trentaotto
Desligo o carro e encosto a cabeça no banco, analisando o Roccia a minha frente. Eu nunca vim aqui sem ser para trabalhar, e quando vinha, o sol ainda estava no céu, então é estranho ver o restaurante do estacionamento, como cliente, e já no horário dos Ghostins. O local parece o mesmo, apesar de, pelo lado de fora, parecer mais vazio do que o comum, normalmente, nem haveria vagas aqui na frente.
Respiro fundo, pego meu celular e abro a porta. O vento do inverno me atinge, mas não me preocupo em pegar o casaco já que provavelmente dentro da lanchonete estará quente. Tranco o carro e caminho com pressa até a entrada, assim que empurro a porta, o sininho acima da porta toca e o ar quente de dentro me recebe.
O restaurante por dentro parece recém pintado, apesar de continuar das mesmas cores, mas não vejo nada de diferente além disso, será que eles realmente reformaram? Há jaquetas de couro para todos os lados, e eu me encolho dentro da minha blusa manga ¾ vermelha, pelo menos a calça jeans é preta.
Vejo Fran saindo da cozinha com uma bandeja e abro um sorriso, me aproximo do balcão do bar, recebendo alguns olhares confusos pelo caminho, mas ignoro e sento na banqueta disponível na frente da ruiva.
— Eai gostosa, me vê uma breja. - Forço uma voz masculina e ela revira os olhos antes de erguer o olhar.
— Ana – Ela sorri e se estica por cima do balcão, me dando um abraço desajeitado. – Maluca, eu ia cuspir na cerveja.
— Claro que sim. – Reviro os olhos e cruzo os braços sobre o balcão.
— Veio para a reinauguração? - Ela pergunta enquanto pega garrafas e coloca na bandeja.
— O mal humorado me chamou – Dou de ombros – Pensei que estaria mais cheio. – Olho para o salão por cima dos ombros, acabando por notar a maior mesa a direita onde consigo ver Matteo, Dean e Dante de costas para mim.
— Eu também - Ela faz uma careta e volta a me olhar. – Mas ainda bem que não está, to cuidando disso tudo sozinha.
— Não acharam alguém para substituir Letitia? - Engulo em seco ao pronunciar o nome dela.
— Não, todo mundo já temia trabalha aqui por causa deles – Aponta para um Ghostin mais próximo. – Depois do... acidente, agora que não querem mesmo.
— As pessoas pararam de vir aqui?
— Não - Nega com a cabeça e rouba uma batata que estava na bandeja para ser entregue. Seguro um riso - De tarde continua lotado, mas as duas garotas de antes tão dando conta - Dá de ombros – Lorenzo saiu e Merlorie assumiu a cozinha, o que tá atrasando muito os pedidos – Ela se inclina para sussurrar – Acho que ele nunca tinha usado uma fritadeira, quando colocou as batatas hoje mais cedo, gritou com o óleo respingando – Revira os olhos e se afasta. – To tendo que ajudar ele a montar os pedidos e servir tudo aqui, pelo menos esses idiotas não tem coragem de reclamar do atraso se não mando Ettore dar uma prensa.
— Sinto muito. - Faço careta.
— Você podia voltar – Ela me olha esperançosa - O chefe até te pagaria mais. - Mordo o lábio e puxo um guardanapo.
— Quem sabe quando a situação melhorar. – Ou eu não tiver mais grana para abastecer o carro, o que vier primeiro. Fran faz careta.
— É, tem isso. – Ela suspira e então se afasta, indo entregar os pedidos da bandeja. Solto um suspiro e dobro o guardanapo, sem coragem de erguer o olhar.
Dean me convidou e talvez eu devesse ir lá falar com ele, mas meu rosto esquenta só de pensar em o encarar após nosso momento hoje mais cedo. Eu nunca tive vergonha de momentos como esse, mas com Dean tudo é... diferente, eu posso chegar lá e ele fingir que nada aconteceu, ou contar para todos da mesa o que aconteceu, não sei sinceramente qual é a melhor opção. Respiro fundo e ergo a cabeça, você nunca foi medrosa Anabela, e se algo der errado, seu irmão estará lá, ainda assim, me xingo por não ter mais meu canivete, já que ficou enfiado no corpo do cara que me abordou na entrada da SMD meses atrás.
— Então, o que que tá pegando? - Fran pergunta após botar a bandeja em cima do balcão e dar a volta, parando na minha frente.
— Como assim?
— Você está estranha – Inclina a cabeça - E está olhando esse guardanapo como se fosse a coisa mais interessante do mundo. - Deixo o guardanapo de lado.
— Uma coisa... aconteceu – Ela semicerra os olhos, esperando-me continuar. Respiro fundo e olho para ambos os lados, confirmando se nenhum dos Ghostins perto estão prestando atenção em nós, eles estão mais interessados nas cervejas as suas frentes, então me inclino em direção a Fran, que se inclina de volta, e sussurro: - Eu beijei Dean.
— Nem fodendo – Ela grita e se afasta, fazendo a cena mais bizarra de todas: Fran começa a dar pulinhos e bater palmas ao mesmo tempo. Tampo meu rosto com as mãos quando os olhares que eu tentei evitar, se voltam para nós - Caralho finalmente.
— Para com isso – Imploro, minha voz saindo abafada pelas mãos. - Ou não contarei nada.
— Nem pense nisso. – Fico surpresa ao ouvir sua voz ao meu lado.
Destampo o rosto a tempo de ver Fran agarrar minha mão, e quase me derrubando da banqueta, me arrastar em direção ao corredor. Sinto um frio na espinha quando passamos em frente a porta do banheiro, mas felizmente o destino dela é o vestiário. Assim que entro, Fran chuta a porta atrás de mim, a fechando, e me olha com os olhos brilhando.
— Conte tudo, como isso aconteceu?
— Você não tem que atender aquele povo? - Aponto para a porta, mas Fran apenas abana com a mão.
— Que se foda eles, isso é mais importante, anda, não enrola. - Reviro os olhos.
— Bem... - Cruzo os braços e me encosto contra a porta. – Eu decidi fazer o que me der vontade e ignorar as consequências.
— E agarrou Dean?
— É - Desvio o olhar. – No meio do hall Sciame.
— Nem fodendo! – Ela grita e depois, começa a gargalhar. – Meu Deus eu pagaria qualquer coisa para ter visto isso.
— Que exagero.
— Não é exagero – Nega com a cabeça, tentando segurar a risada. – Você não sabe a quanto tempo estou esperando ouvir isso.
— Para me zoar? - Ergo as sobrancelhas, o que faz Fran me olhar ofendida.
— É claro que não! Estava ansiosa para ver você finalmente feliz, e Dean parece feliz também, então...
— Ele parece feliz? - Pergunto em um sussurro, não querendo que ninguém perceba o quão afetada essa afirmação me deixou, nem mesmo Fran.
— Bem, do jeito dele – Dá de ombros – Ele não tá sorrindo nem nada do tipo, mas ele está zombando mais os irmãos, pediu por favor ao fazer o pedido e deu risada, duas vezes – Ergue dois dedos, me fazendo rir.
— Legal.
— Então, estão namorando?
— Que? - Arregalo os olhos. - Não! Claro que não.
— Ok – Ergue as mãos em rendição. - Então estão só ficando.
— Sim, não, não sei – Bufo. – Sei lá.
— Vocês são tão confusos – Revira os olhos. – Ok, preciso voltar.
Me desencosto da porta e a abro, dando passagem para Fran, que assim que sai, respiro aliviada porque não saberia o que responder se ela fizesse mais perguntas. Saio para o corredor e assim que volto para o salão, vejo Fran atrapalhada pegando os pedidos e sem querer incomodar, vou para trás do balcão e pego duas garrafas de refrigerante na geladeira abaixo deste. Segurando as duas com firmeza, respiro fundo e tomo coragem, indo em direção a maior mesa do lugar.
Dante gargalha de algo que um cara que nunca vi antes disse assim que estou próxima o suficiente. A mesa circular tem no total dez cadeiras, mas somente sete estão ocupadas, as três vazias estão entre duas cadeiras ocupadas. Fico em dúvida se sento entre Dante e Pietro, Martina e o garoto desconhecido ou Dean e Matteo, mas acabo preferindo o último.
Matteo pega a garrafa de cerveja a sua frente e antes que possa leva-la a boca, tiro-a da sua mão e coloco uma de refrigerante no lugar. Assim que me sento na cadeira ao seu lado, seu olhar, antes zangado, prestes a xingar o culpado, se suaviza um pouco, mas a careta continua.
— Não pode pegar sua própria cerveja.?
— Eu não vou beber isso – Franzo o nariz e empurro a garrafa para o outro lado da mesa, parando nas mãos de Martina que assim como os outros, me olham surpresos pela intromissão. - Estou dirigindo, e você também.
— Todos aqui vieram dirigindo. – Meu irmão rebate.
— É, mas de todos aqui – Circulo com o dedo. – O único que me ouviria sobre os riscos de sofrer um acidente dirigindo após encher a cara, é você.
— Tenho minhas dúvidas quanto a isso – Ele olha com rancor para o refrigerante. – Você é insuportável.
— Eu também te amo – Abro um sorriso falso e Matteo me olha surpreso. Engulo em seco e ergo as sobrancelhas, surpresa com a facilidade com que a frase saiu e por ela ser verdadeira já que nos conhecemos a pouco tempo, mas bem... desde o começo, eu senti algo bom por Matteo, talvez não seja tão surpresa assim.
— Eu também - Ele murmura, seu olhar fixo no meu. Aceno com a cabeça e desvio o olhar para a garrafa, sem saber como agir, nem com meu pai eu dizia essas coisas.
— Que fofo – Ergo o olhar da tampa que tento abrir com as mãos, para Martina do outro lado da mesa. – Isso foi tão doce que me deu diabetes.
— Como se você e Pietro não fossem iguais. – Dante resmunga antes de levar uma garrafa de cerveja aos lábios. Pietro revira os olhos.
— Não, ela demonstra esse amor na base da porrada. - Desvio o olhar dele quando o vejo tomar metade do liquido em um só gole. Desisto de abrir a garrafa, essa merda deveria ver com um abridor.
A conversa de antes de eu chegar continua e ergo a cabeça, querendo pedir para meu irmão, que já tomou um gole da bebida, abrir para mim, mas uma mão a minha direita puxa a garrafa primeiro. Levo o olhar para Dean, que leva a garrafa a boca e puxa a tampa com os dentes. Ergo o olhar quando ele bota a garrafa novamente a minha frente e pega a tampa presa entre os dentes, e jogando para o alto antes de pegar novamente.
— Fez isso para se gabar? - Pergunto a ele, que dá de ombros.
— Anos de experiencia, achei o momento perfeito para expor – Reviro os olhos enquanto ele abre um sorrisinho, e pego a garrafa, tomando um gole – Demorou para tomar coragem e vir sentar aqui. - Dean sussurra, não querendo que os outros ao nosso redor ouçam, seu olhar fixo no meu.
— Estava coletando paciência para lidar com vocês.
— Jura? - Seu braço passa ao meu redor, se apoiando no encosto da minha cadeira, acompanho o movimento com uma careta. Dean se inclina na minha direção, sua boca próxima ao meu ouvido. – Ou estava com vergonha de me encarar após me agarrar no meio do hall.
— Faça isso novamente e corto sua jugular com meu canivete. - Sussurro e o olho séria, ele não precisa saber que estou sem.
— Um dia eu vou dar um fim a esse canivete. - Reviro os olhos.
— Não seja ridículo – Empurro seu braço, e sinto o cheiro de cerveja atingir meu rosto quando ele solta um riso antes de se afastar. – E você que me agarrou.
— E não me arrependo – Abro a boca, mas estou sem palavras para rebater, e pareço um maldito peixe. – Um de nós tem que ser sincero nessa relação.
— Relação? - Pergunto em um guincho, o fazendo gargalhar, o que é surpreendente.
— Que merda vocês estão conversando? - Matteo pergunta, se inclinando em nossa direção - Para o idiota estar rindo, não é coisa boa.
— Seu irmão é um idiota. - Resmungo e me encosto contra a cadeira, agarro o refrigerante e tomo um longo gole.
— Credo, ainda não me acostumei com isso. – Matteo resmunga.
— Vocês tão se pegando? - Uma voz diferente pergunta, e olho um por um ao redor da mesa até parar em uma garota desconhecida: sua pele branca está meio avermelhada, provavelmente ela esteve fora nas férias e tomou sol, seus cabelos são loiros claros e seus olhos verdes parecem tentar me ameaçar, sem sucesso. Levo quase um minuto para perceber que ela pergunta de mim e Matteo e não de Dean.
— Credo, não - Matteo responde ofendido. – Ela é minha irmã.
Eu tenho que levar a mão a boca para impedir que uma risada, e refrigerante, saiam dela após a declaração de Matteo. A garota loira arregala tanto os olhos que temo que eles saiam de seu rosto, o garoto desconhecido, ao lado de Martina, se engasga com a bebida e começa a tossir. Todos os outros parecem apreciar a cena com diversão, como eu, mas somente Dante gargalha da situação.
— C-como? - A loira gagueja.
— Desde que minha mãe dormiu com o pai dela – Engulo o liquido em minha boca e levo o cotovelo até a costela de Matteo – Mas é a verdade. - Ele me olha ofendido.
— Você falou como se ela dormisse com vários caras por ai. – Reviro os olhos.
— Então você não é uma Bianchi? - A loira volta a perguntar.
— Deus me livre – Resmungo.
— Ei! - Cinco vozes reclamam ao mesmo tempo, me fazendo rir.
— Oh, ofendi o sentimento de vocês? - Abro um bico que faz Dante bufar.
— Você pode não ser um Bianchi, mas é tão insuportável quanto um.
— Obrigada? - Pergunto indecisa para Dante. A garota loira se levanta.
— Eu vou tomar um ar. - Franzo o cenho quando a vejo tropeçar em uma cadeira e em duas garotas antes de sair.
— Ela tá a fim de Matteo - Ouço Dean sussurrar ao meu lado – Acho que ficou mal por quase ofender a irmãzinha dele.
— Ela vai contar para todo mundo – Martina avisa – Você contou justo para a garota mais fofoqueira dos Ghostins, sem ofensas Nico. – Ela fala para o garoto, que só agora percebo que é parecido com a garota loira.
— De boas – Ele dá de ombros e se levanta – Vou ir atrás dela, foi mal ai morena. - Dou de ombros.
— Babaca, só eu te posso te chamar assim – Mando um beijo para Dante, que revira os olhos, mas finge pegar e guardar no bolso.
— Quando ela descobrir que ofendeu a namoradinha do líder, vai ter uma sincope – Martina zomba, e ouço Dean bufar ao meu lado.
— Não somos namorados. – Resmungo, mas ela apenas dá de ombros.
— Vocês não acham que ela possa ser a traidora? - Pietro pergunta de repente, e todos nos calamos, o olhando confusos. – Ela é fofoqueira, e a gente não achou o traidor, lembra?
— Acham que realmente tem um? - Dante sussurra e eu tenho que me inclinar na mesa para o ouvir.
— Pensei que fosse Michel. – Sussurro.
— As drogas continuaram a sumir mesmo após ele sumir – Matteo sussurra de volta. - Então ainda há um entre nós.
— Por que você não me disse? - Pergunto com raiva para Dean, que apenas dá de ombros.
— Não achei importante.
— Não achou importante? - Grito em um sussurro. – Quem vem roubando as drogas provavelmente é a mesma pessoa que causou as mortes, se não, está ajudando essa pessoa, e você me diz que não é importante.
— Não dá para ter certeza. - Ele sussurra de volta.
— Ah sim? - Sou irônica, o que o faz revirar os olhos com raiva.
— Podem estar roubando para ganhar dinheiro por fora.
— Então o assassino ou é algum dos seus, ou vocês venderam drogas para ele, ou o traidor vendeu para eles. – Dean faz uma careta confusa.
— Estou perdido – Desvio o olhar para Dante – De qualquer forma, quem vem roubando-nos, está ligado ao assassino? - Aceno com a cabeça.
— Temos que descobrir quem é - Martina sussurra com determinação. - Descobrir o traidor não deve ser tão difícil, não tanto quanto achar de primeira o assassino.
— Tá brincando? - Pietro resmunga. – Demoramos meses até descobrir Michel.
— E erraram. – Me arrependo do que disse assim que todos me olham com raiva.
— Quer tentar descobrir então? Você obviamente tem um cérebro maior do que os nossos cinco juntos. - Dean é irônico, mas abro um sorriso.
— Realmente, mas estou muito ocupada ultimamente, obrigada. - Dean me olha com raiva e estranhamento, fico feliz por isso.
— Vamos pensar em alguma forma de descobrir o traidor entre nós - Matteo interrompe antes que Dean possa rebater e começarmos uma discussão. - Da última vez, só descobrimos Michel porque o vimos indo para o galpão fora do horário, podemos começar por isso.
— Vou planejar algo – Dean assente e pega a garrafa de cerveja. – Até lá, desconfiem de todos.
— Eu não confio nem em vocês – Dante murmura e recebe um tapa na nuca de Pietro - O que? Vocês botaram fogo no meu travesseiro.
— Foi um acidente. – Pietro murmura.
— Enquanto eu estava dormindo!
Uma discussão começa entre eles e eu reviro os olhos, mas acabo deixando escapar uma risada antes de levar a garrafa a boca. Dean ao meu lado, me lança um sorriso ao ver meu ato, e eu reviro os olhos, o fazendo sorrir ainda mais.
É estranho como, apesar de tudo, eu me sinto bem entre eles, mas no fundo, uma vozinha continua me dizendo para não confiar nele. Não sei se a ouço.
◤ NOTAS FINAIS ◥
Oi amores, o capítulo de hoje foi mais levinho, peço desculpas pela falta de capítulo na sexta, eu tive que fazer umas coisas da faculdade, maaaas tenho uma surpresa para vocês:
A história de Zoe e Dante, Fuggitivi, está oficialmente disponivel no meu perfil!
A história ainda não tem data de "estreia" ainda, assim que Overdose acabar irei divulgar, mas por enquanto, adicionem em sua biblioteca para receber notificações e criem teorias com a sinopse disponivel ;)
Até quarta-feira amores, obrigada pelo carinho.
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