Parte 1
Ela estava sentada na sua amada estranha cadeira, olhava para mim com os seus olhos castanhos, como se fosse o seu último segundo de vida, sim era o seu último segundo de vida.
Eu sentia o cheiro da morte na sua respiração, claro, seria melhor se ela se apagasse de uma vez por todas, aquilo já estava demais para mim.
Continuou olhando para mim, aqueles olhos clamavam pela morte, morte que em escassos segundos ia chegar e arrancá-la de mim.
Foram muitos anos de casamento, no entanto, nada restava no meu coração que me fazia meditar acerca dela voltar ao normal, pois eu sabia que isso não aconteceria.
Sei que você está perdido querendo entender o que estou a contar, entretanto não vai aguentar ouvir tudo que tenho para dizer sobre minha jovem mulher.
Quando eu e minha mulher nos casamos, ela parecia ser uma mulher boa em todos os sentidos, mas guardava um segredo sombrio do seu passado.
Vivemos por longos anos. Certo dia ela me contou o seu segredo que me deixou completamente preocupado e buscando por mais respostas que agora já não era capaz de me contar.
Ela me contara que matara um menino e enterrara no quintal da sua casa. Eu perguntei:
- Mas querida, porque fizeste aquilo?
Foi quando de repente ela ficou literalmente muda - maldição.
Todavia, antes dela me contar isso, eu observava um comportamento estranho, ela estava enlouquecendo, ela dizia que via fantasma, ouvia uma voz de um menino chamando por ela na casa de banho ás vezes no quarto mesmo.
Ajeite-se no seu sofá para continuar ouvindo esta sombria história que infelizmente vivi e ainda agora estou sofrendo de trauma.
Morávamos em Moçambique no distrito de Moamba, isso em 1997.
Quando ela começou a ver coisas eu sempre estava do seu lado cumprindo o que prometera durante o nosso casamento como todo mundo faz, mas não prometera que estaria do seu lado na "loucura", essa parte é desnecessária.
Depois de ter me contado o seu crime do passado ela ficou muito doente, doente não é a palavra certa, acho que a palavra certa seria, NOJENTA.
Fomos ao hospital, lá ela ficou 2 anos internada continuando nojenta, vou lhe explicar o que significa essa palavra, nojenta.
A minha mulher era sinônimo de lixo, a família dela aparecia para me dar sufrágio, mas, tempo depois nada mais ouvi sobre ela (família), a minha nem chegou de um dia fazer isso.
Minha mulher exalava fedor muito violento pela boca, capaz de matar moscas amantes de piores fedores da face da terra.
Era uma doença nunca vista no mundo.
Os dois anos que mencionei nada trouxeram de melhoria na saúde dela, ela voltou para casa muito pior, ou melhor os médicos apenas não tinham mais nada para fazer, porque ela não melhorava de jeito nenhum, então a solução foi dar alta a ela.
Eu levei-a para nossa casa, depois pensei numa outra forma de curá-la.
Eis que procurei o melhor curandeiro de Moamba. Ouvia de muita gente que se a medicina não conseguir, temos outras alternativas como esta que eu escolhera.
Fui até onde se situava o senhor curandeiro, ele estava pronto para ajudar a minha mulher. África é um dos continentes que muitas coisas excêntricas acontecem e são vistas como normais.
O olhar do curandeiro se cravou na minha direção, parecia que aquele homem já sabia o que eu queria ali.
Com suas roupas extravagantes ele acenou para minha mulher entrar.
Fitei aquela palhota, feita com detalhes extraordinários. O senhor curandeiro era um homem deixado pelo tempo, a sua pele negra era enrugada, as veias apareciam no seu corpo como desenhos com inúmeros traços sem princípio nem fim.
Minha esposa entrou no interior da palhota, juntamente com o velho homem que estava na porta. Eu fiquei do lado de fora com a esposa do senhor curandeiro. Aquele dia era a primeira vez a frequentar o lugar em que me encontrava.
Eu sentia algo no meu interior dizendo que estava fazendo a coisa certa.
De repente soou um soluço proveniente do interior da palhota, pela voz deu para entender que era o velho homem começando com o seu trabalho.
Depois do soluço, o homem começou a pronunciar palavras peculiares que a cada segundo formavam uma canção também exótica e sombria, aquilo me causou desconforto, quase um arrepio percorreu minha espinha. Eu escutava todos aqueles barulhos ainda estando lá fora.
A atividade do homem iniciou, era manhã de quinta-feira.
Quando a canção do senhor curandeiro cessou, a sua esposa entrou na palhota me deixando lá fora, mas não demorou.
Quando voltou onde eu estava, ela me disse que agora era minha vez de entrar.
Entrei na palhota, vi um cenário completamente mais obscuro do que esperava.
Logo ao entrar um crânio de cabra contemplava o meu rosto.
A cor vermelha estava em abundância no interior, elementos esquisitos olhavam na minha face como se estivessem vivos, juro que começava a ficar arrependido de ter pedido ajuda ali.
O homem me ordenou para sentar na esteira ao lado da minha esposa e eu o fiz.
- Meu jovem, meu jovem, eu consegui ver o que faz a tua esposa sofrer - disse a voz robusta.
- Então diga-me com todo respeito senhor. Eu não aguento ver minha esposa neste estado. Sem conseguir falar, estando todo momento se queixando.
- Meu jovem, primeira coisa - disse o homem pegando numa coisa que não sei nomear e nem definir nas mãos - sua esposa cometeu um grande erro no seu passado.
- Que erro senhor?
- Sua esposa está sofrendo pelo... erro do passado. Anos atrás ela assassinou um menino e o enterrou no quintal da sua casa.
O homem acertou em cheio sobre a história que minha esposa me contara, a minha consciência voltou a me informar que eu continuava fazendo a coisa certa.
- O senhor saberia me dizer o que fez a minha esposa...
- Cometer aquele erro -rapidamente completou o velho curandeiro olhando no fundo dos meus olhos.
- Sim!
- Bem, ainda não comecei efetivamente a trabalhar. Agora vou para o passo dois, para descobrir o que fez a sua esposa matar o menino.
- Está bem.
- Mas, para que isso seja possível vou precisar de elementos que serão necessários na realização do ritual.
- Ritual?
- Sim.
- Senhor curandeiro.
- Me chama de Ndhota.
- Está bem, Ndhota, será que seria...seria possível curar a minha esposa sem ter que desvendar...
- O que a fez matar o menino - completou o velho mais uma vez.
- Exatamente.
- Sim, mas mesmo assim, vou precisar fazer o ritual para ela ser curada.
- Obrigado, senhor curandeiro.
- Eu disse para me chamar de Ndhota.
- Oh, desculpa, Ndhota. Então o que vai precisar?
- Vou precisar de um conjunto de linhas coloridas, uma galinha ainda com fôlego, uma pata de águia e cinza.
- Está bem senhor curandeiro... Aliás Ndhota.
Em toda a minha vida nunca tinha procurado ajuda em um curandeiro.
Talvez por ter me ausentado daqui (Moçambique) em muitas situações por conta de assuntos acadêmicos.
O senhor curandeiro, aliás o senhor Ndhota nos deu umas raízes para minha esposa tomar.
Saímos dali e fomos para casa.
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