Capítulo 3
-- Camila, quero que conheça Margareth Parker, esposa de John Parker, nosso antigo vizinho. -- Uma mulher ruiva, que não aparentava mais de seus vinte e cinco anos, se virou sorridente para Camila, lhe estendendo a mão de forma amigável.
-- Olá, Senhorita Cabello. -- Ela disse. -- Confesso que os elogios que lhe fizeram condizem com tal aparência. És linda de tirar o fôlego de qualquer um por aqui. -- Ela disse sorrindo. Camila apertou sua mão a contragosto querendo, na verdade, sair correndo dali a qualquer custo.
-- O-obrigada. -- Agradeceu apertando a mão da mulher e segurando as lágrimas.
-- Imagina, John e sua mãe estavam absolutamente certos ao dizer que tu és tímida. -- Ela disse rindo, soltando delicadamente do aperto exagerado de Camila de seus dedos.
-- John fala de m-mim? -- Não se aguentou em perguntar.
-- Oh, claro. Somos casados há três anos, não há segredos entre nós. -- Ela disse e Camila arregalou os olhos. -- Digo, devo admitir que ele é um ótimo professor e que eu também não sabia montar a cavalo antes de conhecê-lo. Fico feliz que seja aluna dele, ele parece gostar muito de sua amizade.
"Aluna? Cavalo? Eram essas as mentiras que ele havia inventado sobre a minha existência?" Pensou Camila.
-- Qualquer dia poderíamos sair nós três para conversarmos, hm? -- Ela perguntou e Camila assentiu.
-- Seria, hm, seria bom. -- Mentiu. -- Eu realmente preciso ir, mas foi bom te conhecer. -- Disse a menina, visivelmente aflita.
-- Quer que eu te acompanhe, filha? -- A mulher questionou, mas Camila apenas negou com a cabeça, atordoada demais para dizer algo, saindo dali às pressas no instante seguinte.
-- Acha que ela acreditou? -- A mais nova perguntou e Sinu sorriu.
-- Camila é ingênua demais, Lindsay. Ela com certeza acreditou. -- Disse satisfeita.
-- Ela, eventualmente, vai falar com ele e esclarecer tudo. Saberá que mentimos.
-- Oh, querida, não se preocupe. -- Falou calmamente. -- Ela costuma ir ver aquele rapaz apenas de tarde e, bem, tudo o que eu preciso é que ela acredite que ele é casado até amanhã de manhã. Depois disso o estrago já estará feito.
-- O que tens em mente, madame? -- A garota perguntou. Apesar de Alejandro e Sinuhe terem falido, todas as pessoas que haviam trabalhado para eles ainda não tinham conhecimento disso, crendo que eles ainda tinham seus patrimônios todos intactos.
-- Espere amanhã e então toda a cidade saberá.
[...]
Lauren jogava pedrinhas no rio distraidamente. Estava debruçada sobre a proteção de concreto feita para que ninguém caísse lá embaixo. Seus olhos acompanhavam o pequeno objeto em todo o seu trajeto até se encontrar com a água, fazendo um pequeno "splash".
Seus olhos se distraíram ao som de passos. Parou o que fazia e desviou sua cabeça da direção do rio, olhando diretamente para a pessoa que se aproximava.
Precisou levar alguns segundos para perceber que quem estava ali era ninguém mais, ninguém menos, que a garota que ela havia passado os últimos meses observando. Arrumou sua postura rapidamente e deixou as pedrinhas amontoadas sobre a proteção da ponte. A menina estava cabisbaixa e aparentava ter chorado, o que fez com que o coração de Lauren se espremesse.
-- Essas coisas só acontecem comigo. -- A garota sussurrou um resmungo qualquer, fazendo Lauren franzir o cenho ao perceber que a menina não havia notado que não estava sozinha.
Lauren pensou alguns segundos antes de então pigarrear, fazendo-se presente. Não queria que a garota revelasse algum segredo seu por achar que estava sozinha, seria embaraçoso para ambas.
-- Oh meu Deus, perdão. Eu pensei que eu estava sozinha. -- A garota disse constrangida ao ouvir o pigarro de Lauren e a mulher de olhos verdes apenas sorriu, encantada demais com o som da voz da moça à alguns metros de si.
-- Tudo bem. Acredito eu que todos devem, em algum momento de suas meras vidas, falar sozinhos também. -- Respondeu se aproximando cautelosamente.
-- Eu pensei que todos estariam lá dentro aproveitando a festa. Desculpe novamente. -- Pediu. O silêncio se instalara por algum tempo, tendo ambas apenas se olhando.
-- Só desculpo se me contar a quem devo agredir por arrancar lágrimas tão amargas de um rosto tão doce. -- Lauren se odiou pelo que havia dito. Sua fala parecia aqueles livros de poemas bregas que ela detestava e se praguejou mentalmente por desperdiçar sua oportunidade com a garota que tanto almejava dizendo coisas daquele tipo.
O riso baixo que saiu por entre os lábios da menor fez Lauren respirar aliviada. Se a garota havia rido não poderia ter se saído tão mal assim.
-- Não quero mesmo falar sobre isso, me desculpe. -- Pediu. Lauren assentiu ainda a encarando.
-- Bem, tudo bem então. -- Disse meio desconcertada. -- Me chamo Lauren. -- Se apresentou e, diante de um silêncio curto, achou melhor calar a boca -- Não vou mais lhe incomodar, tenha uma linda noite, senhorita. -- Disse se curvando ligeiramente diante da garota e voltando para sua pilha de pedrinhas.
Se sentiu estúpida por ter pensado que pelo menos uma conversa decente ela conseguiria, contudo não se decepcionou, pois já imaginava o fracasso de seus atos, não só com a menina ali parada, senão com qualquer garota da cidade. Quem, em sã consciência, daria atenção à uma lésbica?
Reparou quando outra pedrinha se chocou contra a água e franziu o cenho ao perceber que não havia sido ela quem havia arremessado a mesma.
-- Nunca ouviu falar que é falta de educação não esperar uma resposta? -- A garota disse e Lauren enrubesceu levemente. – Camila. Me chamo Camila.
-- Camila. -- Lauren apreciou em seu paladar o gosto do nome da garota. Foram meses sem fazer ideia de como ela se chamava. Claro que se Lauren quisesse ela teria descoberto o nome da menina, era a pessoa mais rica das redondezas e dinheiro não seria problema para ela em troca de tal informação, mas odiava ser invasiva e tampouco queria parecer uma perseguidora obsessiva.
-- Se incomoda se eu jogar pedrinhas com você para passar o tempo? -- Lauren fez uma falsa careta e Camila sorriu.
-- Eis uma grande questão. Essas pedras do meu monte são mágicas. Elas vieram além do arco-íris, as encomendei especialmente para testar minha sorte. – Falou olhando para o monte de pedrinhas localizado ao seu lado. -- Diz a lenda que apenas quem é destinado a ser feliz consegue tocá-las. -- Lauren disse e Camila sorriu. A maior queria parar de passar vergonha, mas queria descontrair e não queria que a garota voltasse a chorar e, se para isso ela precisava aparentar ser retardada, bem, ela não via problema algum em parecer uma perfeita louca.
-- Ah sim? -- Camila perguntou rindo. -- Deixe-me ver se é verdade. -- Pegou uma das pequenas pedrinhas do montinho de Lauren e sorriu tristemente. -- Bem, consegui pegá-la. -- Lauren sorriu e observou Camila jogar a pedrinha lá de cima. Ambas acompanharam o trajeto da pedra, até Camila voltar a se pronunciar. -- Espero que essa lenda seja real. Eu preciso muito que seja. -- Sussurrou a última parte, mas Lauren pôde ouvir claramente.
-- Se dependesse de mim você sorriria verdadeiramente todos os dias.
-- Como?
-- Nada não. Apenas pensei alto. – Se retratou rapidamente.
-- Então quer dizer que já foi além do arco-íris? – Camila perguntou rindo.
-- Oh, não! Só encomendei as pedrinhas de lá. Não tive tal prazer na vida.
-- Então como sabe que é real? – Perguntou curiosa pela resposta de Lauren. A mais velha suspirou e olhou para o rio.
-- Em algum lugar além do arco-íris, num lugar bem alto, há uma terra em que eu ouvi falar uma vez, em uma canção de ninar. – Falou, lembrando da música que sua mãe costumava cantarolar para ela. – Lá os céus são límpidos, pássaros azuis voam além do arco-íris e os sonhos que você ousa sonhar realmente se realizam.
-- Já ouvi essa música. – Camila disse olhando para o monte das pedrinhas. Esticou sua mão e se atreveu a pegar uma delas. Fechou seus olhos e continuou. – Desejo algum dia estar em cima de uma estrela e acordar onde as nuvens estejam bem abaixo de mim, onde os problemas se derretam como gotas de limão, bem acima do topo das chaminés de toda a cidade. – Falou e jogou a pedrinha. Segundos depois o ruído da pedra se chocando contra a água fez Lauren sorrir. – Quem sabe a letra dessa música não me traga sorte também? – Brincou.
-- Gosta de voar? – Lauren perguntou.
-- Nunca voei, mas tenho certeza que deve ser uma experiência incrível, bem, isso se for em um daqueles gigantes do céu. – Seus olhos brilhavam ao falar. -- Só não entendo como aqueles enormes zepelim's conseguem ser tão imensos.
-- Lá em cima não parecem tão grandes. – Respondeu.
-- Já voou em um deles? – Camila perguntou boquiaberta. Lauren sorriu vendo que Camila não fazia ideia de quem ela era, provavelmente por isso conversava com ela sem repulsa.
-- Mais vezes do que você pode imaginar.
E assim foi, ambas conversaram por longas horas coisas aleatórias e Camila realmente pareceu se sentir melhor. Já Lauren não podia descrever a sensação de estar finalmente falando com a garota do povoado, até o sono havia perdido.
No fundo, a que se julgava ser feliz estava terrivelmente destroçada, enquanto a outra estava profundamente anestesiada, não era feliz, mas se permitiu ser naquele intervalo de tempo, porque sabia que, ao se despedir da menor, tudo voltaria ao mesmo caos de sempre.
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