A advogada e a balconista
Por Lena...por hora é ela
A limusine dobrou a esquina na principal avenida de Gotham, e Lex continuava o show com metade do corpo para fora do teto solar, as pessoas na rua viam um careca de laranja muito alegre, e Lena via um par de pernas laranja marca texto dançando para lá e para cá do lado de dentro.
Impagável, assim ele devia se chamar, pensou Lena se ajeitando no banco de couro beje ao lado dos companheiros advogados, que mais pareciam geladeiras, todos com os botões por explodir no peito. Adart Figuer franzia o farto bigode castanho resolvendo uns trinta BOs no whats app do celular, ao lado dela.
- Mais um pouco e vai explodir essa cabecinha cabeluda ai. – Soltou Limert DeLittle, o mais baixinho e menos bombado entre eles, olhos claros e a barba por fazer e um gosto por gravatas azul bebê.
- É fácil falar quando não e você representando a maior casa de Gotham. – Respondera o Figuer ajeitando as mexas do cabelo atrás da orelha.
- Exatamente, somos a maior casa de Gotham, nem em sonho a Lagoon aprontaria com a Continental, não fariam essa besteira. – Apontou DeLittle, que fazia pouco da recém ascendida casa da máfia.
- Acho que se esquece de que foram os dragões vermelhos que derrubaram a Zuragun. – Relembrou Tormie Anbrozio, alisando a longa barba ruiva sobre a soterrada gravata. – Eles podem ser jovens para a OldGotham e até mesmo menores por hora, mas ainda sim, são uma das quatro casas pilares da cidade.
- Assim foram chamados, eles não são a OldGotham. – Resmungou DeLittle, levemente seletivo a dignidade dos recém-chegados dragões vermelhos à casta das casas superiores.
Tinha pano para manga aquela conversa, era o mesmo que colocar os tiozões do churrasco todos juntos para debater o jogo do domingo. Fosse por ser uma antiga casa, ou por ser nomeada, ser um dos quatro pilares de Gotham significava tudo, pois garantia a soberania sobre casas menores e o respeito mútuo das outras casas pilares, e um precisa do outro, a coexistência é o único caminho, do contrário estriam eles agora enterrados nas ruínas da cidade. E a saliva era deles mesmo, gastassem ela no que quisessem. Lena apenas deitou os olhos na paisagem urbana passando na janela, com as pessoas se assustando com a metade dum careca num teto de carro, mandando beijos para todas as câmeras e celulares que passavam, incluso a do carro dos jornalistas os perseguindo.
Carrapatos de TV.
- Desce do teto Lex. – Pediu ela puxando o macacão laranja do ex-presidiário.
- Ai desculpa, é que a cara deles é impagável. – Gargalhava ele segurando a própria barriga de tanto rir. – Eu amo vocês! Você e você, até você moço do lava rápido!
- Lex desce logo dai antes de... – Pediu Lena em vão, logo antes do careca ser lambido do rolo de sabão do lava rápido automático onde a limusine entrara para despistar a imprensa.
O careca voltou para dentro do carro nem tão mais careca, com uma bela peruca e barba de espuma, e o macacão laranja tornado em marrom da cintura para cima enxarcado.
- Fui buscar um condenado e voltei com Lincon? – Riu Lena.
- Por favor me joguem na prisão de volta, mas não me levem pro teatro. – Pediu ele apertando um punho no meio do peito, e deitando as costas da outra mão sobre a testa, se jogando no banco, Drama Queen.
Fecharam o teto solar, e agora a água escorria somente do lado de fora. Enormes rolos automáticos passavam de ponta a ponta na lataria, espumando e enxaguando. Não demorando a entrarem no setor da estufa de secagem, onde a limusine parou ao lado de outra limusine branca, as portas do corredor se fecharam na frente e atrás deles com um vidro fosco, o qual cegara todo e qualquer jornalista ou curioso para o que fariam.
Fortes ventiladores sopraram por entre as grades do chão. E a troca começara, atabalhoados os passageiros da limusine preta foram para a limusine branca, segurando os ternos, os cabelos, e os celulares para que não voassem. Lena, no entanto, não se incomodava do beijo do tempestuoso vento, esvoaçando seu terno azul, e revoando seu rabo de cavalo, muito pelo contrário, a sensação era de não mais estar presa ao chão, livre.
A morena fechou os olhos com os braços abertos, no abraço do vento, que era seu melhor amigo, o invisível que está lá para você. Nem todos apreciavam esta persona, como os três engravatados fugindo para dentro da limusine branca. Bem diferente de Lex que sinceramente se divertia feito criança, ao rodopiar e girar de braços abertos, dançando valsa sozinho, deixando que o forte vento do chão levasse aquela barba e cabelo, e por consequência a água em seu uniforme.
Lena espiou as várias sombras dos rolos giratórios, que não paravam de trabalhar do outro lado do fosco vidro, lavando todos os carros na fila e vez ou outra derrubando os jornalistas que tentavam se aproximar.
- Vem McGrath, ou vamos te deixar ai. – Chamou Lex de dentro da limusine branca junto dos outros advogados.
A porta da estufa se abriu, e primeiro foi-se a limusine preta sendo perseguida pelos jornalistas, enquanto a branca, nem se quer deram bola, ou notaram que ela existia ali tomando rumo oposto a primeira.
Nada melhor que um bom e belo plano besta.
Quem se preocupa com o que não vê, quando só se enxerga o que quer?
- Agora sim esse carro é dos meus, coisa mais sem graça aquele outro. – Disse Lex da decoração interna. Bancos azul metálico de borda branca perolada, tapete aveludado com textura de ondas, frigobar contornado de pérolas do fundo do mar, assim, para virar a pequena sereia ali dentro só faltaram as bolhas. A viagem levou um tempo até que chegassem às docas, isso explicava o porquê de Figuer estar tão irritado sendo a ponte entre a Continental e a Lagoon. Territórios não são fixos, mas fazer besteira é, e em se tratando de outra máfia pilar, era melhor todo mundo se comportar, ninguém queria um massacre como foi certa vez.
A limusine adentrou um galpão estacionamento para barcos, e os três advogados mal conseguiam parar o traseiro no banco, apreensivos e nervosos com a parada, pois estavam cercados de vários homens da Lagoon. Trajados em macacões de serviço, sempre com algum apetrecho rubro, a cor da máfia dos dragões vermelhos. Lex no entanto, era um dos dois a não surtar dentro do carro, ele e Lena mais que tranquilos, havia perigo sim, porém como dito anteriormente, fazer besteira não era uma opção para nenhum dos lados, que ali eram aliados.
Figuer continuava a trocar mensagens com o contato da Lagoon.
- O sinal aqui é uma merda, não chega a resposta logo. – Esbaforia o pobre coitado segurando as pontas do bigode, com dois homens de macacão passeando ao lado das portas com metralhadoras em punho.
- Eles sabem disso, gostam de fazer suspense, logo respondem. – Sorriu Lex abrindo o frigobar. – Refri? – Ofereceu o careca, servindo cada um dentro do carro, até o motorista. – Refri vocês dois? – Estendeu uma lata para fora da janela, deixando tanto os advogados quase infartados, quanto os dois Lagoons do lado de fora apontando as armas.
O que foram mil anos para os pobres advogados, foram cinco minutos num piscar de olhos para Lena.
- Liberado, podemos sair. – Soltou Figuer aliviado com a mensagem positiva, e de não ser responsável por uma tragédia entre as duas máfias. Uma mera formalidade para o que fariam ali em território alheio, cada gangster no seu quadrado, e no do outro só se permitido.
Dois luxuosos carros pretos entraram logo atrás deles, trazendo o candidato à prefeitura de Gotham, Donavan Clio e sua pequena equipe de advogados e secretárias.
Todos se dirigiram à mesa ao centro do pequeno palanque armado ao lado dos barcos estacionados, para a reunião de negócios que Lena certamente não queria participar, afinal não haveria nada para fazer ali, além de ser secada por Clio e seu nariz WideScreen. Antes de começarem Lena foi ao lado de Lex sentado frente com o candidato.
- Acho que já vou. – Cochichou ao ouvido do irmão mais velho, que acenou positiva e discretamente, para a infelicidade de Clio, que muito apreciava a visão dela.
- Me faz um favor se passar na Supercaps, e encomenda uns croissants pra mim, todo esse tempo na prisão, eu só pensei naquele croissant recheado de creme. – Lena fez uma careta, ela era uma renomada advogada, não a entregadora de salgados do careca. – Por favorzinho, ninguém faz croissants como aquele lugar maravilhoso. – Fez uma carinha de dó.
E esse sim era ele, mais conhecido na máfia como Zeo, O Implacável, líder da Continental, mas que para Lena o nome deveria ser O Impagável.
A morena sorriu de canto sem que ninguém visse, e se foi deixando o engravatado sonho americano debater com a verdade em laranja hipocrisia, afinal o que um homem de bem faz quando ninguém pode ver?
***
Lena se foi no pequeno carrinho branco que lhe pertencia, estacionado ao lado das docas. Veículo até estranho para alguém supostamente tão próxima do exótico líder da Continental, mas tudo tem sua razão, e mal sabiam eles do porquê do carrinho dela ser o mais maltrapilho, ou o porquê de ela ser só a advogada do irmão que ninguém sabia, do porquê de seu nome não ser Luthor e sim McGrath.
Liberdade.
Enquanto todos assistiam o desfile de carros da comitiva do candidato, ou a extravagante limusine da pequena sereia, ninguém prestava atenção numa charanga caindo aos pedaços, muito menos numa branquela quase transparente dos olhos verdes.
Lena dirigiu até uma parte menos alvoroçada e visada da cidade, em que os prédios não passavam de cinco ou dez andares, onde se localizava a cafeteria SUPERCAPS, lar dos croissants mais maravilhosos do mundo segundo Lex.
Já era noite quando estacionou o carro numa viela uma ou duas quadras antes, a morena caminhou até a frente da SUPERCAPS Coffee. Não era nada muito grande, uma modesta faixada de tijolinhos rubros, que na luz da rua eram marrons, duas grandes janelas ladeavam a porta ao centro também de vidro, dando a visão do pequeno, porém acolhedor ambiente.
Lena tirou do bolso a chave e adentrou o estabelecimento, ignorando a placa de: fechado. As mesas de madeira vazias, a pouca iluminação da penumbra alaranjada dos postes adentrando as janelas que Lena ia puxando as persianas para terminar de fechar a loja. Passando pelas poucas mesas a frente, saltou o longo balcão a esquerda do lugar, abriu a vitrine dos doces e pegou as rosquinhas de açúcar restantes, mais um grande copo de café com leite para então seguir pela escadaria nos fundos, subindo no terraço do terceiro andar.
E do meio da escada ouviu a música de dor de cotovelo dela, Careless Whisper, o que lhe provocou uma sincera risada ao chegar no patamar da caixa d'água, dando a visão dos distantes arranha-céus do centro de Gotham brilhando ao fundo, esse era um dos motivos de amar aquele pequeno e simples lugar chamado SUPERCAPS. As pedrinhas do terraço espetavam suas solas a em cada passo, e a brisa era gentil como um gostoso cafuné em seus cabelos agora soltos. Lena avistou no topo da caixa d'água a única funcionária da SUPERCAPS Coffee, a garota de uniforme de cozinheira e avental, pele acobreada, cabelo enrolado explodido e cara de taxo, Erika.
A morena subiu a curta escada sentando-se ao lado de Erika no topo da caixa d'água, que nem se moveu ao surgimento da própria chefe.
- Tu esqueceu de fechar as persianas de novo. – Disse Lena partindo para a segunda rosquinha, deitando a cabeça no ombro da funcionária.
- Ela foi embora de novo. – Lamentou Erika se inclinando em Lena.
O quão triste e doloroso é um adeus, o quanto abraços de despedidas ferem mais que beijos?
Lena deixou a caixa das rosquinhas e o café de lado, e passou a ponta dos dedos frente aos olhos como se deles tirasse algo, desfazendo a mágica das lentes, tornando ao seu outro eu. Um rápido luzir verde se fez em seus olhos, devolvendo-a suas verdadeiras cores, um olho azul e o outro verde.
- De novo, Sas. – Sussurrou Erika na exausta voz de choro, recebendo um forte abraço de Saskia com o queixo no ombro da cozinheira.
- Eu sei. – Fechou os olhos com a amiga, respirando com ela, confortando um coraçãozinho judiado de dois anos, isso até o fim da música. - Agora pode passar o celular.
- Que?! – Erika deu um pulo para trás, arregalando os olhos verde esmeralda.
- Foi o combinado, quer que eu pegue o contrato que você assinou, se comprometendo a me entregar o celular caso a @ fizesse merda com você de novo? – Falou a voz da advogada nos olhos da balconista.
- O contrato que você me obrigou a assinar. – Lembrou bem a garota do cabelo mais enrolado e espetado do mundo. – Pera ai como você subiu aqui carregando esse café e essas rosquinhas?
- Não muda de assunto, agora passa pra cá. – Saskia estendeu a mão esperando a entrega do aparelho, que foi feita de baixo de lagrimas de crocodilo. Com o aparelho em mão, era apenas procurar o número da @, e enquanto vasculhava as conversas no insta, deu um gole no café com leite, enquanto afagava os cabelos de Erika em seu colo feito cachorrinho.
Ia ver só, essa era a última vez, essa fubanga ia aprender que não se brincava com os brinquedos de Saskia.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro