É quinta-feira, e Maggie tem uma agenda repleta de reuniões com diversas editoras interessadas na publicação dos seus dois livros inovadores. Ambos os livros abordam temas fascinantes e relevantes no campo da toxicologia forense e investigação criminal, fornecendo informações essenciais para a montagem de quadros precisos e sólidos a serem apresentados ao sistema judicial.

Na primeira obra, Maggie explora minuciosamente os intrincados métodos de toxicologia forense, desvendando os segredos ocultos nas substâncias mortais que podem ser usadas em crimes. O seu trabalho abrange desde a análise detalhada das diferentes substâncias tóxicas até os efeitos devastadores que essas podem causar no organismo humano. Além disso, ela investiga como essas toxinas podem ser identificadas em vítimas, fornecendo pistas cruciais para a resolução de casos complexos.

O segundo livro é uma obra abrangente sobre métodos de investigação criminal, apresentando um leque variado de tópicos que incluem a montagem de perfis psicológicos de assassinos e a aplicação de estudos científicos no processo investigativo. Maggie explora as mais modernas técnicas e abordagens utilizadas por investigadores experientes, destacando como essas estratégias podem levar a descobertas-chave na resolução de crimes.

O trabalho é resultado de anos de dedicação e pesquisa incansável, para contribuir no aprimoramento das práticas de justiça criminal. Com clareza e fundamento científico, ela desmistifica conceitos complexos, tornando-os acessíveis a um amplo público leitor, desde estudantes de ciências forenses até profissionais da área jurídica.

John já leu os rascunhos e percebeu que Maggie é além de uma excelente investigadora, uma criminosa habilidosa. Ele sabe que as suas próprias técnicas são eficazes, mas nunca é demais aprender com outros especialistas. No mundo do crime, sempre há a possibilidade de se ser descoberto, um pequeno deslize pode destruir tudo. John entende que, apesar do risco, é importante manter-se atualizado com os métodos de pessoas tão talentosas quanto Maggie, especialmente neste dia que cogita arquitetar um plano ardiloso.

Para além de se reunir com 'Sammy Dois Tiros', tem de ligar a várias pessoas. Entre essas pessoas está Miguel Cruz, um mexicano que John operou. Foi uma operação simples a uma pedra nos rins, mas desde aí travaram amizade, mais tarde Miguel veio mesmo a considerar John da família. Uma família composta por cerca de 40 pessoas.

Faz mais de cinco anos que operou Miguel Cruz, John nunca se esqueceu de ligar. Há quatro anos e meio, foi Miguel que ligou a John, um telefonema preocupante cheio de angústia. A irmã de Miguel, Maria, sentia problemas com a sua gravidez, problemas graves. No entanto, estava ilegal no país, o que a impede de recorrer aos serviços de saúde e de ter acesso adequado a cuidados médicos durante a gestação. A família Cruz lidava com o medo constante de que Maria fosse descoberta e deportada, o que a impedia de buscar ajuda médica regular e assim ficou numa situação extremamente vulnerável.

À medida que a gravidez avançava, Maria começou a enfrentar complicações que a colocaram a si e ao bebé em risco. Ela ficou desesperada em busca de soluções, mas não tem opções seguras ou legais disponíveis. Com a saúde cada vez mais fragilizada, todos temiam pela vida de Maria. Rezavam por melhorias, mas Deus parecia não atender aos pedidos.

Nesse momento crítico, a pedido de Miguel, entra em cena John. Como profissional dedicado e compassivo, ciente da situação difícil do amigo Miguel, decidiu atuar. Mesmo consciente das implicações legais e dos riscos pessoais envolvidos, ele não ficou de braços cruzados enquanto Maria e o bebé enfrentavam um futuro negro.

John decide arriscar tudo para salvar a vida de Maria e do bebé. Ele utilizou a experiência e recursos médicos para cuidar da sua amiga em segredo, realizando consultas e exames num local seguro, longe dos olhares de autoridades e sem deixar rastros. Enfrentou dilemas éticos e morais, sabendo que a suas ações podiam colocar a sua carreira e a sua própria liberdade em jogo, mas a amizade e senso de responsabilidade esteve sempre presente.

Não foi apenas a ajuda médica clandestina que John deu à família Cruz, em particular a Maria. John tinha conhecimentos nos serviços de estrangeiros, e algo de impressionante aconteceu. Quinze dias depois de John conhecer Maria, ela e o seu marido estavam legalizados. Os bebés, sim, não era um, eram dois. Gémeos que já nasceram no hospital, com todos os cuidados.

John é o padrinho das crianças, desde aquele momento que faz parte da família Cruz. Ele mudou os hábitos da família, quinzenalmente há um jantar com todos. A princípio esses jantares, traziam quase sempre atritos. Alguns conflitos familiares, vinham à tona e acabavam por incendiar os ânimos. Havia, também, quem aproveitasse a presença do Dr.º John para ter umas consultas na hora. A certo momento John impôs uma regra: nos jantares não há negócios, trabalhos nem atritos. As palavras dele foram:

"Se somos uma família, vamos nos comportar com uma. Como sabem, fui órfão... sem pai, sem mãe, comi também, como alguns aqui, 'o pão que o diabo amassou'. No entanto, tive a sorte de conhecer o meu pai adotivo, que me ensinou o que deve ser uma família. Um lugar sagrado, um espaço de amizade e força, em que cada um dá o que tem pelo outro. Somos um só, não és tu, não sou eu, somos nós. A família é união, é alegria, é partilha.

A partir de hoje, eu darei o exemplo, marcarei um dia por mês apenas para consultas. Nos jantares, porém, não haverá espaço para consultas, ninguém salvo se for uma situação urgente. Nas emergências, largarei tudo, seja o que for, para estar presente, a família será sempre a prioridade. Para mim a família está acima dos interesses individuais, está acima de mim, de ti, do Óscar, da Maria do Xavier, mas cada um de nós é igualmente importante. Ninguém fica para trás, ninguém está só, ninguém enfrentará o mundo sozinho. Se me querem aqui terá de ser assim. Senão acabasse isto, por muito que sofra, é isso que vou fazer se não formos uma família." — John, pausou, as lágrimas escorriam-lhe pelos olhos, todos ouviam em silêncio. John fechou os punhos, e disse entre lágrimas — "Quem eu quero enganar, eu não consigo abandonar os gémeos, senão saía já por aquela porta, e nunca mais me veriam."

A postura firme de John, ao mesmo tempo, amorosa e determinada, conquistou ainda mais o respeito e a gratidão da família Cruz. O seu comprometimento em ser o pilar de suporte e a fonte de cuidado para todos revelou o verdadeiro espírito de união familiar. A partir daquele momento, os jantares se transformaram em encontros de afeto, onde os conflitos deram lugar a momentos de risos, histórias compartilhadas e a certeza de que estavam juntos, enfrentando qualquer desafio que surgisse.

Voltando, a Nova Iorque, John continua de telefone na mão, liga a este, liga aquele, efetua várias ligações. O seu plano está a ganhar estrutura.

Em Chicago, cerca de duas horas depois de Maria receber o telefone de John, encontra-se de crucifixo na mão. Ela reza, hoje não reza por ela. Lembra-se dos momentos de aflição, momentos em pensava que ia morrer, ela e os filhos que na altura carregava no ventre. Recorda-se que rezou, muito, com muita força, com muito coração, com muita dor... Nesta quinta, ela reza com a mesma determinação. Na altura, quando estava grávida,  Deus atendeu os seus pedidos, não só a ajudou como lhe mandou um anjo, esse anjo protetor dos seus filhos era John. Rezava por John, desta vez ela iria retribuir-lhe, toda a família ajudaria John. Ajudar era o mínimo... o importante seria dar tudo o que tivessem como ele sempre deu.