IV - Outono de 1998
Dois anos depois...
Rafael
Estou deitado na cama, observando o teto e dedilhando algumas notas desconexas no meu violão. Isa tinha ido passar o final de semana na casa dos avós e eu estava suspirando aqui pelos cantos que nem um bobão.
Um bobão cheio de saudades dela.
Domingo à noite sempre foi um momento entediante para mim e eu nem podia abusar muito da sorte. Sexta feira teria uma festa legal e todo mundo da sala tinha sido convidado. Eu estava bem ansioso para ir. Vai ser bem legal. Eu não quero dar nenhum motivo para a minha mãe me botar de castigo e não me deixar sair de casa.
Resolvo então ficar no computador de bobeira até bater o sono. Mas meu quarto estava insuportavelmente quente. Então vou tomar um banho pra me refrescar. Saio do banheiro vestindo uma cueca e procurando alguma coisa pra vestir.
Ah, mas aquele quarto estava uma bagunça! Minhas roupas em bolos espalhados pelos móveis do meu quarto. Minha mãe sempre reclamava, ela me dava a roupa limpa, mas como eu deixava tudo espalhado, no final não sabia se era limpa ou suja.
– Voltei pela! – ela tinha começa a me chamar de pela, um diminutivo charmoso pra pela-saco. Não me importava nada, já que eu tinha inventado um apelido carinhoso pra ela também. Desastre. Não deixo de me assustar quando a porta do meu quarto é aberta e uma Isa sorridente entra, e imediatamente ela fica vermelha.
– Oi Isa – falo normalmente.
– Não tem vergonha de estar pelado? – ela pergunta tapando os olhos.
– Primeiro, que eu não estou pelado, e segundo, eu estou no meu quarto, não vejo um grande problema de estar de cueca no próprio quarto...
– Seu tarado! – ela grita apavorada.
– Era só ter batido na porta.
– Anotado.
Visto uma bermuda e uma camiseta folgada e observo a minha amiga. E me perco um pouco no seu corpo coberto por um short jeans curto e uma camisa branca, simples e colada. Ela estava a cada dia mais bonita. Não culpe um rapaz de dezesseis anos por olhar demais para uma menina...
Não me lembro do momento exato que ela perdeu o seu corpo de menina e ganhou um de mulher. Me fervia o juízo quando a via passeando pelos corredores com seu perfume de pêssego, curvas proeminentes e sorriso fácil.
Porque eu tinha tanto medo de falar assim com ela? Poxa se eu falasse e levasse um fora seria mais fácil do que deixar minha mente viajar nos montes de 'e se...' que se formavam ali. Mas o medo de perdê-la era maior. Não conseguiria ficar sem ela. Pelo menos com a amizade era alguma coisa...
– Pode abrir os olhos – falo e então ela o faz, me fitando com seus olhos negros.
– Melhor – ela me dá um meio sorriso. – Notou alguma coisa de diferente em mim?
A analiso da cabeça aos pés e não consigo encontrar nada de diferente nela. Ela fica me olhando impaciente e quando eu nego com a cabeça e volta a falar.
– E agora? – ela sorri e me mostra a fileira de dentes perfeitamente alinhados e brancos. Sem nada.
– Você tirou! – falo admirando o sorriso dela que beirava a perfeição. O sorriso dela com aparelho não era feio. Só que eu não sabia que ele servia como uma proteção para mim... E agora, como ficaria com o sorriso dela me afetando desse modo?
–Sim – ela responde toda animada.
– Finalmente você vai para de viver com a boca toda cortada por conta de seus desastres...
– Finalmente! – ela começa a gargalhar e eu não consigo parar de pensar que aquele é o meu som favorito, desde sempre.
– Sabe o que isso significa?
– Pipoca caramelizada – ela fala revirando os olhos de alegria.
– Todas as comidas gostosas que pregam nos dentes! – falo animado.
– Você me conhece tão bem Rafa. Mas eu já estou um passo à sua frente jovem gafanhoto. As sacolas já estão lá embaixo.
– E o que estamos fazendo aqui?
Descemos juntos as escadas e ela estava muito engraçada. Passando toda hora a língua nos dentes, estranhando a falta do metal. Quando eu olho o tamanho da sacola, me assusto com o que pode ter dentro... Ela comprou quase o supermercado inteiro...
– Você pretende se alimentar disso pelo resto da vida é?
– Você sabe que eu sou exagerada.
– Sei sim.
– Vamos assistir 'Clube da Luta'?
– "Primeira regra do clube da luta: Você não comenta sobre o clube da luta" – falo citando a fala do nosso filme favorito.
– "Segunda regra do clube da luta: Você não comente sobre o clube da luta" – ela completa e ri.
Ficamos sentados, largados no sofá, assistindo o filme. Eu só me distraía ocasionalmente pelos suspiros satisfeitos de Isa quando ela experimentava alguma coisa nova. Ela fica linda assim...
– Eu teria sido uma criança bem mais feliz se eu tivesse me entupido disso quando menor, agora nem posso aproveitar muito, senão vou ficar do tamanho de um hipopótamo – ri. Ela seria a hipopótamo mais bonita... – E está tudo combinado para sexta feira não é?
– Claro!
– Estou no meu melhor comportamento há semanas... Finalmente vamos para uma festa sem nenhum pai para ficar nos controlando.
– Fala baixo Isa!
– Ah é...
– Vamos juntos não é?
– Sim, te espero lá em casa quando for a hora.
– Certo – falo. Isabela olha triste para o relógio.
– Rafa, está ficando um pouco tarde, não quero a minha mãe me perturbando por conta do horário que eu chego em casa... Mesmo que seja aqui na sua casa.
– É – falo meio desapontado. – Mas amanhã ainda tem aula.
– Nem me fala – ela fala se levantando do sofá.
– Te vejo entrar.
– Affe, moro aqui do lado. Você e meu pai são muito preocupados...
– Deixa de reclamar – me ponho de pé e a acompanho até a porta. De lá a vejo atravessar a rua e segundos da campainha tocar, o pai dela abre. Ele me acena e eu devolvo. Antes que ela entrasse eu tive o deslumbre do seu lindo sorriso.
Então eu entro em casa e vou descansar o meu juízo e tentar me acostumar com o mais novo sorriso da minha amiga.
Isabela
Nem acredito que depois de sete longos anos eu finalmente estava livre daquele treco metálico da minha boca. Estava passando compulsivamente a língua nos meus dentes, era diferente a sensação, quase tinha esquecido.
Felicidade era o mínimo.
Estranho depois de retirar o aparelho a primeira pessoa que eu quis mostrar o meu sorriso não foram os meus pais, ou ninguém da minha família, mas sim o Rafael. Mas como eu estava passando o final de semana na casa da minha avó isso não foi possível e tive que mostrar para eles.
Tive que esperar até domingo, quando voltava para casa.
O domingo passou preguiçoso e tudo o que eu queria fazer era sair por aí, desfilando sem o meu aparelho. Meus pais estavam todo tempo me falando coisas felizes, e assim eu sorria o tempo inteiro.
– Pai, queria pedir uma coisa ao senhor...
– Claro Bela, o que você quer?
– Queria assim, se não fosse muito incômodo, que a gente quando tivesse voltando para casa, se não poderíamos passar num supermercado e comprar tudo o que a sua filha não podia comer por sete anos por conta daquela coisa de ferro nos meus dentes? – faço a minha melhor cara.
– Claro que sim Bela. Passamos no supermercado e compramos tudo o que você quiser, mas só de comemoração, não vamos fazer isso sempre, certo?
– Certíssimo – abraço meu pai. – Obrigada papi lindo – dou um beijo em sua bochecha e depois vou fazer o mesmo com a minha mãe.
Comprei tudo o que eu sempre quis comer. Tudo que gruda nos dentes e fica entre um dente e outro. Doces e salgados que eu sempre quis comer, mas não comia porque depois pra limpar o aparelho era uma novela...
Coloco tudo numa 'ecobag' gigante que também comprei no supermercado e apresso meus pais para irem para casa, e quando chegamos, nem faço questão de colocar o pé dentro de casa, eu pego logo a sacola cheia de guloseimas e vou direto para a casa do meu vizinho.
Bato na porta e espero pacientemente alguém vir. Um minuto depois a mãe do Rafa que veio atender a porta.
– Boa noite tia Lúcia.
– Boa noite Bela – ela me cumprimenta sorridente. – Como você vai?
– Muito bem, obrigada, e a senhora?
– Como Deus permite minha filha... Mas não posso reclamar de nada.
– Que bom! – sorrio sem perceber e a dona Lúcia fala comigo toda animada.
– Bela, minha flor, você retirou o seu aparelho!
– Ah, foi sim. Eu fui ao dentista sábado e finalmente eu me livrei daquele monte de metal! – meu sorriso se alarga ainda mais.
– Seu sorriso agora está mais bonito do que nunca! – ela coloca as mãos em concha no meu rosto e analisa mais de perto os meus dentes.
– Ah tia Lúcia, não é pra tanto! – falo um pouco envergonhada.
– É sim minha flor. Mas eu tenho certeza que não foi para mim que você veio contar a novidade... – ela fala divertida e me dá passagem. – O Rafa está lá no quarto dele... Pode ir lá...
– Obrigada tia! Eu posso guardar essa sacola aqui lá na sua cozinha? – mostro a sacola cheia de guloseimas que eu estava morrendo de vontade de comer.
– Pode ficar à vontade princesa. Mas desculpa o incômodo, mas eu vou ter que dar uma saidinha bem rápida. Mas você sabe que você já é de casa linda não sabe? Pode ficar à vontade...
– Eu sei disso tia Lúcia... Obrigada. Vou deixar a sacola na cozinha e vou chamar o Rafa...
– Certo. Pode trancar a porta quando eu sair?
– Sem problemas... – assim que ela sai pela porta da frente eu a tranco e vou deixar a sacola pesada na cozinha. Depois eu subo direto para o quarto dele.
Mas como eu queria dar um susto nele, eu entrei direto no quarto, sem nem bater na porta. Foi um grande erro não ter batido na porta.
Mas eu tenho que dizer que eu não me arrependi nem um pouco...
Meu amigo estava somente de cueca preta. Não escondia de ninguém que estava entrando numa fase que estava começando a notar o sexo oposto. E o meu amigo, mesmo quando eu não sabia dessas coisas sempre foi um belo exemplar. Ele tinha ganhado alguns músculos, mas sempre os escondia atrás das suas roupas folgadas! Muito bem senhor Rafael...
Me vi suspirando com ele como eu suspirava eventualmente por algum ator ou cantor que eu achava bonito. Ele nem parecia tanto que tinha 16 anos e eu tive que desviar os olhos quando eu comecei a me imaginar com ele. Não no sentido mais carnal do estar, mas com certeza não era nada inocente.
Ele me parece bem confortável com a sua quase nudez e eu nem sei porque eu estava cobrindo os olhos. Era a mesma coisa que ver ele de sunga. Não era? Eu já o tinha visto de sunga algumas vezes e nunca tinha sentido essa comoção toda dentro de mim... Deveria ser a mesma coisa não? Errado.
Bem errado.
Mas o que estava de errado ali não eram as suas roupas, ou a falta delas para ser mais exata, mas era o meu pensamento que estava errado.
Minhas palmas suavam um pouco e espero que ele não consiga escutar o meu coração descompassado. Quando ele se vestiu somente desacelerou um pouco as batidas. Até que voltou o descompasso que eu estou acostumada quando estou ao lado dele.
Comemos besteiras, não sabia que comidas que grudam no dente poderiam ser tão boas. Assistimos o nosso filme favorito e demos muitas risadas.
As imitações do Rafa dos personagens do filme eram tão ruins que chegavam a ser boas. Não sei se chega a fazer sentido para vocês, mas o Rafa muitas vezes tem coisas que ninguém consegue entender... Ele quase que me vira do avesso de tanto que me faz rir, era uma das melhores coisas dele.
Sempre que eu estava ao seu lado, as horas não passavam depressa, elas quase sumiam! Sempre me disseram que isso era uma coisa boa, mas nunca consegui entender, porque quanto mais tempo eu passava com ele, mais horas eu gostaria que o dia tivesse... E quando eu percebi que amanhã nós tínhamos um longo dia letivo para enfrentar, eu tive que me apressar para ir para casa.
Claro que eu não fui embora sem antes dar uma olhada no meu amigo e segurar com todas as minhas forças um suspiro descontrolado.
Ah se ele olhasse para mim de uma maneira diferente... Quem sabe assim eu não tomaria coragem para falar alguma coisa, ou quem sabe até fazer uma coisa... Mas meu medo de fazer alguma coisa e perder a amizade dele sempre me congelava.
Dou um beijo nos meus pais antes de subir para o meu quarto. Não quis nem jantar, já que eu tinha comido um monte de porcaria e estava muito cheia. Então me contento somente com um banho e dormir.
Depois do banho eu estou de toalha procurando o meu pijama para vestir. Ainda de toalha meu celular toca, avisando que eu tinha acabado de receber uma mensagem. Era o Rafa.
Como? Olho assustada para a janela vizinha, apertando mais a toalha ao redor do meu corpo. Tento não fazer movimentos bruscos para não levantar nada mais do que deveria... Mas a janela do lado estava completamente vazia. E outra, a minha cortina estava fechada. O celular então vibra novamente.
Digito uma reposta num misto de alívio e algo que não me permiti identificar.
Ele é impossível, e sempre arranca um riso de mim.
Encontro o meu pijama e luto com o meu sorriso até conseguir pregar o olho.
Rafael
Sexta feira tinha chegado na velocidade da luz e na nossa sala de aula não se falava em outra coisa além da festa que iríamos mais tarde. Eu também estava bem entusiasmado. Seria a primeira vez de quase todos nós numa ambiente de noite, divertido e longe dos pais. A aula tinha acabado, mas ninguém tinha ido embora ainda, estávamos divididos em pequenos grupos, combinando detalhes de mais tarde.
Olhei de longe e minha amiga estava conversando com duas meninas e estava toda animada falando como elas iriam mais tarde e o que tinham comprado pra usar... Coisa de meninas... Então me aproximo dos caras, e eles estão falando sobre as meninas que vão mais tarde.
E claro que quando eu escuto o nome da Isa no meio, tive que me aproximar mais rápido e ainda tentar ficar calmo, dependendo do rumo da conversa sei que vou ter vontade de sair descendo a porrada em todo mundo.
– Eu pegava super fácil a Isa... Ela tá a maior gata... – um dos meninos fala. Não quero nem saber quem foi, pra não comprar briga.
Fecho meu punho e respiro fundo. Acalme-se Rafael, ela infelizmente não é sua namorada... Que direito eu tenho de reclamar com um cara só porque ele disse que ela era bonita? Eu concordava com ele, claro que eu queria muito mais do que somente "pegar" ela, mas ele tinha toda a razão, a Isa era muito linda.
– E você já reparou nos peitos dela? Estão ficando enormes!
Tá, aí eu já não podia ficar afastado e calado. Se referindo ao meu desastre de maneira tão... Tão tosca, como se ela fosse somente um pedaço de carne?
Aí o buraco é mais embaixo meu caro...
Já reconheci de onde vinha a voz. Era do Márcio. Mas que sem-vergonha! Tinha a Patrícia que era a namorada dele e ele ficava por aí reparando no seio das outras! E quando eles viram que eu estava me aproximando, foram tratando logo de desconversar, eles sabem da minha amizade com a Isa e não querem dar nenhuma bola fora. Aí que o meu sangue ferveu mais.
– Oi Rafael – Márcio é o primeiro da roda dos meninos a me cumprimentar.
– Diz cara. Tudo bom galera – tento soar o mais calmo possível. Me viro pro Márcio e falo. – Posso falar com você um minutinho?
– Certo... – ele faz uma cara engraçada, acho que não entendeu nada dos meus motivos, mas pro inferno com o entendimento dele.
Quando estávamos distantes o suficiente dos ouvidos curioso eu tomo uma grande respiração antes de começar a falar, já que eu não quero elevar a minha voz nem falar nada que eu vá me arrepender depois. Ele está me olhando curioso.
– Cara eu realmente não acho que você deveria se referir a Isabela daquele jeito... – tentei ser o mais educado possível.
– Vai dizer que você nunca reparou nos peitos dela Rafael... – ele fala rindo de leve.
É claro que eu já tinha percebido as mudanças no corpo dela... Mas eu não saía por aí falando para quem quisesse ouvir dos seios bonitos e que pareciam ser muito macios e... Limpo a garganta e tento nublar e esconder os meus pensamentos.
– É errado cara!
– O que é isso Rafa? Se você não tem as bolas pra chamar aquela gata para sair é uma coisa, mas agora ficar pegando no meu pé porque eu falo o que você não tem coragem de dizer aí já é bem fora do seu alcance...
– Você que pensa...
– Você que está pensando totalmente errado... Ela não é nada sua, você não tem o direito de estar aqui me enchendo a paciência por causa de uma observação, e verdadeira...
– E a Patrícia? – ele perde um pouco da cor do rosto, mas não perde a pose.
– O que é que tem ela?
– Ela não se incomoda de você aí estar reparando demais nas outras meninas?
– Isso só diz respeito a mim e a ela. Isso não diz respeito a mais ninguém. Se você está tão profundo na friendzone, eu não posso fazer nada, não descarregue a sua frustração em cima de mim...
Arrrrrg! Que a minha vontade de enterrar aquele nariz na cara dele estava bem grande. Mas que babaca! E sem falar mais nada, ele saiu de perto de mim rindo e tudo o que eu queria fazer era dar uns bons socos na cara dele... Ou quem sabe até mesmo falar pra namorada dele...
Mas não faria isso, era uma intriga desnecessária para mim, sei que ele não tinha toda a razão, mas tinha um fundo de verdade.
– Oi – as mãos da Isa repousam na minha cintura e ela tem um meio sorriso no rosto.
– Oi Isa – eu tento soar o mais calmo possível.
– Me faz companhia até em casa? Minha nota de história não foi lá essa coisa toda, e eu realmente não quero ficar sozinha – sei que essa tristeza deve ter sido por que ela não tirou um dez, mas não quis falar nada, ela tem um amor com as suas notas perfeitas que qualquer coisa menor que nove é um zero para o resto de nós.
– Claro Isa, vamos.
Incrível como quando eu ficava perto dela todas as minhas dúvidas e raivas se dissipavam. Abro um sorriso e passo a minha mochila por um dos meus ombros. Com o meu ombro livre, eu puxo Isa para perto para mostrar pro Márcio que... Para confortá-la.
Saímos do colégio e fomos para casa. Isa vem reclamando sobre os nossos professores e como eles são injustos com as notas. Eu escuto tudo sempre com muita atenção. Estranho eu sei, mas ela ficava ainda mais bonita quando as suas sobrancelhas estavam quase unidas e aquela veia saltando da sua testa. Era adorável como ela ainda ficava linda com aquela veia em sua testa.
Sempre que ela tentava saltar eu dava um beijo e as expressões dela suavizavam. Nem percebi que já tínhamos chegado, só percebi porque ela parou de andar e ficou me encarando.
– Obrigada por me escutar e por me acalmar Rafa.
– Sempre que precisar desastre.
Agora é a vez dela de beijar a minha testa diversas vezes e o meu sorriso ameaçava rasgar o rosto de tão grande. Ah, como eu estou esperando pelos meus dezoito anos para tomar coragem líquida para finalmente falar com ela...
– Te vejo mais tarde – ela fala apressada e rapidamente entra em sua casa. Vou até a minha e depois de tomar um banho, eu descanso até a hora da festa.
Quando chega a hora eu já estou pronto e tocando a campainha da casa ao lado. Quem abre a porta já é a Isa. Nunca pensei que uma saia jeans escura e uma camiseta branca cheia de brilho pudessem ser tão... Tão... Tão... Prefiro nem tentar buscar as palavras certas. Ainda não foram inventadas. Mesmo de salto ela ainda consegue ser mais baixa do que eu.
– Bem na hora – ela sorri quando me olha da cabeça aos pés.
– Vamos?
– Claro... Você me espera somente pegar a minha bolsa? É só um minutinho...
– Entra. E senta ali na sala...
– Sentar? Mas você não vai apenas pegar a sua bolsa? Preciso mesmo sentar?
– Você que sabe Rafa...
– Tá certo, entendi que não é apenas isso. Mas vai logo tá certo?
– Certo – ela sorri e não sei como ela conseguiu correr com saltos, mas ela sobe rapidamente as escadas e escuto a porta do seu quarto bater.
Pensei que fosse esperar muito por ela, mas em menos de quinze minutos ela já está descendo. Os pais dela aparecem e cobrem nós dois de recomendações e até queriam que fôssemos com eles, mas Isa tratou logo de bater o pé no chão e dizer que iríamos sozinhos. Então fomos de táxi mesmo.
A festa era na cobertura do apartamento de um dos nossos colegar de classe. Mas me enganei completamente quando pensei que só veria os rostos que estávamos acostumados a ver normalmente nas aulas. Ao chegar, sou surpreendido por diversos rostos que eu nunca tinha visto na minha vida.
As garotas que eu sempre achei que eram recatadas e comportadas estavam dançando de uma maneira bem insinuadora. A cobertura era bem ventilada e não tinha nenhum teto, já que a noite estava fria, mas não havia nenhum perigo de chover.
Algumas lâmpadas bem fortes iluminavam determinados locais e deixava muitos outros num escuro estratégico. Mesmo com a temperatura um pouco abaixo do que estávamos acostumados, pela quantidade de gente que tinha ali naquela cobertura, não sentíamos o menor frio. A piscina estava fechada com placas grossas de acrílico e estava servindo de pista de dança.
Percebo que a Isa meio que está se escondendo atrás de mim.
– O que foi desastre?
– Ah, é que eu não pensei que as meninas iam se produzir tanto assim para vir... Eu estou muito simples em relação a elas...
– Deixa de besteira Isa. Você está linda. Ganha facilmente de qualquer menina aqui, fica tranquila – falo meio que sem pensar e fico preocupado, pensando que talvez eu tenha falado um pouco demais.
– Você acha? – ela fala batendo aqueles cílios tão bonitos.
– Claro, você é sempre muito linda – falo mais uma vez sem pensar. Era o que eu achava, mas sério cérebro? Já pode colocar um filtro nas minhas frases, nada de ficar falando o que acha à torto e a direita. O que a Isa pode pensar disso?
– Obrigada Rafa – ela encosta a sua cabeça em meu ombro e quando os nossos olhares se cruzam, ela sorri.
– De nada... Encontrei a aniversariante, quer ir lá falar com ela? – mudo o assunto.
– Claro – ela toma a minha mão e vai à frente. E nem preciso dizer que atraiu um monte de olhares quando ela passou. Até de uns caras que pareciam ser bem mais velhos...
Depois de falarmos com a aniversariante nos juntamos com alguns dos nossos colegas de classe e começamos a conversar. E o assunto foi o mais distante possível da escola e das matérias. Olhei de relance e notei que mesmo de mãos dadas com a sua namorada, o Márcio ainda olhava descaradamente para as pernas da Isa. Não somente as da Isa, de quase todas as meninas que estavam em nossa roda.
Ele percebe que eu estou o olhando com um olhar que deve ser de reprovação já que ele me encara com um rosto de poucos amigos. Mas não querendo estragar a minha noite eu dou de ombros e tento não reparar mais nisso.
A noite estava agradável e acabei me distanciando um pouco da Isa. Escutava um amigo falando sobre uma nova lanchonete que parecia ser bem legal quando meu olhar é arrastado para um ponto atrás dele. Lá, Isa me olhava desesperada, quase me implorando alguma coisa com o olhar. Peço licença e vou na direção dela. O que pode ser?
– Ah amor, que bom que você voltou – ela fala antes que eu chegue perto o suficiente. Um cara estava bem perto dela, e eu não gostei nem um pouco dele.
Já entendi tudo. Ela queria a minha ajuda para se livrar desse cara.
– Oi linda – falo casualmente e dou um beijo em sua testa.
– Será que você pode dizer para esse cara sair do meu pé, porque como eu tentei dizer para ele mais de um milhão de vezes, eu já tenho um namorado – ela sorri de uma maneira doce e enlaça nossos dedos. Cara, eu sei que eu só estava ajudando ela, mas aquilo foi muito bom.
– Você a ouviu companheiro – minha educação estava mandando lembranças, mas se eu fosse o namorado da Isa de verdade ele já estava correndo o risco de perder um dente.
– Conta outra bonita, você e esse cara aí não são namorados coisa nenhuma! Venho te observando há um tempo e já saquei que vocês são amigos...
– Tá maluco cara? Tá cheio de menina aqui na festa e você não quer deixar a minha em paz? – sei que não deveria, mas foi uma delícia dizer aquilo em voz alta.
– Provem.
– Como é que é? – pergunto um pouco mais alterado. Essa cara já está passando completamente dos limites...
– Se vocês são realmente namorados, não tem nada demais... Então se beijem – o cara fala sério e fica olhando para nós dois.
– Olha aqui cara, eu não te devo nenhuma prova e... – Isa interrompe a minha fala, me roubando um beijo.
Fui pego de surpresa quando os seus braços envolvem o meu pescoço e a sua boca rapidamente se conectou com a minha. Tão certo.
Seu cheiro de pêssego me acertou com a força de um trem desnorteado e eu me sinto nas nuvens com aquele beijo. Sua boca pequena e macia, parecia um algodão doce, açucarada e viciante. Ela tinha gosto de refrigerante de laranja e a partir daquele momento se tornou o meu sabor favorito.
Parecia que as minhas mãos tinha vida própria, porque nem percebi quando uma foi para a sua nuca e a outra apertava a base da sua coluna bem junto de mim. Seu cabelo era macio e acariciava a mão com a qual eu segurava a sua nuca.
Esperei tanto tempo por esse momento. E por várias vezes, quase sempre, eu pensei que ele nunca fosse acontecer.
Isabela
A campainha toca. Oito horas em ponto! Pela saco pontual como sempre.
Desço correndo as escadas descalça, mas antes de abrir a porta, eu ponho o salto, para poder vê-lo de mais perto. Abro a porta para o Rafa. Lindo é pouco pare ele. Uma camisa cinza de botões com mangas dobradas até o cotovelo, uma calça jeans que caía de maneira linda nas suas enormes pernas. Uma basqueteira acomodando seu pé igualmente enorme. O convido para entrar, mas como eu ainda tenho que terminar de me arrumar, eu corro para o meu quarto.
Quando volto, meus pais quase que nos atrasam de tanto que falam e nos aconselham. Era engraçado como elas eram bem preocupados. E só estavam mais tranquilos porque sabiam que o Rafa ia sempre estar por perto. E eles confiam a minha vida ao Rafa. E eu também.
Estava tão apressada no começo que nem reparei que ele estava usando seus óculos, coisa que eu amava por demais, mas que ele não poderia saber. Achei estranho porque ele ficou me falando umas trinta vezes que as lentes dele iam ficar prontas e que ele não ia ficar com cara de nerd na festa.
– Ué pela, cadê suas lentes? Elas não tinham ficado prontas?
– Não deu certo desastre. Meu olho recusou a lente, não consegui ficar meia hora com ela que o meu olho começou a irritar...
– Tá vendo, você é tão nojento que nem a lente quer ficar no seu olho...
– Rá rá rá, muito engraçadinha senhorita... Agora você vai descalça pra boate? Tomara que você pise em um monte de excremento bem fresquinho...
– Nossa Rafa, pra quê essa ignorância toda... Já to indo calçar minha sandália. Me espera aqui que daqui a pouco eu desço.
– Já posso chamar o táxi então?
– Pode sim pela – sorrio e vou pegar o meu calçado.
Estava super animada.
O que não foi muito duradouro, quando eu vi as roupas e acessórios que as meninas usavam, eu fiquei muito insegura com tudo o que eu estava. Eu tinha a certeza que eu ia sumir assim que eu chegasse perto de todas. E claro que a minha insegurança não passou despercebida pelo Rafa. E mais óbvio ainda aconteceu quando ele me colocou para cima. Ele parece sempre saber o que falar.
No começo eu achei diferente falar com todo mundo, com roupas completamente diferentes da farda e o ambiente novo, mas logo relaxei e foi bem divertido. Meio que sem perceber eu fui puxada para o universo das meninas, e separei um pouco do Rafa. Estava conversando com uma das meninas da sala, a Gabriela. Ela era muito legal e me dava bem com ela.
– Bela, você tem que me dizer o nome desse batom que você está usando, eu amei ele...
– Nem sei o nome dele Gabi, ele está aqui – retiro a embalagem de dentro da bolsa e mostro para ela.
– Ele é lindo... E falando em lindo, como é que vai a sua situação com o Rafa? Como é que é? Ele está solteiro, como assim? Como é que você é vizinha dele e ainda não pulou a janela dele?
– Ah, a gente é amigo demais pra se ver assim Gabi – falo sem jeito.
– Mas ele está solteiro não está?
– Acho que sim – tento não ranger os dentes enquanto falo.
– Maravilha, sei que a Larissa vai ficar muito satisfeita quando ficar sabendo disso...
Não, a Larissa não... Ela era da sala especial e uma menina super legal. Sei de um monte de coisas que o Rafa adora e ela também. Os dois tem tudo para se dar bem... Tanta menina poderia ficar afim dele, mas logo uma das que mais tem coisas em comum com ele.
– Bela, meu primo passou a semana me perturbando para te conhecer. Ele é o maior gatinho e desde que você chegou ele não olhou pra mais ninguém – Gabriela fala animada, me tirando dos meus pensamentos.
– Ih Gabi, sei não... Esse seu primo não é bem mais velho?
– Mas homem demora a amadurecer Bela, vocês dois podem se dar bem, vai dar uma chance pra ele? Tá ali o Caíque – ela apontou para um cara com os cabelos cacheados e negros que olhava fixamente para mim não muito longe. O cara mesmo de longe parecia ser bonito... Não queria muito, mas...
– Acho que eu não tenho muita escolha não é?
– Claro que não – Gabi dá um beijo na minha bochecha e me deixa sozinha menos de um minuto, pois os dois vieram praticamente correndo para as apresentações. – Bela, esse daqui é o meu primo Caíque. Quique, essa daqui é uma das minhas melhores amigas, a Isabela.
– Olá Bela – ele fala cheio de intimidades e beija meu rosto por tempo demais.
– Oi Caíque – falo sem jeito tentando não parecer muito grossa enquanto afasto o um rosto do dele.
– Vou deixar vocês dois conversando... Vou dar um rolê por ali – e saí sem deixar que eu mude de ideia.
– Então Bela, o que você gosta de fazer? – ele pergunta depois de tomar um gole da sua bebida, que só pelo cheiro sabia que tinha álcool.
– Só passar tempo com os meus amigos mesmo, nada demais... E você?
– Eu adoro ir para festas, conhecer gente nova, mas faz tempo que eu não tenho a sorte de conhecer uma menina tão linda assim como você nessas festas.
– Ah, obrigada – falo desviando o meu olhar com um pouco de vergonha.
– Não vira o rosto linda, você é muito gata e sabe disso – ele fala e segura o meu rosto. Não sei dizer o motivo, ele não foi grosso e nem estava perto demais, mas o modo que ele virou meu rosto, me fez ficar em alerta. Nunca gostei de pessoas que querem se fazer de muito íntimas sem ao menos conversar comigo um tempo... Ele não me conhece nem a dois minutos e já está pegando no meu rosto? Não gostei.
– É, mas acho que eu deveria dizer a você eu tenho um namorado...
– Namorado?
– Sim, eu tenho um.
– Estranho a minha prima não falou que você tinha um...
– Mas eu tenho. Ele está logo ali – apontei para o lugar onde o meu amigo estava conversando com um dos meninos da sala. – O nome dele é Rafael.
– Tem certeza? – ele aproxima um passo de mim.
– Tenho – minha voz sai firme.
– Vi que você chegou mesmo com uma cara, mas não sei...
– Ele é o meu namorado! – comecei a ficar com raiva. Cara insistente.
– Olha Bela, não vejo problema nenhum nisso, se ele for o seu namorado mesmo, nós podemos nos encontrar depois e quem sabe o que acontece...
Isso era um absurdo! Se eu não queria nada com ele antes, agora é que eu não quero mesmo.
Ele continuou a falar, mas a partir desse momento não prestei mais atenção ao que ele falava, e tentei chamar a atenção do meu amigo. Começo a olhar fixamente para ele até que finalmente ele nota que eu estou olhando para ele. Só espero que ele se compadeça do meu olhar desesperado e venha falar comigo.
E como um cara maravilhoso que ele é, Rafa vem na minha direção. Ótimo ele vai me salvar.
– Ah amor, que bom que você voltou – falo antes que ele me alcance, porque se ele chegar aqui com papo de amiga ia melar toda a minha mentira.
– Oi linda – falo ele beija a minha testa. Que maravilha, ainda bem que ele entendeu o motivo do meu desespero.
O Rafa desempenha um papel exemplar de namorado. Ele protege o que é dele. Quer dizer, de mentira, mas vocês me entenderam... Pensei que o Rafa fosse ficar muito bravo quando o Caíque pediu para que nós provássemos que éramos realmente namorados.
Ele ainda que tentou convencê-lo com palavras, mas vejo que o cara é insistente e só aceitaria um ato. Por isso me pareceu normal quando beijei o Rafa.
Eu pensei que seria esquisito beijar o meu melhor amigo, mas não quando você tem sentimentos por ele. E nem me pergunte o que estava passando na minha cabeça quando eu o beijei. Mas foi incrível.
Sua boca pequena e vermelha era macia demais. E quando ele me pegou pela cintura para me beijar melhor, não tive como evitar de deixar uma língua rolar. Foi uma coisa tão especial, que eu gostaria de pegar esse momento e colocar dentro de uma caixinha e levar comigo sempre.
Nem percebi quando eu tirei os óculos dele do rosto para poder me aproximar melhor. O tempo parou e na minha cabeça milhares de cenários de borboletas voando e abraços quentes. Não me pergunte o porquê. Com o meu coração na ponta da minha língua eu me entreguei completamente.
– Acho que ele já foi – o Rafa fala bem perto de mim, seu hábito fazendo cócegas no meu rosto.
Ainda estou atordoada com a explosão de sensações que fui acometida e é ainda como se a sua boca estivesse na minha, me deixando completamente sem palavras. Já li em alguns livros e achei completamente ridículo quando a mocinha é beijada pelo cara que ela gosta ela fica com cara de boba e sem saber o que falar.
Mas agora, aqui estou eu, depois de ser beijada, e vejo que eu sou a ridícula da história. Pois na minha mente só se encontra a mais pura felicidade. A mão que estava na minha nuca desce e encontra a que estava na minha cintura. Percebo que os seus dedos estão um pouco tensos. Não sei o porquê.
Minhas mãos ainda estão atrás da sua cabeça e nesse momento eu não faço a menor ideia do que eu faço com elas. Só então lembro que ele tinha falado comigo.
– Acho que sim... Uma boa encenação não foi? – encenação era a pior palavra que eu poderia usar. Aquilo não tinha sido uma encenação, eu tinha me entregado aquele beijo... Mas se eu corrigir agora acho que vai ficar muito na cara que...
– É, acho que sim... – seu olhar desvia do meu e ele se afasta um pouco, retirando as mãos da minha cintura. Ele achou que foi encenação? Droga!
Minhas mãos saem do pescoço dele e é quando vejo a armação escura que eu estou segurando.
– Acredito que isso é seu... – falo entregando para ele os óculos.
– Ah, sim claro – ele coloca e é como se a barreira que eles representavam também fosse reerguida. Um silêncio se instalou entre nós dois. Não o tipo que estávamos acostumados.
– Olha Rafa, sobre o beijo eu... – o que falar sobre esse beijo?
– Você... – agora ele volta a olhar para mim e vejo uma curiosidade no verde dele.
– Se você quiser falar sobre ele, sei lá... – repetir a dose, quem sabe. – Não quero que fique um clima esquisito entre nós.
– Não vai ficar Isa. Relaxa, não precisamos mais falar sobre ele se você não quiser... – eu quero, mas não faço a menor ideia sobre como começaria essa conversa. Se eu queria repetir? Com certeza. Se eu teria coragem para beijá-lo novamente? Não mesmo.
– Acho que não precisamos, eu só beijei você pra me livrar do Caíque... – não sua maluca! Pode até ter sido no começo, mas você continuou o beijo porque QUIS. – Isso saiu errado, quer dizer eu...
– Tudo bem Isa. Serviu para os propósitos então – o conhecia bem o suficiente para reconhecer a mágoa em sua voz.
– Não Rafa, não é bem assim... Eu só não sei o que pensar agora tudo bem?
– Acho que você deixou bem claro – seu meio sorriso foi diferente de todos o que eu já tinha visto dele.
– Vamos cantar os parabéns e cortar o bolo – Gabriela quase que brota no chão, sorrindo e puxando a minha mão. – Que beijo foi aquele hein dona Bela? Você vai me contar tudinho.
Minha mão vai automaticamente para meus lábios e aquele choque volta a percorrer o meu corpo. Meus olhos procuram pelo Rafael e só consigo ver as suas costas. Ah Rafa...
Eu não esperei aquele beijo, e sei que falei um monte de coisas que não pretendia depois, mas sei que ele deve ter sentido alguma coisa. Ninguém beija assim somente por beijar. Mas que um dia vamos falar sobre o beijo, ah, nós vamos...
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