23-Sombras na Mesa
Dima e Yuri, pairando como sombras, se aproximavam da mesa onde Maggie e John estavam. Uma cólica abrupta assaltou Yuri, obrigando-o a se afastar apressadamente para o WC. Agora, Dima, restava sozinho, caminhando com a feroz determinação de um leão prestes a devorar a sua presa ferida.
— Dr. Maggie, como vai? — A voz de Dima cortou o silêncio, John era invisível para ele. Sentou-se como um rei no trono.
— Estou bem, Sr. Dima, e você? — Maggie respondeu friamente, buscando distância, embora as palavras parecessem ineficazes.
— Doutora, preciso conversar com você, tenho uma garrafa de vodca na minha suíte. — O charme falso de Dima se espalhava pela mesa, afiando o silêncio com uma ameaça implícita.
— Hoje, não. De qualquer forma, não bebo.
John intervém, procurando se inserir no jogo. — É um problema de fígado, eu também sofro... custa-me a tolerar algumas coisas como vodca. — o seu tom era agradável, mas a frase foi incisiva como um bisturi. As palavras trouxeram os olhos frios de Dima para si.
Maggie levanta-se. — Meus senhores, que tal se conhecerem melhor? Eu preciso ausentar-me por um momento. — Recorreu à rota da fuga infalível, o WC, e ansiava para ver se John conseguiria deixar Dima desconcertado.
Enquanto Maggie se afastava, Dima reassumiu o seu semblante arrogante, apoiando o braço esquerdo na mesa. Com a mão direita, puxou do bolso interno do casaco um cartão de visita, revelando um número de telefone, "Acompanhamentos de luxo. Novas sensações.".
O queixo de John apertava. Seria fácil demais jogar Dima ao chão, silenciar aquela voz irritante para sempre. Porém, ele resistia à tentação, precisava ser paciente, esta não era a hora nem o local.
— Tenho tudo o que você precisa, ligue para mim, darei um preço especial! — Dima disse com um tom de deboche, se inclinando mais para perto de John, sussurrou — Tenho todo o tipo de ratas, de todas as idades, é só pedir, fique à vontade!
— Não há dúvida de que ligarei para você, será um prazer —John respondeu, o seu tom enigmático deixando Dima na incerteza se estava diante de uma ameaça velada ou um novo cliente.
Dima tentou dar uma palmadinha amigável nos ombros de John, como um gato que pisa um rato para brincar por instantes. Porém, com uma agilidade surpreendente, John colocou o braço à frente, bloqueando o gesto. O pulso de John, repentinamente, deslizou pelo braço de Dima, como a dança de uma serpente, parando no ombro deste.
— Será um prazer fazer negócios com você! — John deu leves palmadas no ombro de Dima, uma jogada audaciosa que Dima não esperava. Dima endireitou-se, tomou uma postura mais séria. Parecia desorientado, como se não tivesse percebido o golpe. Para reafirmar a sua dominância, ele abriu o casaco, revelando uma arma escondida. Certamente, pensou, que John ficaria aterrorizado.
No entanto, a expressão de John mudou de enigmática para uma espécie de fascínio maravilhado.
— Sempre tive um fascínio por armas, sabe? — dizia John, discutindo modelos e calibres como se estivessem numa loja de antiguidades. Dima parecia perplexo. Ele tinha diante de si um inocente, que nem uma ameaça de perigo reconhecia. Um tolo... ou assim pensava.
Por dentro, a decisão de John está tomada. Dima cruzou uma linha, tratando Maggie daquela maneira, oferecendo-lhe tal serviço. John fará com que ele pague, de uma maneira ou de outra. John, passou a mão pelo cabelo, algo aparentemente inconsciente. No entanto, a quatro mesas de distância, o gesto foi recebido por Sammy, como estando tudo controlado. Apesar do clima de tensão e a aproximação de Yuri, que parecia regressar mais solto, John, estava calmo.
Yuri chegou, sentou-se do lado direito de John. A veia médica de John pulsou, um palpite instintivo de que algo estava errado com Yuri. Sem cerimónias, ele ofereceu a sua assistência.
— Posso ver o seu pulso, Yuri? — pediu com uma gentileza autoritária, o seu diagnóstico começava a se formar antes mesmo do consentimento do outro homem. A pressão sanguínea de Yuri estava baixa, aparentemente causada pela desidratação. Possivelmente acompanhada de diarreia, que o tom amarelado e desbotado da pele parecia sugerir. John não estava preocupado com o estado de saúde do russo, as suas intenções eram outras, a primeira delas era observar bem a cicatriz que ele tinha na mão que segurava.
Com o decorrer da explicação de John, Yuri assentia, validando cada palavra do médico com um reconhecimento silencioso.
— Vou prescrever-lhe algo — anunciou John, puxando do seu bolso um bloco de receitas meticulosamente dobrado. — Existe uma farmácia à direita do hotel, a cerca de 100, 150 metros de distância. Estive lá ontem para socorrer um paciente com sintomas similares aos seus. Um sorriso desenhou-se no rosto de John, uma sombra de diversão refletida no seu olhar enquanto rabiscava a receita médica.
Maggie escolheu aquele momento para se juntar a eles, sentando-se com uma graça despojada. O olhar encontrou o de John, um sorriso cativante brotou nos seus lábios. Naquele breve intercâmbio, John transmitiu uma mensagem silenciosa. Dima, mal interpretando o olhar, supôs que o diagnóstico de Yuri ainda não estava completo. Por outro lado, Maggie leu o olhar de John corretamente. O trabalho de John com Dima ainda não tinha terminado; ele ainda preparava o terreno para a intervenção de Maggie.
John analisou a interação entre Yuri e Dima, deduzindo com um olhar perspicaz a dinâmica de poder subjacente. Yuri estava ali, claramente desconfortável, possivelmente desempenhando o papel de babá para Dima, a mando de uma autoridade superior. John identificou a oportunidade perfeita para atingir Dima onde mais doía: a sua masculinidade e a sua dependência do pai.
Finalizando a prescrição dos medicamentos para Yuri, John manteve o sorriso amigável e o toque firme no pulso do outro homem.
— Dima, se você quiser, posso também prescrever algo para você... Viagra. — John ofereceu, o tom da sua voz brincalhão e amigável. — Um homem que anda sempre com a arma na mão, precisa de balas, não acha?
A risada que irrompeu de Yuri foi inesperada, libertando uma tensão que tinha se acumulado. Ele estava ali para ser o protetor quando, na verdade, era um matador por natureza. Era de se irritar que Aleksandr o tinha posicionado para manter Dima na linha, para evitar que ele fizesse alguma besteira. Em contraste, a raiva crepitava nos olhos de Dima, os seus punhos cerrando-se como se quisesse esmagar algo invisível.
— Estou apenas brincando — disse John, o seu tom suavizando-se. — Na verdade, eu tenho uma piada sobre Viagra... Yuri mal conseguia conter a risada, as bochechas antes pálidas agora ganhavam um tom rosado.
— Por favor, conte, doutor! — ele incentivou, ansioso para continuar a rir.
— Um homem decide assistir ao desempenho do filho na noite de núpcias. O jovem se posiciona sobre a esposa, mas fica parado, sem saber o que fazer. "Mova-se, garoto!" o pai ordena, impaciente. "Não sei como fazer, papai," o filho responde, confuso. Furioso com a inaptidão do filho, o homem o empurra para o lado e diz: "Deixe-me mostrar-lhe como se faz, será uma lição para a vida!". Ele tira uma pílula de Viagra do bolso, apenas morde e esfrega o pó nas mãos. Depois, estende a mão para o filho e declara: "Se quer fazer algo direito, use as suas próprias mãos. Aprenda com o seu velho, seu incompetente!" — Enquanto contava a piada, John gesticulava, imitando os movimentos manuais do personagem.
A risada estrondosa de Yuri ecoava pelo ambiente. John tinha improvisado a piada no calor do momento, consciente de que, em qualquer outra circunstância, ela talvez não tivesse o mesmo efeito. Contudo, nessa situação, a gargalhada de Yuri estava a despertar uma fúria crescente em Dima, que parecia à beira de explodir. Era evidente que não era a piada que irritava Dima, mas o riso de Yuri, que parecia rir não da piada, mas dele.
Dima levantou-se bruscamente, punhos cerrados de raiva. Antes que ele pudesse estourar, Maggie se ergueu com uma graça sensual que, mesmo em meio à fúria, conseguiu paralisar Dima por um instante. O seu vestido rosa decotado tinha o dom de apaziguar os ânimos.
Maggie sabia que era o momento certo para intervir, John tinha preparado o terreno para ela. Colocou as mãos na mesa e inclinou-se um pouco para frente, destacando o seu busto. Os olhos sensuais fitavam Dima.
— Cavalheiros, por favor, permitam-me um momento a sós com o Sr. Dima, nós temos uma garrafa de vodca a discutir! — proferiu Maggie, sem desviar o olhar de Dima.
John observava atentamente a interação entre Maggie e Dima. Dima, o leão, agora parecia um cordeiro. Provavelmente, Maggie faria alguma promessa sedutora, que jamais cumpriria, mas que serviria para massajar o ego ferido de Dima. E, quando a empatia atingisse o pico, ela o faria concordar com o que realmente quisesse.
— Acho que vou passar na farmácia — anunciou Yuri, descontraído.
John guiou Yuri até a saída do hotel, entregando-lhe o seu cartão. "Ligue se precisar", disse, atento. O médico, mesmo estranho no início, revelou-se genuíno. Yuri agradeceu, compartilhou o seu contacto e reconheceu o valor de um aliado na medicina.
Ali no sol do almoço, John experimentou o equilíbrio - a sua essência vital. Ser bom não era seu propósito, mas manter o equilíbrio entre luz e sombras, sempre voltando ao centro quando a escuridão o atraía.
Viver, para John, era ansiar por admiração, alimentar o ego, saborear o perigo. A adrenalina tornava-o vivo. Não lamentava a falta de emoções, embora às vezes se sentisse desapontado.
John não amava Maggie, mas saboreava a emoção que ela trazia. O desejo e o sexo. Diferente de muitos psicopatas, ele não buscava vingança. Todavia, se tivesse que causar mal para satisfazer o lado sombrio, os malfeitores seriam os primeiros na fila. Maggie abria-lhe a porta para a escumalha humana, onde matar virava justiça, equilibrando a suas ações passadas. Aquilo era o mais próximo que John chegava da felicidade, sem necessidade de fingir. John sabia que Maggie era diferente. Ela movia-se pela vingança, a vingança era o que lhe dava alento.
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