cinquantaquattro
Não sei que horas são, que dia é, como cheguei aqui nem a quanto tempo estou encarando o relógio no alto da parede cinza. Meus olhos piscam a cada poucos segundos, minha respiração continua estável e meu coração batendo, é a única coisa de que tenho certeza desde que tomei noção de tudo o que aconteceu.
A raiva e a sede de vingança é um bom combustível para não quebrar, e foi o meu pelos últimos meses. Quando vi Luna morta, a raiva e a sede de vingança conseguiram passar por cima da tristeza e não me permitiram entrar em estado de luto até concluir meu objetivo, por isso, apesar de ter chorando por um tempo, me recuperei e decidi lutar antes de desabar.
Quando vi Letitia morta, a raiva e a vingança serviram novamente de combustível, por um tempo, elas não conseguiram ser suficientes, e precisei da esperança e determinação de Fran para continuar, então, não tive tempo para entrar em estado de luto e fui lutar, novamente.
Eu devia saber que quando a luta acabasse, o estado de luto por duas das pessoas mais incríveis que passaram pela minha vida, seria insuportável, e somar ele com o fato de ter visto o garoto pelo qual odiei e depois passei a nutrir sentimentos, baleado, poucos minutos depois de admitir que me amava, e sem fazer ideia de como estar, torna tudo mil vezes pior.
Percebo que tenho certeza de outra coisa: lágrimas não deixaram de molharem meu rosto desde que tive que ser arrastada por meu irmão para longe de Dean e da ambulância que o levou para longe de mim.
Um estrondo soa a minha esquerda e desvia minha atenção dos ponteiros do relógio, finalmente percebo onde estou, Ammou. Pisco os olhos várias vezes e olho ao redor, me recordando vagamente de como vim parar aqui.
Eu não reagi bem, nem Dante, enquanto ele teve que ser segurado por Ettore, minhas duas amigas tiveram que me segurar até meu irmão surgir com Pietro, então, eles pareceram lembrar algo sobre todos estarem sendo levados para uma pequena delegacia de bairro de Ammou, mais quatro horas depois e provavelmente outro dia, estamos aqui.
Kaori e Zoe estão sentadas nos bancos ao meu lado, Fran ao lado da loira e Dante, que parecia ter estado dormindo, ao lado de K. A delegacia é pequena, duvido que tenha mais do que uma cela, provavelmente uma das únicas não corrompidas por De Luca, e por isso não há bancos o suficiente, deixando Pietro, Ettore e meu irmão sentados no chão a nossa frente. Mas assim que o barulho soa novamente, todos nos levantamos e acompanhamos a movimentação na porta em silencio.
Vejo dezenas de Alphas, ainda vestido com as jaquetas, passarem algemados por nós, policiais com roupas que não reconheço passando pela secretária que parece em choque com tanta movimentação, até o corredor que leva para a cela, por último, atrás deles, vejo o que deve ser o delegado desse grupo entrar, meu pai ao seu lado, vê-lo me faz fechar as mãos em punhos com força, infelizmente, não tenho tempo de o confrontar antes dele sumir pelo mesmo corredor que os outros.
Encaro a porta de vidro da entrada ansiosa, esperando ver De Luca ou Dean passarem por elas, mas elas se fecham, e nenhum deles passam. Desabo de volta no banco, meus amigos me acompanhando, Dante o único que decide avançar pelo corredor, e como os guardas desse distrito parecem perdidos, não sabendo como lidar com casos que não sejam furtos ou assaltos, o deixam passar sem problemas.
Olho outra vez ao redor, e pela primeira vez eu vejo o rosto abatido de todos. Meu irmão está uma merda, Pietro parece ainda pior, Ettore e Francesca terminam o quadro de merda que somos, Kaori e Zoe parecem as únicas mais felizes do que tristes pela situação, e nem posso julga-las, o objetivo delas fora concluído, e apesar de saber que elas não odeiam Dean, sei que não estão tão abatidas quanto o resto de nós, irmãos, primos e amigos dele.
Fecho os olhos e encosto a cabeça contra a parede. Quero estar feliz, quero gritar aos quatro ventos que eu consegui, que conseguimos nos vingar das garotas inocentes que se foram, porra eu quero sorrir e soltar a risada mais sincera e verdadeira em meses, mas não consigo, porque a tristeza de ter perdido Luna e Letitia finalmente me atinge por completo, e só agora percebo que apesar de tudo, nada vai trazê-las de volta.
Eu não vou comemorar nenhum aniversário com Luna, não receberei mais mensagens de Letitia com fotos de bebes e merda, eu não vou ser madrinha de seu bebe, eu não sei como consegui passar por todos esses meses sem desabar.
— Ele está no hospital – Abro os olhos quando ouço a voz de Dante, sua voz em um tom não irônico ou risonho como estou acostumada – Ele levou dois tiros, não sei como está – Engulo em seco.
— E De Luca? – Ettore pergunta.
— Também. – Franzo o cenho, De Luca no hospital? Ele nem levou a porra de um tiro! E se isso tudo for uma armadilha?
Me desencosto da parede e arregalo meus olhos, desperta de repente, olho ao redor e só então reparo na falta de alguém.
— Cadê Martina? – Pergunto, minha voz sai estranha até mesmo para mim. Todos me olham e depois se encaram, parecendo fazer a mesma pergunta – Ela estava no meio da multidão, do outro lado da rua.
— Tem certeza? – k pergunta - Eu não a vi em nenhum momento. – Um suspiro coletivo é solto.
— Como está Dean? – Pietro pergunta.
— Bem – Dante suspira e se senta no chão, o alivio em seu rosto faz um trilhão de pesos escaparem de minhas costas – Eles serão trazidos para cá em breve.
— Ele vai ser preso? – Fran pergunta.
— Sim, merda, sim. – Dante leva as mãos aos cabelos e os puxa com força, angustiado e enraivecido.
Todos começam a resmungar e debater, mas meus olhos se desviam para a figura que sai do corredor e vai em direção a porta de vidro, não penso duas vezes antes de me levantar e seguir meu pai.
Respiro fundo quando sinto o ar da noite atingir meu rosto, meu pai sempre disse que o ar de Ammou era diferente do restante da ilha, algo haver com as arvores e a vegetação, mas para mim, parecia mais poluído. A porta atrás de mim se fecha e eu respiro fundo antes de encarar meu pai. Eu pensei que nunca sentiria mais raiva por ele do que no dia que o encarei em busca da verdade sobre minha mãe e irmão, mas agora, me sinto tão brava quanto.
— Esse não era o acordo. – Afirmo, o encarando com raiva, minhas mãos estão fechadas em punho e tento manter em mente que ele é meu pai, que não posso socá-lo.
— Era o meu acordo com ele. – Pisco confusa.
— O que? – Ele respira fundo e leva uma mão a testa, coçando.
— Minha condição era que prenderia todos eles – Aponta para a porta da delegacia – Não só o De Lucca – Abro a boca, não deveria estar tão chocada, mas estou – Ele não aceitou, mas falou que aceitaria se fosse só ele, absolvendo seu irmão e primos, eu aceitei. – Passo as mãos no rosto e respiro fundo.
O discurso de antes do plano em ação vem a minha cabeça e todas as peças parecem se encaixar. Tenho raiva de Dean, ao mesmo tempo que sinto meu coração dobrar de tamanho, porra Bianchi, maldita hora para dar uma de herói.
— O que você tem com esse garoto? – Abro os olhos e encaro meu pai.
— Estou apaixonada por ele – Ele arregala os olhos – E só percebi quando o vi ser levado para longe como um maldito criminoso. – Meu pai inclina a cabeça.
— Acho que você esqueceu de que ele é líder de uma gangue? Que isso literalmente o faz ser um criminoso. – Solto um riso seco, regado de raiva e descrença.
— Fala sério senhor Coppola – Ele ergue as sobrancelhas – Ele é um criminoso porque os Ghostins era literalmente a única fonte de renda dele? A única coisa que restou da família dele e a que ele foi preparado para assumir? – Nego com a cabeça, e solto uma risada alta quando percebo que nunca diria isso a meses atrás, pelo visto o amor é uma droga maluca – Ele traficava drogas sim, isso é errado sim, mas me diga, quantas outras coisas erradas não fazemos todo santo dia e não somos presos por isso?
— Não estou entendendo.
— E quando encontramos um dinheiro na rua e não devolvemos ao dono? E quando falsificamos identidades para entrar em boates não permitidas para menores? Merda, e quando vendem bebidas para esses mesmos menores? – Respiro fundo – Eu sei que Dean não é um santo, mas quer saber? Eu também não sou, eu corri em rachas ilegais e recebi dinheiro ilegal por eles, eu vandalizei uma propriedade privada e... – Nego com a cabeça – O que eu quero dizer, é que todo dia, alguém de nós faz algo ilegal, e não vai preso por isso, não se arrepende por isso, pelo menos Dean sentiu algum tipo de remorso e quis mudar, ser diferente, ao contrário de seu tio que parecia bem contente com tudo o que fez.
Estou respirando pesado quando ergo o olhar para o meu pai e o encontro realmente surpreso, seus olhos me analisam com atenção, parecendo finalmente ver algo em mim, ele engole em seco e desvia o olhar.
— Não acredito que minha garota finalmente encontrou o amor e é por um Bianchi.
— Finalmente? Eu gostei de... você sabe quem, antes. – Ele nega com a cabeça.
— Você sabe o que eu quero dizer.
— Sei?
— Você e... você sabe quem – Ele franze o nariz em desgosto – Vocês se conheciam desde crianças, ele sentia algum tipo de gratidão pelo que você fez, talvez até admiração, e você nunca foi fácil para arranjar amigos, para você, Kaori sempre fora suficiente, e quando finalmente surgiu outra pessoa, e era um garoto... eu nunca achei que vocês fossem durar – Abro a boca em choque, realmente surpresa – E graças a Deus estava certo.
— Ainda não estou entendendo.
— Você chorou quando levou chifres? – Reviro os olhos pela sua forma de falar.
— Claro que sim.
— Mas você chorou pelo o que? – Semicerro os olhos, querendo entender sua linha de raciocínio – Por ele ter partido seu coração, ou por ter acabado com sua dignidade?
O encaro em silêncio, sem saber o que falar ou fazer, porque pela primeira vez desde o acontecimento, e agora, sentindo o que sinto por Dean, sei que ele está certo. Nego com a cabeça.
— Foda-se isso, já passou, eu quero saber de Dean – Ele revira os olhos – Você tem que solta-lo.
— Mesmo que eu sentisse algum tipo de compaixão por ele, e não sinto, não posso fazer isso.
— Por que n...
Minha dúvida é interrompida pela sirene que soa pela rua, cada vez mais alta até parar a nossa frente. Preciso me apoiar na parede para conseguir ver policiais abrirem as portas traseiras dos dois carros, e De Luca e Dean passarem por elas.
Todo o meu ar fica preso na garganta quando o olhar de Dean se cruza com o meu, e apesar da tipoia em seu braço esquerdo e de eu o perceber mancando levemente, o desgraçado pisca um dos olhos antes de passar pelas portas de vidro. Por que ele parece calmo? Por que ele não está furioso? Por que ele não está furioso como seu tio?
— Se você acha que se livrou de mim ninfeta – Ergo o queixo quando ele grita sendo empurrado para as escadas de entrada – Está muito errada, e acabou de colocar seu querido amor na prisão – Seu olhar é puro ódio quando praticamente rosna para mim: - E quando eu voltar, eu vou acabar com você. – Ele tropeça e acaba caindo de cara no chão, me deixando mais surpresa do que pelas suas palavras proferidas.
De Luca é erguido de volta para cima pelos dois guardas que o acompanham, um gemido alto de dor escapa pela sua garganta e percebo que pelo sangue que sai de seu nariz, ele está quebrado.
— Você está fodida Coppola, fodida! – Mas meu olhar está no pé que meu pai retorna para o lugar de antes, ele o fez tropeçar, e isso quase me faz sorrir, mas quando De Luca desaparece, volto a encara-lo com raiva.
— Está vendo? – Aceno para as portas, meu coração ainda martelando com força contra meu peito após ver Dean, mas preciso lutar por ele aqui – Você viu quem realmente é o criminoso aqui?
— Anabela...
— Ele acabou de me ameaçar! – Grito, e em um ato de desespero, agarro meu pai pelo colarinho - Você acha que eles gostam dessa vida? – Pergunto, me referindo aos garotos – Acha que gostaram de ter a adolescência estragada tendo que lidar com uma merda que o pai os deixou para cuidar?
— O pai dele o obrigou? – Fico em silencio – Não, ele aceitou porque quis, todos eles aceitaram porque quiseram. – Reviro os olhos. Não adianta o que eu fale, ele nunca irá escutar.
— Pelo menos esses traficantes são uma família de verdade, se apoiam e se amam. – Meu pai bufa.
— Você vai jogar isso na minha cara para sempre? – Se refere a minha mãe e irmão.
— Vou – Afirmo – Vou porque você é a porra de um egoísta que não pensa em ninguém, não pensa em mim, não pensou na mamãe, e não pensou na porra de um garotinho que tinha você como um pai. – Quando termino de falar, estou quase gritando novamente. Meu pai me olha com raiva e retira minhas mãos de sua roupa, quando dou um passo para trás, ele respira fundo várias vezes antes de argumentar, em um tom bem mais ameno do que antes.
— Quando voltei de Roma, me reconciliei com sua mãe um mês depois, e dois meses depois, ela me disse que estava grávida – Dou outro passo para trás quando percebo que ele finalmente vai me explicar sua parte da história – Eu pensei que Matteo tinha nascido com apenas seis meses, depois eu descobri que no mês antes de nossa reconciliação, ela havia engravidado de Daniel Bianchi. Eu amei seu irmão no mesmo momento que o vi, eu estive lá quando aprendeu a falar, a andar e no seu primeiro dia na escola, eu o amava.
Ele cruza os braços e desvia o olhar.
— Eu comecei a trabalhar no caso Bianchi quando ele tinha dois anos, a delegacia de Ammou queria a cabeça dele a todo custo, principalmente quando ele começou a interferir nas outras delegacias da ilha. Quando Matteo tinha seis anos, meu superior me chamou na delegacia, quando cheguei lá, ele me mostrou uma investigação que fizeram e descobriram que sua mãe esteve envolvida com ele e que engravidou dele – Ele solta uma risada – Eu não sabia se ficava mais furioso por descobrir tudo aquilo pelo meu superior, ou se ficava chateado com sua mãe por me esconder isso. O primeiro ganhou quando eles falaram que iriam prender sua mãe e usariam seu irmão para tentar atingir Daniel.
Sinto como se eu tivesse levado um tapa.
— Eu cheguei em casa e pedi a verdade a sua mãe, quando ela confirmou tudo, pedi para ela ir embora no mesmo dia, não porque não iria suportar ver seu irmão ou ela depois de tudo, mas porque eu não queria que eles o levassem – Ele engole em seco – Ela foi embora no dia seguinte e você não sabe a dor que eu senti quando a vi sair e levar meu filho junto, quando tive que te acalmar e lidar com a corregedoria depois – Ele suspira e finalmente me olha – Impedi você de se aproximar da família dela porque ela tentava contato com você, e esse contato poderia te prejudicar, eu não podia perder você também. Então sim, eu fui um idiota por esconder tudo e pôr os tirar de nossa vida, mas não me arrependo nem um minuto disso.
Fico longos minuto em silencio, sem saber o que dizer, no que acreditar. Me sinto envergonhada e admirada, mas ainda não arrependida por ter ficado com raiva dele ter escondido tudo de mim por tanto tempo.
— Você deveria conversar com Matteo. – Murmuro.
— Ele me odeia, e com razão.
— Ainda mais depois de você prender o meio irmão dele. – Meu pai suspira.
— Anabela, entenda que... mesmo que eu tentasse o livrar dessa, e só o faria por você, porque apesar de tudo, você é minha filha e eu a amo – Engulo em seco. – O caso não está mais em minhas mãos, está com o delegado de Roma e ele disse que tem provas o suficiente para o prender – Meus ombros se encolhem e eu sinto que estou prestes a desmoronar novamente. – Vai demorar até darem alguma notícia, irão interrogar os garotos da universidade ainda, é melhor vocês e os outros irem para casa descansar um pouco, aviso quando tiver alguma notícia.
Não sei mais o que dizer ou como reagir, e não acho que consiga.
Um carro freia com força ao nosso lado, dou um salto para trás e olho assustada para a BMW preta. Martina desce do carro, o monte de papeis em suas mãos a fazem ter dificuldade de trancar o carro, mas antes que eu possa oferecer ajuda, ela tranca o veículo, sobe correndo as escadas, passa por mim e meu pai e sem explicação, entra na delegacia. Meu pai e eu nos entreolhamos confusos.
— Vou embora. – Não espero uma resposta sua antes de o deixar para trás e entrar novamente na delegacia.
Assim que entro no local, não há sinal de Martina, mas todos estão de pé e vindo em minha direção.
— O que foi?
— Martina entrou correndo, pediu para falar com o delegado e sumiu. – Franzo a testa com a explicação de K, mas sinceramente, há tantas coisas em minha cabeça agora, que não sei se quero tentar entender.
— Eu preciso... – Engulo em seco antes de erguer o olhar e olhar para todos eles – Eu vou ir embora, descansar e... volto amanhã. – Alguns me olham confusos.
— Para onde você vai? – K pergunta – Se quiser pode ir para minha casa, mas... – Meu celular vibra no bolso de minha calça e quando o pego, tenho uma resposta.
— A casa de minha tia está boa – Ergo o olhar para Matteo – Vocês podem ir para lá se quiserem, descansar e comer um pouco.
— Não vou deixar meu irmão – Dante reclama. Fran dá um tapa em seu braço.
— Você vai sim, estamos aqui há quase um dia, estão todos de cabeça quente, com fome e com sono, além do mais, não estamos ajudando em nada aqui – Ela cruza os braços. Ettore solta um suspiro ao seu lado e a abraça.
— Ela está certa, vamos descansar um pouco Dante. – Dante olha para eles e então olha para mim.
— O que falou com seu pai?
— Ele... – O olhar esperançoso de Dante me mata – O caso não está mais nas mãos dele, ele não pode fazer nada. – Dante bufa.
— Claro que não, ele faz a merda e depois cai fora.
— Martina não voltou ainda, irei esperar aqui – Ninguém decide argumentar contra Pietro. Ettore avisa que vai indo com Francesca e Kaori se prontifica a mostrar o caminho com Zoe, sei que ela o conhece, já que tentamos ir visitar minha tia várias vezes durante toda minha infância e adolescência. Matteo os segue em silencio, e torço para que meu pai já tenha ido embora.
— Não quis ofender seu pai – Dante quebra o silencio, o olho assustada – Não sei que merda aconteceu para meu irmão ser preso, sei que é culpa dele, mas não serei um idiota e esquecer que ele quem nos ajudou a prender todos os culpados.
— Tudo bem – Interrompo antes que ele continue – E tudo bem ofender ele e o odiá-lo nesse momento, mas... – Nego com a cabeça, de repente, me sentindo extremamente cansada – Podemos falar sobre isso amanhã?
— Eu sei – ele passa o braço por sobre meu ombro e nos encaminha até a saída – Mas eu vou ficar com a sua cama. Seu quarto é rosa e cheio de pôsteres do One Direction? – soco suas costelas assim que passamos pela porta.
— Primeiro, estamos indo para a casa de minha tia, e segundo – Reviro os olhos – Meu quarto não era rosa – resmungo. Dean dá risada, fico feliz por o fazer rir, feliz por ele parecer um pouco melhor.
— Você não negou os pôsteres – bufo, o fazendo rir ainda mais. Me afasto dele assim que chegamos próximos ao seu carro – Qual o seu favorito? O irlandês? Opa, era, eles se separaram né?
— Cala a boca Bianchi.
Não consigo dormir, troco de posição de novo e então finalmente desisto.
— Porcaria – Resmungo e me viro de lado.
Titia surtou quando viu um monte de garotos parados em sua porta, no início, achou que fossemos assaltantes, até tentou nos acertar com um guarda-chuva, mas quando me viu, e de alguma forma reconheceu Matteo, ela largou o objeto e chorou contra o ombro de meu irmão.
Sua casa acabou ficando menor ainda com todos nós dentro dela, e após comermos pizzas, na verdade, foi mais para comer forçados por minha tia, nos espalhamos pelo local. Kaori dorme no colchão no chão, Zoe ao seu lado, Dante ficou com o sofá e Matteo com o chão, enquanto Francesca e Ettore dividem o único quarto de hospedes disponível.
Tiro o cobertor de cima e apoio os pés no chão, levantando da cama e saindo do quarto tentando fazer o menor barulho possível, apesar de a casa toda estar silenciosa, minha cabeça está uma zona e não consigo parar de pensar que foi minha culpa Dean ter sido preso, afinal, eu ofereci a ajuda de meu pai, tenho vontade de vomitar.
Atravesso em silencio toda a casa, e quando paro entre a cozinha e a sala, não sei exatamente o que vim fazer, mas não tenho tempo para pensar.
Ouço duas batidas fracas na porta da frente e sinto meu coração acelerar, são pouco mais de quatro da manhã, e ninguém apareceria aqui a essa hora, ninguém bem intencionado pelo menos, só se...
A batida se repete, mais alta desta vez, e eu me aproximo da porta da frente, olhando ao redor a procura de algo para me defender, mas só encontro o guarda-chuva no porta guarda-chuva ao lado da porta, o objeto de ataque de minha tia de mais cedo, vai ter que servir.
Antes que outra batida soe, pego o guarda-chuva e cautelosamente, destranco a porta, me xingando por não ter um olho mágico, e abro a porta devagar.
— Puta merda – largo o guarda-chuva no chão e solto um grito – Puta merda – me jogo em cima de Dean, felizmente ele reage e me segura a tempo, impedindo que ambos vamos ao chão. O abraço com força, sem acreditar, braços e pernas ao seu redor – Caralho, caralho, caralho – murmuro.
— Quanto palavrão Coppola. – Ele murmura no meu ouvido. Ouço passos e vozes se aproximando com rapidez, e ouço o grito de Dante.
— Caralho – me solto de Dean a tempo para Dante abraçar o irmão. Finalmente olho Martina e Pietro descendo do carro estacionado em frente à minha casa. Ettore e Matteo passam por mim e se juntam ao abraço dos dois. Dou alguns passos para trás, dando espaço e acabo esbarrando em Fran que sorri com a sobrancelha erguida para mim.
— Ok, isso é fofo, mas eu levei um tiro e todos estão apertando meu ferimento – Ouço o gemido de dor de Dean e me arrependo de como pulei em cima de si.
— Espera – Ettore exclama, se afastando do abraço – Que merda você faz aqui?
— Oh porra, você não fugiu da cadeia, fugiu? – Kaori pergunta encostada no encosto do sofá.
— Vamos entrar – Martina passa pela porta empurrando todos para dentro – Eu tô morrendo de fome.
— Ah mis vocês não vão comer – Zoe se põem na frente de Martina quando ela dá um passo em direção a cozinha – Não enquanto não explicarem o que aconteceu. Você sumiu o dia todo e quando aparece, some dentro da delegacia?
— Martina aconteceu – Dean fala, sem mais ninguém o abraçando, uma careta de dor no rosto. O olho confusa – Nossa garota aqui cursa artes. – continuo confusa.
— Eu falsifiquei a assinatura de De Luca naquele contrato de Dean – Abro a boca, finalmente entendendo – Dean não era mais dono de nada.
— Puta merda – Exclamo surpresa, e então olho para Dean, que está todo sorridente – Você tinha planejado tudo isso? Antes de ser preso? Você...
— Você acha que namora um idiota Bela?
— Seu – Penso em falar algo, talvez que nunca ouve um pedido de namoro oficial, mas desisto e apenas me aproximo de Dean, puxo seu rosto em direção ao meu. Os outros soltam gritinhos ao nosso redor, e só por isso me afasto. Dean sorri para mim.
— Espera – Kaori chama – Então, legalmente, vocês não são mais Ghostins? – Todos parecem se olhar, procurando a resposta, é Martina que responde.
— Não – Ela abre um sorriso, mas não tão brilhante quanto os outros, imagino que seja porque querendo ou não, ela botou seu pai na cadeia – Parece que agora somos um bando de desempregados.
Francesca solta um gritinho e abraça Ettore. Pelo que ela já havia me contado sobre o relacionamento deles, deve estar aliviada pelas chances de ele poder ser preso terem diminuído drasticamente
— Ok, agora eu preciso comer – Martina invade a cozinha de minha tia, que nem sei como não apareceu ainda, com os outros atrás, fazendo perguntas, nem tento impedir.
Me viro para Dean, atrás de mim, que me olha concentrado.
— Você se entregou para salvar eles – Afirmo, ele dá de ombros.
— Eles estavam nisso por minha culpa – Ele franze a testa – Acho que precisamos conversar?
— Sim, precisamos – Afirmo quando a alegria de o ver solto e relativamente bem, diminui - Por que escondeu de mim? – Ele respira fundo.
— Eu te disse, só... quis te proteger, e ser o herói – Ele franze o cenho.
— Dean – Nego com a cabeça – Como?
— Depois daquela nossa conversa no carro, comecei a pensar no que eu realmente quero na vida – Ele desvia o olhar para o chão – Eu nasci no meio disso, mas nunca quis isso, tive que entrar quando meu pai morreu. Nós nunca tivemos um bom relacionamento, não um de pai e filho, então, quando soube que ele queria que eu assumisse, me senti... Feliz? – Ele meneia com a cabeça – Feliz por achar que ele sentia orgulho de mim já que me confiou seu maior sucesso – Ele solta um riso frouxo – Não pensei nas consequências, não pensei que aceitando aquilo, minha família entraria nessa também, a partir de quando nossos pais e tios foram indo embora, fomos nos unindo mais ainda e prometemos que sempre apoiaríamos uns aos outros, somos cabeças duras também, eles não iriam me deixar nessa sozinho.
Ele fecha os olhos e joga a cabeça para trás
— Eles estão nisso por minha culpa, poderiam estar aproveitando a vida como universitários normais e não como traficantes de drogas. Por isso, sumi da cidade por uns dias com Dante, para irmos atrás dos papeis das propriedades que estavam em nosso nome e saber se... poderíamos viver sem precisar ser traficantes, acontece que podemos, então, eu pedi para Martina falsificar a assinatura de seu pai com um bilhete de estacionamento que consegui assinado por ele.
— Você realmente não quer mais ser Ghostin? Está preparado para deixar tudo isso? – Ele assente, e a tanta confiança e sinceridade em seu olhar que sinto a raiva que senti por ele esconder tudo de mim, sumir.
— Quero cursar o que eu quiser, quero poder sair na rua sem temer que algum inimigo nosso cruze meu caminho, quero que minha família finalmente seja feliz, e acima de tudo, quero ter você ao meu lado. Você... quer estar ao meu lado? – Solto o ar.
— Você é um idiota por ter mentido para mim, eu me preocupei pra caralho. – Ele inclina a cabeça.
— Você se preocupa comigo Bela?
— Sim – Afirmo, o que faz um sorriso brotar em seus lábios – Mas você ainda é um idiota.
— Eu sei, me desculpe por ter escondido isso de você, mas acredite, eu tive a melhor das intenções.
— Se continuar mentindo para mim, mesmo que seja com a melhor das intenções, não iremos conseguir ir muito adiante – Afirmo, e o vejo murchar a minha frente. Me aproximo de si, levo ambas as mãos ao seu rosto e o olho nos olhos – E eu quero muito ir adiante, porque eu estou apaixonada por você – Ele arregala os olhos – E eu quero ficar com você, sendo vilão ou não, eu quero você. – Ele fecha os olhos com força.
— Eu sei que não sou inocente, que merecia estar preso e... - Interrompo-o.
— Não pense nisso - Acaricio sua bochecha com o polegar – Não agora, não aqui. – Ele assente.
— Então... você quer ficar comigo? Ser minha namorada? – Abro um sorriso, me sentindo verdadeiramente bem pela primeira vez no dia.
— Não vai se livrar de mim tão fácil Bianchi.
— Ótimo – ele aproxima o rosto do meu – Porque não consigo mais viver sem você Coppola – então me beija.
Dean nunca foi o vilão dessa história, nunca foi o assassino, mas também nunca foi o mocinho, e está tudo bem, porque na verdade, eu também nunca fui a mocinha na história da minha vida, mas pelo menos dessa vez, eu tenho uma nova família para escrever está história comigo, juntos.
◤ NOTAS FINAIS ◥
Overdose chegou enfim ao último capítulo.
Mas segura o choro que ainda tem o epílogo, então deixarei meus agradecimentos para ele, porque eu sou emotiva e quero chorar só no domingo e depois surtar com vocês no grupo do whats!!
Eu tenho certeza que vocês já esperavam que o Dean seria solto né? Nosso badboy é esperto, não iria se entregar tão fácil assim.
O epílogo é bem importante para Fuggitivi, então, prestem atenção ok? Eu vou postar ele mais cedo também, 19hrs, depois, vou liberar o prólogo de Fuggitivi e deixar o link do grupo no meu mural, ufa, se preparem para domingo.
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