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05. No mundo de certezas

Charlotte torceu o nariz ao encarar a foto que uma amiga de Bysh a havia mandando, com toda a certeza aquela imagem não estaria no vídeo.

- Urgh, o que é isso? - Rupi estremeceu levemente quando se jogou ao seu lado no sofá.

- Você não vai querer saber. - Charlotte logo passou para outra foto, mas infelizmente sabia que aquela imagem nunca iria sair de sua mente.

- Você está fazendo o vídeo de nostalgia pra ela?

- Sim, mas as fotos que estou recebendo são um pouco. - parou à procura de uma descrição apropriada.

- Assustadoras?

Estalou os dedos para a amiga, concordando rapidamente.

- Com toda a certeza.

- Não é querendo me intrometer, mas vocês são tão diferentes, tipo, literalmente. - declarou, acompanhado a risada dela. - Como conseguem ser amigas?

- Se eu disser que não sei, você vai acreditar em mim? - brincou, observando uma imagem onde Bysh empurrava o rosto de seu irmão menor contra um bolo. - Ela é assustadora e meio malvada, sem falar da constante inclinação ao que é ilegal, mas é divertida e tão sincera comigo que me deixa, sei lá, confortável.

- Ela parece confiar muito em você, não entregaria fotos como essa na mão de qualquer pessoa. - afirmou, arregalando os olhos castanhos quando viu uma foto da noiva em uma pose bastante explícita.

- É. - Charlotte logo passou essa foto rapidamente. - Ela passou por muito, viu e viveu coisas desde cedo que faz muitas pessoas crescerem com uma visão distorcida do certo e errado. Mas ela tenta não ir por esse caminho e fico muito orgulhosa dela por isso.

Virou o rosto quando escutou Rupi fungar, sua amiga estava tentando segurar algumas lágrimas, mas quando a encarou não conseguiu mais se controlar.

- Você é tão fofa quando quer.

Riu e a puxou para um abraço, a mais nova a apertou forte antes de se afastar para enxugar as lágrimas.

- Nem parece aquela doida que me acertou com uma frigideira no nosso primeiro dia nesse apartamento. - Rupi relembrou rindo.

- Eu ainda não estava acostumada a morar com mais alguém, tinha passado quase um ano morando sozinha aqui.

Se defendeu, até porque era parcialmente verdade, o fato de seu ano em Dystopia ter a deixado mais alerta era o outro fator. Não planejara dividir o apartamento com alguém, mas na noite em que encontrou Rupi após a mesma ter sido expulsa de sua fraternidade, não teve como não levá-la para casa. Iria fazer quase dois anos que moravam juntas e a Page tinha certeza de que dividir tarefas domésticas com ela era mil vezes mais tranquilo do que tinha sido com Jasper e Henry.

- Enquanto procuro mais fotos, você bem que poderia me ajudar tentando falar com uma banda cover da banda esquisita que a Bysh quer. - pediu, fazendo um beicinho pedinte enquanto a encarava.

Rupi sustentou seu olhar, Charlotte então inclinou a cabeça e juntou as mãos entrelaçadas em frente ao rosto, não demorou muito para a sua amiga desmoronar.

- Sabia que ia acabar sobrando pra mim. - reclamou baixinho, se levantando para procurar seu celular. - Ela ainda quer dançar ao som de Creep?

A Page soltou um alto suspiro ao lembrar da quase discussão que teve com Bysh quando ela contou sobre a música que embalaria sua primeira dança.

- Ela é tão teimosa. Disse que já que o Nico quer flores de debutante no casamento, ela vai colocar todas as músicas mais pesadas que encontrar.

Rupi riu sem saber o que dizer e voltou ao seu lugar ao lado de Charlotte para ajudá-la com algo que ocuparia o resto da tarde delas.

《◇》

- Na hora que você estiver saindo de lá você me liga.

- Não se preocupe, vou voltar no domingo a noite e na segunda vamos no seu brunch.

Prometeu para a sua mãe, tendo a certeza de que ela deveria estar fazendo uma careta inconformada mesmo que não pudesse vê-la. Continuou a dobrar suas roupas na pequena bolsa de lona que iria levar para passar o fim de semana com Charlotte, Siren continuava a falar sobre como estava sentindo saudades dele e de Piper e que os dois não poderiam desmarcar novamente.

- Passe aqui antes de ir para o aeroporto, você precisa levar um pedaço da torta de sua avó para a Charlotte. - praticamente ordenou, ele sabia que não tinha escolha. - E avise para ela que ela tem que visitar aquela mulher em algum momento se não ela não vai me deixar em paz.

- Aquela mulher é a sua mãe. - lembrou sorrindo ao escutar um som despreocupado vindo de sua mãe.

- Isso não importa agora. Escute bem, Henry Prudence, só porque você saiu de casa não significa que tem que esquecer que eu existo.

- Agora você é quem está sendo dramática. - afirmou em um tom de voz carinhoso. - Não se preocupe, não vamos desmarcar com você. E você sabe muito bem que da última vez a Piper teve que viajar e eu tive que ajudar o Ray, não foi por escolha, mãe.

- Eu sei, meu querido, mas isso não significa que eu não sinta a falta de vocês aqui em casa.

- Nós moramos na mesma cidade.

- Mas quase não nos vemos.

Siren podia ser extremamente emotiva quando queria e após sua quase morte e ano "sabático" em uma cidade perigosa, conseguia compreender o receio de sua mãe em ficar muito tempo longe dos filhos.

- Mais tarde passo aí e levo o pedaço de torta, contanto que ela tenha feito pra mim também.

- Sua avó nunca deixaria você sem torta, ela te ama.

- Mas ama mais a Charlotte. - declarou, rindo quando Siren ficou em silêncio.

- É a Charlotte. - disse como se explicasse tudo e para ele explicava realmente.

- Tenho que terminar de arrumar minhas coisas, mãe.

- Tudo bem, já entendi a indireta. - dramatizou enquanto ele ria. - Te amo, Henry.

Esse era o novo costume de seus pais, eles sempre os estavam lembrando o quanto os amavam a qualquer hora do dia. Piper às vezes reclamava do quão grudentos eles poderiam ficar, mas ele sabia que ela adorava todo o carinho dos dois. Mesmo que por vezes fosse realmente inconveniente, seu pai ainda não tinha entendido o que significava a palavra limites.

- Também te amo, mãe.

Ao encerrar a ligação se pôs rapidamente a terminar de organizar sua bolsa, deveria estar indo para o aeroporto daqui a três horas. Seria uma noite de viagem até a cidade onde Charlotte morava, sua amiga teria que madrugar para buscá-lo no aeroporto e por mais que estivesse tentando fazer com que ela o deixasse pegar um táxi, a Page não permitia. Charlotte era tão teimosa que às vezes o enlouquecia, porém não podia fazer nada se as mulheres que amava eram todas assim.

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