Por trás do espelho
Estou por um fio;
Sinto deslizar pelo corpo o calafrio,
Pés gelados no asfalto,
O quente de um caso
A escorrer de pecados,
Simplesmente um fugitivo
Encrencado;
Fitando a avenida
Pensamentos a mil.
Expectativas por trás da mente febril,
Espero pelo ônibus do desencontro
No vazio de uma avenida cheirando a botequim.
Arrependimentos pelo crimes
Que ainda não cometi
Encaro o sangue na sola do sapato
Pensamentos que chegam ao estopim
Estaria disposto a
Desejar o definitivo fim?
Vejo um carro vermelho
Quebro o espelho,
Cotovelo dolorido, acendo o isqueiro;
Entrevejo entre a fumaça o revolver manchado,
Dois dólares no banco de passageiro,
Recosto-me sem vontade de cessar o freio,
Tateio o cano fino entre os dedos
Um definitivo fim?
Quem sabe um tiro direto atravessando o rim,
Ou esperar, calmamente
o confronto do acaso
Cheirando a hipocrisia
De confessar um medo ordinário.
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