quarantacinque
Venerdi
Eu acho que é algum tipo de pegadinha.
Tive que estacionar meu carro na única vaga disponível no centro da cidade, a quase duas quadras de distância do tal bar que Dante me mandou o endereço por mensagem. Até aí, nada suspeito, um bar lotado resulta em ruas e arredores lotados, por isso a vaga, mas quando comecei a me aproximar do lugar, uma viela estreita sem saída, e por isso não havia conseguido passar com o carro lá antes, foi quando comecei a desconfiar.
O salto sino de meu salto alto preto, que acompanha calça skinny preta cintura alta, um top ombro a ombro roxo e a jaqueta de couro que comprei no semestre passado, e os gritos animados de uma despedida de solteira em um restaurante chines na frente da entrada da viela, outro lado da rua, são os únicos sons que escuto, a rua é comercial, por isso o silencio e portas fechadas em plena onze da noite de uma sexta.
Paro de andar no meio da viela, e olho ao redor, encontrando apenas vejo paredes de tijolos, uma com grafites por toda ela e a outra com uma porta roxa bem no centro, no final da viela, há uma grande caçamba de lixo. Nenhum sinal de bar ou sequer de pessoas.
Retiro meu celular do bolso e abro a conversa com Dante, sua última mensagem, uma foto dele tomando café e a mensagem "isso é café de verdade", abaixo desta surge na tela, e eu começo a digitar:
"Isso é algum tipo de armadilha idiota?"
A resposta vem só depois que uma garota se inclina no parapeito do restaurante para vomitar e um carro acelera pela rua.
"Nsp emtedf"
Franzo o nariz, ele está terrivelmente bêbado, fala sério.
"Tô na viela do tal bar, mas não há nenhum bar aqui"
Pelo menos dessa vez, a resposta surge segundos depois, mas com mais erros gramáticas do que a primeira:
"Respeta ao"
Espera? Respeita? Respira? Que diabos?
Um barulho soa a minha frente e eu pulo, enfiando a mão no bolso e pegando o canivete, meu coração batendo como um louco enquanto procuro o causador do barulho. Felizmente, ou infelizmente, é a porta roxa, que solta um rangido alto enquanto é aberta, um Dante, cambaleante, surge em seguida.
— Morena – Ela soa animado, seu corpo cambaleia e ele se apoia na porta, que range quando ela abre mais, o levando junto.
— Porra – Guardo meu celular e canivete de volta no bolso e me aproximo dele, segurando seu braço quando ele cambaleia para frente ao se soltar da porta – Isso é seu modo de dar boas-vindas? – Ele solta um riso enquanto o arrasto para dentro.
— Quer um beijinho? – O hálito de whisky me atinge quando ele sua cabeça se inclina na minha direção.
— Não, e não acredito que bebeu whisky sem mim.
A porta atrás de nós se fecha, nos deixando sozinhos em um longo corredor de paredes de concreto, outra porta roxa a nossa frente, as palavras "Mattones Pub" pixada nela. Bar dos tijolos, genial. Dante cambaleia para frente e abre a porta, finalmente o som de música alta me atingindo, junto com uma onda de calor.
— Vem – Ele agarra minha mão, coloca uma pulseira roxa nela e me puxa para dentro – Você precisa beber. – Sua voz grita por cima da música, mas não o respondo, meus olhos atraídos para o palco.
O lugar todo é escuro, iluminado por feixes de luzes que variam entre branco e roxo, juro que a cor de minha roupa não foi intencional. No lado direito, consigo ver um grande bar cobrindo toda a parede, prateleiras com bebidas indo até o teto, todas iluminadas por luzes roxas, parece com o Nido, mas maior e com algo diferente, a esquerda, no meio da pista de dança, que me faz ficar estática no meio de corpos dançantes, minha mão se desprendendo de Dante e ele sumindo pela multidão.
Há um palco bem no centro da pista de dança, um poste de pole dance descendo do teto, iluminado por um único holofote, onde uma garota que reconheço a metros de distância dança. Suas mechas roxas ficam em evidencia graças à luz branca, e elas tampam seu rosto enquanto ela gira pelo poste, as pessoas ao redor erguendo as mãos e gritando para ela ir mais rápido quando o ritmo da música aumenta.
Seu corpo, coberto por um vestido preto curto, sobe pelo poste enquanto ela continua rodando, seus saltos e mãos os únicos suportes. Meus olhos acompanham em choque Martina fazer movimentos e acrobacias incríveis, o ápice quando suas pernas deixam o poste, inclinando-se para trás, de ponta cabeça, suas mãos a única parte do corpo agarrando o poste. Um grito geral soa e eu me vejo batendo palmas junto, ainda chocada de como sua espinha não se partiu em dois.
Desvio o olhar do palco quando Martina desce dele, e olho ao redor, procurando Dante, decidindo ir em direção ao bar. Dante não está sentado em nenhuma das banquetas ao redor do lugar, não o encontro também quando passo os olhos pela multidão próxima. Dou de ombros e me inclino contra o tampo do bar, de algum tipo de pedra fria com pequenos pontos brilhantes roxos. Peço uma marguerita, e quando a recebo, gratuitamente graças a pulseira, sorvo um grande gole olhando ao redor, meus olhos parando no outro lado do balcão.
— Fala sério – Resmungo com raiva enquanto o vejo erguer a mão para dar outro gole em sua bebida e quase se desequilibrar do banco e cair para trás – Não se meta Anabela – Murmuro a mim mesma, e consigo cumprir até minha bebida acabar, meus olhos nunca saindo da figura, acabando por flagrar quando ele pede outra bebida, mesmo quase caindo de bêbado, bufo e me levanto – Foda-se.
Deixo meu copo vazio sobre o balcão e me desencosto dele, pisando com raiva enquanto dou a volta no balcão. Pietro não ergue o olhar quando me sento ao seu lado, possivelmente porque ele mal consegue manter a cabeça em pé.
Ok, a verdade é: eu sou uma merda dando conselhos, não sei ser fofa, carinhosa e todas essas coisas necessárias, ainda mais estando meio bêbada, para piorar, tive um pai quase alcoólatra e não foi fácil para uma criança lidar com isso, ainda mais que com o meu pai sendo o meu pai, a única forma de ajudá-lo era gritando e jogando coisas pesadas em sua cara. Pietro não gosta de mim, e sinceramente? Ele e toda sua família parecem muito com o senhor Coppola. Irei por esse caminho.
— Você é um completo idiota. – Exclamo, finalmente atraindo sua atenção para mim. Pietro pisca lentamente para mim, então desvia o olhar e pega seu copo meio cheio – Fala sério. – Roubo o copo de sua mão e viro todo o conteúdo na boca. O whisky desce rasgando pela minha garganta, mas seguro minha careta.
— Que merda é essa? – Pietro explode, agarrando o copo com raiva, retirando-o da minha mão, rápido demais para alguém podre de bêbado. Ele olha para o copo, seu rosto se fechando, ele ergue a mão pedindo outra bebida antes de olhar com raiva para mim.
— O que foi? Estava com sede. – Abro um sorriso angelical.
— Não fode – Ele cospe, seu hálito de bebida me atingindo. – Peça sua própria bebida.
— Então, esse é o caso – Um garçom se aproxima com um copo de liquido transparente, um fodido copo americano, cheio até o topo. O pego antes que Pietro o alcance – Eu vou beber toda bebida que você pedir, até a merda de cérebro que você tem aí dentro voltar a funcionar - Ele me olha em choque por alguns segundos, antes de esticar o braço, tentando alcançar o copo. Me afasto a tempo e sorvo um gole da bebida, quase a cuspindo em seguida. – Porra, que merda é essa?
— Absinto – Pietro sorri debochado – Você pode devolver se não conseguir beber. – Semicerro os olhos em sua direção e dou outro gole, engolindo com rapidez tentando evitar sentir o liquido forte. Pietro literalmente rosna – Você não tem que ir foder com meu primo?
— E você não tem que ir a uma clínica de reabilitação? – Respondo no mesmo tom, seu rosto desfranze, surpresa o invadindo, seguido de algo parecido com magoa. Merda – Ok, peguei pesado, mas vocês só parecem entender desse jeito.
— Quem você acha que é? – Sua voz, antes meio enrolada, agora é completamente séria, como se ele tivesse sóbrio, apenas seus olhos mostrando a verdade. – Por que está aqui?
— Porque alguém precisa fazer você entender e te ajudar.
— Entender? – Ele ri com raiva e ergue a mão, se virando para frente e pedindo outra bebida, me ignorando e ignorando o resto da frase. Aproveito a deixa e empurro o copo, pela metade, para o primeiro cara que passa por nós. – Eu não preciso entender nada.
— Jura? Não é o que o seu atestado de alcoólatra sugere – Ele me olha tão surpreso quanto antes, mas dessa vez, não peço desculpas – Você acha legal foder sua própria vida com essas merdas? – Pergunto, outra bebida chegando, dessa vez uma garrafa de cerveja, que a pego antes dele. – E em troca de que?
— Você não entende – Ele murmura com raiva, seu olhar para a garrafa nas minhas mãos – Não entende o que é sentir dor.
— Não entendo? - Solto um riso forçado - Ok, eu posso não entender como é ter sua orientação sexual menosprezada e banalizada por alguém que ama, mas eu entendo de dor, pra caralho – Ele me olha com deboche e eu fecho a mão com força em torno da garrafa, esse cara pode ter uma merda problemas, mas não pode banalizar o dos outros – Você está olhando para a garota cujo o pai escondeu a existência de um irmão e que a mãe estava viva por quase quinze anos, que nem mesmo quando via a filha no hospital toda fodida após um acidente de carro no racha que usou de válvula de escape desde os quinze anos, contou a verdade. Que não viu ninguém da família por parte de mãe por muito tempo e que teve que cuidar, com apenas seis anos, do pai que afogava as magoas na bebida e quase virou um alcoólatra – Meus olhos estão faiscando de raiva nesse momento, e Pietro parece perceber, já que desvia o olhar. Dou um grande gole na bebida, tentando engolir junto o bolo em minha garganta – E se ainda não estiver satisfeito, teve uma arma e uma faca apontada para a própria cabeça. Então sim, eu entendo sobre dor, mas não, não entendo exatamente a dor que está sentido.
— Eu me expressei errado – Ele admite, em um sussurro – Mas essas palavras não vão adiantar em nada – Suspiro e bebo outro gole, procurando paciência. Pietro ergue o olhar para mim – Como sabe que é por isso que eu bebo?
— Fran me contou – A verdade escapa pela minha boca antes que eu possa analisar, ok, a bebida já está me afetando.
— Claro – Ele ri – Porque todos adoram falar do meu problema, falar do fardo que eu sou, de como gostariam de se livrar de mim
— Você tá zoando? – Pergunto em choque.
— É claro que não – Ele vira todo seu corpo na minha direção, sua perna balançando contra o ferro do banco, com raiva ou algo parecido – Eles querem se livrar de mim, já tentaram antes.
— Sim, tentaram te ajudar a tratar seu problema – Ele revira os olhos.
— Se queriam tanto me ajudar, porque não me forçaram a me internar em uma maldita clínica?
— Porque eles se importam muito com você – Ele franze a testa, confuso. Respiro fundo e tomo outro gole da cerveja – Porque Martina não conseguiria ficar longe de você, deve ser coisa de gêmeo ou qualquer merda desse tipo – Reviro os olhos – E eles se importam com ela, então aceitaram a atitude egoísta dela e não te internaram.
— Eu deveria estar agradecido?
— Sim porra! – Bato a garrafa no balcão – Eles sofrem te vendo nesse estado, eles querem te ajudar a sair dele, mas eles são orgulhosos demais para pensar apenas em você.
— Isso foi o que eu disse. – Franzo o cenho, minha mente meio devagar por causa da mistura de bebidas.
— E se você se importa com eles e consigo mesmo, deveria tomar essa atitude por conta própria, você não pode esperar que eles sempre te salvem, não dá para salvar alguém que não quer ser salvo. Faz sentido? Porque na minha cabeça fez.
Pietro se vira para frente e encara a garrafa, temendo que ele a beba, pego-a e viro todo o resto do conteúdo na boca, quando termino, o encontro na mesma posição, pelo visto, seu objetivo não era a garrafa.
Coloco-a vazia no balcão, e quando giro para frente, preciso segurar por alguns segundos o balcão quando uma tontura me atinge.
— Meu pai foi a única família que me restou – O ouço murmurar e o olho, prestando atenção, seu olhar ainda preso no mesmo lugar de antes – Ele costumava ser meu herói quando criança, combatendo o crime e...
— Você sabe que seu pai é um policial corrupto que encobre mortes para ajudar traficantes né? – O interrompo, ele bufa e me ignora.
— Eu nunca fui fã de esportes, carros e todas essas merdas que garotos gostam, e ele sempre achou isso estranho em mim, achou que algo estava errado comigo, e quando eu o contei que eu era gay, esperava que ele finalmente me entenderia e me visse com outros olhos – Ele nega com a cabeça – Ele me viu, mas com nojo, com desprezo e não como seu filho – Mordo o lábio e alcanço sua mão apoiada em seu joelho, a apertando com força, tentando lhe passar algum apoio. Foda-se, ele estava certo, eu não entendia porra nenhuma – Sabe o que foi ainda pior? – Ele me olha com raiva - Que quando Martina o contou, ele não a olhou diferente, ele não a achou anormal ou algo do tipo ele... – Ele bufa e nega com a cabeça.
— Então você encontrou a bebida como válvula de escape.
— Não tão radical quanto rachas – Compartilhamos um sorriso – Eu só precisava de uma forma de acabar com toda essa dor.
— Tem formas melhores de lidar com ela – O olhar de Pietro me mata por dentro. Ele me olha perdido, esperançoso e desesperado.
— Como? – Suspiro.
— Eu não sei – Sou sincera, e isso o quebra – Mas ultimamente, eu encontrei algo.
— O que?
— Vingança – Minha voz soa tenebrosa e eu solto uma risada – Foi mal, eu quis dizer encontrar o assassino por trás de todas essas mortes. Eu esqueci toda a merda que aconteceu na minha vida, me focando apenas nisso, em vingar a morte dessas garotas inocentes.
— E quando você não estiver mais investigando isso? – Dou de ombros.
— Então farei como fazia antes de Luna morrer, me focarei em ser uma boa detetive e poder ajudar outras pessoas como eu quis ser ajudada.
— Não sei como eu poderia fazer algo assim.
— O que você estuda?
— Politica – Faço uma careta, que o faz rir – Meu pai sempre disse que queria um filho político. Qual é, até que é legal.
— Bem, então foque em ser o melhor político que o mundo já viu, não por ele, mas por você. Crie leis que acabem com o preconceito no mundo, que prendam homofóbicos de merda e arranque seus dedos.
— Você parece bêbada – Ergo as sobrancelhas na sua direção.
— Você não é o primeiro e nem será o único que foi rejeitado após se assumir, o que é uma merda, mas é a verdade – Continuo - Você pode apoiar outras pessoas, mas se quiser, vai precisar parar de beber. – Ele suspira.
— Sabe, Martina falou uma vez que temos essas orientações sexuais porque não fomos amados. Ela queria ter a mãe, passar por momentos de meninas, e eu sempre quis meu pai por completo.
— Sinto muito pelo que passaram – Aperto sua mão - Mas vocês não estão sozinhos, você tem sua irmã, gêmea, que te ama tanto que chega a ser egoísta, e tem sua família, caras que socariam todo mundo só para te defender – Ele abre um sorriso - Sabe, eu demorei a entender que tentar acabar com minha vida, não traria minha mãe de volta e nem faria meu pai ser menos maluco, mas quando entendi, a vida se tornou mais fácil, ainda dolorida, mas mais fácil.
— Obrigada por me ajudar aquele dia, e me desculpe por ter sido um merda desde então, só... não sabia como agir– Inclino a cabeça e abro um sorriso.
— Me agradeça sendo melhor, seja um Pietro melhor, viva sua vida, seja feliz. – Sou surpreendida por seus braços ao meu redor e seu corpo esmagando o meu.
— Metade das coisas que você disse não fez sentido, mas obrigada, eu... – Ele se afasta e me olha sério – Eu vou tentar, eu prometo.
— Não prometa isso para mim, prometa para você – Dou um tapinha em seu ombro e me afasto, descendo do banco e quase caindo no chão. Pietro segura meu braço enquanto eu tento me equilibrar nos meus saltos e parar de ver tudo rodando.
— Você é fraca pra bebida em.
— Ah cale a boca, pelo menos meu fígado ainda está inteiro – Ele franze o rosto.
— E fala muita merda também. – Sua mão me solta e eu ergo o dedo do meio.
— Isso é por todas as vezes que foi idiota comigo. Agora eu preciso ir mijar.
Cambaleio para longe dele a caminho das portas pretas ao fundo. São três no total, sem nenhuma sinalização de qual seja o banheiro. Foda-se, a direita. Abro a porta, meu corpo tombando para frente como Dante há minutos, ou horas, atrás, e eu caio de joelhos no chão.
— Bela? – Ergo a cabeça, encontrando Dean em pé, parado a minha frente.
— Ah não, o traidor. – Murmuro e tento me erguer, com dificuldade. Seus passos se aproximam de mim e me ajudam a me levantar, penso em negar, mas o chão está gosmento e eu quase escorreguei – O que faz no banheiro feminino?
— Esse não é o banheiro feminino. – Já de pé, o olho confuso, então, atrás dele, vejo prateleiras. Não é o banheiro feminino, é um escritório, mais vazio que o de sua casa com apenas uma prateleira, uma mesa e cadeira.
— Tava brincando de mimica? – Pergunto olhando para a lousa do outro lado da sala.
— Não, essa é a lousa das investigações. Você está bêbada?
— Porque você trouxe a lousa? – Afasto seus braços de mim, dando alguns passos para trás e o olho com raiva – Já arrumou alguém para me substituir?
— Substituir? – Ele repete, lentamente, seus cabelos desarrumados caindo sobre sua testa. Merda, ele está bonito, como sempre, porcaria.
— Você me tirou do caso com a rapidez de tirar uma calcinha.
— Como no banco de trás do meu carro? - Abro a boca em choque.
— Você só fala merda, quando não fala faz merda - Bufo, soprando uma mecha que caia em meu rosto.
— Merda é? - Dean cruza os braços e me olha risonho - Tipo o que?
— Tipo me tirar do caso, mentir pra mim - Ele revira os olhos - E não me procurar nenhuma vez nessa semana, nem para me beijar, seu traidor. – Dean respira fundo e passa as mãos no rosto antes de voltar a me olhar.
— Nós fizemos aquilo para te proteger.
— Tá tá tá – Aceno com a mão – Dante já me disse esse discurso e eu entendo.
— Dante? – Seu rosto se fecha – Você andou se encontrando com Dante?
— Tá com ciúmes? – Inclino a cabeça, um sorriso debochado em meu rosto.
— Não vou discutir com você nesse estado.
— Que estado? - Exclamo - Estou ótima - Dou uma volta, cambaleando um pouco no caminho — Você que não sabe se defender.
— Sério? - Ele bufa - Pensei que já tínhamos superado o lance da mentira. - Levo quase um minuto para entender sobre o que ele tá falando.
— Buh - Bufo - Quando? - Semicerro os olhos em sua direção - Se você falar sobre nossa foda, eu chuto seu pau.
— Uau, que agressiva - Ele inclina a cabeça, seu rosto com um sorrisinho idiota.
— Foda-se. Eu não perdoei, eu superei é diferente - Ele ergue as sobrancelhas.
— Se tivesse superado não estaríamos tendo essa conversa.
— Não estamos tendo essa conversa por isso.
— Porque estamos então? Porque eu não to entendendo merda nenhuma. - Só agora percebo que ele aproximou-se de mim, o que não é bom pros meus pensamentos.
— Cazzo - Xingo - Porque eu estou cansada.
— O que isso quer dizer?
— Que eu estou cansada - Me viro, meus cabelos chocando contra meu rosto com o movimento, e atravesso a sala – Eu estou cansada de todo mundo mentir para mim, meu pai mentiu para mim, meu ex namorado mentiu para mim, minha ex melhor amiga, e toda sua família – A cada fala, me afasto mais dele – Mas acima de tudo, eu estou cansada de sentir essa... essa... - Agarro minha blusa na região do peito, procurando as palavras certas - Essa coisa por você.
— Coisa? - Dean para no meio da sala, seus olhos levemente arregalados me encarando - Que tipo de coisa?
— Porque essa coisa não vai me fazer bem, porque você é do mal, faz coisas erradas e é um tremendo mentiroso! - Ando pela sala, dando a volta na mesa e passando ao seu lado, que apenas me acompanha com os olhos - Você não confia em mim e eu não confio em você e relacionamentos são construídos a base de confiança e... - Sou impedida de terminar de falar pela falta de ar que me atinge.
O corpo de Dean está contra o meu, meu corpo precisando contra a porta, tão próximo que consigo enxergar pontos de verde escuro em seus olhos, seus cílios longos quase encostando em suas maçãs do rosto quando ele abaixa o olhar para me olhar.
— Eu não sou o vilão dessa história Bela, nunca fui, e você sabe disso - Sua voz é um sussurro rouco que gera um arrepio na minha espinha - Eu faço coisas erradas sim, mas não me orgulho delas, e isso não me torna bom, mas me torna alguém melhor do que o que você inventou em sua cabeça - Suspiro quando seu peito pressiona o meu, meus mamilos enrijecendo contra o tecido da minha blusa - E eu menti para você, mas não me arrependo, porque se não fosse por isso, talvez eu não teria me... - Ergo o olhar de seus lábios, esperando ele terminar. Dean analisa meus olhos azuis, e engole em seco - Mas sei isso ainda te machuca, peço desculpas. - Pisco algumas vezes, minha cabeça e pensamentos rodando.
— Não machuca - Sussurro - Só...
— Uma chance - Sua mão se ergue e seu dedo acaricia minha bochecha, e inclino o rosto contra sua mão - Me dê uma chance de provar que vale a pena confiar em mim, que eu valho a pena – Fecho os olhos – Me dê uma chance Bela.
Abro os olhos com o apelido que sempre me causa arrepios e olho seus olhos. Quando ele me tirou do caso e nem me procurou para pedir desculpas ou só... sei lá, dizer um oi, minha raiva por ele foi as alturas, e eu sabia que assim que o visse, iria explodir, sóbria ou não.
Acontece que a bebida pode ter me deixado meio... maluca, e apesar de só ter falado coisas das quais realmente pensava, Dean sempre deixou claro não confiar em mim, e apesar de nossos momentos recentes, eu continuei com um pé atrás a respeito dele, mas eu não queria revelar isso, nem que sinto algo por ele, seja o que for.
Meus olhos vagaram pela sala enquanto pensava, e meus olhos focalizam a lousa do outro lado da sala, parando no que eu coloquei no lugar dos nomes das garotas antes de os saberes. Alpha, Sciame, Bianca era Corvi, Luna Locuste, Letitia Alpha e...
— Puta merda – Exclamo.
— O que? Isso é um não? – Empurro o corpo de Dean para longe, querendo me aproximar da lousa. Dean vem atrás de mim, tagarelando sobre chances, confiança e outras merdas.
— Cala a boca – Mando, surpreendentemente sendo atendida – Você está vendo isso? – O olho sobre o ombro. Dean suspira e se aproxima, parando ao meu lado.
— Uma lousa? Ou a bebida te deixou ainda mais maluca e está vendo unicórnios e outras merdas.
— Sciame – O interrompo antes que ele continue a tagarelar besteiras. Dean franze o cenho e me olha confuso – Sciame, a próxima garota vai ser uma Sciame.
◤ NOTAS FINAIS ◥
Hey amores, desculpe a demora, a parte da Ana confusa deixou confusa até eu, acabei me perdendo um pouco.
Espero que a raiva de vocês pelo Pietrinho tenha diminuido e espero que tenham gostado.
Muito muito muito obrigada pelos 70k, vocês são incríveis, como sempre, e sem mais enrolar aqui para postar logo, beijos e até o próximo.
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