{3}; dark blue
"Suas sombras estão encurraladas, escondendo-se atrás da luz. Eu não consigo te alcançar."
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A semana passou da maneira mais arrastada possível, naquela manhã de sexta-feira recebi a nota da minha pintura que havia entregado na terça, o novo quadro que fiz não chegou nem perto do anterior arruinado pela chuva na segunda, e a nota, não foi a melhor de todas. Acredito que minhas energias negativas geradas da minha tristeza pela perda da pintura estrelada foram transmitidas para o novo e em seguida para o professor na hora de avaliá-la. De qualquer maneira, me limitei apenas a uma gemido de frustração, não estava com cabeça para fazer auto lamentações, além de que tinha uma apostila sobre direitos autorais de imagens e legislações a minha frente para ser lida.
Meus joelhos ainda doíam um pouco, as mãos não estavam mais tão ruins, até consegui pintar confortavelmente, diferente dos primeiros dias após a queda em que senti um incômodo ao gesticular demais.
Avistei Park Jimin algumas vezes pelo refeitório mas nunca tive oportunidade para falar com ele, sempre aparentava estar com pressa e tempo contado, também era difícil o ver acompanhado de alguém, então supus que tivesse uma rotina corriqueira ao ponto de não poder tirar uns minutos para ter conversas ou distrações, anulando minhas chances de me aproximar. Nos últimos dias da semana não vi nem mesmo sua sombra no refeitório, encontrei a sala de dança vazia todas as vezes que passei por lá ou ocupada de outros alunos, por um instante achei estranho não vê-lo naquele lugar, mas depois pensei ser só coisa da minha cabeça, quem sabe ele não precisasse praticar todos os dias. Bom, apenas ingeri esses acontecimentos como um sinal de que deveria desistir da ideia de tentar uma amizade.
Dei início a leitura da apostila sobre a mesa, tratava-se de algumas leis, teria que aprende-las para depois identificar quais seriam aplicadas em determinadas situações descritas nos exercícios, eram doze questões para serem resolvidas até o final do horário e eu não podia me distrair.
Só consegui terminar a atividade faltando pouquíssimos minutos para encerrar a aula, quase me ferrando, ainda precisei de uma força de Chae Joon com uma questão difícil envolvendo mais de uma lei. Saímos da sala indo em direção ao refeitório, almoçamos em meio a conversas aleatórias e risadas, Ah-ri e Chae Joon eram os meus únicos amigos naquela faculdade com quem eu podia contar para tudo, o resto, limitavam-se apenas a colegas.
– Hyemi, fica ligada nas divulgações das palestras, está precisando de carga horária, você sabe, perdeu a de segunda que oferecia muitas horas. - Ah-ri falou.
– Ne, ne, ne. Mas não foi proposital, a chuva me pegou de surpresa e ainda estragou meu quadro. - abocanhei um pedaço de carne.
– Era 'pra você ter deixado no ateliê.
– Eu sei, mas estava tão lindo, levaria para o meu pai ver.
– Tirava foto. - Chae Joon ditou.
– Ou fazia um vídeo. - Ah-ri completou.
– Eu sei, só que eu queria mostrar ao vivo e em cores para ele.
– Não deu muito certo, ainda ganhou joelhos e mãos raladas. - o garoto riu.
– Haha, muito engraçado. - lhe lancei um olhar enfadado.
– Quem foi mesmo que cuidou deles? - Ah-ri perguntou, notei um tom travesso em sua fala.
– Aish. - revirei os olhos. – Cuidem de almoçar.
Eles riram, logo mudando de assunto ao notarem meu incômodo, permanecemos ali por mais algum tempo, mesmo depois de termos terminado de comer, e poderíamos estender nossa conversa até o entardecer, mas Ah-ri tinha que trabalhar e Chae Joon se ocuparia com alguns trabalhos, e isso me fez lembrar de alguns meus em pendência. Me despedi deles e comecei meu rumo para fora da instituição, no caminho divaguei em diversos pensamentos banais concluindo que, mais uma vez meu dia iria terminar entendiante, fechando mais uma semana tediosa da minha vida.
Meu olhar se prendeu na sala de dança a alguns metros de onde eu estava, cessei meus passos em reação ponderando na ideia que rondava minha mente. Seria uma boa dar uma conferida? Era sexta-feira, talvez ele estivesse por lá praticando, decidi ir, caso ele não estivesse, eu daria meia volta e seguiria minha vida sem mais tentativas de me aproximar. Estuguei os passos não demorando muito para alcançar a sala, a porta estava entreaberta, mas ainda era possível ver o interior pelo vidro. Senti meu coração pulsar ao finalmente encontrá-lo ali, dançando.
Meus olhos foram preenchidos com tamanha maestria nos movimentos e a carga de sentimentos emanados através de sua dança. Seus braços e pernas mexiam-se com certo vigor, o corpo trepidava com algumas mudança nos movimentos. Podia-se ouvir o som da música graças a brecha na porta, tinha uma melodia carregada de melancolia e caos intenso no conjunto que as notas formavam. No momento em que o toque musical tornou-se agudo e corriqueiro, os passos do garoto aceleraram, a música era seu guia, transformando o ar em volta, eu fui capaz de sentir, apenas assistindo-o de fora. Não conseguiria descrever em palavras aquela cena, Jimin estava tão absorto na coreografia que nem notou minha descarada presença pelo vidro.
Vê-lo dançar com tanta emoção me fez constatar que, ele ali, girando e pulando em plena sincronia, expressando tudo e toda comoção de seu ser, era uma obra de arte, uma a qual eu não poderia escrever, pintar, ou registrar, mas sim sentir ao tê-la diante dos meus olhos. Park Jimin era a arte mais bela vista em toda minha vida.
O ecoar do estalido estourou aquela bolha artística que nos envolvia no instante em que ele errou um movimento e caiu por cima do braço. Num impulso, empurrei a porta e corri para ajudá-lo causando espanto em Jimin ao me ver ali tão repentinamente. Passei meu braço pelas suas costas e o fiz sentar, seu rosto brilhante de suor retorceu-se em dor.
– O que faz aqui? - questionou num misto de surpresa e dor.
– Omo!! Dói muito? - ignorei sua pergunta, respondê-la não importava no momento.
– Ye, está ruim para mexer. - disse em tom sofrido.
– Omo, omo!! Precisamos ver isso então. - senti uma pontada de desespero em pensar que ele pudesse ter quebrado.
– Anyo, vai passar rápido. Leva um tempinho para melhorar, foi só uma queda comum. Basta eu... - tentou mobiliza-lo, mas o ato lhe trouxe mais dor. – Aish!
– Veja só, talvez não seja.
– É sim. - retrucou, parecendo querer convencer mais a si mesmo do que a mim.
– Você cuidou dos meus ferimentos sem deixar eu protestar, agora me deixe fazer o mesmo por você.
Jimin se manteve relutante no tempo em que eu guardava suas coisas na mochila para irmos à enfermaria, e só aceitou de fato minha ajuda quando percebeu a dor incomoda-lo mais do que o esperado pelo próprio, até mesmo nos apressou no caminho. A enfermeira o examinou e alegou ser um provável deslocamento no osso, nos aconselhou a ir ao hospital o mais rápido possível para tirar raio-x e obter um diagnóstico certo. Não sei dizer corretamente qual foi a reação de Jimin ao receber a notícia, mais pareceu uma mistura de preocupação e desapontamento. Saímos da sala em completo silêncio, durante o caminho que percorremos ele não abriu a boca para nada, além de que tinha uma expressão séria demais, e aquilo despontou uma certa preocupação em mim.
– Você vai no hospital, né? - perguntei um pouco hesitante.
– Acho que não é necessário.
– Como não? - esbugalhei os olhos me pondo a sua frente.
– Em casa faço uma massagem ou compressa. - seus olhos moveram-se vagarosos até fitarem os meus.
Tinham um brilho confuso, diferente do dia em que conversamos e nos divertimos naquele dia chuvoso dentro da sala de dança. Me perguntei o que se passava ali dentro, e quis por em palavras tal pensamento, mas talvez fosse demais da minha parte.
– Mas você não sabe o que tem de ser feito.
– Sei sim.
– Jimin... - tentei insistir, mas ele pareceu se sentir desconfortável.
– Hyemi, eu já me machuquei muito, consequentemente aprendi como cuidar dos meus machucados. - seu tom era calmo, mas sério. – Agradeço por querer me ajudar, e me ajudou quando precisei levantar, mas agora eu preciso ir. - lançou um breve sorriso e se curvou, para em seguida sair andando.
Permaneci em pé na calçada do campus, assistindo Jimin se afastar e sumir de vista. Não entendi sua mudança drástica de comportamento, não parecia o mesmo garoto sorridente com quem passei horas me divertido, ou talvez ele ainda estivesse lá, mas agora escondido sob uma escuridão desconhecida e inalcançável para mim. Não sei se foi apenas interpretações equivocadas da minha parte, mas eu senti um peso à mais nas suas palavras, como se não fosse somente a queda e o braço quebrado, pareceu ser além disso.
Me senti triste de alguma forma, eu realmente queria ajudá-lo, não para retribuir o dia que cuidou de mim, mas porque eu queria, só queria. Sentia que ele era uma boa pessoa, e por algum motivo o desejo em me aproximar não se esvaia, talvez pela crença estúpida ao ter finalmente o visto na minha última tentativa de o encontrar, como se fosse algum sinal divino para eu continuar tentando.
O azul escuro, em demasia, pode expressar um certo tom de monotonia e tristeza.
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Mais um capítulo ^^ com uma interação dos personagens. Apesar de pequeno, espero que tenham gostado. Eu to ansiosa demais para os que estão por vim, sério eu morro de amores com essa história, dá uma aquecida no coração quando escrevo. Os próximos serão um pouco maiorzinhos porque não consegui conter as ideias.
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