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II - Outono de 1994

Dois anos depois...


Rafael


Aquele sentimento não mudou nada, mas pelo menos eu me acostumei com ele. Eu ainda sentia o meu estômago revirar quando me aproximava dela. Mas agora eu até que gostava do efeito que dava em mim, até ansiava para me sentir assim.

Paixão é uma coisa complicada, mas meu pai me disse que se demora tanto assim, acabou por se transformar em amor.

Nos conhecemos a dois anos já e eu sempre fico nervoso quando vou falar com ela. Mas eu finjo que estou bem, para que ela não perceba nada. E eu acho que ela não percebeu, pois ela continua a falar do mesmo jeito comigo.

Não quero falar nada, vai que esse sentimento não é correspondido, não tenho coragem de falar com ela. Prefiro ter a sua amizade a falar e colocar tudo a perder com a nossa amizade ficando estranha. Sou muito novo, o que eu posso saber sobre o amor?

É o nosso último dia de aula e estamos voltando para casa de ônibus. Ela estava tão cansada que acabou por adormecer no meu ombro. Ela tinha estudado muito para continuar sendo a melhor aluna da sala. Mesmo sendo ainda bem nova, Isa já pensava uns bons passos à frente.

Gostava de como ela parecia ter uns cinco anos a mais do que realmente tinha. E quando eu falo isso, não estou falando num sentido ruim. Eu realmente admirava o modo como ela sempre pensa no futuro, esperando e cultivando muito mais coisas boas do que uma criança de doze anos normalmente faria.

Gostava do efeito que esse lado dela tinha sobre mim. Eu já me pegava pensando no que eu queria fazer quando crescesse, quais seriam os meus planos para o futuro. Gostava que ela me fazia pensar em meses, anos até, na frente e ter sonhos.

Pensei que o meus pais fossem rir da minha cara quando eu comecei a fazer planos para o futuro, mas eles pareceram até orgulhosos. Só me pediram para não me esquecer de ser criança. É importante me preocupar com o futuro, mas não preciso perder a minha infância por conta disso.

E eu aproveito sim. Muito até. Adoro jogar vídeo games e jogar futebol. Eu comecei a jogar com a Isa e ela aprende rápido, bem mais rápido do que a minha mãe. Adoro jogar vídeo games com a Isa, e agora ela que me avisa dos jogos novos que vão lançar.

Gostava do jeito que ela sorria quando ela ganhava de mim num jogo de luta. Ela tinha colocado aparelho no ano novo no passado e agora ficava morrendo de vergonha de sorrir. Mal sabia ela que o sorriso dela era o mais bonito que eu já tinha visto.

Eu também tinha passado por algumas mudanças. Tive que começar a usar óculos, mesmo odiando cada segundo que tinha que ficar com aquela coisa na minha cara, ele vivia escorregando pelo meu nariz e deixava os meus olhos pequenos e esquisitos.

Estava usando os óculos a pouco mais de três meses, mas eu já tinha adquirido um tique de ficar colocando ele no lugar constantemente. Mesmo que ele não tivesse torto, e nem fosse ter que ler nada, eu o ajustava no rosto. Era um lembrete constante de que eu usava aquelas armações escuras.

Também tinha crescido uns bons centímetros e agora eu era um dos mais altos da sala. Era bem legal. O médico disse a minha mãe que eu ainda ia crescer muito mais e que eu seria um adulto bem alto. Melhor assim, eu poderia zoar a altura da Isa, mesmo ela não sendo tão mais baixa do que eu, ainda podia zoar bem muito ela.

Mas se bem que parando para pensar agora, a Isa era uma das meninas mais altas. E a mais bonita, em minha opinião. Os meus amigos começaram a comentar sobre as meninas durante os intervalos. Falavam quais queriam beijar e esse tipo de coisas.

Não gostava muito de participar dessas conversas. Eles iam pegar muito no meu pé se eu admitisse que eu não queria beijar outra menina ali se não fosse a Isa, então preferia ficar na minha e dizer que precisava ir no banheiro ou fazer qualquer outra coisa quando eles começavam a falar sobre elas.

Chegamos ao nosso ponto e descemos. A caminhada é mínima, não precisamos caminhar nem três quarteirões para chegar às nossas casas.

– Como você acha que foi nas provas Rafa? – Isa pergunta, esticando seus braços para cima.

– Acho que bem... Devo manter o meu segundo lugar – falo rindo, encaixando as minhas mãos em meus bolsos.

– Então foi ótimo. E aí, já sabe o que vai fazer nessas férias?

– Quero no mínimo zerar uns sete jogos! E poder ficar acordado até mais tarde assistindo televisão sem ter que me preocupar em acordar cedo para ir para aula ou fazer o dever. E você já sabe o que vai fazer das suas férias?

– Minha mãe quer ir visitar algumas tias minhas que moram na praia. Vou ficar muito feliz se der certo... Você deveria vir com a gente, acho que ia adorar o mar...

– O mar? Nunca vi. Não sei o que tem de tão legal em ficar cheio de areia pregada no corpo, deve ser uma coisa horrível.

– Fala isso porque nunca deu um mergulho no mar. Vou falar com os meus pais, quem sabe não dá certo irmos todos juntos? Ia ser bem legal...

– Se eu puder levar o meu vídeo game...

– Deixa de ser bobo, quando você sentir a brisa do mar no seu rosto você nem vai querer saber de qualquer jogo. Garanto isso a você.

– Não sei não Isa, acho meio difícil...

– Você é muito pessimista. Como é que você vai saber que não gosta de uma coisa se você nunca experimentou?

– Sei lá.

– Eu estou super animada para passar uns dias na praia – ela dá vários pulinhos, animada e não consigo não sorrir ao ver a sua empolgação.

É... Quem sabe eu também não acabe gostando da praia...

– Mais tarde eu vou lá pra nossa grama Rafa. Você quer ir? – ela se refere ao nosso pequeno achado na cidade. Um terreno atrás da escola, com a grama aparada e um vento muito agradável. Uma árvore única e solitária nos dava uma sombra incrível.

– Claro. Estarei lá.

– Umas quatro e meia tá bom pra você?

– Perfeito.

– Até mais tarde.

Ela sorri e entra em casa. Eu fico ali acompanhando os seus movimentos e quando a perco de vista é que eu entro em casa. Aviso pra minha mãe que tinha chegado e ela pede para que eu vá me limpar, que o almoço não demoraria muito mais a sair.

O cheiro do almoço está muito bom e eu percebo que eu estou com muita fome. Corro para o meu quarto e jogo a minha mochila em qualquer lugar. Tiro os tênis, os óculos e o uniforme e corro pro banho.

Quando saio, vou me vestir e rapidamente já estou descendo e para ajudar a minha mãe a colocar os pratos na mesa. Meu pai não viria almoçar em casa hoje então seria somente eu e a dona Lúcia.

Minha mãe está olhando alguma coisa num livro de receita em cima da bancada da cozinha e eu abraço a sua cintura, dando um beijo em suas costas. Tinha um pouco de vergonha de demonstrar meu carinho assim tão abertamente, mas como não tinha ninguém vendo, não tive vergonha alguma.

– Oi filho. Como foi o último dia de escola? Fez uma boa prova? – ela se vira para dar um beijo no topo da minha cabeça.

– Fiz sim mãe. Esse ano foi a maior moleza – a solto e vou à direção do armário, pegando dois pratos.

Ela tinha feito o meu prato favorito para "comemorar" o meu último dia de aula. Sorrio quando ela enche o meu prato com um pedaço bem generoso da torta de frango que só ela sabia fazer. Como tudo e ainda repito o prato. Depois vou pro quarto, e fico jogando vídeo game até a hora de sair com a Isa.

Quando volto a descer as escadas, a minha mãe está sentada no sofá, escutando o seu vinil favorito enquanto lê um livro. Passo por ela e dou um beijo em sua bochecha.

– Vou sair um pouco com a Isa. Não chego muito depois de anoitecer, certo?

– Certo meu filho. Cuidado.

– Pode deixar mãe. Até mais tarde.

Saio correndo pela porta e vou direto para a garagem, montando na minha bicicleta. Escuto o sino da bicicleta da Isa e me apresso para alcançá-la, o que não foi uma tarefa fácil, já que os meus óculos resolveram implicar comigo e não ficar no lugar.

– Você está lento hoje... – Isa fala por cima do ombro, desacelerando um pouco. – Isso tudo é emoção por ter dois meses de férias é?

– Isso é raiva mesmo, meus óculos parecem ter uma vontade maluca de escorrer para fora do meu rosto...

– Deixa de bobagem, acho que isso é somente uma desculpinha para que você possa perder de mim numa corrida até a nossa árvore.

– Desculpinha... – entro na brincadeira e retiro os óculos. A visão embaça na hora, mas não é nada demais, ainda consigo fazer a Isa comer poeira. – Agora vamos ver...

– Vamos ver então – ela sorri com o desafio e começa a pedalar bem mais rápido.

Engulo o desafio e começo a pedalar com todo o gás que tinha dentro de mim. Isa faz jus ao desafio e mesmo achando que ganhei, ela reivindica que chegamos ao mesmo tempo. Não discordo dela. Se ela acredita que chegamos juntos, chegamos juntos.

Minhas pernas pesavam mil toneladas enquanto eu subia os poucos metros até chegarmos no local desejado. Isa pareceu não ser afetada pela nossa corrida, pois ela sobe praticamente saltitando e bem animada na minha frente.

Escolhe um lugar bem ao lado do tronco da árvore e senta lá, usando o tronco da árvore como encosto para as suas costas. Ela fecha os olhos e respira fundo um monte de vezes. Somente quando eu chego ao seu lado e me sento é que ela volta a abrir os olhos. Até coloco os meus óculos para não perder nenhum detalhe.

E nem sei explicar direito o que acontece sempre que ela abre os olhos assim. É quase como se ela fosse envolta com alguma coisa mágica e tudo nela emana calma. Tudo fica no mais completo silêncio, e a minha mente vagueia entre o nada e o tudo. E esses são os melhores momentos de silêncio da vida.

Mas logo o silêncio e o momento são quebrados e Isa enche aquele lugar isolado com a sua inteligência e alegria. Impressionante como podemos estar falando sobre a matéria da prova de matemática e logo depois passar direto para o que vai ter no jantar. Ela é muito divertida e minha melhor amiga, fácil.

– Isa, olha aqui o meu primeiro fio de barba – falo segurando fio de cabelo que estava em meu queixo. Ela desata a rir, mas não fico chateado com o seu riso que é claramente de deboche.

– Já nasceram coisas maiores na minha sobrancelha.

– Sobrancelha não vale! Sua sobrancelha é bem grossa – minto, até as suas sobrancelhas eram delicadas que nem ela.

– Tá certo, mas você está feliz por causa só desse pelinho ridículo? – ela espreme os olhos para olhar, de uma maneira que eu sei que não precisava, ela só queria me zoar.

– Ridículo não Isa! Ele é o primeiro de muitos! Muitos mesmo! – quero ter uma barba bem grande. Daquelas bem fechadas. Acho o máximo.

– Não consigo te imaginar barbado, mas é bem divertido te imaginar agora com barba. Imagina você, com uma barba que nem a do papai Noel? – ela ri muito, tanto que fecha os olhos e aperta a barriga.

Ri por tanto tempo que acaba se jogando de costas na grama.

Vendo-a rindo assim, num final de tarde, quando os raios de sol tingem algumas mechas do cabelo dela de laranja, fico me imaginando se mudaria alguma coisa entre nós se eu colocasse um fim nessa trégua que eu coloquei entre nós dois anos atrás.

Para mim já ficou para trás, mas tenho medo que a nossa amizade ainda não é totalmente verdadeira por conta disso. Se ela rir da minha cara? Vai ver já se passou tanto tempo que ela nem se lembre mais disso... Não. Ela ainda se lembra.

Nunca sei como começar a conversa. Tenho que dar um jeito de falar isso com ela sem parecer que eu penso muito nisso.

– Estou muito afim de um sorvete – falo já preocupado com o horário que tínhamos que chegar em casa.

– De limão? – ela abre os olhos, feliz, e lambe os lábios.

– Sim, de limão – era o favorito dela.

– E o que estamos fazendo aqui deitados nessa grama? Vamos logo – ela fica em pé com um pulo e puxa a minha mão.

Correndo vamos até as nossas bicicletas e vamos apressados até a sorveteria que ficava a menos de dois quarteirões das nossas casas. Ela pede duas bolas de limão e eu peço duas de brigadeiro. Tinha terminado o meu sorvete e estava esperando a Isa terminar o dela quando uma ideia me vem a cabeça. Mas eu precisaria de ajuda para colocar a ideia em prática.

– Rafa, você está com cara de quem vai aprontar alguma coisa – Isa fala, me encarando curiosa.

– Eu? Que nada – sorrio, tentando disfarçar. – Impressão sua. Mas é melhor irmos logo. Minha mãe já começou a falar pra que eu começasse a fazer os deveres de férias.

– Eu já estou perto de terminar os meus – ela debocha de mim.

– Nerd!

– Nem vem! Quem tem os óculos de nerd é você!

– O óculos não faz a nerdice Isa. O que faz é já estar com as tarefas de férias prontas, sendo que não estamos nem a duas semanas de férias.

Ela me mostra a língua e caímos na risada. Quando voltamos para casa, vou logo procurar o meu pai. Pelo horário ele já deve ter chegado em casa. Tinha que falar urgente com ele. O meu velho estava sentado no sofá da sala, com o controle em mãos, sem saber o que iria assistir.

Ele me cumprimenta e pergunta como tinha sido o meu dia hoje.

Sem saber como começar a conversar com ele, eu respondo e conto detalhes que normalmente eu não contaria para ele. Eu só queria encontrar uma maneira de falar.

– O que aconteceu filho? O que você quer me falar – meu pai diz com um rosto preocupado, desligando a televisão e me olhando com muita atenção.

– O que eu quero falar? – falo nervoso, não teria uma oportunidade melhor do que essa, por qual motivo as palavras entalam na minha garganta?

– Rafael, aconteceu alguma coisa na escola que você não quer me contar? – meu pai parecia verdadeiramente preocupado agora. Não queria que ele ficasse assim. Provavelmente ele ia rir da minha cara quando eu falasse para ele.

– Não é isso pai. Não aconteceu nada na escola que você deve se preocupar.

– Sei...

– Mas eu ainda queria falar uma coisa com o senhor.

– Pode falar o que quiser comigo filho.

– Eu sei disso pai, mas é que não é tanto falar, é mais um favor que eu tenho pra pedir pro senhor.

– Pode pedir, se eu puder ajudar você, vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance. O que você precisa?

– Eu preciso da sua ajuda para ficar amigo da Isa – falo tão baixo que nem tenho certeza que o meu pai escutou. Mas quando as suas sobrancelhas juntam numa expressão confusa, acredito que ele me escutou bem.

– Mas você e a Isabela já não são amigos meu filho?

– Acho que sim pai. Mas assim quando a gente se conheceu, eu me sentia meio estranho perto dela, então eu disse que era pra gente dar uma trégua. Mas nunca falamos sobre amizade...

– Mas amizade não é preciso falar Rafael – meu pai pareceu compreender o meu medo. – Ela simplesmente nasce... Ela simplesmente é compartilhada.

– Mas se ela não pensar assim pai? Eu sei que sou amigo dela. Quero muito ser amigo dela, mas se a Isa não pensar igual ao senhor?

– E o que faz você pensar que ela não é sua amiga?

A pergunta do meu pai me deixa desprevenido e eu não sei o que eu respondo à ele. Ele tinha razão. Tudo o que eu compartilhei e vivenciei com a Isa, nada que ela fez ou disse pareceu que ela não era minha amiga. Então porque eu não conseguia deixar tudo para lá?

Era aquele pequeno pedaço de mim. Aquele pequeno pedaço de dúvida que ficava martelando a minha cabeça sempre que eu falava com ela. Sei que ele não vai ir embora simplesmente deixando para lá, eu tinha que colocar as coisas no preto no branco.

– A amizade dela é importante para você não é filho? – meu pai pergunta com um sorriso que não soube identificar o que tinha por trás.

– Sim pai. É muito importante para mim.

– Então, o que é que você tem em mente? O que você quer fazer para ter certeza da amizade entre vocês dois?

Explico da melhor forma que consigo o que eu tinha pensado. Meu pai fica bem animado e diz que ficará muito feliz em me ajudar no meu "plano". Eu fico um pouco receoso, e se o meu plano sair pela culatra? E se a Isa rir da minha cara por fazer aquilo?

Não, a Isa não era assim. Ela vai gostar. Ela tem que gostar.


Isabela


Foi estranho olhar para o Rafa de outra maneira além da trégua. Ouso dizer que até olhando com algo a mais. Mas me lembro do momento exato que eu percebi isso. Era um sábado e eu tinha acabado de voltar da locadora de vídeo games e aluguei um monte de jogos legais para desopilarmos no final de semana.

Então depois do almoço toco a campainha na casa vizinha. É a mãe do Rafa que atende a porta.

– Oi Isabela, como vai você?

– Muito bem tia Lúcia. Obrigada por perguntar. E a senhora?

– Vou indo muito bem também.

– O Rafa está? É que eu trouxe um monte de jogos para jogarmos hoje.

– Sim, ele está no quarto dele. Pode ir lá. Se divirta Bela.

– Obrigada tia! – passo por ela e vou até o quarto dele. Bato na porta e escuto um pode entrar bem fraco.

Rafa está com o rosto bem perto do espelho do quarto, em pé e nem pareceu se importar com a minha chegada ali.

– Rafa? – chamo a atenção dele quando ele não olha para mim.

– Isa? – ele parece que não estava me esperando, e se vira de uma vez para me encarar.

Mas tinha algo diferente nele. Não tinha como não notar. Ele estava usando óculos. Óculos de armações pretas. Pensei que óculos fosse uma coisa de pessoa velha, mas aqueles óculos apreciam combinar perfeitamente com ele.

O preto da armação contrastava com o verde de seus olhos e pareciam ressaltar um dos melhores aspectos físicos dele. Perdi completamente a fala. Parece que foi nesse exato momento que eu percebi que o Rafa era um menino. E um menino bonito. E muito interessante.

– Odiei esses óculos – Rafa fala com raiva, e as suas sobrancelhas se unem.

– Mas por quê?

– Olha bem pra ele? Eu estou parecendo outra pessoa com ele! Preferia que não tivesse que usar eles...

– Preferia não enxergar? – falo brincando.

– Preferia ter uma visão normal sua espertinha... – ele ri. E finalmente parece notar na sacola que eu trago nas mãos. – O que é isso?

– São somente os melhores jogos, escolhidos à dedo para colocarmos em teste esses seus novos óculos.

– Não tem mais jeito não é? Vamos testar – ele parece esquecer sobre os seus óculos e me ajuda a montar o seu vídeo game.

Mas a partir desse momento, algo mudou, drasticamente.

Conversei com a minha mãe e ela me explicou sobre os sentimentos e o que eles podem despertar em cada um de nós. Quem disse que não se pode gostar de alguém quando se tem doze anos?

Nossos pais viraram grandes amigos. E junto disso, a minha trégua com o Rafa estava firme e forte. Não que eu ainda acredite que estamos de trégua, acho que depois de dois anos, já podemos nos considerar amigos, ou pelo menos colegas, não sei...

Só sei que não consigo mais imaginar a minha vida sem a presença do Rafael nela...

Às vezes eu acho que ele também quer dar um chega pra lá nessa trégua, mas como eu não falo nada, ele não fala e vamos deixando assim.

Ele é engraçado e bem competitivo. Sempre rio quando ele fica se comparando a tudo e a todos e ainda quer ser sempre o melhor. Eu me divertia muito na presença dele. Nossos amigos eram praticamente os mesmos e não tinha como ficarmos muito tempo longe. Tanto em casa como na escola.

Estava deitada na minha cama, lendo um livro que a minha mãe tinha me dado quando escuto ela gritar lá embaixo.

– Filha! O Rafael está aqui!

– Já vou!

Jogo o livro em cima do meu colchão e desço correndo as escadas. Estava ficando cada vez mais comum ele vir aqui em casa para fazermos alguma coisa. Ele está sorrindo de uma ponta a outra do rosto. Ué, mas qual é o motivo de toda essa felicidade?

– Oi Isa! – ele me cumprimenta com um aceno.

– Oi Rafa! – tenho certeza que estou com o rosto bem mais confuso que o dele.

– Então eu vim aqui por que eu queria te mostrar uma coisa... – suas mãos estão para trás e já começo a ficar curiosa.

– O que é?

– Para ver, você tem que vir comigo... Ela pode vir tia Lia? – ele olha para a minha mãe e arregala aqueles olhos verdes ampliados por aquela sua lente dos óculos. Minha mãe nunca resiste quando ele pede qualquer coisa para ela assim...

– Claro Rafael, mas só quero que vocês tomem cuidado... E não voltem para casa muito tarde, começa a ficar perigoso se escurecer demais...

– Pode deixar tia Lia, voltamos cedo... – ele sorri para a minha mãe. – Vamos? – ele olha para mim.

– Vamos – viro para minha mãe. – Pode deixar que eu vou tomar cuidado mãe. Beijos e volto cedo. Amo a senhora.

– Eu também – ela me diz toda boba.

Saio correndo pela porta para alcançar o Rafa que já estava subindo em sua bicicleta. Era tão longe assim que iríamos de bicicleta? Ele me pede para subir na garupa e então começamos a pedalar.

Começo a o importunar por qualquer informação que ele possa soltar sobre o que ele queria me mostrar... Eu não fazia a menor ideia. Eu conhecia aquele caminho. Era o que fazíamos quase todos os dias para ir para a escola... E quando guardamos a bicicleta nos suportes da escola fico ainda mais curiosa.

– Você quer me mostrar um livro ou algo assim? – pergunto enquanto ele prende a corrente no pneu da sua bicicleta.

– Não Isa, deixa de ser curiosa, nós vamos já chegar lá, então não tem motivos para você ficar tão curiosa assim...

Ele pede para que eu o siga e é o que eu faço. Só foram precisos mais alguns passos para que eu pudesse entender para onde eu estava indo. Já tinha estado ali algumas vezes.

E o Rafa sabia o quanto eu gostava de lá.

Fomos nos aproximando do pequeno terreno que ficava atrás da escola. A grama alta, pois eram poucas as pessoas que pisavam nela e como ficava na parte detrás da escola, não tinha tantos cuidados. Mas aquela beleza um tanto quanto desleixada era o que eu mais gostava dali.

Isso e aquele gigante carvalho. Aquela árvore grande, antiga, que quase chegava a exalar poder. Mas tinha algo de diferente nela. A cada passo a certeza que algo tinha mudado ali me enchia.

Somente quando chegamos perto o suficiente foi que eu pude perceber a alteração que tinha sido feita.

Um balanço simples e bem rústico de madeira estava pendurado em um galho da poderosa árvore por longas e grossas cordas. Dou um pulo e solto um gritinho de pura felicidade e saio correndo na direção do balanço, com o intuito de o ver mais de perto.

Aquele era um trabalho incrível, e nem me importava muito quem tinha feito ou se era seguro, eu fui logo sentando nele. Só testando para saber se iria aguentar o meu peso. Depois de alguns segundos que pareceram durar uma pequena eternidade eu dou um impulso, me colocando em movimento.

Fechei os olhos e fiquei somente sentindo o vento passando pelo meu rosto. Só penso que seria assim se eu pudesse voar. Meus cabelos por todos os lugares, o vento alisando meu rosto. Nada, além de um belo silêncio. Alguns raios de Sol escapavam por entre as folhas do carvalho e eram como pequenos beijos de luz em meus braços e pernas.

Eu já tinha imaginado como seria se tivesse um balanço ali. E atendeu todas as minhas expectativas. Não só atendeu, ainda era bem melhor.

Foi então que eu lembrei que eu não estava sozinha ali. Abro os olhos e procuro pelo Rafa. Ele está encostado no tronco da árvore e está sorrindo.

– Isso é incrível Rafa! Quando foi que você descobriu que tinha um balanço aqui?

– Na realidade, fui eu que o coloquei.

– Como?

– Você sempre falava como essa árvore era perfeita para um balanço, e eu também achava... Então eu falei com o meu pai e ele me ajudou.

– Mas e o terreno não tem dono? Sei lá? Alguma coisa assim?

– Não sei te dizer Isa, quem resolveu isso foi o meu pai também... Não sei como ele resolveu e com quem ele falou, mas ele disse que poderíamos colocar o balanço então... Eu acredito no meu pai.

– Eu também acredito no tio Tadeu... Espero que não tenha sido muito difícil.

– Olha se foi, ele não deixou mostrar... Foi bem rápido até... E foi até bem divertido...

– Rafa, isso é muito maneiro...

– Também achei... – ele olha para o ponto de encontro das cordas e da árvore. – Você gostou?

– Adorei! Agora sempre que eu puder, vou vir para cá e ficar aqui nesse balanço...

– Olha o que eu coloquei debaixo dele...

Levanto da tábua de madeira e a viro para ver do que o Rafa estava falando. Minhas iniciais estavam cravadas na madeira, as letras eram bem tortas, mas me fizeram sorrir.

– Você que fez isso também?

– Foi... Ficou um pouco torto, mas considerando que é a primeira vez que eu escrevo alguma coisa em madeira, acho que o resultado ficou muito bom...

– Ficou maravilhoso – quem sou eu para dizer qualquer coisa negativa... E nem queria dizer nada negativo. Eu tinha adorado tudo. – Mas porque você só colocou um? Você não queria um também? Tem as minhas iniciais aqui! Tenho prioridades nele...

– Não sei, prefiro mais a grama – ele coça a cabeça e senta na grama ao lado do balanço. Logo ele joga o corpo para trás e se deita. Eu volto a me balançar. Olho para cima e fico vendo as folhas começando a amarelar e cair. O outono estava próximo.

– Obrigada por lembrar-se desse lugar Rafa. Não acho que você deveria ter tido o trabalho, mas amei. De coração.

– Não há de quê Isa... Mas na realidade eu te chamei aqui porque eu queria falar uma coisa com você... – nesse momento eu olho curiosa para ele.

– Pode falar... – estranho... Meu coração acelerou um pouco.

– Isa, é que assim... – ele ajusta os óculos no rosto. – Nem sei se você ainda lembra, é meio idiota, mas não consigo parar de pensar nisso... – já sei do que ele está falando... – Não sei se está tão claro pra você como está pra mim, mas eu acho que não precisamos mais, er, é, er...

– Daquela coisa de trégua não é? – completo a sua frase quando ele parece empacar com as palavras.

– É – ele sorri aliviado, acho que feliz por eu ter entendido mesmo ele não tendo explicado muito bem. – Sei lá, acho que devemos deixar aquilo para lá, mesmo tendo sido há muito tempo, devemos deixar oficialmente para trás...

– Concordo Rafa... Já deveria ter terminado há um tempo...

– Você não é tão ruim quanto eu pensava e acabamos nos tornando amigos... Ou pelo menos eu gosto de pensar assim...

– E quando você parou de ser aquele menino insuportável, até que se tornou legal – sorri.

– Então deixamos aquela coisa para trás e agora somos amigos não é?

– Sim. Amigos – fico muito feliz por resolver isso com o Rafa. Eu também estava incomodada com aquela trégua. Mas agora isso é passado.

Já sabia que o Rafa não era de todo mal, mas hoje ele me surpreendeu com esse balanço.

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