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III - Outono de 1996

Dois anos depois...

Rafael

Hoje é o meu aniversário e eu adorei pelo fato desse ano ele ter caído num sábado. E pra melhorar ainda a minha situação, hoje aconteceria um show numa cidade vizinha de uma banda que eu gostava muito. Certo que não era a banda de verdade, era somente um cover, mas mesmo assim eu queria muito ir.

E como era o meu aniversário os meus pais não souberam como dizer não para mim.

Meus pais iriam comigo, mas me prometeram ficar longe. O que pra mim era uma vitória. Mal podia esperar pra contar pra Isabela. Sei que ela curte muito também essa banda, vou perguntar se ela quer vir comigo.

Passei a manhã inteira no telefone. Um monte de tios e primos que eu nem lembrava que tinha, ligaram para mim, me desejando um feliz aniversário e tudo o que se deseja a um aniversariante. Mas eu queria mesmo era ir logo falar com a Isa.

Depois de almoçar uma lasanha que a minha mãe tinha feito especialmente para mim, vou direto para a casa da minha vizinha. Toco a campainha e que atende a porta é o pai da Isabela.

- Boa tarde seu George - cumprimento o homem simpático.

- Rafael! Feliz aniversário meu caro! - ele me puxa para um abraço meio desengonçado, mas muito bem vindo.

- Muito obrigado tio! - sorrio.

- Thalia! O Rafael! - ele grita, informando a sua esposa que eu estava ali. A mãe da Isa chega segundos depois, com um avental bem a cara dela e já abre um enorme sorriso e os braços.

- Rafael! Vem cá, deixa eu te dar um abraço especial de aniversário! - ela diz toda contente e se abaixa um pouco para ficar da mesma altura que eu e passa os braços ao meu redor, me dando um abraço apertado.

- Obrigado tia - digo já ficando um pouco envergonhado com esse carinho todo.

- Vem, entra. A Isabela quer falar com você também... - ela diz toda animada e com um sorriso que parecia esconder alguma coisa.

Eles me acompanham até a cozinha e eu tenho que segurar uma gargalhada quando vejo a Isabela com o cabelo desgarrado, suja de farinha e aquilo era chocolate preso no cabelo dela?

- Rafa! - ela praticamente grita e tenta limpar as mãos. Consigo ver direitinho o contorno das mãos na calça comprida que ela usava. - Tudo bem?

- Tudo sim. E com você? Fora a culinária que está rolando aqui...

- Eu to bem... E a aula que eu recebi hoje rendeu frutos - ela diz num sorriso orgulhoso e dá dois passos pro lado, me possibilitando ver um bolo coberto com chocolate.

Mesmo de longe, a visão do bolo me deu água na boca. Isabela tinha se superado. Se o bolo estivesse tão bom quanto estava bonito, estaria uma delícia.

- E aí, o que achou? - ela pergunta, provavelmente por eu ter demorado demais encarando o bolo.

- Muito bom. Você que fez?

- Minha mãe me ajudou...

- Ah, então assim eu posso comer.

- O que você quer dizer com isso Rafa?

- Quis dizer que eu corria um risco sério de morrer no dia do meu aniversário se eu comesse esse bolo, se ele tivesse sido feito por você sem a supervisão da sua mãe!

- Vou relevar porque é o seu aniversário... E por falar nisso. Meus parabéns Rafa! - ela sorri e levanta os dois polegares.

- Valeu Isa - ela parece lembrar de algo muito importante e então vai até a pia, lava bem as mãos para depois ir até o armário e buscar dois pratos e uma faca.

- Você quer comer o bolo agora? Ou só mais tarde?

- Agora e mais tarde. Pode ser?

- Claro - ela sorri e começa a cortar o bolo.

Chego em casa e assim que abro a porta do meu quarto. Uma caixa de presente enorme está em cima da minha cama. Pelo formato da caixa, já podia até adivinhar o que tinha dentro.

Abro a tampa da caixa e parece que o meu sorriso vai rasgar o meu rosto de tanta felicidade. Era um violão. Já estava fazendo algumas aulas e adorava aquele instrumento. Sempre que passávamos em frente a uma loja de instrumentos musicais quando voltávamos da escola eu ficava admirando aquele violão que ficava na fachada.

E agora ele estava em cima da minha cama,com um laço vermelho colado na madeira.

Nem perco tempo e retiro ele da caixa e vou logo dedilhando algumas notas. Ele estava bem afinado e o som que saía de dentro dele era bem melhor do que eu imaginava. Alisei a madeira perfeitamente lisa de cor escura, e olhei de perto cada detalhe negro que estava pintado nele. Era bem mais bonito de pertinho.

Meus pais acertaram em cheio nesse presente.

E falando neles, assim que ergo o meu olhar, vejo os dois a me olhar, encostados na minha porta. Coloco com todo o cuidado o meu presente em cima da cama e vou correndo ao encontro deles.

Abraço os dois com vontade e não consigo parar de sorrir.

- Eu amei o presente. Obrigado.

- Não precisa agradecer filho - meu pai diz.

- Como vocês sabiam que esse era o violão que eu queria? - pergunto curioso.

- Um passarinho próximo nos contou - minha mãe sorri e já sei até de onde eles descobriram qual era o que eu queria.

- Obrigado - agradeço mais uma vez e tenho que me lembrar de agradecer a Isa por ter lembrado dos meus delírios com esse violão.

Isabela

Me deu um trabalhão fazer aquele bolo. E olha que a minha mãe tinha feito as partes mais difíceis. Eu tinha me sujado inteira e vou ter que tomar uns três banhos para que todo o chocolate saia do meu cabelo.

Escuto o meu pai falar pra minha mãe que o Rafa está lá fora. Mas que coisa! Era pra eu ir lá na casa dele levando o bolo, não pra ele vir aqui. Mas não tem outro jeito...

Limpo um pouco do confeite que tinha caído em cima da mesa e abro o maior sorriso que consigo. Rafa entra na cozinha, acompanhado dos meus pais, mas eles só vieram mostrar pro Rafa onde eu estava, pois eles já saem logo em seguida.

Conversamos um pouco na cozinha e ele não me parece de um todo animado em experimentar o bolo que eu tinha feito, só comeu por que eu disse que tinha sido a minha mãe que tinha feito grande maioria! Pessoa sem coração!

- Mais uma vez, feliz aniversário Rafa! - digo e corro em sua direção para lhe dar um abraço. Ele nem parece se importar por eu estar sujando ele de farinha e chocolate, me abraça super feliz.

- E mais uma vez, valeu Isa - ele ainda abraçado comigo continua a falar. - Então eu te vejo mais tarde não é?

- Sim.

Ele se despede de mim e vai pra casa. Vou tomar um banho e demoro um pouco pra me sentir completamente limpa.

Acho que eu já experimentei metade do meu guarda-roupa e ainda não consegui algo que me agradou. Minha mãe bate na porta do quarto e me encontra sentada no meio da minha cama, rodeada por várias roupas amassadas.

- O que aconteceu filha?

- Não consigo escolher uma roupa para usar mais tarde...

- Você quer ficar bonita não é? - ela nem me dá tempo de ficar vermelha, já vai logo levantando e indo em direção ao meu guarda roupa. - Por que você não usa esse vestido? Você fica linda nele...

Tinha comprado ele a pouco tempo e realmente gostava muito dele. E até combinava com a ocasião. Era preto, com o desenho de diversos trovões por todo ele. Nem tinha me lembrado dele. Ainda bem que a minha mãe está aqui.

- É perfeito mãe!

- Que bom que você gostou filha! Já falei com os pais do Rafael e eles estarão saindo quando a noite começar a cair. Então, você ainda tem um bom tempo para começar a se arrumar.

- Certo!

Minha mãe me dá um pouco de privacidade e eu acabo ligando para a Clara, para falar sobre as novidades. Ela me mataria se eu não ligasse pra ela para falar se o Rafael tinha gostado do bolo. Ela atende no segundo toque.

- Oi Clara. Sou eu, a Isa.

- Me conta tudo e não me esconda nada! Ele comeu o bolo? Você conseguiu fazer? Vai rolar beijo de aniversário? O que ele achou?

- Clara criatura, calma! Uma pergunta de cada vez! Sim, eu consegui fazer o bolo, com a ajuda da minha mãe e sim, ele comeu o bolo, estava uma delícia, levo um pedaço pra você segunda feira.

- E o beijo, rolou?

- Tá maluca Clara?! Claro que não! Deixa de imaginar essas coisas, somos amigos sua boba!

- Mas amigos também podem beijar!

- Só se for os seus amigos, pois não fico beijando meus amigos não sua atirada! Mas nós vamos a um cover da nossa banda preferida mais tarde.

- Ah, então tá, agora tá tudo explicado.

- Explicado o quê?

- O beijo vai acontecer mais tarde... Estão guardando o melhor pro final da noite.

- Não viaja Clara!

- Ah Isa! Deixa eu implicar um pouco com você, o que custa!

- Minha paciência amiga!

- Mas você tem tanta paciência, posso gastar ela um pouco - quase dava para escutar o sorriso dela do outro lado da linha. - Decidiu o que vai usar?

- Sim, pelo menos eu acho que sim.

- Quero que você tire uma foto, só pra eu ter certeza que você está absolutamente linda, tá me escutando?

- Estou Clara!

- Pois agora, eu tenho que ir, minha professora de reforço chegou! Tenho que tirar notas boas agora, senão minha mãe vai me matar e cortar todos os meus privilégios.

- Bons estudos então Clarinha!

- E você tenha um ótimo encontro Isa!

- Clara!

- Você sabe que é! Beijos e nos falamos amanhã. Quero cada detalhe dessa saída!

- Beijo, nos falamos amanhã então - desligo rindo.

Minha amiga é uma figura! Deito na cama com um sorriso e fico ali de bobeira, só esperando o tempo passar, descansando um pouco. Até consigo tirar um cochilo rápido.

Tá, nem tão rápido assim, pois minha mãe vem ver se eu não estava precisando de nada, e acabou tendo que me acordar. Eu estava bem apertada com o tempo. Mas consegui me arrumar em tempo recorde. Deslizei dentro do meu vestido, prendi o cabelo num rabo de cavalo bem alto e calcei minhas sapatilhas.

Fui descendo as escadas passando meu batom preferido cor de boca e ao chegar lá embaixo, meu pai e minha mãe me olham com muito carinho e aprovação.

- Você está linda filha - minha mãe elogia me abraçando.

- Obrigada mãe. E aí pai, o senhor também acha que eu estou bonita?

- Você é linda filha. Mas agora você está especialmente encantadora - meu pai diz dando um gole em sua xícara sempre cheia de café.

- Assim você me deixa sem jeito pai! - fico envergonhada.

- Aqui filha, eu achei esses brincos nas minhas coisas e imaginei que você esqueceria-se de usar, e que eles ficariam muito bons com o vestido - ela me entrega um par de brincos prateados, super leves e brilhantes. Eram lindos.

- Eles são incríveis mãe. Valeu.

- Não há de quê filha.

- Isa, quero te pedir uma coisa - meu pai me chama. - Quero que você tome muito cuidado hoje nessa casa de show. Quero que fique perto dos pais do Rafael o tempo todo e não dê trabalho para os dois. Certo?

- Pode deixar pai. Vou ter muito cuidado e vou obedecer tudo.

- Sei que você é uma boa menina - ele diz num sorriso que era no mínimo orgulhoso. - E aqui pra você, para qualquer eventualidade - ele me entrega a minha mesada de uma vez e eu arregalo os olhos.

- Nossa pai. Pra quê tudo isso?

- Não sei filha, mas nunca se sabe. Cuidado com esse dinheiro.

- Certo.

A minha sorte era que o vestido tinha um bolso interno escondido, e ele tinha um zíper, dava pra colocar algumas coisas dentro dele sem ter medo de perder.

- Obrigada. Agora, deixa eu ir, que senão posso atrasar a nossa saída.

- Certo filha - os dois falam ao mesmo tempo e ficam em pé. Vão me acompanhando até a porta e sinto os olhares deles em mim enquanto vou até a casa do meu vizinho.

Não sei ao certo o motivo, mas estou um pouco nervosa quando eu toco a campainha.

Rafael

Abro a porta e uma Isa com um sorriso enorme, ostentando aquelas covinhas lindas está na minha frente. Seus braços estão para trás.

- Tô atrasada? - ela pergunta.

- Não, minha mãe ainda está se arrumando. Entra Isa - abro a porta para que ela entre e aceno para os pais dela que estão na porta da casa dela, olhando por ela. Assim que a Isa entra, vejo os pais dela entrando e fecho a minha porta.

- Gostei da roupa.

- Também gostei da sua - gostar é pouco. Ela estava mais linda do que o normal. - Senta - indico o sofá para que ela possa sentar.

- E então - ela praticamente se joga de costas no sofá. - Está animado para a noite de hoje?

- Mas é claro. Mal posso acreditar que os meus pais concordaram com tudo isso...

- E que ainda concordaram em me levar - Isa diz toda feliz.

- Essa noite vai ser muito boa.

- Com certeza. Pretendo voltar pra casa sem voz de tanto que eu vou gritar cantando as músicas.

- Bem lembrado Isa, é bom eu ir logo pegando alguma coisa pra bloquear parte do que eu escuto. Não quero ficar surdo tão jovem assim.

- Deixa de ser exagerado. Eu canto até que direitinho.

- É, pra alguém com dor de garganta e com a voz ruim...

- Rafa! - ela briga comigo e se levanta um pouco somente para alcançar o meu braço, para dar um soco fraco.

- Ei! Tô brincando Isa, não precisa bancar a violenta!

- Te perdoo só porquê é o seu aniversário. Desculpa! Ah! Ia me esquecendo eu trouxe uma coisa pra você! - ela sai de cima de uma pasta negra. Me entrega e eu fico olhando curioso.

- O que é isso? - pergunto sem saber nem o que pensar. Parecia uma pasta de documentos, aquelas que tinham folhas de plástico para guardar folhas de papel.

- Abre bobo, assim você vai ver - ela sorri e a curiosidade me toma.

Abro na primeira página e vejo logo uma folha toda desenhada guardada na primeira divisória de plástico. Conheci os desenhos logo de cara. A Isa tinha feito eles. E escrito em letras garrafais e bem coloridas "As melhores músicas até o momento".

Sem saber o que esperar disso vou folheando as páginas, e dentro de cada uma delas, as músicas que eu mais amava, todas com letra e partitura no violão. Deve ter dado um trabalho doido pra ela fazer aquilo e eu fiquei tocado por ela ter tido todo esse trabalho por minha causa.

- Se tiver faltado alguma, pode dizer que eu vou procurar a partitura - ela diz preocupada.

- Não esquenta Isa. Aqui tem muitas das músicas que eu amo. Obrigado por lembrar de todas essas Isa, vou ficar um bom tempo ocupado treinando elas...

- Não há de quê. Agora com o seu violão vai ficar tudo mais fácil não é?

- Suponho que eu tenho que agradecer a você também não é? Por dizer aos meus pais qual era o violão que eu queria...

- Não foi nada demais! - ela diz rindo de uma maneira nervosa e começa a mexer no cabelo.

- Não diga isso Isa, obrigado - ela não esperava o meu abraço, mas eu não tinha outra maneira de agradecê-la por tudo. Passo um bom tempo com os meus braços ao seu redor, o cheiro dela sempre me faz perder a noção do tempo.

- Sem problemas - ela diz num sussurro baixo assim que eu a largo. Suas bochechas ficam vermelhas e eu percebo o quanto eu estou perto dela. Meu coração dispara numa velocidade alarmante e é a primeira vez que eu me sinto assim tão descontrolado perto dela.

- E aí Rafinha, pronto pra festa filho? - minha mãe pergunta entrando de uma vez na sala.

Parece que eu sou despertado do seu feitiço de olhar e nos afastamos de uma maneira nada discreta. Isa parece um pimentão de tão vermelha que está.

- P-pronto - digo totalmente sem jeito.

- Só vou beber um pouco água e já saímos. Filho, você ofereceu alguma coisa pra Isabela beber? Ou quem sabe comer? - meu pai pergunta.

- Ah não precisa tio Tadeu, estou bem...

- Então se quiserem, já podem ir para o carro, eu e a sua mãe não demoraremos filho - meu pai diz indo em direção a cozinha.

- Vamos Isa? - pergunto querendo sair do olhar conhecedor dos meus pais.

- Claro...

Ainda consigo escutar meu pai falar em tom divertido com a minha mãe.

- O que será que teria acontecido se tivesse esperado um pouco mais hein Lúcia?

Nem quero escutar a resposta da minha mãe e fico rezando para que a Isa não tenha escutado esse comentário do meu pai. Entramos num carro e começamos a dividir um silêncio tranquilo, perturbado somente pelos meus pais que chegam.

- Estão animados? - minha mãe pergunta assim que afivela o seu cinto de segurança.

A empolgação da festa me contagia e eu realmente fico bem animado para ir. O mesmo acontece com a Isa já que compartilhamos um sorriso cúmplice e bem parecido.

- Assim que eu gosto de ver - minha mãe diz toda feliz.

Finalmente chegamos, estou super animado de estar aqui hoje e minha animação atingiu alturas malucas quando a Isa segura a minha mão, numa animação incrível de se ver. Ela não parava de sorrir e estava saltitando de felicidade.

Vê-la daquele jeito superava todos os presentes que eu tinha ganhado naquele dia. A presença dos meus pais ali não me incomoda em nada. A noite ia ser maravilhosa, eu estou sentindo.

Isabela

A casa de show é bem ampla e bem mais iluminada do que eu imaginava. Tínhamos ganhado um carimbo na mão informando que éramos menores de idade e assim não poderíamos adquirir bebidas alcoólicas.

Pensei que não haveria muita gente da nossa idade, mas me surpreendi com a quantidade de rostos conhecidos que eu vi por ali. Achei tão legal os pais do Rafa darem espaço para a gente ficar bem à vontade. Compramos duas águas e logo encontramos alguns colegas de classes diferentes e nos postamos a conversar.

Até mesmo a banda que se apresentou antes da que nós esperávamos foi bem animada. Pulamos, cantamos e nos divertimos muito com cada música.

- Daqui a uns tempos, quem sabe não sou eu em cima de um palco desse, dando um show na guitarra? - Rafa diz no meu ouvido. Um arrepio involuntário percorre meu corpo.

- Vai ser bem incrível. Se isso acontecer mesmo, não se esqueça de guardar um lugar especial bem na frente do palco para eu não perder nada.

- Mas é claro - ele sorri. - Estou morrendo de sede, você quer uma água?

- Seria ótimo.

Olho por cima do meu ombro e observo ele ir se afastando e indo até a bancada, se debruçando sobre ela e falando com o rapaz que estava atendendo a todos ali.

- Ele é incrível não é? - uma voz feminina fala ao meu lado, me fazendo virar para o outro lado.

- Quem? - me viro e encaro uma das meninas da outra sala.

Jéssica era tão bonita e parecia ter uns dois anos a mais do que realmente tinha. Sempre era paquerada pelos rapazes mais velhos e era só ela dar mole pro cara, que ele caía matando, o que para garotas como eu, que não recebiam olhares e nem eram paqueradas, era praticamente uma afronta.

- O Rafael ué... - ela diz toda sorridente. Mesmo ela sendo uma pessoa legal, estou bem decidida a não gostar nem um pouco dela.

- O que tem o Rafa? - pergunto um pouco irritada.

- Já tá surda Isa? Eu te disse, que o Rafa é incrível. Você não concorda? - ela diz exibindo uma fileira de dentes perfeitos enquanto eu tenho que me contentar em usar esse maldito pedaço de metal na boca.

- Eu... Er, sim, claro que concordo. Ele é meu melhor amigo - digo convicta.

- Sei bem disso... Bem que você poderia me dar uma forcinha não é Isa, me dizer do que ele gosta, e tal...

- Mas eu pensei que você só gostasse de meninos mais velhos Jéssica... - tento manter a minha voz sob controle.

- Pois é, mas então é que o Rafa me faz seriamente repensar nos meus conceitos sobre isso de homens mais velhos. Mas ele parece tão maduro... Mas então, você pode me ajudar.

- Ah. Sim. Ajuda - não sei o que dizer, mas começo a sentir o meu peito apertar de uma maneira nada agradável. Ficou um pouco mais difícil de respirar.

- Ele parece ser um menino legal. Queria fazer as coisas direito com ele - ela diz toda animada e joga uma mecha perfeita do seu cabelo ruivo para o lado. Mas por quê ela tinha que ser tão bonita assim hein? Aquela menina era uma afronta para as meninas que se sentem insegura com a sua aparência.

- Ele é maravilhoso - penso alto e as palavras saem da minha boca antes que eu pudesse pará-las.

- Sim, sei bem que ele é! - ela diz e olha por cima do meu ombro. - Ele está voltando. Assim que começar o show vou desejar parabéns pra ele - sorrindo, ela se afasta de mim e eu fico tensa.

Me assusto quando sinto uma coisa gelada encostar no meu braço e eu desperto dos meus pensamentos.

- Sua água Isa - Rafa me entrega uma garrafa lacrada.

- Obrigada - digo meio que no automático e agora fico consciente que a Jéssica não para de olhar na nossa direção. O que eu faço? Aviso pro Rafa que a Jéssica vai muito provavelmente tentar alguma coisa com ele daqui pro final da noite?

Ou simplesmente engulo tudo o que eu ouvi hoje e deixo que se ela tiver coragem que ponha a sua cara a tapa?! Mal percebo quando as luzes dali se alteram e a banda finalmente é anunciada.

Um monte de gritos me tiram dos meus pensamentos e para não parecer que tinha algo de errado comigo, eu começo a gritar também, o mais animada que consigo. Olho pro Rafa e ele está olhando pra mim. Abro um sorriso e ele passa a mão pelo meu ombro para pular ao meu lado.

Amo essa primeira música e passo a gostar bem mais dela quando sinto o braço do Rafa ao meu redor. A música termina cedo demais pro meu gosto e os braços que estavam ao meu redor não estão mais.

- Eles são melhores do que eu imaginava - Rafa diz bem animado.

- Sim - sorrio para ele, mas logo sinto alguém se aproximar de nós. Nem preciso virar para ver que é a Jéssica.

- Aniversariante! - ela diz toda animada e mesmo não tendo a menor intimidade com o meu amigo, ela o puxa para um abraço todo desengonçado.

- Ah, oi Jéssica - Rafa fala envergonhado e ajusta os óculos no rosto.

Não preciso ver isso. Peço licença aos dois e digo que vou até o banheiro. Mas só me afasto um pouco mesmo. Mas acabo mesmo indo até o banheiro e lavo meu rosto.

Quando eu volto e vejo os dois conversando, começo a fechar os meus punhos, com muita força. O acorde de uma música que eu conhecia muito bem e que se encaixava muito bem na minha situação atual começa a tocar. Mordo o interior da minha bochecha e tento não parecer tão alterada.

A música nem chega ao segundo refrão quando o Rafa dá um sorriso e um beijo na bochecha dela. Doeu. E então ele começa a se aproximar de mim. Ele tem um semblante preocupado quando se aproxima de mim.

- Ué, aconteceu alguma coisa Isa? Algum babaca tentou dar em cima de você no caminho pro banheiro? - ele pergunta preocupado.

- Ah, não, não é nada disso... Estou legal.

- Será que dá azar pra uma pessoa mentir descaradamente assim pro aniversariante do dia? - ele faz uma cara pensativa que me dá uma vontade descontrolada de rir.

- Você é um bobo! - jogo o meu ombro nele, o empurrando de brincadeira. Não consigo segurar o riso e o momento de ciúmes que eu tive a momentos atrás parece que nunca existiu.

- Agora sim, bem melhor sorrindo - ele pisca um olho pra mim e arruma mais uma vez os seus óculos no rosto.

Aproveito o resto do show com o meu amigo ao meu lado. Não havia Jéssica, os pais dele, ou quaisquer outras pessoas ao nosso redor. Só éramos eu, ele e a música. E foi incrível.

Estou praticamente sem voz depois que o show termina e temos que voltar para casa. Fizemos boa parte do caminho de volta com um sorriso maravilhoso e um silêncio confortável. Uma música suave tocava na rádio e enchia o ambiente com as batidas tranquilas.

- Ah Rafa, eu me diverti tanto no show hoje - digo, tentando com todas as forças relevar o meu acesso de ciúmes que tive mais cedo.

- Eu também Isa - ele diz todo animado e arruma os óculos no rosto.

O pego de surpresa, o puxando para um abraço bem apertado. Ele fica meio imóvel por conta do cinto de segurança, mas me abraça também. Ergo a cabeça e abro o melhor sorriso que tenho dentro de mim.

Sinto o olhar dos pais dele em mim, mas no momento é a última coisa que eu me importo. Penso que consegui reunir alguma coragem dentro de mim, mas ela não chega nem perto de suficientemente grande. Então quando eu aproximo a minha boca dele, tudo o que eu consigo alcançar é a sua bochecha.

Pelo menos eu acredito ser a bochecha dele, mas com o movimento do carro e como o corpo dele fica imóvel, percebo que errei um pouco a mira e estou perigosamente perto da sua boca. Ainda bem que o carro parou e já chegamos nas nossas casas, assim eu não tenho que morrer de vergonha.

Praticamente pulo pra fora do carro e dou dois passos para a minha casa, mas percebo que eu nem agradeci aos pais dele pela noite. E mesmo tendo consciência que eu devo estar parecendo um pimentão vermelho, volto para o carro e me encosto-me à janela em que a mãe do Rafa estava.

- Obrigada tia Lúcia, tio Tadeu. Eu adorei a noite de hoje! - digo sorrindo de maneira fraca, mas verdadeira.

- Não há de quê Bela - a mãe dele diz sorrindo e faz um carinho de leve no topo da minha mão.

- É querida, ficamos muito felizes por você ter ido conosco - o pai dele me diz e eu vejo pela minha visão periférica, um Rafa meio calado no banco detrás.

- Eu que fiquei feliz de ter ido - não sei se é porque eu não estou mais perto dele, mas sou tomada por uma coragem súbita. - E Rafa? - digo alto para que ele olhe para mim.

- Sim? - ele diz um pouco alto demais. Parece até que estava perdido em pensamentos...

- Feliz aniversário - sorrio amplamente para ele e ele me responde com um sorriso igualmente amplo e brilhante.

Vou pra casa praticamente saltitando e preciso de alguns momentos para assimilar tudo o que eu senti nessas últimas horas.

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