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Capítulo 9

"Deus sabe o que está se escondendo naqueles olhos fracos e fundos. (...) Pessoas ajudam pessoas. Nada vai colocar você para baixo." - People help the people, by Birdy.

Há dias em que tudo que você quer é ficar deitada esperando que a morte venha e resolva todas os seus problemas, entretanto, temos consciência que os problemas só aumentariam se a vida acabasse.

Se eu morresse naquele momento, por exemplo, minha mãe ficaria sem ter quem cuidar dela. Talvez Jean se disponibilizar-se para fazê-lo, mas para isso iria ter que desistir da faculdade; justamente a última coisa que eu desejaria.

Se algo acontecesse comigo não sei o que seria de Bonnie ou de Jack. Odeio pensar que a mãe deles não dá o suporte e apoio suficiente, simplesmente por achar que a culpa são deles de não conseguir segurar um casamento. Como Ivanna agiria ao saber que não tinha mais os nossos encontros nos sábados? Ou como as meninas da Coral seguiriam em frente sem que eu faça meus discursos "anti destino"?

Penso em Caio e estremeço com a ideia dele sofrendo pela minha morte. Por mais que nosso final tenha sido trágico e cheio de mágoas, nos conhecermos desde sempre. Como seria saber que você nunca teve a oportunidade de pedir perdão para alguém que antes fazia parte da sua vida?

Balanço a cabeça, cética. É de se admirar que eu ainda acredite que Grey me considera.

E enfim penso em Thomas. Será que ele se sentiria aliviado por não ter mais uma destinada e poder escolher com quem ficar? Ele, de alguma forma, sentiria minha falta?

Foi com esses pensamentos que me levantei de manhã na segunda-feira.

Como todos os dias, cumprimentei as meninas com um sorriso e desejei bom dia as pessoas que estavam no elevador quando subi para meu andar. Sentia-me diferente, ansiosa e com medo do que me aconteceria.

A manhã passou devagar e tudo que eu queria era bolar um plano que fizesse sentido. Pelas contas que fiz eu precisaria de muito dinheiro emprestado e para convencer o banco que era um bom investimento seria complicado — e ainda tinha o fato de que eu teria que pedir demissão e isso prejudicaria diretamente no negócio. Se eu estivesse com o objetivo abrir uma empresa, facilitaria tudo, contudo, emprestar dinheiro a uma futura desempregada da Ala O é pedi para jogar dinheiro no lixo.

E com isso minha paz de espírito caí em 20%.

Tento pensar nos números e organizo algumas coisas para o stand da Coral. A próxima conferência estava perto e certos detalhes para festa da empresa, que aconteceria a um mês, deveriam ser organizados. Um pouco antes do horário de Carter sair para almoçar, bato em sua porta. Me sinto mais nervosa do que gostaria e meu olhar tenta captar tudo que pude como se fosse a última vez que eu pisaria naquele cômodo.

Albert tem aquela cara de cansado de sempre, mas ele se esforça para sorrir para mim e me sinto mal por deixá-lo na mão.

— Senhor Carter, precisamos conversar.

Ele soltou uma risadinha.

— Do jeito que fala parece que vamos terminar um relacionamento, Blackwell.

Fico vermelha ao perceber que ele está certo.

— Bem... — coço a garganta — É quase isso. — solto um suspiro — Estou pedindo demissão.

Ele arregala os olhos e aproxima a cadeira na mesa.

— Como?

— Vou passar a cuidar da minha mãe em tempo integral e não vou poder trabalhar mais. Pensei em fazer home office, mas não acredito que isso vá muito longe. — explico com o coração na mão. — Queria muito poder continuar a fazer parte da empresa, mas as coisas estão cada vez piores para minha mãe...

— Lydia, você tem certeza que não há outra alternativa?

Balanço a cabeça com os ombros para baixo. Minha esperança estava miúda demais para ter outro debate mental sobre isso.

— Gostaria que sim, senhor, mas a menina que cuida da minha mãe não pode continuar a trabalhar e o estado vegetativo dela...

Engulo o seco, aquela verdade que eu não aceitava fazendo os olhos encherem de água. Carter ficou em silêncio olhando para algum ponto atrás da minha cadeira.

— Essa será minha última semana aqui e farei de tudo para deixar o máximo adiantado para o senhor. Sempre foi um bom chefe, e eu desejo todo sucesso para a Coral.

Ele continuou quieto e me remexi desconfortável na cadeira.

— Tem certeza que não há outra saída? — sorri de sua insistência — Olhe, Lydia, não me leve a mal, mas preciso ser sincero com você. A questão é que você é uma das melhores empregadas que essa empresa já teve. Mesmo sem a faculdade ou experiência você aprendeu muito rápido e entende de gestão mais do que muitos que conheci. O que me leva ao meu arrependimento de não ter investido nisso por medo de sua falta de formação.

Fico calada me perguntando o porquê dele ter trazido isso à tona logo no momento em que decidir sair da Coral. Todavia, era bem verdade que eu nunca tenha pensado de forma séria em crescer na empresa, então atribuo a culpa para mim também que negligenciei qualquer chance de melhorar minha qualidade de vida e me tirar da Ala O. Por outro lado, foi bom não ter acontecido: seria mil vezes mais difícil se desprender da empresa.

— Mesmo contratando uma nova enfermeira não posso pagá-la. As coisas estão bastante complicadas...

— E se eu lhe der-se um aumento? — sugeriu esperançoso.

— Não seria o suficiente para pagar os equipamentos da minha mãe e uma enfermeira. — lambo os lábios. — Não é colocando barreiras para continuar a trabalhar aqui. Eu realmente queria não ter que fazer isso.

Albert deixou os ombros vacilarem e eu entendi que ele havia desistido.

— Gostaria de ser mais insistente, entretanto, não vejo muita alternativa para você. — murmurou derrotado — Olhe, irei demiti-la sem justa causa para que seja mais fácil para você conseguir algo com o seguro desemprego, mas ainda estou preocupado. Como você e sua mãe irão sobreviver sem ninguém trabalhando na casa?

— Eu não sei. — admiti e respiro fundo antes de pedir um concelho para meu futuro ex chefe. — Quero tentar um empréstimo no banco, mas sei que a chance é mínima, já que perderei o emprego e sou da Ala O. Provavelmente eu vou ter...

O olhar de piedade que Carter me deu pareceu acabar de vez com o orgulho que eu tinha.

Engoli o seco.

— Se envolver com agiotas é muito arriscado, Lydia. — disse quase em tom de desespero — A última coisa que eu quero vê-la sofrendo por não poder pagar as dívidas.

Baixo a cabeça e olho para meus dedos como se eles fossem imensamente interessantes. Não consigo pensar quando eu comecei a criar aquele vínculo com Albert, mas me sinto acalentada pelas suas palavras. A última pessoa que eu imaginaria estava mostrando preocupação com o que eu iria fazer da minha vida.

— Sugiro que consiga dinheiro com alguém que não vá lhe explorar, por mais que eu ache difícil achar um agiota honesto. — comenta ranzinza — Posso lhe dá algum dinheiro se quiser...

— Não! — digo com horror — O senhor já me ajudou muito até aqui, não posso abusar de sua boa vontade. Nem sei quando poderia pagar!

Ele tenta mais uma vez, entretanto, me recuso a aceitar seu dinheiro.

1° Eu não estava desesperada a esse nível e 2° não queria pedir mais alguma coisa para Albert. Não aguentava mais receber caridade.

Depois da minha conversa e um abraço extremamente desconfortável, volto para minha mesa me sentindo sem saída.

Não conto as meninas que pedi demissão da Coral. Nunca fui muito boa em despedidas e quero evitar drama desnecessário. Meu silêncio durante o almoço me denuncia, contudo. As perguntas vêm e eu me limito em dizer que não estou em meus melhores dias e logo a conversa se monopoliza em odiar gratuitamente o destinado de Franz, que lhe enviara uma ordem de restrição de 500 metros de distância dele e de sua mulher.

— Acho que isso foi longe demais.

Quando comento as meninas se calam e viram o seu rosto diretamente para mim.

— Você não pode exigir que alguém a ame, Franz, nem mesmo o seu destinado. — falo mirando em seus olhos — Se ele a quisesse por perto ele não contrataria a polícia.

Segurei sua mão apoiada em cima mesa e apertei, o silêncio dominando o grupo.

— Minha querida, você é linda. Não é necessário mudar e perseguir um homem para ele gostar de você, muito menos um homem comprometido. — explico sem cerimônia. — Você gostaria que alguém quisesse coagir o seu amado simplesmente porque um mísero relógio disse que foram feitos um para outro?

Mordo a língua sentindo meu coração afundar no peito ao vê-la tão frágil e triste naquele momento. Respiro fundo sabendo que irei fazer algo bastante irresponsável para ela se sentir melhor.

— Quem sabe que vocês não fiquem juntos apenas no final da sua vida? Vi isso em uma série uma vez...

Ela sorriu com tristeza.

— Você está certa, Ly. Vou ao banheiro, com licença.

Todos os olhares do refeitório observavam o corpo miúdo de Franz sumir na porta do banheiro feminino. Posteriormente, o olhar se recaiu a mim, desconfiados e até acusatórios.

— Antes que falem qualquer coisa, eu entendo a insistência de querer que um casal de destinados darem certos. Geralmente eles dão! — explico as encarando. — Mas sei que vocês odiaram que alguém fizesse sua vida um inferno simplesmente por ter decidido que seu marido deveria amar outra pessoa.

Mary abriu a boca para falar algo, mas eu a interrompi.

— Gente, vocês tentaram mudá-la apenas para que fosse "apresentável" para um homem que nem interessado na Franz estava! Isso não se faz!

— Mas a gente fez com a melhor das intenções, Lydia! — contrapôs Daisy.

— Eu sei que sim. — falo tentando explicar meu ponto — Fico feliz em saber que em um momento como esse ela tem amigas para apoiá-la, mas não desse jeito!

Ela apertou os lábios, frustrada.

— Ly está certa, pessoal. — disse Mary — Acho que devemos um pedido de desculpas a nossa Franz.

O instinto de líder que Mary tinha sempre me fizera admirá-la e naquela vez não foi diferente. Ainda com alguns protestos de Lauren e Daisy, vi a convencê-las com punho de ferro e até mesmo as teimosas aceitou se levantar e ir ao banheiro acalentar uma mulher chorosa que nossa amiga com certeza era no momento.

Avisei que iria para o banco e não iria acompanhá-las. Sentia-me um pouco mal, todavia, pois demorei demais para falar o que pensava para Franz e poderia muito bem ter evitado terem levado essa história tão longe. Meu consolo era que, para todos os defeitos, as meninas eram as melhores amigas do mundo, daquelas que não lhe deixaria em um momento delicado como esse.

Consciente do que estaria deixado para trás, o aperto no peito foi inevitável.

Faltando apenas algumas dezenas de minutos para meu horário de almoço acabar quando fui ao banco com as esperanças minúsculas.

Como previsto, eu deveria esperar alguma resposta por duas semanas, mais ou menos, mas, infelizmente, a chance disso funcionar era pequena; tudo por causa da minha renda anual que não era suficiente para garantir que o pagamento saísse em dia.

Imagina o que eles pensarão ao descobrir que daqui para que eu tenha essa resposta estarei desempregada?

No futuro, se eu quisesse abrir uma empresa não era má ideia; há uma campanha ferrenha do governo para o empreendedorismo que conheço desde que era uma criança e os bancos ajudavam até demais aos microempresários.

Quando estou correndo pelo salão principal lanço um olhar travesso e mal calculado para minhas amigas recepcionistas e segundos depois esbarro em alguém.

— Calma aí, mocinha. — Ouça uma voz jovial de um homem e eu coro violentamente ao pedir desculpas. Levanto o rosto para cima, já que ele era altíssimo.

— Não foi nada. — diz balançando a mão em sinal de desdém — Aliás, você poderia me dá uma informação? Estou procurando um parente meu. O nome dele é Garry Fordnelly.

Me seguro para não fazer uma careta e me ofereço para ajudá-lo. Enquanto entravamos no elevador e eu o explicava como achar o setor onde Garry atuava, me peguei observando os olhos azuis como cristais e a cabeleira loira e acobreada. Ele tinha o rosto bem desenhado e um sorriso fácil.

— Bem, aqui é minha parada. — digo por fim quando as portas do elevador se abrem.

— Obrigado pela informação. — Ele agradeceu — Sou Phillip De Lucca.

— E eu sou Lydia Blackwell. — sorri para ele antes de seguir meu caminho.

Fiquei curiosa em saber mais daquele homem, porém o esqueço assim que me empenho a terminar a maior parte de meu trabalho.

.

— Ly, vai demorar para sair?

Coço os olhos exausta e solto um sorriso cansado para Mary.

— Vou sair em dez minutos. — respondo terminando o e-mail que enviava à gráfica que eu contatara para fazer os banners.

— Bem... Quero agradecer o que você fez para Franz. Estava exatamente pensando naquilo, que tínhamos incentivado uma obsessão, não um amor verdadeiro. — ela sorriu esperançosa — Espero que um dia eles fiquem juntos e tenha um casamento feliz.

Balanço a cabeça assentindo mesmo que não concorde veementemente com sua afirmação. Eu tinha um sentimento triste em relação aos primeiros casamentos que não davam certos, provavelmente eu era uma romântica incurável lá no fundo e odiasse pensar que as pessoas desfaziam-se com facilidade seus casamentos, sem lutar nenhum segundo pelo cônjuge e pelo quê criaram juntos.

Era triste para mim pensar que a felicidade da minha amiga, talvez, apenas talvez, pode resultar a tristeza de outra pessoa.

— Estamos pensando em fazer o Happy Hour na One essa sexta, quer vir conosco? — perguntou Mary quando ela ia em direção ao seu carro.

— Quem sabe? — dou a resposta evasiva com um sorriso, mesmo sabendo que no fundo eu negava.

Não queria ser a chata do grupo o tempo todo.

Tentei fazer alguns caça palavras perdidos de minha bolsa quando estava voltando para casa, mas a viagem estava propícia à pensar na vida.

Eu teria que conversar com a mãe de Jean sobre o agiota que ela pegará dinheiro emprestado há um tempo atrás. Não foi o melhor negócio que fizera e ainda devia alguns pares de dólares, porém ao menos ele era conhecido.

Dinheiro não traz felicidade, mas traz conforto e às vezes pode significar a mesma coisa.

Se ao menos eu tivesse aceitado o empréstimo de Carter... Mas me conhecia o bastante para saber que meu orgulho não me permitia dormir com tal feito.

Anoitecia quando cheguei na rua de casa. De longe pude ver Bonnie correndo com suas amigas e sorri com aquela cena tão simples. Era bem verdade que ver crianças brincando na rua não é tão costumeiro quando antigamente, entretanto, não deixava de acontecer nas Alas mais baixas, pois muitas (para não dizer todas) não podiam comprar os brinquedos eletrônicos famosos hoje em dia.

Quando me aproximei da agitação, a menina me reconheceu e com um grito apressou-se em minha direção. Ela tinha perdido o dente da frente deixando uma janelinha fofa em seu sorriso e eu a tirei do chão para os meus braços.

— Como você está pesada, meu amor! — lhe digo beijando sua face. — Hm, e está precisando de um banho também.

— Aff, Tia Ly, eu não quero.

Respondeu emburrada e eu soltei uma risada sentindo meu corpo mais leve com a presença de Bonnie.

— Já conversamos sobre isso, Senhorita Bombom.

Lhe lanço uma carranca falsa e ela desce batendo os pés.

— Mas tomar banho é muito ruim!

— Ruim é ficar fedendo. — retruquei. — Depois a gente conversa sobre isso, tenho que ir pra casa. Você vai comer lá?

Ela balançou a cabeça concordando.

— Avisou a sua mãe onde estaria?

Ela escolheu os ombros.

— Ela sabe que eu estou com a senhora.

Apertei os lábios sem dizer nada. Charli parecia saber sobre a constante ida de seus filhos em minha casa, contudo, não agia como tivesse controle dos seus filhos — ou até mesmo se importasse onde eles estivessem, mas bem no fundo eu sabia que ela o fazia. Quando Bonnie passou a ser frequente em minha casa, lembro de ter uma conversa estranha com ela: Charli dedicara-se a saber qual era meu objetivo dando comida de graça pra a filha dela.

Dou lhe um tchauzinho e vou direto para casa. Jean e minha mãe estão no quarto; mesmo com a delicadeza natural e talvez um pouco técnica de minha amiga, Letícia não parece conseguir segurar muito bem a comida em sua boca. Meu coração se aperta quando sua mão ossuda segura com dificuldade a de Grey para que ela parasse.

— Eu assumo por aqui. — aviso a Jean — Obrigada.

Meio perdida pelo repentina chegada, Jean se despede e deixa a pequena tigela com diversos cereais integrais que comprei visando melhorar a alimentação de mamãe.

Custou caro, porém, para ela o melhor nunca será negado.

Limpo seu rosto sendo assistida pelos seus olhos azuis sem foco. Um tipo de felicidade nostálgica me atingi quando ela toca com seus dedos frios minha pele; penso nas vezes em que ela cuidava de mim e me dizia que era seu maior tesouro.

— Eu te amo, mamãe. — sussurro emocionada — E vou sempre cuidar de você. Até o fim.

A decepção me toma quando lembro que ela não me entende e que provavelmente não sabe quem eu sou ou quem era ela. Tudo muda, todavia, quando vejo de seu olho direito descer uma solitária lágrima.

...

A semana passara mais rápido do que esperava e antes que eu pudesse gravar cada canto daquela empresa em minha memória, a sexta-feira chega.

Mesmo sabendo que eu não poderia segurar aquilo por mais tempo, fico calada e não cito sobre minha saída da Coral para as meninas. Sei que não estou pronta e que provavelmente nunca estarei, mas continuo empurrando aquilo com a barriga.

Passo a tarde enfiada na sala da copiadora que por algum milagre está vazia. Tenho plena consciência que se alguém entrar me verá naquele estado de inércia, uma careta de quem já perdeu a guerra.

Giro na cadeira com o queixo apoiado na mão pensando nos momentos bons que tive nos últimos cinco anos. Lembro de ver as meninas alegres dançando juntas na festa de fim de ano, quando eu me dei uma folga para beber duas ou três taças de champanhe, e já sinto falta dessas memórias.

Exatamente quando a copiadora para de fazer barulho, a porta se abre e última pessoa que imaginaria me fazer companhia aparece.

Sinto-me nervosa com a presença de Thomas ali.

Seu terno sobe medida é azul marinho e a gravata vermelha se destaca na camisa social preta e instantaneamente comparo com a calça preta que eu usava e uma blusa cinza de flanela.

Ele entra devagar como se estudasse em se aproximar ou não.

— Oi. — diz ele colocando a mão no bolso — Posso conversar com você?

— Claro. — respondo desanimada de forma que aparenta dizer o contrário.

— Soube que está saindo da empresa. — comenta.

— Senhor Carter é um fofoqueiro. — estalo a língua quando percebo não ter filtrado minhas palavras.

Thomas ri.

— Não deveria falar assim de seu chefe. — responde com um ar divertido. — Ademais, também o acho um fofoqueiro. Quer dizer, ele só é fácil de se arrancar informações.

Dou os ombros sentindo um sorriso zombeteiro se formar em meu rosto.

— No final da tarde ele não será mais meu chefe.

Hoyer pega uma cadeira que estava no canto da sala e se senta confortavelmente.

— Quer conversar sobre isso?

— Isso o quê?

Sei do que ele está falando, mas prefiro fingir-me de sonsa.

— Sobre sua saída. Sobre o porquê de você sair do emprego que parece lhe fazer bem.

— Como você vai saber se eu gosto ou não do emprego se a gente não se conhece? — digo acidamente.

— Do jeito que você falou sobre ele naquele almoço foi mais do que necessário para me convencer. — ele responde à altura, frio como gelo.

Foi como uma tapa e eu encolho os ombros ao ver que eu merecia por ter sido grosseira.

— Desculpe. — sussurro.

— Tudo bem. — responde depois de um tempo.

Só então percebo que ele carrega na mão uma caneta que não para de girar entre seus dedos, como um tique nervoso.

Ele estava nervoso. Por quê?

— Não tem problema sair do fórum assim no meio da tarde? — pergunto mais curiosa do que irritada — Você não é autônomo e trabalha para o governo.

Ele sorri para mim e me perco naqueles olhos escuros com um brilho de divertimento.

— Até os desembargadores têm seus momentos de folga.

Sorrio e volto para as cópias largadas na mesa e o grampeador esquecido por mim. Meu último trabalho para Coral era repleto de papéis cheio de estatística que quando enviadas por e-mail costumavam ser ignoradas pela grande maioria dos coordenadores das equipes da empresa em geral.

— Por que não me diz o motivo de sair da Coral? — indaga Hoyer mais uma vez — Desabafar pode ajudar.

— Não resolverá meus problemas. — resmungo, porque no fundo eu gostaria que tudo fosse drama da minha parte e que não estivesse perto de vender minha alma para um demônio da ala E cheio de usura.

— Mas pode fazer você se sentir melhor. — Ele diz e a preocupação sincera de seus olhos me desarma.

— Desculpe. De novo. Você só está tentando ajudar — repito passando a mão no rosto — Estou em um humor cão hoje.

— Percebo.

Ficamos em silêncio e eu coloco a copiadora para trabalhar um pouco mais.

Começo a prestar atenção naquela cena: o clima ameno, a fraca luz da sala, a distância entre nós — tanto fisicamente quanto emocionalmente. Nós nos assemelhávamos a um filme indie antigo, daqueles de baixo orçamento que eu costumava assistir nas tardes de domingo nos poucos canais de TV aberta que ainda existiam.

Olho para Thomas; seus olhos fitando algum ponto além da janela, o mexer nervoso de suas mãos, a elegância em que ele estava sentado... Será que ele já passara por problemas como eu ou sempre foi o mimado em sua vida?

Eu acreditava piamente que ninguém tinha uma vida perfeita. Mesmo com dinheiro, as pessoas tinham dificuldades e barreiras que poderiam ser nada para mim, mas para eles eram grandes como gigantes.

Pensando nisso decido confiar em Thomas. O que eu perderia se ele soubesse?

Não queria adicionar Hoyer na bagunça da minha vida, mas ele estava tão dedicado a querer me ajudar que uma hora eu teria que ceder — e eu estava farta de lutar.

— Preciso cuidar da minha mãe e não tenho um centavo para isso. — falo, enfim — Jean, a garota que cuidava dela, não pode continuar se dedicando a mamãe. Estou de mãos atadas. — minha garganta embola e me sinto traída pelo meu corpo não obedecer meus comandos para evitar a histeria. Recuso-me a chorar diante do meu destinado. — Vou ter que pegar dinheiro emprestado de um agiota e não suporto a ideia de viver atolada em dívidas.

Hoyer escuta calado e sinto seu olhar em mim mesmo que eu não esteja necessariamente mirando-o.

Seu silêncio me acalma por um motivo desconhecido. Minhas costas estão mais leves, mas a preocupação parece maior que antes.

O que eu ia fazer da minha vida?

— Você provavelmente já sabia da história, não é?

Pergunto consciente de que não preciso de uma resposta para saber que é verdade.

— Como soube? — ele sorri sagaz e eu o acompanho sabendo que a conversa é tensa demais para esse tipo de expressão.

— Desconfio de qualquer advogado. — dou os ombros — Ou pessoas que foi um em algum dia de suas vidas, no caso. Dizem as más línguas que eles são a pior raça da Terra.

— As más línguas estão corretíssimas.

Rimos juntos e faço uma nota de agradecê-lo por fazer-me mudar de humor tão rápido.

— Quero ajudar você. — fala ele sério. — Sei que nunca aceitaria uma doação, então, eu posso emprestar o dinheiro necessário para contratar uma enfermeira e os equipamentos que precisa ou mandar sua mãe para uma clínica. Você só começará a pagar quando puder, obviamente, com a condição que continue na empresa.

Arregalo os olhos, atenta. A proposta era muito tentadora, mas engoli o orgulho não seria fácil. Eu o conhecia em menos de um mês e ele estava oferecendo parte de seu precioso dinheiro, pelo amor de Deus! Aquilo me fez pensar em seus reais motivos: Thomas era bondoso ou via segundas intenções naquele ato?

— Por que quer me ajudar?

Ele consegue perceber o peso da pergunta tanto quanto eu. Dependia do que Hoyer responderia para que eu dissesse que aceitaria ou não a proposta.

Esperei que ele dissesse que eu era sua responsabilidade por ser sua destinada, que eu era preciosa demais para Carter para perder me espaço na empresa ou simplesmente porque aquele dinheiro não iria fazer falta em sua fortuna.

Eu possuía uma resposta para todas essas façanhas.

Entretanto, ao ser mirada pelas pérolas negras determinadas que pareciam corroer minha alma e ouvir a tão esperada resposta, vi que tudo que eu acreditava sobre Thomas era uma grande mentira.

— Por que quer me ajudar? — repito.

— Porque é isso que as pessoas fazem quando alguém precisa de ajuda. — respondeu ele, firme como uma rocha — Elas ajudam, não interessa como.


n/a: Até eu fiquei sem fôlego depois dessa resposta do Thomas. Que homem apaixonante, não acham? Esse capítulo demorou, mas saiu! Espero ter alcançado as expectativas para a continuação e estejam gostando dos caminhos traçados pela Lydia. Há muito o que se aprender e viver, menina Blackwell!

Comentem, por favor! A sua opinião é muito importante! Obrigada a todos que tem comentado nas últimas atualizações! Vocês têm um lugarzinho guardado em meu coração.

Quem quiser ficar por dentro das atualizações e dos spoiler entrem no grupo: 

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Se chama "Maraíza Santos - Fanfics". Vocês são muito bem-vindos!

Até a próxima!

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