Eighteen
𝗙𝗔𝗕𝗜𝗢
Saio de lá com o gosto mais amargo que já senti na língua. Minhas veias estão pulsando forte e minha respiração se resume a sopros irregulares, também sinto que mãos estão cerradas em um punho, acho que poderia socar o mauricinho sentado em meu sofá, literalmente pensei nisso quando vi sua cara de babaca na porta, mas lembrei que Sophie não gostaria disso e também que não saio socando pessoas. Talvez eu devesse, assim não teria que ouvir o cara praticamente pedindo ela em casamento debaixo do meu teto, bem, pelo menos ele tem culhões.
Sophie entra no quarto fazendo o mínimo barulho possível como se só sua presença incomodasse, ela anda nas pontas dos pés e seu rosto está impassível, nenhum brilho nos olhos, parecendo que a conversa tinha sugado todas suas emoções. Arrumo minha postura para o que virá a seguir, não sei se más notícias ou boas, não sei nem se tem algo de bom a sair disso até onde entendi ela pode estar noiva agora, porra, como é que isso acontece? Como as coisas passam de totalmente bem para totalmente fodidas em um piscar de olhos?
— E então, o que o super doutor queria? — Pergunto e soou mais irritado do que quero, acho uma das bolinhas de tênis de Tom e a jogo na parede, ela volta exatamente em minha mão e por um milionésimo de segundo me sinto aliviado, jogo a bola novamente esperando uma resposta.
— Bom, ele quer voltar comigo — responde totalmente sem jeito, como nas primeiras vezes que conversamos em nossa vida, não sei o que ela pensava de mim, mas corava toda vez que visitava sua casa, e quando me respondia qualquer coisa era sempre com o tom mais desconcertado que já presenciei.
— E o que você respondeu?
Assim que faço essa pergunta me arrependo, na realidade não sei se quero ouvir sua resposta, taco a bola na parede com mais força e ela volta ainda mais rápido para mim. Não consigo virar o pescoço e ver seu rosto, porque sei que seus olhos diziam tudo que preciso saber e não quero.
— Que eu preciso pensar. Eu não sei o que fazer, Fabio. Ele não quer só voltar, falou de casamento e de morar na Espanha e outras milhões de coisas, eu não sei o que fazer. — Como esperado sua resposta me quebra em um milhão de pedaços, não quero ser injusto mas eu sei exatamente o que ela deveria fazer, não tem forma alguma que ela ame aquele cara, mas talvez seja só presunção minha achar que ela me ama. Quando não respondo, ela agarra minha mão com a sua minúscula e delicada, cesso meu jogo com a bolinha e sou obrigado a encará-la, o que sempre foi uma das minhas coisas preferidas do mundo, encarar Sophie costuma ser incrível, irritante de tão incrível, mas agora só sinto dor porque pode ser uma das últimas vez que faço isso.
Meu peito dói apertado e flagro lágrimas presas em seus olhos azuis, ela pressiona ainda mais sua palma sobre a minha e aperto meus lábios pela cólera que domina meu corpo. É exatamente como a noite que a perdi pela primeira vez, exatamente. Talvez seja porque estou prestes a perdê-la de novo.
— E você veio falar comigo pra eu decidir por você? — retruco irônico, não quero ser irônico, mas estou tão irado que é a única forma que sei agir. Seu rosto não se esmorece como se ela soubesse disso, e provavelmente sabe, é a mulher que mais me conhece na Terra.
— Não, Fabio, eu só... não sei o que fazer, mesmo — esclarece e meus músculos tensionam, ela deveria saber, se me quisesse deveria saber, não é? Eu sei, eu sei que poderia ser um marido também um dia, sei que ela é a pessoa que eu amo e que quero do meu lado. Mas de que adianta tudo isso se ela não sabe?
— Bem, fala comigo quando descobrir — explodo largando sua mão, vejo lágrimas escorrerem de seu rosto e minha visão se torna embaçada pelo meu próprio choro preso na garganta.
Me enfurno em um dos quartos de hóspedes pendendo a cabeça entre meus joelhos. Mas que merda! Como isso pode estar acontecendo? Parece tão injusto que as coisas entre nós nunca possam ser apenas calmas, como se estivéssemos presos em uma merda de ressaca eterna, sendo jogados de um lado para o outro, sempre, sem tempo para pegar um fôlego decente. Quanto tempo passei pensando em Sophie, em tê-la de volta, em como errei profundamente por ser um covarde, tive medo de perdê-la quando ela me disse que iria se mudar para o outro lado do continente e eu estaria de partida para minha primeira temporada de Moto4, como aquilo daria certo? Talvez se eu não tivesse fodido tudo antes mesmo de dar errado não estaríamos nessa situação agora.
Tenho que respirar fundo muitas vezes para tentar não perder a cabeça naquele verdadeiro mar de confusões, o que deveria fazer? Estou agindo exatamente como anos atrás e mesmo assim não sei o que fazer para que os resultados sejam diferentes.
Que frustrante perceber que crescemos e ainda agimos como adolescentes.
Escuto a porta de meu quarto abrir, Sophie deve ter cansado de esperar pela minha panaquice e a essa altura está se preparando para seu jantar de noivado, e credo, só de pensar nela de grinalda e véu entrando de branco estonteante para casar com outra pessoa tenho seis tipos de revertérios e o sangue esquenta em meu corpo. E que merda, claro que agora só consigo repetir isso na minha cabeça perturbada. Decidi levantar e conversar com a única pessoa que conhece a mim e a ela na mesma proporção, Tom parece calmo quando abro a porta de seu quarto, apesar de seu corpo estar magro e os olhos um pouco cavados no rosto, ele ainda é ele mesmo e tenho de agradecer por isso.
— Demorou para vir — resmungou tirando os olhos negros do celular e os virando para mim, ele e Sophie não tinham muito em comum fisicamente, mas conseguia ver pequenos trejeitos dela nele, o suficiente para fazer meu estômago revirar.
— Eu sei, não é? Estou sempre atrasado, cara. — Admito e ele solta uma gargalhada falhada percebendo minha tentativa de humor. Então bate com as mãos na cama, bem ao seu lado e rolo os olhos. — Não precisa trançar meu cabelo, sabe? Só quero um conselho.
— Ah, cale a boca e senta aqui logo — retruca irritado e faço o que ele pede. — Então?
Respiro fundo, fundo mesmo, é um verdadeiro inferno ter que repassar toda aquela cena na minha cabeça para cortá-la com detalhes para Tom, mas explico para ele como ela apareceu no meu quarto de madrugada, e ignoro sua cara enojada para isso, também falo para ele sobre a campainha tocando pela manhã, e o momento exato que eu soube que tudo iria desabar, até conto a conversa com sua irmã pouco tempo atrás. Quando termino, ele coça o topo dos cabelos escuros e parece desinflar os pulmões com força.
— O que realmente tá te impedindo, cara? É claro que ela quer que você diga para ela ficar, mas não sei se ela vai fazer isso se achar que não tem motivos, e você não quer que o irmão morimbundo seja motivo dela não casar com o cara.
— Eu não sei — dou de ombros e ele me lança um maldito olhar de pena. — Se você sabe de alguma coisa que eu não, essa seria a hora de dizer. — Resmungo e meu melhor amigo ralha pelo nariz.
— É óbvio, não é? Tá achando que o cara vale mais que você. — Afirma como um analista e gargalho com força, não pode estar falando sério, né?
— Tá me zuando, Tom?
O espanhol nega com a cabeça e coloca uma de suas mãos em meu ombro, e mantendo o contato visual, diz:
— Você acha que ele vale mais que você, por isso não diz a ela um motivo pra ficar, acha que não é um. Fabio, você não é mais o cara que abandonou ela no dia do baile por medo, se perdoe, você cresceu. Confie nisso e lute por ela. — Aconselha sendo sincero e engulo em seco, talvez ele não estivesse tão errado, desde que ficamos juntos de novo vivo tentando protegê-la de mim, mas acabei esquecendo de demonstrar que a quero comigo mais do que qualquer coisa. Talvez fôssemos nos machucar no processo, afinal somos pessoas, não é? E pessoas podem ser idiotas dentro de um limite.
Deslizo meu corpo na sua cama encarando o teto tentando decidir se quero mesmo correr o risco de ir atrás de Sophie, não posso dizer que tenho certeza que ela quer que eu pare tudo isso, o cara pode ser um idiota mas com certeza foi menos idiota que eu. Nem sabia que ainda sentia tudo isso por ela, sabia que sentia sua falta sempre e sem ela nada parecia realmente dar certo, mas será que não somos frágeis demais? Qualquer coisa parece nos abalar sempre. Percebo que o céu do lado de fora ainda está escuro e nublado, como se soubesse que tudo está desabando, escuto um som de motor que logo cessa, deve ser o dito cujo pronto para levá-la embora.
— Pelo amor de Deus, cara. O que você tá fazendo aqui? — resmunga quando percebe que não mexi um músculo, era como se estivesse paralisado morrendo de medo de realmente me mexer.
— Ela vai embora, Tom. Acabou, acabou de verdade, eu só falei merda pra ela.
— O que? Não! Não, não e não — balbucia angustiado — Vocês não podem fazer isso de novo, cara, é idiotice demais. Acabei de dar um show de psicologia aqui, no mínimo você tem que aproveitar.
— Ei, posso fazer o que quiser e já tá feito, beleza? Você conhece sua irmã, não tem mais volta, ela vai casar com aquele idiota — resmungo, convencido de que estou certo.
— Não me vem com essa de não tem volta. Sabe a única coisa que não tem volta? A morte! E eu to morrendo aqui e você me falar isso é quase desrespeitoso. — O vibrato de sua voz aumenta como nunca faz.
— Você não pode meter seu tumor nisso — murmuro indignado.
— Eu posso, sim, e quer saber por quê? Você tá assustado igual um filhotinho com medo de dar errado e por isso tá perdendo a mulher que você ama, de novo. Escuta, eu tenho todos os motivos pra fazer o mesmo e eu tenho alguém, mesmo com um prazo de validade, eu tenho alguém e você vem me dizer que não tem volta?
A esse ponto Tom não se importava em quase gritar as palavras com frenesi, tive até que me ajeitar na cama porque seu corpo magrelo se projetava pra cima do meu.
— Peraí, você tem alguém? Como assim? Desde quando? Como eu não sei disso?
— Acha que eu vivo só a paisagem da sua vida e Sophie, é? Eu tenho minhas coisas, tá. Mas esse não é o ponto, o ponto é: você vai ficar aqui fofocando igual uma tia velha ou vai atrás dela?
Meu peito se rompe ao meio e se enche com ar e algo que não identifico imediatamente, mas enquanto corro afobado pelos corredores da minha própria casa, percebo que estou inflamado com esperança do discurso de quinta categoria de Thomas. Sophie é a mulher que eu amo e não posso me dar ao luxo de perdê-la novamente. Tom pode ser um grosso, mas tem sua razão, ele está mesmo encarando a morte cara a cara e não tem medo de amar, por que eu deveria?
Droga pareço uma novela dramática.
— Sophie! — A corrida de 1 minuto até a porta de entrada parece durar uma hora, quando finalmente a chamo esbaforido fico espantado, como se mais nada naquele dia pudesse me surpreender, a cena que encontro consegue.
Não existe um brutamontes arrumadinho na minha porta, e nem sinal de que ele esteve ali perturbando minha vidinha perfeita com Sophie pouco tempo atrás. Mas ela está lá, enrolada em um casaco pesado que cobre todo seu corpo perfeito, o frio atinge meu rosto, mas nada me incomoda agora, estou aliviado demais para sentir os ventos gelados e o cheiro de chuva.
— Você não foi — afirmo meio abobalhado, cara, essa mulher sabe mesmo me abalar.
Ela vira em minha direção e seu rosto corado pelo frio me faz querer protegê-la como um homem das cavernas idiota, seus olhos oceânicos não me dizem nada dessa vez, muito menos sua boca rosada. Sophie passa ao meu lado, e entra em casa em completo silêncio. Não faço a mínima ideia do que aconteceu, mas sei que estou aliviado pra caralho por não ter a perdido novamente. Ela joga o casaco e uma bolsa de brilhantes na minha mesa de centro, seu corpo se espalha por meu sofá e estou tão leve que tenho medo de flutuar igual um balão.
— O que aconteceu? — Questiono, a loira puxa os braços para sua testa e bufa com força.
— Não poderia ficar com alguém que não amo, e não faria isso com Lucas também — me responde e estou levemente decepcionado por não ser mencionado na resposta, dou a volta no sofá para encarar seu rosto, é tão desenhado que perco o ar como um imbecil.
— Eu estava logo atrás de você, eu sei que demorei, sinceramente nem vi o dia passar. Mas, Chérie, isso pode dar certo sabia, eu e você a gent... — sou interrompido abruptamente por sua mão, ela tapa meus lábios com os dedos e nega com a cabeça como se implorasse que eu não dissesse mais nada. Se a cena de antes me deixou em pedaços, essa completamente me dilacera por dentro. Ela não quer ouvir, não quer me ouvir dizer que a amo.
— Vou me deitar. — Anuncia, totalmente indiferente a mim, enquanto vejo seus passos pela sala sei que a perdi, pra valer dessa vez, acabou, acabou mesmo.
Como pode acabar assim?
Não tem um minuto de paz gente?
Boa noite overfãsss!!!
A gente chegou a 10k e eu não canso de agradecer vocês!!!! Muito obrigada por acompanharem a Sophie e o Fabinho ❤️ Infelizmente essa jornada está próxima do fim :( mas sou muito grata por vocês então aproveitem os próximos capítulos de Over!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro