22-Entre Venenos e Verdades
John chegou à conferência. Sammy e dois dos seus capangas, vinham atrás, não entraram como John, seria melhor assim, observadores à distância.
John adentrou a conferência com uma pose indiferente, como um espectro sombrio escondendo o seu verdadeiro propósito. Sammy e os seus dois brutamontes não estavam longe, se misturando com as sombras, os olhos vigilantes em John.
As luzes apagaram-se quando a palestra de Maggie sobre Toxicologia começou. A magia da ciência venenosa escorria das palavras dela, envolvendo a plateia. Maggie era uma rainha neste mundo de encantos letais, ganhando fama por decifrar o enigma de três mortes causadas por venenos raros. Ela possuía um olho treinado e uma mente afiada, habilidades que lhe renderam elogios e o destaque em publicações científicas.
Mas o que as páginas dessas revistas não diziam era que o toque da morte era a sua verdadeira assinatura. O causador da morte e o investigador eram a mesma pessoa. Claro, o que interessa é o que está no papel, e ali, os relatórios mostram apenas a sua astúcia como investigadora. As sombras das suas verdadeiras ações, contudo, continuavam encobertas no manto do segredo.
O olhar perscrutador de John varreu a sala, atraído por um local específico. E lá estava Yuri, uma figura assombrada e trémula, mas não sozinho. Acompanhando-o estava um homem na faixa dos trinta, a autoridade emanava dele como um perfume forte e caro. A sua postura dava a entender que ele era mais que um mero chefe de Yuri.
John escolheu o lugar ao lado de Yuri, com uma precisão cirúrgica, cumprimentando-o com uma cortesia afetada que agradava a muitos, porém gelava o sangue de outros. O olhar frio e calculista do homem mais novo o observava, provocando arrepios de ansiedade que tremulavam ao longo da coluna de Yuri.
Yuri estava visivelmente pálido, a pele um tom cinzento e sem vida. John sabia o porquê: além da dose de anestesia que tinha no sangue, também lhe fora administrada uma dose potente de um laxante. Yuri, geralmente o autor de temor, agora era o dominado pelo medo. Um medo de perder o controlo do seu próprio corpo, além da confusão que se instalava na mente. Ele poderia ter pensado que tinha comido algo estragado, mas não tinha ideia da verdadeira origem do seu desconforto.
John escorregou para a casa de banho, não por uma necessidade física ou para se refrescar, mas para verificar se 'Sammy Dois Tiros' tinha percebido quem era Yuri. Sammy percebeu e revelou a John a identidade do homem ao lado de Yuri: esse homem era 'Dima'.
— Dima não é como nós, John— disse Sammy olhando dentro dos olhos de John — Não somos santos, mas nem tu, nem eu chegaríamos ao ponto do tráfico humano.
— Sabes, nós passamos por muito, e se há alguma coisa que me tira do sério é o abuso sexual— disse John, quase com um olhar triste e determinado.
— Eu sei, meu amigo! — Sammy fez uma breve pausa, colocou as mão nos ombros de John e continuou — John, é gente da pior espécie, não têm os mesmos valores que nós — advertiu Sammy, tentando alertar John para o perigo iminente.
John assentiu, mas nada disse. Ele teria querido argumentar que de fato eram melhores do que esses russos, mas sabia que não era verdade. Apenas acenou, submerso numa escuridão que não lhe permitia proferir tal afirmação sem parecer um hipócrita. Havia, certamente, diferenças. Até ao momento, John tinha mantido uma linha na areia: não matar mulheres e crianças. Porém, Dima e o diretor do orfanato tornavam essa linha cada vez mais ténue, tentando arrastá-lo para o abismo. John temia que, uma vez que começasse a matar, desenfreadamente, perderia o controle, tal como Maggie parecia estar a perder.
Perder o controle, porém, não era a verdadeira preocupação, mas sim uma ideia intimamente ligada a um medo maior. O real problema seria renunciar ao heroísmo e à glória que lhe eram proporcionados pelas reanimações cardíacas que realizava. Precisava de ser cauteloso, o que não era difícil para John. Desde criança que uma das principais ferramentas de autocontrole que se impôs foi a paciência.
Sammy decidiu ali mesmo que, em vez de dois homens de confiança, viajaria com cinco para Chicago. Precisava proteger o homem que lhe tinha salvo a vida, o homem que tinha posto fim às violações que sofria quando era criança. Sammy lamentava nunca ter conhecido a mãe nem o pai, não ter família. A figura mais próxima de um familiar que tinha era John, um irmão de armas que compartilhava as suas dores e lhe salvou a vida.
John sentou-se ao lado de Maggie, após a felicitar, alertou.
— Maggie, podemos vir cá outro dia e colocamos os dois que vem aí dentro do nosso pacto de sangue. Esquece o que queres deles, eles são demasiado perigosos! Eu ajudo a matar o Pellegrini, mas afasta-te destes tipos.
— John, já te disse que ninguém sabe quem é mais perigoso- disse Maggie surpreendida por John parecer saber tanto.
— Maggie confia em mim e deixa os jogos, quando isto terminar podemos voltar a brincar, ao 'quem mata quem'.
Maggie estava surpreendida, parecia que John tinha descoberto o jogo que ele fizera com John e Pauline. "Será que ele descobriu?", perguntou-se Maggie. Agora não havia tempo para tirar as dúvidas, Yuri aproximava-se e parecia trazer o chefe, "Que quererá este anormal?"
Dmitri "Dima" Aleksandrovich é um peão sádico no tabuleiro brutal da máfia russa, filho de Aleksandr, um chefe mafioso temível. A sua existência está encharcada em luxúria, violência e vaidade, uma máscara que usa para esconder a sua constante necessidade de aprovação paterna.
Apesar de se considerar um playboy, Dima não tem qualquer empatia por mulheres. Vê-as como mercadorias para serem compradas, usadas e descartadas a seu bel-prazer. Isso é evidente na forma como gere a sua rede clandestina de prostituição e tráfico de drogas, onde o valor humano é medido apenas pelo lucro que se pode extrair.
Dima é cru, sem o requinte intelectual que muitas vezes é atribuído aos mafiosos de alto escalão. Ele acredita que o poder é conquistado através do medo e da subjugação, e utiliza essas táticas sem remorsos. A sua atitude desdenhosa em relação aos outros é alimentada pela sua arrogância e pela crença de que todos têm um preço.
O seu charme superficial esconde um ego inflamado. Ele vê-se como o maior, o rei incontestável, que pode comprar a lealdade e o silêncio com o aceno de um maço de notas. Na sua visão distorcida, todas as pessoas são subordinadas que podem ser controladas pelo medo ou pela promessa de uma benesse financeira.
A obsessão de Dima por obter a aprovação do seu pai é o seu ponto fraco. Essa necessidade insaciável é o fio condutor das suas ações, mesmo que isso signifique cruzar linhas que outros recuariam em horror. Em última análise, Dima é uma figura assustadora e repugnante, uma representação grotesca do abuso de poder e da perda de humanidade. Agora não só quer a aprovação do pai, como se tornar o pai. O pai controla Nova Iorque, ele controlará Chicago, apenas tem que retirar a máfia italiana de lá.
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