envergonhado de uma hora para outra, me ofereci para fazer a comida e só entendi sua reação quando abri a geladeira em busca dos ingredientes, não tinha muita coisa. Agindo de maneira natural falei que precisaria ir no supermercado, o que eu queria preparar era feito de outras verduras e legumes, Jimin me acompanhou, dizendo que não era necessário tanto esforço, que poderia pedir algo de um restaurante, ele estava tenso, e para tornar o clima mais leve comecei a brincar acusando-o de duvidar de meus conhecimentos culinários, ele achou graça e protestou, dessa forma seguimos às compras rindo e tirando sarro um do outro. Preparei um jantar delicioso com vários acompanhamentos, a vovó me encheu de elogios, Jimin demorou muito - de propósito - para admitir que também havia gostado, alegou não ser tão boa quanto a sua, e essa foi a deixa para eu desafia-lo a cozinhar para mim um dia, com os olhos brilhando de entusiasmo ele prometeu fazer quando seu braço melhorasse e tirasse o gesso. O jantar seguiu da maneira mais agradável possível, não deixei passar despercebido a aura do garoto se tornar mais leve do que quando eu cheguei.
A partir desse dia, passei a visitar ambos sempre que podia depois da aula, de pouco em pouco fui me envolvendo cada vez mais na vida de Park Jimin, o mesmo se sentia mais confortável e menos resistente comigo, o que me deixou super feliz e animada para me soltar mais, se é que era possível. Ah-ri e Chae Joon chegaram no ponto de reclamar da minha ausência nas últimas semanas, exigindo explicações - dramáticos demais - quando finalmente souberam do motivo, não perderam a chance de me zombarem.
Me encontrava sentada no ateliê de frente para a tela branca, teria a tarde toda livre e optei por ocupá-la trabalhando em uma nova pintura. Girei o pincel nos dedos enquanto buscava por alguma ideia, mordi os lábios repetidas vezes com diversos pensamentos indo e vindo em um ritmo acelerado sem me dar a chance de escolher dentre eles uma opção. Eu tinha conseguido refazer a pintura estrelada para o trabalho, saiu melhor do que o anterior, superando minhas expectativas, mas algo dentro de mim ainda aflorava um desejo de pintar algo do gênero, portanto, permaneci por mais alguns minutos ponderando. Uma imagem repentina se formou em minha mente, alavancando a ansiedade no meu corpo, movendo minhas mãos a fazerem o trabalho de misturar as tintas azul e vermelho no espaço vazio do godê, logo a mescla deu vida a uma nova cor. Segurei firme o pincel entre os dedos e dei início a pintura com um sorriso nos lábios, ele com certeza iria adorar o resultado, conseguia imaginar perfeitamente seus olhos brilhantes arregalados em surpresa.
Depositei todo meu carinho e admiração naquela tela, a cada pincelada uma lembrança de nossos momentos divertidos passavam pela minha mente, eu sorri e ri feito uma boba. Fiz uma paleta em degradê perfeita de tons roxo, valeu muito a pena ter ficado a tarde toda pintando, no final o quadro ficou fantástico. Finalizei o desenho e deixei secar no tempo em que eu lavava os pincéis e limpava os resquícios de tinta do meu rosto e braços, limpei-os na toalhinha e guardei tudo em seu devido lugar na minha bolsa. Olhei uma última vez para a tela e sorri, iria mostrar a Jimin, que provavelmente já estava a minha espera fora do bloco, era o dia de eu ir visitar sua avó.
Saí da sala literalmente saltitando, ansiosa pelo o que o garoto acharia do desenho, desci os degraus percorrendo os olhos a sua procura, não demorando muito para encontrá-lo caminhando em direção ao prédio, levantei a mão para acenar e chamar sua atenção, mas Ah-ri e Chae Joon irromperam ao meu lado, me causando um pequeno susto impedindo meu gesto.
– O que fazem aqui? - franzi o cenho alternando o olhar entre os dois.
– Wae? Não podemos mais falar com nossa amiga? - Ah-ri replicou risonha.
– Any, vocês surgiram tão de repente. - balbuciei fazendo bico.
– Ah, entendi o por quê da pergunta, com certeza ela já tem compromisso marcado. - Chae Joon soou travesso olhando para frente.
Jimin se aproximava com o braço engessado, tomando um sorriso acanhado nos lábios ao ver a repentina presença de meus amigos, Chae Joon começou a murmurar alguma coisa entre risos, não duvidei que estivesse me zombando, mas não dei a devida atenção para entender, pois assim que Jimin nos alcançou, notei algo muito diferente em seu semblante, suas bochechas não tinham o tom vermelhinho feito morango como de costume, tampouco seus lábios carnudos, estava sem cor alguma, pálido.
Os dois ao meu lado tomaram a dianteira e cumprimentaram o moreno amigavelmente como faziam toda vez que acabávamos nos encontrando ao mesmo tempo. Chae Joon puxou um papo breve com ele, dando-me a oportunidade de estudá-lo, a princípio aparentou normalidade, exceto o timbre da sua voz, soava meio lento e arrastado, como se estivesse cansado demais para falar. A agitação do meu corpo se esvaiu sendo substituída por uma onda de preocupação.
– Jimin-ah, você está bem? - perguntei quando a conversa encerrou.
– Ne, apenas tive um dia muito duro hoje. - deixou um suspiro pesado escapar.
– Está precisando de um bom descanso agora, sim? - me aproximei, estudando suas expressões.
– Ainda tenho algumas coisas para fazer antes de... - fechou os olhos, tombando para o lado, em um impulso segurei seu braço.
– Oh, ele está pálido. - Ah-ri notou ao se aproximar.
– Acho que virar a noite talvez não tenha sido uma boa ideia. - piscou novamente.
– O quê!? Como assim? - indaguei.
– Você tem que descansar! - Chae Joon ditou.
– Any... - encostou o dorso da sua mão na testa e balançou a cabeça. – Aigoo, por que tão embaçado?
– O quê? - Ah-ri questionou.
– Minha visão, aish... - balançou novamente.
– Jimin, está mais do que claro que você precisa descansar. - peguei na sua mão, a preocupação se alastrou pelo meu corpo quando senti sua pele fria. – Omo!
Levei minha mão até sua testa para medir a temperatura, ele suava frio. Entreabri meus lábios para ditar a última sentença daquele diálogo no intuito de levá-lo logo para casa, mas a fechei quase no mesmo segundo, pois o garoto cambaleou, dessa vez suas pernas fraquejaram e seu corpo sucumbiu, o segurei tendo ajuda dos meus amigos para não deixá-lo cair. As batidas do meu coração dispararam e o desespero correu nas minhas veias, Jimin havia desmaiado.
O azul, dentre os diferentes efeitos na saúde destaca-se a diminuição da circulação sanguínea, a redução da temperatura corporal e a baixa da pressão arterial.
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Esse foi um capítulo de transição da aproximação de Hyemi e Jimin. ^^
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