P.O.V Luca
Frustração.
Era o que eu sentia, sentado em uma das mesas da lanchonete, comendo bolo de chocolate invés de um café da manhã saudável. Noite passada acabei perdendo a corrida para o Giovanni e puta merda, isso nunca tinha me acontecido antes.
— Alan, você deve achar que eu sou idiota mesmo — a voz estridente de Kyara invadiu o local, me tirando dos meus pensamentos e fazendo todos olharem para eles — A Becca é idiota, eu não sou. Se quiser ficar com ela, você já sabe o que vai acontecer. — a loira bateu a porta com força antes de sair.
Vi Alan balançar a cabeça, com as bochechas rosadas. Ele me olhou e nós dois desviamos o olhar ao mesmo tempo, fingindo que aquilo nunca tinha acontecido.
Alan foi importante para mim, durante um tempo, mas sabe como é, têm pessoas que passam na nossa vida e vão embora. Não me via mais sendo amigo dele, éramos completamente diferentes agora.
A porta se abriu, Chico e Lola entraram, tão desanimados quanto eu.
— Quem é Becca? — foi a primeira coisa que Lola perguntou ao sentar do meu lado — curvei as sobrancelhas, desentendido. — Olha, espero que essa garota esteja em segurança, a Kyvaca tá encomendando a morte dela lá fora — me espantei com a possibilidade de Kyara fazer parte de um assassinato — Não literalmente, relaxa, mas desgraçada é um elogio perto de tudo que a gente ouviu.
— Pelo que entendi, essa Becca é a garota que o Alan tá morrendo de amores, por isso a Kyara tá surtando — afirmei empurrando o prato com o bolo de chocolate.
— Esse calsinho é bem estranho!
— Então você estava prestando atenção na conversa do seu amiguinho? — Chico caçou antes de jogar a fumaça de seu cigarro no ar.
— O Alan não é meu amigo, e é melhor você apagar essa droga, antes que o Alexandre venha aqui reclamar. Você sabe que ele odeia ver os Encrecas aqui, não precisa dar um motivo pra gente ser expulso.
— Hm — ele apagou o cigarro no porta guardanapos em cima da mesa e me olhou com sarcasmo — Isso é estresse pós humilhação por perder a corrida?
A meta de Chico estava sendo alcançada, ele estava conseguindo me irritar ao ponto de explodir. Bati a mão na mesa com força.
— Quer que eu te mostre o estresse lá fora?
Todos que estavam na lanchonete olharam em nossa direção, inclusive Alexandre, possivelmente já deslizando a mão até o celular para chamar a polícia. Relaxei o corpo, desfazendo o punho fechado.
— Aí credo! Vocês são uns animais — Lola resmungou revirando o cardápio com os olhos — Fica tranquilo Luca, você é o campeão, mas não dá pra ganhar todas sempre, e Chico — seu olhar desviou do cardápio e encarou o ruivo — para de encher o saco do Luca, porque se ele quiser te socar, eu vou deixar.
Gostava da Lola, gostava da forma como ela colocava nossa alcateia nos eixos e de como se parecia comigo. Gostava de estar na cama com ela, não negava, mas gostava ainda mais de saber que era alguém que eu podia contar sempre.
Chico riu com escárnio e também pegou um cardápio, aceitando a bronca de Lola.
A porta se abriu e o último membro da alcateia entrou, usando mais uma das suas camisetas um tanto quanto peculiares. Era seu estilo incomparável, mas às vezes elas passavam dos limites, como a cinza que estava naquele momento, estampada a frase "Fica com Deus, porque comigo não vai rolar!"
— Alguém me responde por quê a gente veio pra cá tão cedo? — Fred murmurou colocando a cabeça sobre a mesa — Você não deveria estar na oficina?
— É meu dia de folga, quero aproveitar com os meus amigos.
— E-ca! — Lola revirou os olhos — Você só quer alguém pra sair da fossa porque não tá conseguindo aceitar que perdeu pela primeira vez.
— Nunca mais vamos falar disso, tá legal?
Eles concordaram, mesmo sem querer.
Não que eu não soubesse perder, só era frustrante saber que estava perto de ganhar, mas Giovanni conseguiu passar pela linha de chegada, segundos antes de mim.
— Me passa o ketchup — Fred pediu com a boca toda cheia de batata frita.
Não sei como aquele café da manhã se transformou em uma noite de besteiras, com hambúrguer, batata frita e refrigerante. Madalena provavelmente enfartaria se me visse comendo tudo aquilo antes das 11 da manhã.
— E aí Luca, na sua casa ou na minha? — Lola perguntou depois de já termos comido tudo e eles estarem se levantando.
— Vocês são nojentos. — Fred colocou a língua para fora, fingindo uma ânsia de vômito — Considerando que a Lola e eu moramos juntos, espero muito que seja na casa do Luca.
— A gente se encontra no Diablo Negro — afirmei soltando uma risadinha para Fred.
Ela concordou com um aceno.
— Ah, Chico! Toma cuidado com o seu carro — alertei — não vou fazer o conserto de novo e não ganhar nada por isso.
Chico passou o braço em volta do ombro de Lola e ergueu o dedo do meio para mim antes de sair da lanchonete. Aquele era meu pagamento por ser um amigo tão legal.
Paguei a conta e deixei uma gorjeta para Alan, quase dei meia volta para contar sobre o assalto, mas sabia ser inevitável e se metesse no meio dos assuntos de Giovanni, as coisas sairiam do controle. Eu já era encrenca demais para me meter em mais confusão.
Minha frustração ainda não tinha passado, então já sabia aonde ir. O casarão abandonado.
Invadia aquele lugar há mais ou menos uns quatro anos, no começo foi por pura curiosidade, aventura e adrenalina com a chance de ser pego pulando o portão, mas depois o casarão se tornou um lugar especial, que eu sempre ia quando as coisas saíam do controle dentro da minha cabeça. Sei que é bizarro encontrar paz no lugar no qual uma mulher foi assassinada, mas nem lembrava disso quando estava lá.
O que eu fazia naquele lugar? Simples, escutava rock no fone de ouvido, lia algum livro do Stephen King ou apenas encarava o teto, pensando no problema da vez.
Estava prestes a apertar play na música Come As You Are do Nirvana, após ter encarado o teto por uma meia hora, quando ouvi o barulho do portão se abrindo. Apreensivo, guardei o celular no bolso e da janela da cozinha, vi uma garota, em passos lentos e desconfiados, caminhar em direção à porta.
Merda! Ela não pode entrar aqui.
Se ela fosse parente do dono do casarão, eu estaria perdido, até que conseguisse explicar que não estava fazendo nada de mais, já estaria no carro da polícia. Porém, a forma como ela observava cada detalhe do lado de fora, me fez ter certeza que a curiosa nunca esteve lá antes.
Minha melhor alternativa seria fugir pela porta da cozinha, se tivesse sorte, pularia pela casa da dona Ana e ela nem daria conta disso. Olhei de relasse para a sala e a garota já estava lá, encantada com cada parte do casarão, como uma criança pelo seu brinquedo novo.
Tive a chance de escapar quando ela começou a subir os degraus para o segundo andar, mas com um movimento desajeitado, acabei derrubando a garrafa de cerveja que deixei na pia suja, semanas atrás.
— Merda — xinguei, sem nem me dar conta.
— Quem tá aí? — ela gritou antes de descer os poucos degraus que havia subido.
Bati a mão na testa e me espremi mais para o canto da parede, ficando totalmente fora de sua visão.
Quase ouvi a voz de Lola gritando na minha cabeça "eu te avisei que daria merda se continuasse invadindo o casarão".
— Eu sei que tem alguém aqui. — ela gritou mais uma vez.
Suspirei fundo. Sua voz parecia demonstrar pânico, mas tive certeza disso quando ouvi seu desespero ao tentar abrir a porta.
Aquela maldita porta. Se não tivesse força o suficiente para puxá-la, ela sequer saía do lugar. A garota não conseguiria abrir, eu tinha que ajudá-la mesmo correndo o risco de ser pego. Então encostei no batente da porta da cozinha e fiquei a observando, sem intenção de assustá-la.
— Você tem que puxar com força — disse o menos intimidador possível, mas seu pânico era tanto que seria impossível que ela não se assustasse.
Apesar da distância entre nós, via seu peito ofegante. Com a mão na maçaneta, tentava abrir com mais força ainda.
— Quem é você? — o pavor em sua voz aumentou, me fazendo sentir culpado.
A garota se encostou na porta, querendo atravessá-la com o próprio corpo. Eu sabia que colocava medo nas pessoas, mas a mocinha em minha frente estava prestes a ter um ataque cardíaco.
— Relaxa, eu não sou um fantasma. — saí de onde estava e fui em sua direção — Muito menos um serial killer.
A única luz vinha da janela da sala, assim, conseguia vê-la um pouco melhor. Seu cabelo escuro estava preso em um coque, deixando seu rosto totalmente a mostra, sua boca parecia uma perdição, seus olhos castanhos suplicavam por ajuda. A blusa branca e o short florido, a deixava parecendo ainda mais indefesa.
Não sabia qual era a sensação de sentir um frio na boca do estômago, até meus olhos caírem nela.
O que eu estava fazendo? O que ela estava fazendo?
Mais parecia que a garota analisava cada parte do meu corpo, checando todos os mínimos detalhes. Assim como eu fazia com ela.
Sorri, desviando meu olhar.
— Vamos lá! Continue me observando, fique à vontade — ergui os braços e dei uma voltinha, não perderia a oportunidade de zombar da situação, mesmo correndo o risco de ela me acusar de fazer a mesma coisa.
— Oi? — sua feição era pura confusão e ira — Eu não estou te observando, eu estou apavorada.
Se ela não estava, eu estava.
— O que você tá fazendo aqui? — questionei.
Nada saiu de sua boca. Era compreensível, eu era só um maluco dentro de um casarão abandonado.
— Você é bem corajosa, ninguém tem coragem de entrar no casarão "assombrado" — fiz aspas com o dedo, porque o casarão estava longe de ser assombrado por algo além de baratas e cupins. — O que você quer aqui? Você faz parte daquele blog maluco que investiga fantasmas?
Foi engraçado quando uns cinco nerds tentaram invadir o casarão à noite, segurando uns aparelhos estranhos e câmeras, estavam tão animados com a possibilidade de ver um fantasma, porém correram assustados quando fiz o primeiro "BUUH".
— Não! — ela franziu as sobrancelhas — Eu só queria, é, é...
Respiração ofegante, mãos inquietas, parecia estar prestes a ter um ataque de pânico ou desmaiar bem na minha frente. Não saberia lidar com a situação, então, me aproximei na tentativa de acalmá-la.
Senti o impacto na barriga e nem quando estava no chão, me dei conta do que tinha acontecido. Fui atingido por um golpe de karatê?
Minha barriga queimava como se tivesse acabado de sair de uma briga com Chico.
— Caramba! — gritei, com as mãos erguidas — O que você tá fazendo?
A garota apertou os pés em meu peito, com força. Ela poderia ser pequena e parecer indefesa, inocente e perdida, mas seu pé em meu peito fez com que eu quase perdesse o ar.
— Você pode muito bem querer me matar, mas saiba que pra tentar isso, vai levar muitos golpes de karatê. Então eu posso morrer, mas você vai ficar bem dolorido.
Concordei com um aceno, mesmo confuso.
Sua mão pequena esticou, oferecendo ajuda. Seu toque fez com que eu sentisse meu corpo se arrepiar.
Que merda tá acontecendo comigo?
Em um impulso inexplicável, cheguei mais perto, fazendo com que ela encostasse na porta novamente. Próximo do seu rosto, meu estômago queimava ainda mais, não era pelo chute, mas queria fazer com que eu mesmo acreditasse que aquele era o único motivo.
— Eu não vou fazer nada com você — falei sorrindo, porque a única coisa que eu não queria que ela sentisse por mim, era medo. — Não precisava ter feito isso — passei a mão em minha barriga.
Seu olhar mudou de expressão, tinha certeza que não era mais medo que ela sentia, mas não entendia o que era, assim como não entendia que droga estava acontecendo comigo.
Seu celular tocou, fazendo ela dar um pulo.
"Não. Eu já estou chegando." foi a sua resposta para alguém do outro lado da linha.
— Preciso ir. Agora! — seus olhos foram em direção a maçaneta, suplicando por ajuda.
Não tirei os olhos dela quando cheguei meu corpo mais perto, levando a mão até a maçaneta. Girei com a força que ela poderia ter, agora tinha certeza.
Ela era uma bruxa e tinha me hipnotizado, era a única explicação para eu estar sentindo todos aqueles sentimentos desconhecidos.
A, agora corajosa, saiu correndo em direção ao portão e por impulso fiz o mesmo, sem me importar se alguém me viria no casarão.
— Espera — segurei seu cotovelo, porém com o braço livre, ela fechou o punho, me ameaçando com outro golpe — Não vai me dizer quem é você?
A soltei antes que levasse um murro no nariz, já tinha entendido que ela não hesitaria em fazer.
— Não vou dizer meu nome pra um desconhecido. — ela respondeu firme enquanto fechava o portão.
Sorri, sem nem saber o motivo. Queria que ela tivesse me dado o saco, assim eu pareceria menos idiota.
Era estranho, mas de um modo ou de outro, eu sabia que precisava conhecer mais aquela garota. Queria a conhecer, queria tocá-la mais uma vez só para sentir o que nunca senti antes, queria...
Mas que merda tá acontecendo comigo?
Voltei para o casarão e assim que fechei a porta, notei que ela tinha deixado livros em cima da estante. Entre eles, um tão velho que era preciso tomar cuidado ao abrir e folhear as páginas.
Becca Moraes, era o nome que estava na primeira folha. Já tinha ouvido aquele nome algumas vezes no dia.
Será que é a mesma Becca?
De vermelho, estava um número de telefone, no qual fiquei tentado em ligar. Mas o que eu falaria? Nem sabia quem era aquela garota, nunca tinha a visto na cidade e isso só comprovava ainda mais que ela só podia ser a Becca que o Alan estava caidinho, o que era realmente estranho, já que ele namorava a Kyara.
Se os livros fossem realmente importantes, ela voltaria até o casarão para buscar e se eu tivesse sorte, a encontraria de novo.
Ainda encarando o nome no livro, tirei o celular do bolso. Precisava contar para Fred a coisa bizarra e maluca que tinha acontecido.
— Você não vai acreditar no que acabou de acontecer.
Oi migas!! Esse capítulo especial com o ponto de vista do Luca conhecendo a Becca, foi em agradecimento pelas mais de 20 mil leituras.
Um "obrigada" é muito pouco pra expressar toda gratidão que eu sinto depois que leio cada comentário ou mensagem que recebo. Vocês são incríveis demais 🥺❤️
A história já passou pela última betagem, então, estamos dando os primeiros passos pro processo de publicação na Amazon 😱
No meu Instagram (@autoratayrocha) estou postando as novidades e fazendo um conteúdo bem legal sobre o livro, se você gosta da Becca e do Luca, corre lá pra acompanhar!
Comentem o que acharam desse capítulo especial, pois escrevi com muito carinho ❤️
Beijinhos e até a próxima!
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