One
Eu poderia fazer uma lista de coisas que acalmam o ser humano. Pra alguns, yoga, ou um bom banho quente com algums relaxantes ou sei-lá-o-que, psicólogos, comprar coisas. Sabe qual a semelhança nisso tudo? Exatamente: Dinheiro. Uma coisa que eu não tenho. Minha mãe trabalha de garçonete em três lugares diferentes, mas infelizmente por ela ser mulher ela ganha menos do que os funcionários masculinos. Essa sociedade é uma merda.
Meu pai sumiu à anos, a ultima vez que o vi foi quando nos mudamos pra essa cidade. Ele prometeu que tudo ia melhorar e que tinha um emprego bom e que cuidaria da gente, mas ele sumiu dois meses mepois disso, deixando minha mãe sozinha comigo, e ela só tinha 19 anos. Eu trabalho em um posto de gasolina meio período, eu curto carros e sinceramente odeio ir pra escola, aquele lugar onde tudo que eu sofro é preconceito por ser um Greaser. Essa palavra me descreve, na verdade descreve todos nós, eu e os meus amigos, ou melhor dizendo nossa gangue. Somos ladrões. Sinceramente acho essa palavra muito forte, mas sim roubamos coisas que queremos das lojas de conveniência, e claro nunca fomos pegos, somos bons no que fazemos e somos bons em quebrar as regras e simplesmente escapar ilesos. Não tem como eles saberem o que fizemos, eles não dão falta. Outra coisa que nos marca como "greasers" é o nosso estilo. Jeans escuros, jaquetas jeans ou de couro, cigarros, cabelos grandes e cheios de gel... Nem todos tem todas essas características, mas é assim que mais somos reconhecidos na rua.
Do que eu estava falando mesmo? Ah! Coisas que acalmam, certo. Lembra que eu disse que roubava as vezes? Nesse momento acabei de sair de uma loja de conveniência com duas caixas de cigarros nos bolsos. Senti pena do senhor que é dono do lugar, ele parece ter seus 80 anos e todos os dias fica ali, sentado enquanto crianças insolentes como nós entramos e pegamos o que quisermos, não é justo com ele. Mas a vida também não é justa com nenhum de nós.
Ajeito a jaquela de couro surrada e velha no corpo, tá um frio desgraçado como sempre foi nessa merda de cidade. Matei as duas ultimas aulas da escola, e agora estou aqui perambulando pela cidade no meio da tarde. Véspera de feriado todo mundo falta, ou acaba saindo escondido. Eu não preciso estar em véspera de nada pra fugir daquela escola. Não me interesso com a escola, não me importo de verdade, mas consigo manter notas boas pra minha mãe, depois de tudo que ela fez e ainda faz por mim, o mínimo que ela pede são boas notas e que eu fique longe da cadeia e não me meta em confusão, por que assim eu consigo ganhar uma bolsa de estudos em uma faculdade boa e mudar a minha vida. Me mudar para o bairro no lado Oeste da cidade. Mas eu não quero me meter com aquela gente.
Socs é como chamamos os riquinhos babacas dessa cidade. Tudo que eles fazem é beber e tentar arrumar briga com algum greaser sozinho, ou se estiverem muito bêbados mesmo eles abordam um grupo inteiro. O que mais me impressiona é que esses filhos da puta tem tudo que querem, tudo. Tem dinheiro, tem pais, tem garantia em uma boa faculdade, tem carros bons, namoram as meninas mais gatas... Mas ainda sim tudo que eles fazem por diversão é implicar com a gente.
Posiciono o cigarro entre os lábios e dou uma tragada profunda, sentindo a tensão dos meus músculos relaxar, sentindo todo o estresse da escola, do trabalho e de casa ir embora. Sento na grama do parque, nosso ponto de encontro para tudo, e observo as nuvens nubladas do céu e me pergunto qual foi a última vez que vi o pôr-do-sol? Faz muito tempo, eu não tinha amigos naquela época era só eu e mais ninguém, nem mesmo minha mãe.
Sim, eu gosto de ver o por-do-sol, acho um dos fenomenos da natureza mais puros e belos do mundo, e é algo que ninguém pode tirar.
Então meus olhos se focam em um mustang azul com cinco caras dentro, cada um segurando sua garrafa e gritando "Greaser" pra mim, como se fosse uma ofensa... Bom no início até era, mas quando aquela palavra passa a se tornar você, quem você é ela acaba se tornando quase que um elogio por que eles sabem o que eu sou, sabem o que posso fazer. E é isso que importa.
Mantenho a calma e continuo fumando meu cigarro, mas nem mesmo as longas tragadas podem me preparar para o que está prestes a acontecer.
Eu vou tomar uma surra hoje.
As portas do mustang se abrem e os cinco homens descem, todos rindo e falando alto, gritando ofensas e cambaleando. Menos um, ele está calado e quieto, apenas acompanhando os amigos idiotas, e não posso deixar de encarar aquele menino. Mas aquele cheiro de álcool penetra minhas narinas e eu faço uma careta, parecia que eles tinham tomando banho de whisky e vodka. Eu deveria ter previsto que esses babacas também iam matar aula e procurar encrenca, mas o pior é que não são nem 6h da tarde e eles já estão nesse estado.
"Iai Greaser." fala um cara alto, músculoso, cabelos cortados em um topete bem arrumado. Esse babaca se chama James. Capitão do time de futebol (quão clichê isso é?) e ele adorava implicar com um dos meus amigos nos corredores da escola, mas claro que eu e a gang tivemos que lhe ensinar uma lição, e depois disso ele nos odeia e está sempre nos abordando em qualquer lugar que não seja a escola. "Eu disse" ele me empurrou de leve quando me levantei para ficar da sua altura. "Iai Greaser?!"
"Eu ouvi, só quis ignorar." respondi dando mais uma tragada e fazendo questão se soprar a fumaça na cara dele. Isso deixou ele puto, eu vi nos olhos dele. "Meio cedo pra já estarem bêbados. Mamãe deve estar orgulhosa, não é?" digo sarcástico.
"Ao menos temos uma mãe que se orgulha. Em qual espelunca a sua está hoje?"
"Sabe James, por que não cortamos o cabelo desse imundo? Deixaria ele mais bonitinho... Bom, menos feio pelo menos." falou um cara do meio do grupo, não sei quem é e não me importa, tudo que ouvi vou sua sugestão. Ninguém ia tocar no meu cabelo.
Tento escapar, mas eles estão em maior número do que eu, são mais fortes do que eu e agora estão apontando uma porra de um canivete pro meu pescoço enquanto riem de forma divertida, como se estivessem vendo uma daquelas comédias idiotas no grande cinema da cidade. Eles me derrubam no chão mais uma vez, James está sentado nas minhas pernas enquanto seus amiguinhos estão ao meu redor, dois deles prendendo bem os meus braços.
"Qual é, pra que fazer isso?" disse o menino mais quietinho, o único que não estava bebendo e parecia ser o único que não estava gostando daquilo. Senti vontade de gritar e mandar ele cuidar da própria vida, por que a última coisa que eu preciso é de um dos Soca me defendendo. Eles não defendem ninguém além deles mesmos.
"Cala a boca Payne!" rosnou James, seus olhos ambar estavam grudados em mim. "Me arrumem um canivete, ou uma tesoura.." pediu ele e mais que rapidamente alguém apareceu com uma tesoura.
Eu me debati, tentei lutar mas esqueci que tinha uma porra de uma lâmina de canivete na minha garganta e acabei me machucando. Soltei um gemido baixo de dor e quando eles estavam se preparando para cortar meu cabelo ouvi uma voz que fez meus músculoso relaxarem e as risadinhas deles sumirem, junto com o fôlego.
"Vou contar até três, se eu terminar de contar e vocês ainda estiverem aqui vamos acabar com sua raça." ameaçou Louis. Pelo que pude ver lá estava toda nossa gangue, segurando garrafas de cerveja, canivetes pedaços de video quebrado... Os Socs saíram correndo de volta para o carro. "Mudança de planos! Acabem com eles!"
Pude ouvir o barulho dos vidros se chocando contra a lateral do carro e depois ele sumindo a distância.
"Você come merda ou o que?!" Louis se virou para mim me fuzilando enquando Matt e Harry me erguiam. "Temos uma gangue pra ficarmos juntos, acha mesmo que esses riquinhos de bosta conseguem nos derrubar? "
"Eu só fui pegar mais cigarros." revirei os olhos. Senti as mãos fortes de Louis agarrando minha camisa e grudando seu rosto no meu.
"Eu juro que se eu tiver que ir em um funeral seu, eu vendo minha alma pro diabo pra te trazer de volta e ai eu te mato eu mesmo! " ele quase gritou na minha cara.
Deixa eu explicar um pouco da história do Louis antes de qualquer coisa.
O pai do Louis abandonou ele e a mãe, que por sinal trabalha com a minha mas gasta metade do dinheiro em bebidas e drogas. Ele tem uma família de sei lá quantos irmãos (sério são muitos, e nesse meio tem 4 gêmeos!) e teve que largar a escola para poder ajudar a pagar as contas da casa e garantir que seus irmãos não tenham que fazer o mesmo que ele. Na adolescência ele sofreu coisa pior do que bullying, foi estuprado, espancado, agredido, violentado de todas as formas possíveis, tanto no nosso bairro como na escola. A mais ou menos 5 anos, ele perdeu três dos melhores amigos dele por causa dos Scos e das "brincadeiras" que foram longe de mais. Então sim, ele é bastante protetor, basicamente o líder da gangue, não por ser o que todos temem mas por ser aquele que todos podem contar e que sempre ajuda todo mundo. Nós somos os irmãos dele, a segunda família e ele não quer perder mais ninguém.
"Louis." Harry chamou, a única voz nesse mundo que fazia o pequeno demônio voltar ao normal. "Ele já entendeu."
Esqueci de dizer: Louis namora o Harry. Não, ele não é gay, ele já esteve com várias mulheres, mas também já esteve com homens... É meio que ele fica com quem dá vontade. E ele sentiu vontade de ficar com o Harry.
"Eu discordo." rosnou Louis ainda contra o meu rosto. Lembra agora a pouco quando eu falei que Harry acalmava o demônio Louis? As vezes não funciona. "Eu juro Malik, se você acabar morto eu não sei o que eu faço." e ele me soltou. Finalmente. "Anda com um canivete!"
"Ah claro, dava pra eu sacar um canivete ali numa boa." disse revirando os olhos e fazendo uma careta para o pequeno corte em meu pescoço.
"Já entendemos! Zayn quase morreu, Louis ta puto... Podemos ir agora?" Esse era Matt, sempre calmo e rindo atoa da vida, e odiava quando Louis tinha seus surtos de raiva, mas assim como eu todos nós entediamos o ódio de Louis pelos Socs. Mas ninguém entendia o ódio deles por nós. "Estávamos indo pro Jay's. Você vem?" Matt me chama.
Apenas assinto e ajeito o cigarro nos lábios, então vem Harry me pedir pra explicar o que aconteceu desde o começo. Eu explico.
"Você disse que um deles te defendeu?" Perguntou Matt incrédulo. "Tai uma coisa que não se vê todo dia." ele ri.
"Por que será?" Perguntou Harry.
"Deve ter achado o Zayn bonitinho." disse Louis rindo. Como eu falei, ele é camarada e meu melhor amigo, e a raiva dele nunca dura muito. Ele agarra minha bochecha e aperta. "Um Soc gostou de você Zee.." debochou usando um apelido que minha mãe usava comigo anos atrás.
Virei o rosto para me livrar do seu toque, mas eu estava rindo, eu adoro esses meninos, não sei como conseguiria abandoná-los. Eles são minha família, e não se abandona a familia.
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