CAPÍTULO 7
São Paulo as 07:53 AM
Desde ontem minha cabeça não parava de ecoar o que aquele cafetão de merda tinha dito. Minha cabeça estava quase explodindo com tudo aquilo.
Vi a Joyce no corredor conversando com a galera dela e passei reto. Não queria falar com ela, sessenta por cento da culpa da minha cabeça estar fritando e por causa dela e do pai dela, se é que é pai dela.
Entrei na sala e fiquei esperando o professor entrar.
— Amiga, não falou comigo por quê? Fiz algo? — Joyce parou em frente a minha cadeira.
— Você me apresentou pra um cafetão Joyce. Tem noção disso? Eu pensei que era um emprego digno cara — falei brava por toda situação.
— Você me contou toda situação, e meu pai precisa de novas meninas, só juntei o útil ao agradável. Se você não quer Mel, isso é um problema totalmente seu. Só queria ajudar — ela falou
Quando eu ia retrucar a professora entrou na sala e ela foi sentar no lugar dela.
Encarei a Joyce por alguns segundos e a mesma parecia não notar o que tinha feito, seu rosto permanecia sereno enquanto folheava seu caderno.
Enquanto todos ali parecia estar de bem com a vida, o meu celebro não parava de pensar um segundo.
— Todos sentados, por obséquio.
A aula foi ótimo porém não estava muito no clima, não prestei atenção em quase nada que a professora falou.
Era muito difícil saber que sua família estava a beira de um precipício e a única solução era se prostuir pra dar uma boa condição pra eles. Essa incerteza me fazia sempre eu dúvidar do meu caráter.
O intervalo tinha tocado.
Fui até o banheiro lavando o rosto.
Minha mão estava gelada e minha cara pálida.
Quando fui saindo dei de cara com Gustavo que já ia descendo as escadas rodeado de meninos. Ele estava totalmente distraído enquanto ria ao conversar com seus amigos.
Não sabia que ele estudava aqui.
Fiquei no refeitório sozinha pensando soluções prós meus problemas, mas só restava apenas um caminho, o único que não queria seguir.
Eu sabia que ia me sentir suja e sem dignidade, mas a voz do homem invadia minha cabeça.
"É com teus princípios e boa moral que você vai colocar comida no prato da tua família"
Essa frase me matava de várias formas, na minha cabeça era perturbador, porque era uma coisa que eu sabia que não valia muita coisa nesse mundo, mas era a única coisa que tinha.
[..]
Eram três da tarde e meus olhos olhavam fixadamente para meu pequeno celular em cima da mesinha.
— Oi — meu pai falou entrando no quarto — Você almoçou?
— Não — me ajeitei ficando sentada na cama procurando coragem pra olhar nos olhos do meu pai — É que tô nervosa, pai.
Fiquei encarando meus dedos que brincavam com a borda do travesseiro indicando meu nervosismo.
Meu pai sentou na cama e sentir seus olhos em mim.
— Com que? Fala logo Mel. Sabe que somos mais que pai e filha, somos amigos.
Engoli em seco e respirei fundo e tomei coragem pra olhar em seus olhos.
Não ia contar a verdade, sabia que ele se quebraria em vários pedaços e jamais deixaria me envolver com isso.
— Eu achei um emprego em um restaurante, mas só trabalha a noite — falei tentando dar um sorriso que saiu forçado.
— Nossa que ótimo! Tô muito feliz com isso filha — ele sorriu contendo me fazendo abaixar minha cabeça mais uma vez — É por que estar nervosa?
Ele falava todo animado mas logo notou que não estava tão "feliz" assim.
— Sim. A fase de teste é hoje.
— Você não estar feliz?
— Tô pai. Tô feliz por vocês — dei uma sorriso de lado e ele me abraçou.
— Agora vai comer, tá bom? Nem comi pra deixar pra você.
— Tá — ele foi saindo mas antes dele sumir pela porta chamei ele — Te amo.
— Também.
Assim que ele sumiu peguei o celular discando o número do Mauro.
Minha ansiedade fez com que contasse quatro toques na chamada até a moça atender.
— Alô. Eu quero participar do evento de hoje — falei simples sem dar espaço pra a outra pessoa na linha falar.
Sabia que ali já não tinha volta pra mim.
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