Histórico amoroso
Após ver as fotos publicadas e ler de modo superficial a matéria, Júlio entendeu o acesso de fúria do sócio. Lembrava-se de como Rodrigo ficou devastado depois de descobrir que havia sido traído pela noiva, ao ponto de pedir Sara em casamento, tudo para manter a posse orgulhosa de senhor de seu destino, mesmo que por dentro uma parte houvesse congelado.
A vida não era fácil para o Montenegro, toda vez que se erguia orgulhoso, algo vinha lhe dar uma rasteira e lança-lo ao chão.
Entrou na sala do sócio e o encontrou em pé, virado para a janela atrás da mesa de mogno do escritório, a testa apoiada no vidro, assim como as mãos cerradas na altura da cabeça.
— É apenas uma fofoca idiota — declarou depois de alguns instantes de silêncio. — Sara deve ter uma explicação.
— Claro que tem. Elas sempre têm — Rodrigo riu e se voltou para o loiro, os lábios curvados em um sorriso desdenhoso. — A explicação é que insistiu em sair de casa sozinha para encontrar o amante, enquanto o imbecil aqui trabalhava para pagar suas mordomias — retrucou com sua costumeira frieza, o sorriso sumindo a cada palavra dita, a face carregada de desprezo.
— Não sei por que Sara procurou o Robson, nem ao menos sei quando voltaram a se ver, mas...
— O que quer dizer com: "Voltaram a se ver"? — indagou Rodrigo desconfiado. Dominado pela raiva, se aproximou do amigo e o agarrou pelo colarinho. — Você o conhece? Há quanto tempo sabe que Sara me trai?
— Me larga! — Júlio exigiu se desvencilhando. Não compreendia como o autocontrole de Rodrigo sumiu completamente em segundos. — Robson é de Cezário, e namorou a Sara. Algum tempo, antes da sua chegada, ele partiu com o sonho de se tornar um grande artista — informou antes de acrescentar dando de ombros. — Pelo jeito conseguiu.
— Porque ninguém me falou sobre ele?
— Porque não havia necessidade. E você não perguntou pelo histórico amoroso da Sara — Júlio declarou com bom humor para quebrar o clima tenso, mas como Rodrigo o encarou com raiva justificou com pouco caso: — Você nem gostava da Sara quando a conheceu.
Rodrigo franziu o cenho, odiava quando Júlio brincava com um assunto sério. Mas porque estava perdendo tempo com o sócio? Quem lhe devia satisfação não era o loiro e sim sua esposa, Sara.
Tomou a revista das mãos do amigo e caminhou até a porta, mas parou com a mão na maçaneta quando Júlio segurou seu ombro.
— Seja o que pretende fazer é melhor pensar com calma.
— Da minha vida, cuido eu — rosnou entredentes.
— Sei que não quer ouvir isso, mas não se deixe levar por fofocas.
— Fofocas? — Voltou-se com a fúria luzindo em seus olhos. — O que pensaria se fosse Laura dentro do carro de outro homem?
— Certo, você tem razão em se enfurecer — concordou Júlio após um breve silêncio. — Mas converse com a Sara antes de fazer alguma bobagem, com calma, de forma a não prejudicar a relação de vocês que, diga-se de passagem, está péssima.
Rodrigo deu um sorriso de canto carregado de tristeza.
— Logo você, um cabeça oca, me dando conselhos — gracejou concordando internamente com o sócio.
Júlio riu.
— Ando fazendo muito isso ultimamente.
Rodrigo voltou-se para abrir a porta.
— O que vai fazer? — Júlio questionou preocupado.
— Vou para casa.
— Mas...
— Não se preocupe, só vou conversar — assegurou abrindo a porta, acrescentando sem olhar para trás. — Com calma!
Júlio deu um de seus sorrisos largos.
— Espero que seja verdade — gritou para o amigo que se afastava depressa.
Espantada, Karen se ergueu e observou o Montenegro sair do escritório pelas escadas.
— Aonde ele foi? — ela quis saber quando Júlio passou por sua mesa.
Júlio sorriu.
— Beijar a esposa.
Karen encarou com raiva o loiro sorridente, se controlando para não chama-lo de demônio loiro desgraçado ou puxa saco da coisa rosa. Em vez disso se limitou a voltar a se sentar. Podia apostar que Rodrigo iria tirar satisfação do encontro da esposa com o artista. Ótimo, aquele casamento iria ruir e teria maiores chances de entrar novamente no coração e na vida de seu grande amor, Rodrigo Montenegro.
~*~
Rodrigo entrou em seu apartamento controlando ao máximo a raiva que sentia. Sabia que devia agir com cautela, com sua costumeira e famosa frieza, mas aquelas malditas fotos povoavam sua mente e quando cessava ele abria a revista para revê-las, como para se punir por ter novamente sido traído.
Marta limpava a estante da sala e se surpreendeu ao ver Rodrigo chegar, logo percebeu, pela expressão e a revista que o Montenegro apertava em um das mãos, que seu tempo naquela casa acabara.
— Onde está Sara?
Mesmo que Rodrigo tivesse perguntado em tom calmo, Marta teve medo da forma que ele a olhava. Será que descobriu que ela tinha sido a causadora da matéria? Pior, será que mataria a senhora Montenegro e ela também?
— Então, onde está à senhora Montenegro?
— Não a vi hoje, senhor.
— Como não a viu? — Rodrigo retrucou nervoso, cenas da esposa aos beijos e abraços com outro povoando sua mente.
Respirou fundo para se controlar e, sem dizer mais nada, rumou em direção ao quarto da esposa. Se ela saíra devia ter deixado algum recado e se não tivesse... Que Deus o ajudasse, pois, seria capaz de pôr abaixo a maldita galeria que ela tanto gostava de visitar.
Entrou na suíte do apartamento, acendeu a luz e, sem prestar muita atenção as cobertas emboladas sobre a cama, se aproximou da mesinha de cabeceira, abriu a primeira gaveta e se colocou a procura de qualquer pista de onde a esposa poderia estar. Preferia bancar o detetive a ter que pedir ajuda de qualquer pessoa nesse momento.
De repente ouviu um gemido e se voltou para as cobertas que se moveram um pouco. As puxou, encontrando a esposa com as bochechas estranhamente vermelhas, a respiração fraca e os olhos cerrados. Sentou-se sobre a cama e esticou uma mão para tocar sua testa.
— Droga! — resmungou quando o alívio de encontra-la em casa foi apagado pelo fato dela arder em febre
Sara tremeu e abriu devagar os olhos, somente uma brecha, por onde mal se via o verde de seus olhos.
— Rodrigo... — murmurou com a voz fraca antes de voltar a cerrá-los.
Rodrigo esqueceu a raiva que sentia momentos antes, apagou as imagens fornecidas pela revista e por sua imaginação e, após pegar seu celular no bolso da calça, discou o número de Tatiana. Sabia que a primeira pessoa que devia alertar era a diretora do hospital Santana, que ela saberia como agir. Não estava errado, logo depois de descrever como Sara estava, Tatiana assegurou que enviaria um médico o quanto antes para atender a afilhada em casa.
— De-desculpe. — Ouviu Sara dizer após encerrar a ligação.
— Pelo quê?
— Por Marta ter... te tirado do trabalho... por minha causa... — Se esforçava para falar e manter os olhos entreabertos.
Por um segundo Rodrigo pensou em dizer o motivo de estar ali em vez de no trabalho, mas sabia que seria covardia discutir com Sara naquele estado. Decidiu que se concentraria na saúde dela, depois teria tempo para interrogá-la a respeito de seu encontro com o ex-namorado e tomar uma atitude a esse respeito.
— Não se preocupe com isso agora, descanse.
— Mas preciso levar os documentos para Tati... para poder trabalhar.
— Eu levo — garantiu acariciando preocupado a face da esposa. — Onde estão?
— Na minha bolsa... em cima da mesinha de cabeceira — indicou voltando a fechar os olhos. — Obrigada... — A ouviu agradecer enquanto se afastava para pegar a bolsa na mesinha de cabeceira do outro lado.
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